
São passos de bêbado, certamente são. Eu, que me embriaguei até os dias de hoje sem ao menos dar conta disso. Me embriaguei com o álcool das mentiras que eu mesmo criei. Ser feliz? Talvez... E essa palavra como nos incomoda... Estar feliz? Talvez... Mas esta sensação é tão tênue que logo passa...
Passos que tropeçam, isso com certeza. Tenho pressa de chegar, mas o trajeto é tão longo. Não pude medir os passos, assim como os segundos que fogem como pequenas faíscas que a fogem das fogueiras. Pelas noites, iluminados estavam nossos rostos em volta dela enquanto tentávamos contar histórias mais engraçadas...
A noite mostra seus inúmeros perigos. Alguns reais (esses inevitáveis), outros imaginários (esses são os piores), mas todos presentes no fundo d'alma como ecos que surgem de dentro da caverna, o incomodar já é o suficiente. Pequenos detalhes, grandes cortes, é o que temos, é o que vemos, sem a salutar alternativa de uma salvadora cegueira...
Tentei correr do mundo, me afastar das coisas, mas não consegui, foi tudo em vão. A solidão que desprezava talvez tivesse sido melhor... Algumas demências acompanham seus loucos clamando por piedade e isso até faz chorar...
Eu quis ser terno, mas não pude... Mesmo com a rudeza de minhas mãos quis poder fazer carinhos, mesmo com a rispidez de minhas palavras mostrar como amava... Em tempos já mortos ainda havia compaixão em meu peito por seres e por coisas e eu queria tê-los todos perto de mim...
Agora não adianta mais, o que resta é apenas caminhar. Caminhar enquanto posso, até que os pés não sintam mais nada e os espinhos e pedras sejam apenas pequenas e inúteis detalhes como numa comédia malfeita. Não façamos mais drama algum, o que passou, está passado e impossível é recuperar coisa alguma...
O meu silêncio é como se fosse um cumprimento aos meus amigos de infortúnio. Ainda tenho em mim restos daquilo que mais queria. E se não posso ser feliz, mesmo assim ainda peço. Parem com isso! Deixem velhos erros lá atrás... O meu choro não importa, mas há milhares e milhões quem não deveriam chorar...
Tenho pressa, muita pressa, pressa mesmo. Há pouca corda que sustente o velho relógio. Muitos dentes já caíram da minha boca, muitas rugas vieram para dar um olá e não foram embora, meus cabelos agora estão com mania de nuvem, nem eu mais me reconheço...
Será que fui abduzido e nem me dei conta disso? O poeta boêmio agora não quer mais suas farras, tudo me amedronta um pouquinho mais. A dor de meus abusos chegou de viagem e disse que ficará comigo até não poder mais. Tudo é assim. Quem dera tivesse tempo para tomar pelo menos mais um gole...
São passos de tolo, certamente são. Eu que me enganei até os dias de hoje sem ao menos me dar conta disso. Saiam da frente, por favor, não posso chegar atrasado ao meu enterro...
(Extraído da obra "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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