domingo, 31 de julho de 2022

Quase Desabafo

 


Risque essa palavra

Ou passe a borracha por cima,

A memória pode ajudar

Quando assim a quer...

Esqueça passados dias

(Bons ou talvez não, não sei),

Assim também esquecemos

De muitos ventos que vieram...

Olhe para o lado, disfarce,

Finja que não me conhece,

Os tristes devem ser esquecidos

Até o fim dos tempos...

Um dia desses, um dia qualquer,

Lembrei dos nossos dias

E até me deu vontade de morrer

Como há muito tempo não...

As ruas em que passei

Pareciam ser as mesmas,

Deveriam ser as mesmas,

Mas era eu que não era...

Esqueci meu sorriso em casa,

Já está longe e eu atrasado,

Não posso voltar

Para poder buscá-lo...

Estou com pressa,

Muita pressa mesmo,

Na minhas pobres contas

Tenho que aproveitar o restante...

Deixe o caso por encerrado,

Eu não tenho culpa,

Mas você também não,

Afinal, somos apenas humanos...

Você nunca mais me visitou,

Venha qualquer hora dessas,

Mesmo que o meu endereço

Esteja mudado agora...

Risque essa palavra

Ou passe a borracha por cima,

A memória pode ajudar

Quando assim a quer...


Alguns Poemetos Sem Nome N° 185

Estamos parados. A fila é interminável e nos agoniza. Talvez dê meio-dia e a fome chegue. Não há silêncio e não há justificativa para falarmos também. Não há pobres e nem há ricos. Somente humanos e nossas iguais necessidades. Não há velhos e nem há novos. Somente tolos e nossa mais tola inteligência. Esperamos ser atendidos e o sonho demora para não chegar. Somos únicos e quase gêmeos. Todas as dores são iguais e nem percebemos isso. Todas as lágrimas são salgadas e escorrem para baixo. Estamos parados. A fila é interminável e nos agoniza...


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Hoje é um dia como qualquer outro... Todos os relógios agirão como ontem e como amanhã... Hoje é um dia como qualquer outro... Novas bombas cairão sobre as cidades... Hoje é um dia como qualquer outro... Alguns terão luto e os outros farão uma festa... Hoje é um dia como qualquer outro... Para uns o primeiro choro e para outros o último suspiro... Hoje é um dia como qualquer outro... Alguns perderão a inocência e outros nunca mais a encontrarão... Hoje é um dia como qualquer outro... Nada existe, mas tudo permanece... Hoje é um dia como qualquer outro... 


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Eu permaneço nesta minha teimosia de viver. Mesmo quando os dias são insossos e desprovidos de qualquer encanto. Será por que? Não me perguntem, não sei a resposta. Qualquer lugar é abrigo para os meus medos e nele assim estarei. As sirenes das fábricas não tocam aqui perto e isso pode ser pelo menos um consolo. Minha mente ficará um pouco menos atordoada. Bastam-me alguns pássaros vadios para meus quase cegos olhos. Agora sou mais simples do que antes, todo final é assim mesmo.


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Ando com as mãos nos bolsos e a cabeça baixa. Prefiro não me distrair. A solidão me basta, mesmo não estando sozinho. Que caminho percorrerei? Não sei, dispenso alguma resposta, por mais sensata que ela possa me parecer... Devo parar ou não? Não sei, ninguém soube como isso verdadeiramente é até os dias de hoje. Sinto apenas como se todas as feridas que tive doessem novamente, todas de uma vez sem se importar como tempo que elas aconteceram. Eu só tenho as palavras, essas são insuficientes para alguma coisa. Gritar ou sussurrar são a mesma merda. Dar uma de maluco? Seria apenas mais um desperdício inútil... E só quero apenas andar com as mãos nos bolsos e a cabeça baixa antes que alguma tempestade se apresente...


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O sinal de trânsito abriu, o sinal da escola tocou, o barco já partiu, só a saudade ficou, na minha tristeza ainda existem os rastros do que passou. Nada sobrou do que foi antes, palavras proferidas já se calaram, nem a violência dos amantes, as juras de amor não mais prestaram, as fogueiras que iluminavam a noite se apagaram. A ferida na carne se abriu, o meu amor já morreu, o anjo do céu já caiu, a sombra passou e ninguém percebeu... afinal, quem sou eu?


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Ele chegou quase agora. Não sei em quais caminhos a noite se passou. Sua mente vem embotada, não somente com álcool, mas também das cenas que acabou vendo. Madrugada de não sei quantos desesperados tentando esquecer sua tristeza em vão. Vai direto para a cama, antes passa pela cozinha, depois tranca a porta do quarto. Completo silêncio agora. Mais um dia passará. Eu sou apenas um velho inútil e solitário, meu filho. Logo irei embora, sem ao menos dizer um adeus...


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Mágico, todo momento, até o que escorre entre os dedos. Perigoso, todo desejo, sobretudo o que está tão longe. Mortal, toda ilusão que nos cega, principalmente a que ama abismos. Deixe-me respirar mais calmamente, tenho corrido mesmo quando estou parado. A minha impaciência fita as paredes, espero que elas desabem. Não amo as tragédias, simplesmente elas são inevitáveis. O pó se acumula por todas as improbabilidades, por isso, irei economizar pelo menos alguns adjetivos...


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sábado, 30 de julho de 2022

Veracidade


O que existe... O que não existe...

Apenas uma ilusão... Apenas...

Não adianta algum verso triste...

Todas as almas são pequenas...


Toda filosofia vã e morta...

Todo pecado com seu motivo...

Toda estrada inútil e torta...

Do que vale estar vivo?


O que existe... O que não existe...

Apenas... Apenas uma ilusão...

Uma teimosia que não desiste...

Até que venha toda extinção...


Toda crença uma piada...

Apenas a fome é algo real...

Esperar o que? A parada...

E a ilusão do carnaval...


O que existe... O que não existe...

Apenas uma ilusão... Apenas...

A nossa sobrevivência insiste...

E monta algumas cenas tristes...


Apenas um vício de linguagem...

Apenas uma queda... Nada mais...

Está vazia esta minha bagagem...

Tudo o que temos está lá atrás...


O que existe... O que não existe...

O quarto escuro... A solidão...

Essa tristeza que me persiste...

Um dia eu acho a contramão...

sexta-feira, 29 de julho de 2022

Réu Convicto

Vítima e ao mesmo tempo algoz

Gritando bem alto sem ter voz

Parado e entretanto tão veloz


Eu ando em ruas como um fugitivo, mas para onde eu irei fugir? Espero cair em um abismo, mas onde eu irei cair? Sou de tantas terras, mas não sou daqui e nem dali...


Louco nestas tentativas tristes e vãs

Engolindo de uma vez todas as manhãs

Todas as tristezas são apenas irmãs


Nas praças sonho com o que já foi, nada irá voltar? Na vida tudo se repete, será como o balanço do mar? Olho triste no espelho, cada dia muda até o ar...


Eu nunca passei de um reles farsante

Regressando mesmo quando ia adiante

Acorrentado por séculos num instante


Já estou cansado demais, posso voltar pra minha cela? Sinto falta de tanta coisa, acabou a minha aquarela? Acabaram-se todas as flores, inclusive a mais bela...


Sobrevoarei noturno sobre o teu telhado

Eu e a morte temos um encontro marcado

Não sei qual dia o encontro já foi adiado


Eu ando em ruas como um réu convicto, de onde vem essa convicção? Espero ser salvo um dia, mas de onde virá essa salvação? Vejo tantas estrelas, mas nenhuma vem na minha mão...

terça-feira, 26 de julho de 2022

E O Cabra Mamou Na Gata



E o cabra mamou na gata e teve uma sorte da peste danada, saiu interim, interim que nem bebê depois do banho. Santo em cima de altar com butuca aberta e boca quase também. Dessa vez ele que faz novena...

Fácil não é, mas fazer o que? O palhaço na folia é o Tiço, o Bebel zarolho bebendo tuia sem careta. Confunde os pingos todos, vai vírgula pra tudo que é lado que nem pato no desespero da fila.

Olha o amendoim! Olha o amendoim! A lata risca na perna do caboclo, nem tente e nem pague pra isso. Coletivo é pedido de socorro até de motorista e cobrador nem se fala.

Eu tenho lá minhas dúvidas se é dúvida ou dívida e meia. Me adesculpe, suas coxas são mais que abismos, olhos também tem fome e  muita, certificado de garantia vem junto, isso vem.

Não tem cão farejador que encontre meus sonhos, todos eles já sumidos, quando muito aqui ó, bem aqui nesse peito magro donde só isso e dúzia de infarto na boca da espera pra chegar de brabeza. Eu que não encolha minhas unhas...

Moro numa terra onde até aperta-mão é complicado, muito e muito. Confere os dedos, madamo, confere os dedos. Se corre de lado pra outro, cai na mesma estrumeira, só quem já viveu mais de dia conhece o cheiro. Teimosia ganha bolacha que não é de pacote. 

Peçonhento, me dá uma aí, quero zambumbar de mei-dia pra lá. Chinelo não é só chinês não, ponha tento. Tem muito matruco que nem rebola e vai saindo. Quero meia dúzia de palma e tá mais que bom de bom. 

Cebola e meia na tuia, o prefeito não faz nada que eu não saiba. A vizinha conta nos dedos, farfar e tanto modestamente. Beijei meu moletom cabreiro e isso não me fez nada bem, tá ouvindo? Deve ser porque não é ensurdado, meu senhor de nada. Maritaca de pobre xinga tudo.

Abri um pacote de batata seca e ela tava molhada. Marvada ela né? Fez um bituco na covanca do mio. Pocotó é pocotó e mais nada. Eu escuto velhança mesmo, já tou mais pra cá do que pra lá, seu minino. Pegou meu burrico e estrada abaixo é o que eu quero, assim sim. Daí é que vou...

Jarro de barro só quebra no tombo, creia, já chaleira mundece no bico e no tico. Nem farofa nem galhofa, viu Taquinho? De manhã maciota de praia, jornal do sovaco e mais de mil palavras dentro da mulhanfa. 

O cara assinou papelico pra nossa reta, foi que nem tiro. Cabou essa de tenho em casa, nem tem, seu neném. Na roda da fartura saiu foi gordura, tava mesmo e olha lá. Tanto no tanto e rapé na mão de Beto, os anjos que o chamem lá.

Quero dois pirão, um de água e o outro também, baixe a guarda que eu tou no vento hoje. É perder meu relógio todo o dia, ficava pelado, agora mais nunca. Eu rio da minha sede que só aumenta, dei um chute no fiofó dela...

Quase tenho um ataquinho, desses bem pequeninicos, a pois? Sou pirata e nem sabia. Escuto o Maurity com a alma na mão. Eu sou esse mesmo. Nasci no começo, fiquei enredado no meio, ainda não fui e nem quero saber quando...

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Uma Divagação Reflexiva e Insana

 


A pipa me dá piparotes

porque não sei medi-la em grandes céus

onde cavalos cavalam em nuvens

O balão realmente incendeia

aqueles dias agora inexistentes

em que só haviam algumas fotos

Tudo está agora consumado

da forma mais estranha possível

mas ainda sei que vivo estou

Confesso que ainda olho nádegas

de um indecoro mal disfarçado

e isso pode ser muito bom ou ruim

Os meus textos ainda não foram salvos

enquanto as multidões ovacionam

o meu desconhecimento total

Não escrevo fórmulas filosofais

e nem minha genialidade sequer veio

porque o correio estava atrasado

Ando precisando de alguns muros

para neles colocar declarações solenes

e algumas declarações meio inocentes

Eu sou um dom Quixote sem moinhos

não aprendi minhas lições de casa

e andar de bike é mais que impossível

Faltam-me sorvetes para os invernos

e algumas Garotas de Ipanema

com as medidas quase que erradas

Nenhum crime saiu ontem no jornal

mas sou aquele que continua atento

pois cada segundo acaba contando

Não enfeitarei mais a mesa de jantar

e ainda assim aparecerão convivas

para escutar meus pobres discursos

Goya acabou de chegar com Dali

para me dar algumas pílulas 

para tentar conter minha loucura

A pipa me dá piparotes

fui bobo em não aprender a voar

com tantos céus sobrando por aí...

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 184

Disse que não queria,

Mas quis...

Falei que viraria as costas,

Sairia andando

E não retornaria mais...

Não era comigo,

Não me importaria,

Apático, indiferente

À todas as armadilhas 

Inventadas e existentes...

Disse que não queria,

Mas quis...


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É normal não ser normal

Vou pegar uma estrela e volto já!

Como? Na mão, é claro!

Estrelas pegamos com a mão,

Voamos, voamos, até chegar pertinho

E num golpe só - zás!


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Esquecido... Lembrado...

Depois que a morte chega, o que isso importa?

Falam tanto de lembrança,

Mas a lembrança também está morta...!

A parede um dia cairá,

Suas cores antes disso morrerão.

O calor do dia será tornará frio,

O calor vai embora com o verão...

Esquecido... Lembrado...

Fiz muitos versos, um ou outro se perdeu...

Só sobrado meu nome na lápide...

E, afinal... quem fui eu?


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Coisas fúteis, coisas banais. Assim vamos, ora lentamente, ora apressados. Apressados para que? Para tudo ou para nada, tanto faz. A certeza está em falta no mercado. Filas, filas e filas. Viramos figurinhas de algum álbum antigo, algumas comuns e outras nem tanto. Tudo acaba dando em nada, nenhuma história foi feliz afinal. Quem fez as nossas contas, desconhecia as quatro operações. As janelas dos carros são apenas janelas. E as notícias são repetidas com acentuada indiferença maquiada com falsas emoções...


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Pendentes em pingentes

Nossas antigas taras

Somos indigentes

De anomalias raras


Sonhar e sonhar...


Estamos estáticos

Nosso senso comum

Somos práticos

De jeito nenhum...


Sonhar e sonhar...


Embelezamos nossos pesadelos...


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Tudo é bom e mau - não duvide

Tudo é vida e morte - simultaneamente

Tudo causa alegria e dor - assim mesmo

Tudo choca e acalma - como temporais

Somos apenas a dualidade presente

E anjos e demônios cantam em coro

Nas profundezas de nossa pobre alma...


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Ponto final

Ponto e sinal

Ponto afinal

Ponto legal

Acabei dançando feito demente

Minha rede social urgente

Preciso isolar-me na multidão

Antes do meu ataque do coração

É fato mais que consumado

Estar certo mesmo quando errado

Ponto final

Ponto e tal

Ponto afinal

Ponto ilegal...


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terça-feira, 19 de julho de 2022

Coisas


Uma esmola...

Para os que acharam que a vida seria

Um grande amontoado de alegrias espontâneas

Que chegariam como agradáveis surpresas...

Um carinho...

Na cabeça da fera que eu sou

Vivendo no meio desta selva tão escura

Onde armas e armadilhas são parecidas...

Um silêncio...

Talvez meu sono chegue antes do tempo

E seja isso muito bom ou então muito ruim

Dependendo de quem vai ver o milagre...

Uma cena...

Ato final de uma peça mal encenada

Onde o choro dos atores é verdadeiro

E o riso nem sempre é aquilo que realmente é...

Uma paixão...

Aquilo que levarei para sempre em mim

Até que chegue o final de todos os tempos

E não reste mais nada desse pobre coitado...

Um doce...

Igual aos que eu comia na velha calçada

Num tempo impossível de voltar novamente

Quando eu era apenas aquele menino triste e feio...

Um dia...

Em que a noite não viesse com tanta pressa

E deixasse o sol brincar comigo mais um pouco

E dourando mais ainda os lindos cabelos dela...

Um caminho...

Me vejo ainda numa estrada tão só

Onde o silêncio mandava e dava suas cartas

E eu de pés descalços não podia fazer mais nada...

Um abismo...

Onde talvez pule sem medo algum

Afinal de contas preciso exercitar minhas asas

Quem sabe eu não viro passarinho um dia desses...

Uma esmola...

Para esse pedinte que nunca viu o amor

E que poderá ter medo ser ver sua real face

Até os heróis possuem um certo medo em si...

domingo, 17 de julho de 2022

New Fears



Medos grandes, medos pequenos,

Eis tudo o que há,

De faltar a luz, cortarem a internet,

Do gás acabar,

Do sono não vir, da casa cair,

Do patrão dispensar,

Do negócio falir, da inflação subir,

Do cão me atacar,

Do assalto na rua, acidente no ônibus,

Da febre fazer delirar,

Da falta da carne, falta de vergonha,

Da maré de azar,

Medo de tudo, medo de nada,

Novo medo inventar,

De um novo cometa, novo vírus,

Morte multiplicar,

Do amor me trair, ir embora,

De mais sozinho ficar,

De acabar a razão, o ânimo,

Do tesão se matar,

De ser assaltado no meio da rua,

Verdade que quero evitar,

Do tempo que se acaba,

Eu não quero me matar,

Eu não quero perder a corrida,

Nem quero me adoentar,

Ter tanto medo da guerra,

Se ela vai vir pra cá,

Se ela já está por aqui,

Se nem podemos notar,

Medo de não ser mais o que sou,

Se estou no lado de lá,

Se estando vivo, estou morto,

Não quiseram me contar,

Se já passou das cinco,

Se já esfriou o meu chá,

Medo de ter até medo, de inventar,

Um outro pra me assustar,

Que o sapato não dê mais no pé,

Da roupa apertar,

Que a esperança vá embora de vez,

Não queira mais voltar...

Estático

 


A pedra em sublime imobilidade,

A forma com sua morta tranquilidade,

É o céu que desce para o balão,

Nós que trememos, não é o chão,

Todos nós, somente estamos parados,

Tiros chegam, chegam de todos os lados,

O rosto, a mesma e velha expressão,

Eis a vida que só nos diz um não,

A criança vende seus chicletes no sinal,

Como tem demorado esse carnaval,

Todo funeral requer toda a atenção,

A lápide dará a mesma explicação,

Estão guardadas as chaves do abismo,

Em velhos tangos há um novo niilismo,

Eu agora evito me olhar no espelho,

Dispensando todo e qualquer conselho.

Amar sempre foi e será a minha paixão,

A morte é vida, nunca foi a extinção,

A menina tira a selfie com caras e bocas,

Na minha mente fixa uma ideia mais louca,

Escutei o trem chegando na estação,

No fundo do prato sobrou mais um grão,

A perna não mexe não mais me obedece,

Depois do final eu talvez recomece,

Eu quero teimar e ter a mesma opinião,

Meu rio agora vai é pela contramão,

Todos nós, somente estamos parados,

Os tiros chegam, chegam de todos os lados,

Meu rosto com a mesma velha expressão,

Estou chorando, a vida só me diz não...

Essa Noite É Minha

 


Essa noite é minha,

De mais ninguém,

Posso tê-la inteirinha,

Ou mal ou bem...


Essa noite eu roubei,

Botei no bolso,

Quando? Não sei...

Era tão moço...


Essa noite é tua,

Eu te dou ela,

Virá outra lua

Pela janela...


Essa noite é minha,

De mais ninguém,

Eu  a terei sozinha,

Vou pro além...


Essa noite é minha,

Só minha...


quinta-feira, 14 de julho de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 183



Virei um fazedor de rimas,

Algumas bem imperfeitas,

E assim vou andando

Por essas ruas estreitas...


Virei um fazedor de rimas,

Algumas delas sem graça...

Por que fazer tantas rimas?

Eu as faço só de pirraça!


Virei um fazedor de rimas,

Desenho pobre e malfeito...

Por que teimar em fazê-las?

Obedeço às ordens do peito...


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As bruxas não são mais

queimadas em fogueiras,

Os hereges não são mais

pendurados em cordas,

Galileus estão em falta

para serem presos,

Os tempos são outros

(em essência não)

Os inquisidores agora 

estão usando ternos

pregando exatamente

o oposto do que fazem...


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Eu sou minha própria vítima

Enveneno-me com os meus sonhos

Alguns em grandes doses

Outros em doses bem menores

Mas todos eles letais...

Eu sou meu próprio carrasco

Permaneço em lúgubre silêncio

Segurando meu afiado machado

Para cortar tranquilamente

A cabeça de minhas ilusões...

Só os meus desejos

Esses sobreviverão até o fim dos tempos...


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Olhos fechados na escuridão do quarto,

Numa profundidade nunca imaginada antes...

Quantas léguas daqui até a parede?

Talvez a distância mais do que suficiente

Para seguir toda a noite antes de seu fim...


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Perdoa-me, junto as mãos em súplica

Se  fui o culpado, juro que foi sem querer

Tentei voar, mas as asas permaneceram fechadas

Tentei dançar, mas os pés acabaram tropeçando

Era para chegar a tempo para a festa, atrasei-me

Fiz caretas perante o espelho, fui malcriado

Exigi demais, acabei não tendo nada 

Feri-me sem querer, não vi os espinhos nas rosas

Queria voar, mas as asas falharam-me e caí

Perdoa-me, eu mesmo, foi sem querer...


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Silêncio em dias frios

Não consigo entender tão complicada metafísica

O vento do mar deve estar cortando!

Enquanto os barcos estão atracados em silêncio

As garças cumprem sua triste sina

Quase tão tristes como nós seres humanos

Barulhos sem propósito algum

Numa monotonia carregada de ineditismo

Não deveria ter ligado a televisão...

Um avião sobrevoa e aguça minha curiosidade

Há pouco ou quase nada para se fazer

E só há silêncio em dias frios...


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Morri ontem mesmo

mas estou vivo hoje...

Ressuscitei-me sem terceiro dia

e sem jogada de marketing...

Corri muitas léguas

mesmo sem sair do lugar...

Há tantos céus, terras e mares

dentro desse meu peito...

Sou talvez um náufrago

que voltou das profundezas...


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terça-feira, 12 de julho de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 182


Pule no meio da rua

Dance como fosse carnaval

Esqueça que cai chuva

Esqueça do temporal

Esqueça da morte 

Esqueça da sorte

Da sorte que não veio

De um lado de outro

Estamos todos no meio

No meio da vida do mundo

Flutuando ou lá no fundo


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Mãos em silencioso nervoso

Silenciosa apreensão

Acostumadas a pedir

E escutar apenas - um não...

Mãos sujas ou limpas

Não é esta a questão

Elas conhecem o desespero

Conhecem o fim da ilusão


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Uma ilha é uma ilha

Eu não sou...

Por mais que me sinta só

Nunca estou...

Estou com o brinquedo velho

Que um dia quebrou...

Com o antigo carnaval

Que já passou...

Com aquela fantasia

Que se rasgou...

Com aquele antigo sonho

Que não vingou...

Esperando a boa notícia

Que não chegou...

Uma ilha é uma ilha

E eu não sou...


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Guardo minhas taras na alma

Como um avarento usa o cofre

Não sei quem amo feito indeciso

Assim sempre fomos e vamos ser

Desprezo a minha própria estética

Como um macaco de imitação

Quebrei todas aquelas cadeiras

Que eram colocadas pelas calçadas

Hoje o vento não mais refresca

E sofro em filas do meu inferno...


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Tudo morre...

Até os poemas suplicando aplausos

Até a violência querendo ternura

Até os rios cansando de não chegarem

Até os passarinhos na falta de céus

Até os segredos que foram descobertos

Até a lógica quando se tornou insanidade

Até eu e até ele e até todos nós

Só a saudade consegue permanecer

Tudo morre...


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O velho cego sonhava com insólitos sonhos

Sentado na cadeira sob o sol da rua

Já morreu fazem anos e mais anos

Talvez nem seu nome tenha quem saiba

Mas seus dias foram seus todos eles

E eu ainda lembro de seu rosto feio e sereno


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Mesa posta

Cada detalhe cuidadosamente cuidado

Tudo certo

Em seu mais correto dos lugares

Silêncio total

É só esperar os convidados

Para o banquete

Do caos que nós chamamos mundo...


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O Que Está Escrito Nesta Lápide?

O que está escrito nesta lápide?

Apenas uma data? Apenas algumas palavras?

Não, meu amigo. Não se engane...

Aí tem muito mais do que isso...

Aí tem todo um pequeno pedaço de tempo,

O intervalo do primeiro ao último suspiro,

Um depósito de ilusões também mortas,

O que foi e nunca mais o será...

Durou quanto tempo? Muito? Pouco?

Isso não tem importância alguma...

Muitos choros e alguns sorrisos contidos aí,

Não importando se lembrados ou não...

Lembram o anjo e o demônio

Que conviveram em perfeita harmonia...

Alguém foi embora, esperando ou não,

Alguém foi embora, chorado ou não,

Alguém foi embora, querendo ou não...

O que está escrito nesta lápide?

A sentença de medo de todos os homens,

Não importando o que na verdade não são,

Um bocado de ossos, poeira e ilusão...

Sentença cordial, nome, datas, versos,

Uma última canção não cantada,

Com rimas ou sem rima, não importa,

Pois de agora em diante será calada...

Os sóis não lhe agradam ou desagradam,

Não corre procurando abrigo para a chuva...

Não se alegra com dias de carnaval!...

O que está escrito nesta lápide?

É uma pedra mágica um tanto mágica,

Onde até um número apenas

Pode substituir as derradeiras palavras,

Como se fosse um enigma de um enigma...

 

domingo, 10 de julho de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 181

Não ando de bicicleta,

Nunca andarei,

A coisa é secreta,

Não saberei,

A pedra é concreta,

Eu lá tropecei,

A estrada é reta,

De lá me desviei...


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Velhas figuras me fazendo chorar

Não consegui acompanhar o vento

Quando cheguei cheguei atrasado

Já estava no final da festa

Velhas canções me maltratando

O coração repete indefinidamente

Eu sou aquela velha sombra

Que ainda espreita pela madrugada...


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Todos inocentes

E ao mesmo tempo - culpados

As estrelas brilham indiferentes

Cumprindo apenas seu papel....

Todos em seu tempo

E mesmo assim perdidos nele

São muitos labirintos

Que não cabem nos versos...

Todos os carros

Trafegando como monstros

Enquanto procuro minha ternura

Que perdi numa rua por aí...


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Pequeno como qualquer coisa

desconheço grandes temas

Não mirarei para montanhas

e também não gritarei com o mar

Talvez as nuvens me bastam

e um silêncio inquietante

Como quem vai morrer

Mas desconhece o momento...


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Um solo sem dolo

Tentei fazer mas não o consegui

Um solo fui tolo

E acabei saindo por aí

Amor, acenda logo essa pira

Cansado estou

E preciso me deitar...


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Já falei de tudo que podia

E do que não podia também

Já acendi a luz do dia

E não achei um porém

Meu segredo ninguém saberia

Era te querer tanto bem


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Como numa grande corrida

Os dias disputam entre si

Quem ganhará a disputa?

Jogam suas cartas:

Manhãs, tardes, noites, madrugadas.

Cantam suas canções de sóis e chuvas,

Regem os concertos de passarinhos,

Pintam suas telas de nuvens...

Quem é o vencedor?

Nenhum deles, todos morrem...


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sábado, 9 de julho de 2022

Paganismo

Que me falte o ar em  quantidades

Que me falte a luz vez por todas

Minha insistência chegará na minha cara

Como o inevitável sol lado de fora

Mesmo que me adiante pela escuridão

Tangem os violinos em estranho lugar

O bonito acabou virando fantasia

E o vulgar apenas a receita de bolo

Rojões explodem em ares próximos

E por um triz não chegam nas casas

Ou ainda não invadem os tais quintais

Eu sinto uma tremeção quase inédita

E ainda muitas surpresas irão acontecer

Dói muito e ainda dói mais ainda

Saber que em qualquer lugar por aí

Andam minhas lembranças mais caras

E o fio que me salvava daquele labirinto

Acabou se rompendo definitivamente

Eram duas horas de qualquer tarde

Em que apenas previa e não sabia

Eu escolho palavras como quem esmola

Na porta da igreja ou na porta da necrópole

As moedas serão exatamente as mesmas

Meras rivais de uma miséria presente

Em todos os cantos possíveis

Até os pombos e outros seres sabem

Desta minha estranha proeza

Minhas dores de cabeça a roem

Como ratos com bastante fome

Venham meninos está na hora do lanche

Algumas fogueiras estão ainda acesas

E consigo sobreviver de certa forma

Mesmo me sentindo um tanto morto...

sexta-feira, 8 de julho de 2022

De Saudade O Desespero

Eu danço no meio da rua

Como quem enlouquece

Mesmo que para tal feito

Nenhum motivo precisasse...

Eu junto meus medos

Como fosse um paranoico

Que se impregna 

Mas nada faz efeito...

Quero engolir esperanças

Mas quando elas chegam

Em minha garganta

Acabam voltando e vomito...

Queria estar errado

Pedir mil desculpas

Mas cada ferida

Acaba tendo seu preço...

Eu me arrisco sob a chuva

Como quem tenta voar

Do alto de um prédio

Mesmo sabendo o risco...

Todas estas palavras

Gravei-as em mim

E não posso mais

Tirá-las de minha alma...

Num eterno carnaval

Tento em vão esconder

Algum amor que tive

E que não deu certo...

Agarrei meus enigmas

Com força pelos cabelos

Como selvagens que somos

Em nossa modernidade...

Eu espero como desesperado

Que a dança da chuva

Pelo menos essa vez funcione

E acaba a seca do coração...

Me diga por favor solidão

Se há algum elixir mágico

Que possa me salvar

De mim mesmo...

O trem ou o barco partirão

E eu não quero ficar

Na estação ou no cais

Com a mesma cara de saudade...

Não há mais o que fazer?

Talvez ainda haja

Mais algum voo para fazer

Sem escolher nuvens...






 

quinta-feira, 7 de julho de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 180

Mais uma! Dou um soco na mesa suja do bar enquanto minha vista começa à embaçar. É assim mesmo. As moscas voam de susto. Deve fazer calor ou frio em qualquer lugar por aí. Origem das espécies. Mais uma! Talvez seja apenas um simples automatismo que a tristeza nos dá. Conseguimos transformar. Já dei muitas vezes com a cabeça na parede. Pois eu mesmo sou o meu carrasco. Mais uma! Uso um invólucro dourado para as minhas taras. A esfinge saiu correndo pelas areias do deserto. A pedra filosofal chegou aos camelôs da nossa maravilhosa cidade. Mais uma! Nada com nada tem tudo a ver. Quero a sordidez até o final dos tempos. Opus Magnus, cada um tem a sua cruz. Mesmo que a seja inverossímil o enredo deste romance. Somos todos apenas o que somos. Mais uma!...


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Tristeza em gotas homeopáticas...

(Me esforçarei para poder engoli-la...)

Eu enfeito com lantejoulas

Esta minha tão triste fantasia...

Muito antes de um tempo 

Em que o próprio tempo não existia,

Os meus medos me acompanhavam

E eles eram quase alegrias...

Tristeza em gotas bem contadas...

(Me esforçarei em disfarçá-la...)...


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Quando o doutor deu a má notícia - não me desesperei. Esperar más notícias pode frustrá-las. A previsão do espinho no dedo pode atenuar a malvada ferida. Poderia tentar fazer um drama como um ator de terceira, mas não quis. A minha aparente apatia deve tê-lo surpreendido. Talvez um tango para fundo musical pudesse servir. Não mais que isso. O tempo que tinha? Qualquer previsão beira à mediocridade e as estatísticas acabam mentindo para si mesmas. Não aos cálculos! Que ainda existam páginas em branco neste meu maltratado diário que de nada servirá um dia... O impossível gosta de fazer visitas. Nas madrugadas já existem filas. Ter medo da morte é mais do que o óbvio...


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Aquela música

Que eu não decorei letra 

E muito menos melodia

Mas que me perseguia

Por todas as ruas que andava

Nascia dentro do peito

Subia à cabeça

O tempo todo

Todo o tempo possível

E até me ninava

Para que eu dormisse...


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Nada é tão difícil e tão fácil

ao mesmo tempo do que sonhar

Sentimos o incômodo ao ver

tantas nuvens e não poder ir

até elas como queremos...

O meu cantar se calou

tão de repente que nem vi...


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Teclo as teclas com costumeira lentidão

A pressa não faz mais parte da minha rotina

Tenho é pouco tempo e aproveitá-lo

Agora faz parte do meu pobre roteiro de ilusões

A minha única velocidade agora são os sonhos

Poderei tê-los à tempo dia desses?

Não sei... Mas mesmo assim sonhemos...


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Quando daqui um tempo 

Uma mosca pousar em meu rosto

Não irei reclamar

Não irei tentar tirá-la de mim

Não irei espantá-la

O seu incômodo não será mais meu

Que venham todas elas

E tapem meu rosto logo de vez

Os mortos são pacientes

Nunca reclamam...


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Come Na Cuia

Comê na cuia Comê na tuia Comê na nuia Experimente o berimbau catreiro Em todas as noites de pé de sapo! Paca tatu Paca tutu Paca Dudu Apert...