quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Chama Morta

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Tentei guardar em vão 
a minha velha chama
enquanto sentado na sala
mudo de programa

Eu vivo em dias estagnados
é tudo apenas um quase morrer
e vou por caminhos errados
tentando apenas sobreviver

Tentei guardar em vão
a minha velha chama
mas não posso nem gritar
porque ninguém me ama

Eu vivo em dias de guerra
guerras aqui dentro, guerras lá fora
e enquanto mais a alma erra,
mais dá vontade de ir embora

Tentei guardar em vão
a minha velha chama
não há porque chorar
acabou-se o drama...

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Alguns Poemetos Sem Nome Número 44

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Eu sinto tipo uma agonia
por números que não sei explicar
guardiões implacáveis
de uma certa incompreensão
impregnada de muita lógica
persegue-nos por onde vamos
e quer nos vender sempre
aquela tranquilidade inexistente
o incerto é a certeza
que está olhando para o outro lado
nada tenho à declarar...

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Remexer em determinadas memórias
é o mesmo que desenterrar mortos.
Relembrar de certas tristezas
é o mesmo que multiplicar dores.
Repetir os mais teimosos erros
é como se atirar do alto sem pára-quedas.
Remoer já passadas paixões
é como insistir em caminhos malvados.
Não é necessário ferir-se com espinhos
já basta teimar em reviver alguns sonhos...

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o sinal está fechado
o tempo está fechado
até o sorriso fechou...
em ritmo acelerado
em passo alucinado
nem sei onde vou...
e são tantas
as coisas que 
tento explicar
e ainda não consigo...
por que eu
estou por aqui?

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não posso dançar na chuva
mas posso olha-lá
e assim ir sonhando...
não posso caminhar como antes
mas posso tentar
dar mais alguns passos...
os passos que dei pelo caminho
minha alma acabou gravando...
as ilusões que tive um dia
estão lá no mesmo lugar
esperando que eu as reencontre...
os sorrisos são bem melhores
mas só o choro me serviu 
para que não ficasse mais só...

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a solidão não traz paz
mas traz calma...
o choro não alegra
mas lava a alma...
andemos cientes
que tudo pode acabar
tanto o mal
quanto o bem...

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eu me lembro de quase tudo
(o quase fica por conta da memó
ria)
eu ri e chorei por quase tudo
(o que não aconteceu não importa)
eu desejei muito quase tudo
(paixões mornas não existem)
eu pintei a minha desilusão com cores novas
(a poeira do tempo leva tudo embora)
eu quase não sei de mais nada
(o instante seguinte é um mestre)
eu queria contar as estrelas do céu
(mas meus olhos não conseguem desviar do abismo)...

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o tempo me esqueceu aqui
enquanto
distraidamente 
conversava com meus brinquedos
tudo foi indo embora
e eu não notei
que era apenas mais um só
tudo mudou
agora é tarde
continuo sendo um velho menino
chorando em meio
à sombras malvadas...

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domingo, 24 de novembro de 2019

Cegos Sim

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Cegos sim, cegos de montão,
temos raciocínio, não temos razão...

Olhamos o que olhamos,
nada mais podemos ver,
em tudo nós acreditamos,
mas é impossível crer

Cegos sim, cegos de montão,
não temos espaço, mas sim a imensidão...

Ouvimos o que ouvimos,
mas nossa surdez é total,
para o fundo nós subimos,
é uma alegria geral

Cegos sim, cegos de montão,
tudo tem causa, não tem explicação...

Nosso olfato é deficiente,
a cada minuto ele nos trai,
nada nos é mais diferente
toda e qualquer casa cai

Cegos sim, cegos de montão,
não há como escapar do pelotão...

Tateamos sem perceber nada,
nada nos detém, nada importa,
no mês que vem vem a jornada,
a alma viva também é morta

Cegos sim, cegos de montão,
não há como escapar da putrefação...

A paixão vai longe demais,
o amor morre mesmo por aqui,
toda a hora se procura a paz,
mas se tem medo de cair

Cegos sim, cegos de montão,
temos raciocínio, não temos razão...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 23 de novembro de 2019

Um Poema Meio Que Sincero

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Não me ame pelo que tenho
mas me ame pelo que eu sou
Não me pergunte donde venho
pode perguntar pra onde vou...

Eu vou acender as estrelas do céu...

Não me despreze pela aparência
pois a vida tem que ser assim
eu tive toda essa paciência
de plantar rosas no teu jardim...

Mesmo com espinhos vou colhê-las...

Não se escandalize com a história
dos erros e dos acertos que eu fiz
hei de guardá-los na memória
com as tentativas de ser mais feliz...

São as tentativas que fazem a vida...

Não me pergunte sobre o que penso
pergunte sobre as coisas que faço
eu sinto um frio mais que intenso
o que mais preciso é um abraço...

Pode me abraçar como se eu morresse...

Não me pergunte se ainda estou vivo
me pergunte se ainda não morri
deve haver pelos menos um motivo
para ainda estar vivendo por aqui

A mesmo motivo mata e dá vida - o amor...

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Naturalmente

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Naturalmente carregamos nossas correntes, 
nossas vaidades e nossas ambições.
E rimos de piadas sem graça feito dementes, 
nem esperamos quaisquer explicações...

É a roda do tempo que vai girando e girando,
até que não possa mais rodar mais.
E quando percebemos nem mais respirando
estamos, somos apenas simples mortais...

Naturalmente jogamos algumas sementes
contando que venham boas estações.
Queríamos resultados que fossem diferentes,
mas até a tristeza tem suas variações...

É o espelho que vai aos poucos envelhecendo,
até que se quebre e não possa colar mais.
Relemos nossas lições e nunca aprendendo
mostramos que somos apenas simples boçais...

Naturalmente temos os nossos repentes,
não podemos conter todas as nossas emoções.
E os nossos medos mais que latentes
nos assustam mais que feias aparições...

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Minha Lilith

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Eu te construí assim
malvada, perversa,
bandida, confessa,
o mal dentro de mim...

Foi minha grande obra,
a mãe, a dona, a menina.
pirada, minha ave de rapina,
malvada pior que cobra...

Eu te imaginei assim,
minha porta, minha janela,
assustadoramente bela,
simples começo do meu fim...

Loucura sem um limite,
meu tudo, também o nada,
em que parte estás exilada
ó minha pequena Lilith?...

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Supostamente Nada

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É a perspectiva tacanha de visões que assustam. 
Nada beira à perfeição do desengano. E as marcas em nosso corpo apenas apontam caminhos que não poderemos andar. Todos os relógios são cruéis. Os espelhos gargalham sempre...
Atravessamos o deserto de nossos corações.
O chão está coberto de sonhos mortos pelo ontem. E paralelamente tentamos ignorar tal fato. É um livro de receitas abertos e o feiticeiro falando suas fórmulas sem algum resultado plausível...
Toda deterioração é apenas questão de tempo.
Quem faz um sexto faz um sétimo.
Os incógnitas mais evidentes escondem-se em via pública. São muitos papéis e poucos atores. Alguns anéis atrapalham os dedos e frases curtas podem até ser bem legais...
Eu faço tatuagens como quem toma um gole.
Os estacionamentos são tão grandes que acabo me confundindo e me perdendo. A fórmula química não veio na proporção exata que esperávamos e isso é muito perigoso. O simples quase sempre tem boa mira...
A irrealidade é baseada em fatos reais.
Faz tempo que eu não desço a ladeira porque não a subi mais. Os lobos permanecem enclausurados em suas matilhas. Eu queria pular bem no fundo e ele era raso demais...
O perigo de fazer perguntas é que podem ser respondidas.
Gosto de fazer nada quando isso não me cansa muito. Gasto espirros que poderiam ser usados mais tarde. Neguei notícias que poderiam ter sido muito tristes...
Nada incomoda mais que o nosso comodismo. O tédio tem a velocidade das estrelas e acabam sujando nossas mãos. A permissão para omissões custa tão pouco...
Estudos comprovam que não há nada comprovado.
A opinião alheia é apenas uma opinião como qualquer outra. É meio estranho que não há nada de estranho em tudo que nos cerca. Fatidicamente a massa acabou solando e as boas intenções foram no mesmo rumo...
Os niilistas estão desesperados com suposta filosofia.
Um sorriso pode ser o começo de uma boa morte. É apenas a mudança de alguns termos. Carros em alta velocidade e passos lentos como os de uma tartaruga. Já mandei tudo para o inferno e acabaram não indo...
A brisa mansa anda meio aborrecida.
Engraçadamente tudo acaba ficando no lugar que está. Os começos podem ser bons ou ruins e todos os finais de igual forma. Só a saudade vale algum valor e a pontuação das frases são espinhos...
Toda perversão tem seu lado quase inocente.
Não quero ficar no palco e nem na plateia. O corpo não é mais santo desde o primeiro momento. Certos heroísmos são loucuras e os outros também...
Como sempre estamos como sempre.
Grandes ideias já nascem detalhadas com algumas generalidades. Paradoxos são como alguns livros de bolso. A mocinha acabou se apaixonando pelo vilão no meio da trama. Tudo está agora modificado...
Em alguns momentos se perde toda a direção.
Meus pecados estão gravados em meu DNA. E alguns prédios até me emocionam com sinceridade. A total embriaguez pode ser apenas um luxo. A nulidade da maior parte das vidas é mais um dado à ser observado...
Porque não fiz nada é que acabei fazendo tudo...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Alguns Poemetos Sem Nome Número 43

Quem matou dia?
Faça-me o favor de levantar a mão...
Quem soprou as nuvens para longe?
Agora me falta caderno para desenhar...
O encanto se dissipou
e os meus olhos pararam de sorrir...
Não posso nem gritar,
estou vivo por qualquer milagre desses...
Sei que pareço ser um ingrato, 
mas essa ferida me dói e tanto...
Quem matou o dia? 
Vá andando, nem ligue para isso, 
meu desespero vem dobrando a esquina...

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Já cheguei no ponto extremo da linha
em que cego-me e surdo-me 
para as coisas que não importam

Esqueço compromissos propositalmente
para aproveitar o tempo
em algo que tenha mais ternura

Não sei o que o destino me reserva
mas acabei aprendendo
que as alegrias e as tristezas são minhas

O medo é agora um bom companheiro
como qualquer um outro
que conheci pelo meu caminho

Admito todos os meus defeitos presentes
e tento dentro do possível
fazer algum bom uso dos mesmos

Meu grande vício é a vida
e hei de aproveita-lá
como um viciado até o último trago...

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a boca fechada 
os olhos também
e a fácil solução
de nada ser
mesmo que seja
um esforço
mais que inútil
eu faço versos
num canto
e morro sem 
ninguém ver...

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a vida é um poema
mal feito
e com erros gramaticais
onde mostramos
nossa mais completa
ignorância
à respeito 
de qualquer coisa
a concordância falhou
e só queremos
o indesejável
declaramos
o inconfessável
pelas praças do mundo
e nem sabemos
o nosso rumo
nada vale a pena
ou quase nada
por falar nisso
a vida é um poema
mal feito 
e a morte
um derradeiro
conserto
nos versos...

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De onde saíram estas palavras
há sonhos quietos em seus sepulcros...
De onde originou este sonho
jaz o meu amor mais que impossível...
Eu olho um céu sem nuvens
em que a luz me queima...
Não há mais flores para arrancar
e contar suas pétalas...
Mal-me-quer, mal-me-quer...
mal-me-quer, mal-me-quer...

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olhos gastos é o que temos
para enxergarmos mais um dia...
ouvidos cansados é o que temos
para as evidências sem sabor...
daqui dessa praça vejo o mundo
e mesmo assim meu coração
vai andando em outras terras...
tudo foi e é e será dessa forma...
azuis acabaram perdendo seu tom...
e mesmo que o sol insista em não vir
continuarei cantarolando
aquela mesma canção de sempre...

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matei a minha esperança
em versos tímidos
catei todos os pedaços
do meu espelho
não era assim que eu queria
mas alguém o quis
o destino brinca conosco
mesmo cansados
se pudesse retroceder no tempo
teria mais cuidado 
para poder chorar bem menos

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domingo, 17 de novembro de 2019

A Dança dos Bonecos

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Não tenha pena de mim porque em meu desvario ando por ruas que desconheço indo para os lugares mais hostis possíveis. Já me acostumei com tal coisa desde o meu primeiro choro na sala de parto.
Levei muito tempo, o tempo todo que tive até hoje, descobrindo que o que pode ser mudado, assim o será, mas nem tudo pode. Os sonhos, por exemplo, são dardos fatais que não podem ser desviados e as presas somos nós. De igual forma, o amor não pode ser evitado, mesmo que isso signifique sangrar até a derradeira gota.
Olho em torno com a minha habitual desconfiança, como só os caçadores de impressões podem ser. Capto os sons, pequenos ou não, fazendo deles uma nova sintonia para minha alma mais que cansada.
Onde estou? Eis uma questão de suma importância...
Abro as janelas da minha percepção e vejo o que certamente não queria. Um mundo feito por bonecos, para bonecos e é só isso...
Um mundo de enganados, de iludidos, que apenas marcam as questões de uma prova que é feita o tempo todo, mas recheada de muitos zeros.
Aqui estão os que desperdiçaram suas vidas em pequenos detalhes, em necessidades fictícias, em vaidades intransportáveis. Os que fecharam os olhos e deram de cara na parede do desamor...
Ali estão os que jogaram fora seu pensamento na lata do lixo, pensando que sabiam algo, mas que nada sabiam. E quando o lixo foi recolhido, já era tarde demais...
Eis também os que riram de piadas sem graça por pura formalidade, os que se associaram ao ridículo em nome de princípios que não existiram. Alguns apagaram as chamas do contentamento e outros estragaram a festa da simplicidade...
Esfarrapados, quase desnudos andam todos, sem desculpa alguma por sua fatalidade. Esfomeados, mesmo com suas barrigas cheias, sem mostrar sensibilidade alguma por outros infortúnios. Desnorteados, sem saber onde está tudo aquilo que verdadeiramente precisavam. 
Planos são arquitetados para um fim que será de todos, juízes e réus ocupam o mesmo espaço, crimes e castigos são distribuídos como sem distinção. Quem fere e quem foi ferido irão para o mesmo lugar, só as culpas e os méritos farão a diferença.
Já estamos preparados para a travessia? Quem disser quem sim, estará mentindo mais mentiras que o habitual. Não há preparo algum para fecharmos os olhos, ninguém quer comparecer ao seu próprio funeral. E mesmo em atos de desespero, a esperança aumenta bem mais esta derradeira dor. Todo tiro acaba saindo pela culatra...
Olho em torno, sem querer mais enxergar, mas a minha mente se vinga dos momentos em que a desprezei por atender meu coração. 
- Olhe, seu filho-da-puta, olhe! - Me diz sem dó algum. - Olhe essas cores feias do dia. Olhe os abismos que cada um constrói para depois se atirar, as ilusões feito bichos domésticos que atacarão seus donos e os matarão. Olhe as belas carnes expostas no açougue da vida que as moscas pousarão para depositar suas larvas.
- Olhe, idiota, olhe! - Continua seu deboche. - Olhe as merdas que você também fez parte, as flores que você também matou; olhe a melhor parte que você também dispensou; as correntes que você usou por livre escolha...
- E por último... - Concluiu. - Bata palmas para os bonecos dançarem...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 16 de novembro de 2019

Passos No Escuro

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Eis os que passos que eu dou, que você dá, que nós damos, como se os pés não tropeçassem e caíssem, mas quase sempre isso acontece...
Falta o ar mesmo quando ele existe, como se tudo à nossa volta nos sufocasse da maneira mais cruel e impessoal, aconteceu porque tinha de acontecer...
Dúvidas existem como sempre e nem o relógio de pulso já não nos serve mais. A ilusão do tempo se acaba e apenas tudo demora e vai rápido ao mesmo tempo...
Aguço meus ouvidos na procura de sons mais amistosos, mas tal não acontece. É apenas um engano, mesmo as notas musicais aprontam certas armadilhas...
Muitas luzes contradizem o que se pensa, mas tomemos cuidado, estas luzes podem nos salvar ou nos matar, dependendo de onde estamos, alvos ou não...
Estou bêbado, todos nós estamos, dependendo do ângulo que somos vistos. A embriaguez é um caleidoscópio colorido onde todos os nuances podem valer alguma coisa ou bem menos que a menor das moedas...
Esqueci minha razão em casa, junto aos meus compromissos de burguês. Talvez o cinismo de tentarmos nos salvar desse certo, pelo menos uma vez e nossa alma perdida estaria quase salva...
Os bichos da noite cumprem suas obrigações habituais. Tudo perdeu seu sabor de mistério, a mesma realidade que torna as paredes multicoloridas, é a mesma que veste as mesmas de luto e nos assombra...
Não sei se chego ou fico pelo caminho, tem vezes que parecemos com certos sonhos, todos eles no começo pareceram que iam dar certo, mas acabaram não dando...
Não tenho pressa, a pressa acabou. Qualquer espaço é o mesmo, qualquer lugar agora é lugar, perderemos todos eles uma hora ou outra, só nos resta aproveitar as sobras do grande banquete que desperdiçamos um dia...
Consigo chegar, milagres podem até existir, sejam eles banais ou não. A claridade que nasce é uma fumaça às avessas. Os pássaros já tomaram seu café da manhã? Parecem tão animados e sempre que me esqueço de perguntar o motivo...
Eu era apenas um vulto que voltava para casa. O que sou agora? Apenas mais um triste deitado em sua cama solitária...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Água Morta

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Minha água morreu...
Quem matou?
Não fui eu...

Morreu por vontade do destino,
me matou em pleno desatino,
eu choro desde que era menino...

Minha água morreu...
Quem chorou?
Esse fui eu...

Morreu por um tempo ingrato,
enquanto nem eu me mato,
a tristeza é apenas mais um fato...

Minha água fugiu...
Quem notou?
Ninguém viu...

Morreu em sua loucura,
bêbada numa noite escura,
uma doença sem cura...

Minha água fugiu...
O que foi?
Minha estrela caiu...

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Nova Dança

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Eu sorria sem motivo por qualquer esquina vida e nem sabia o porquê...
Veja, meu amor, essa cortina negra cai sobre nós sem pena alguma e nem a morte poderá nos consolar. Os meus olhos já estão cheios demais de figuras e lágrimas como quem olha através da vidraça a chuva que impede o passeio de domingo à tarde...
Permanecia calado sabendo que bons ventos nunca mais iriam vir ao meu encontro...
Saiba, meu amor, que meu coração é apenas um poço esquecido em um terreno baldio onde o mato cresce. Cada batida é como um tambor na mão de um menino que vai brincando sozinho porque só conhece mesmo é a solidão...
O meu desespero é o mais tranquilo possível e isso acaba me irritando cada vez mais...
Não queira saber, meu amor, o demônio que se esconde por trás da cortina enquanto a plateia permanece silenciosa esperando o grande espetáculo que talvez nunca mais aconteça. Aqueles dardos invisíveis me feriram gravemente...
Nem sempre o sol aquece nossas almas e isso pode ser fator determinante dos sonhos morrerem...
Ainda tento, meu amor, fazer um final feliz para minha novela, mas o impossível gosta muito de dar seus palpites e isso não é nada bom. As figurinhas que recortei o vento já levou...
As naus já partiram do cais e os trens correram sobre os trilhos, eu acabei perdendo a viagem...
Não se preocupe, meu amor, tudo acontece, tudo pode acontecer dentro de qualquer espaço, nada escapa. Eu posso estar aqui nesse exato momento e ser abduzido imediatamente para as estrelas mais distantes, nesse caso, nunca mais voltarei...
Estou cansado de tanto estar cansado, quero o espaço das águas de um pequeno riacho onde dormir seja a palavra de ordem...
Perdoe, meu amor, sou apenas mais um órfão que perdeu seus brinquedos, que não pode mais abraçar sua própria ternura, sigo meu caminho de incerteza por onde vá, é apenas assim...
Fique comigo pelo menos mais um pouco, até que eu dê meu último suspiro, depois uma nova dança lhe espera...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome Número 42

Ao mesmo tempo tesão
ao mesmo tempo carinho
ao mesmo tempo paixão
ao mesmo tempo espinho

ao mesmo tempo certeza
ao mesmo tempo à esmo
um barco na correnteza
ao mesmo tempo eu mesmo...

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escuta meus gritos mudos
antes que se sequem
como uma flor arrancada
que murchou de vez
quando o coração sobreviver
e parar de se maltratar
talvez seja tarde demais
e só a morte - essa chata -
te cumprimente rápida
e mesmo assim vá embora

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Desculpe, falo sinceramente
até o que não queria mais falar
a tristeza comeu minhas carnes
até o dia que deixei fazer isso
não quero mais tal coisa
o meu sangue ainda corre
em todas as partes do meu mundo
talvez a morte nos faça unir
de um jeito ou de outro
mas mesmo assim não desisto
de viver mesmo desesperadamente
meus versos estão surdos aos apelos
e são vomitados no dia a dia
como quem bebe demais
ou quem bebeu de menos
mas acabou dando na mesma
Desculpe, se te amei,
foi apenas isso, mais nada...

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madrugada insólita como qualquer outra
e meu coração vagando em todos os lugares
o cães gritam na minha passagem trêmula
e os gatos andam pelas mais espessas sombras
onde irei se não existe mais algum rumo?

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mar de vida
entanto
noite maldormida
e nada
mais nada
e ainda nada
eu quero a sorte
um porto seguro
livre do escuro
sem muro
sem morte...

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riam o tempo todo
riam sim
das piadas sem graça
riam de mim
as tristezas
podem ser engraçadas
e tudo pode não passar
de um conto de fadas...

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quando cheguei aqui
era tarde demais
quando cheguei ali
também era
sem paz
e sem espera
sem mais
nada mais era...

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nada mais quero
é o fim da dança...

e tantas luzes
acabaram cegando
e minhas alegrias
acabaram chorando....

nada mais quero
é o fim da dança...

e tantas vozes
atordoaram a mente
e o peso da vida
matou a semente...

nada mais quero 
é o fim da dança...

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terça-feira, 12 de novembro de 2019

Ciranda Infinita

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Eis-me aqui em altos brados de silêncio, olhando para o nada em pleno nada que é que podemos chamar de vida... A chuva vai tão de repente, zombando de todas as previsões... Assim há de ser tudo o que há...
A cabeça dói com tanto tudo e com tanto nada em igual forma. Onde andará a inocência que me protegia em sua constância? Símbolos acabam morrendo também...
Um melodrama diferente todos os dias é encenado, mas a plateia sofre de grave apatia... Mãos se estendem pedindo ajuda, mas os pedestres têm muita pressa... A bola rola mesmo se o campo estiver vazio...
Nunca conheceremos a forma exata dos sons, mas mesmo assim nos ferimos com alguns deles. Haverá algum cálculo para os nossos erros? O Pomo da discórdia está lançado...
Nenhuma resposta é suficiente para certas perguntas, a dúvida continua em giros pelo ar... A caverna em que me encontro pode não ser bela e nem convidativa, mas me dá certo abrigo... Dispenso as palmas da ingratidão...
Eu percebo os detalhes de cada história, é o menino olhando formigas em marcha. O tempo ainda terá algum dó de mim? Disfarço minhas feridas com a roupa nova...
A festas agora me incomodam, não por elas, mas por mim... A alegria dos outros, mesmo sem querer, incomoda aos tristes... As sombras me assustavam, agora a situação é inversa...
O ar me falta, mesmo quando parece ser suficiente... Estarei dentro de um sonho sem perceber? Os pesadelos nem sempre são hostis conosco...
Guardo algumas cenas que são banais, isso virou mais do que uma mania... É como ler algumas lápides e fazer dos epitáfios uma interessante reportagem... De uma forma ou de outra, todas recebem sua dose maciça de esquecimento...
Quero dançar! Quero dançar! - Dizia assim um velho jogando fora suas muletas... Nossa loucura ainda nos serve para alguma coisa? A comodidade de um morrer sem dores sempre nos agrada...
Tem vários tiques, várias manias como qualquer um vivente, isso é normal em nossa anormalidade... Gostaria de dançar sob várias chuvas, mas não posso mai fazer isso... Uma certa dose de conformismo também pode ser indício de coragem...
Eu me lembro de certos dias, mas eles morreram e não ressuscitarão mais... Estarei sendo um bocado exagerado? Não sei, só queria de volta aquela ciranda infinita...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 10 de novembro de 2019

Segundas, Quartas e Sextas

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Eu não me preocupo mais como serão os dias, não por fatalismo, mas o tempo me ensinou que é assim. Dores atingem nossas carnes de igual forma. Chuvas e sóis são igualmente bons e maus...
Muitos acordam, outros não. Muitos vivem, outros morrerão. O trem de uns chega e de outros parte da estação...
Guardo-me como marisco se defendendo do mau tempo que aqui está, é a única coisa que posso fazer. Não fujo como um covarde, mas certas porradas doem mais que outras...
Muitos comem, outros não. Uns voam, outros caem no chão. Uns têm a benção, outros a maldição...
Vivo atento à todos os fatos como uma fera na selva, presa e predador sempre. Sobreviver sempre, mas nem sempre isso é vantagem. Tudo é uma grande corrida sem prêmio algum...
Muitos gritam, outros não. Andam alguns sob o sol, outros na escuridão. Muitos são cruéis, outros tem compaixão...
Perdi a noção de tempo, misturei tudo que há em meu mundo, não sou passado, presente ou futuro, sou apenas impermanência. Toda ilusão é mais real do que se possa imaginar...
As figuras expostas no meu álbum não dizem mais nada, perderam o sentido. Não é que o esforço foi vão, mas tudo carrega uma forte dose de ironia...
Muitos estão por aqui, muitos não estão. Alguns na realidade, outros na imaginação. Uns dormem no frio, outros acordam no verão...
Todo tesouro é mais uma banalidade levada à sério, a teoria da relatividade funciona perfeitamente sob todos os aspectos. As flores que eu te levava escaparam-me das mãos...
Muitos são o original, outros a versão. Uns usam a cabeça, outros o coração. Alguns têm a calma, outros têm aflição...
Eu tomei medidas de segurança inúteis, a morte não vem de fora, brota de todos os peitos. Toda fogueira cansa e se apaga e só nos resta ficar no escuro...
Muitos são o espinho, outros o botão. Uns passeiam de pé, outros de avião. Ontem foi o dia do gato, hoje é o dia de cão...
Tudo em seus mínimos detalhes até que a casa caia, caiu a alma e todo resto também caiu, é assim mesmo, não há um outro jeito. Eu me crucifico todos os dias pela ascensão que nunca vai haver...
Muitos são o inimigo, outros são o irmão. O pobre não tem nada, o rico comprou a razão. Tudo é tão doce, parece até um limão...
Os meus demônios têm sede e querem água benta para benzerem suas mazelas mais fúteis. A dor é um artifício como qualquer outro, já que nada mais é interessante...
Muitos usam trapos, outros passeiam em Milão. Cada qual com sua perda, cada qual com seu quinhão. Não me faça cara séria, você é o nosso bufão...
Eu quero velhas músicas esquecidas das pessoas, afinal de contas, o mais esquecido sou eu. O louco de plantão sem sobriedade alguma. Ninguém me quer, vejo objeto jogado num canto...
Muitos comem farelo, outros comem ração. Pare de besteira, feche esse bocão. Tudo é apenas flor, tudo é apenas canhão...
Os lixeiros aqui na rua passam nas segundas, quartas e sextas, me coloquem num saco e deixe que eles me levem...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 9 de novembro de 2019

É Tudo Gente

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Não se queixe,
vá adiante, me deixe,
me deixe amar como quero,
eu sou aquilo que espero,
não aquilo que você quer.
Saiba que homem e mulher,
é tudo gente, 
todo amor é igual, nunca diferente,
mesmo o que você não sente...

Olha a vida,
querido, querida,
ela é o tempo que corre,
um dia todo mundo morre,
um dia todo mundo dorme.
Seja pequeno ou seja enorme,
é tudo gente,
todo amor é igual, nunca diferente,
tanto o triste como o contente...

Vai em paz,
linda moça, belo rapaz,
estamos aqui de passagem,
por isso pare com essa bobagem,
o amor é sempre o amor,
Seja na alegria ou na dor,
é tudo gente,
todo amor é igual, nunca diferente,
seja insano ou coerente...

Somos todos gente... É tudo gente...

(Extraído do livro "Leonardo e O Chão" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Algumas Indagações

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Olha que eu ando por todos os cantos
como um desesperado sem meta
Como saberei onde vou chegar
se não quero ir à lugar nenhum?
Por um instante esqueci as nuvens
e a poeira nos pés não me incomoda
Ainda me lembrarei qual meu nome
se ele está escondido entre muitos?
Estou surdo entre tantos carnavais
e mesmo assim danço feito um louco
As cortinas se fecharam e não notei
e ainda continuo assim representando?
Os espelhos estão todos em cacos
mas ainda assim continuam sendo
Faz tanto tempo e são tantas canções
e ainda teimo em não aprender?
Gostaria de viajar para as estrelas
mesmo sabendo que há total risco
Haverá alguma diferença básica
ou estamos todos apenas enganados?
A solidão é um carrasco pontual
que não deixa suas tarefas por fazer
Eu acabarei me acostumando ou não
de que todas as previsões falhem?
Nem que os leões fujam da jaula
eu acho graça em velhas piadas
Estarei sumindo bem aos poucos 
e me tornando meras palavras?
Não há bares que eu não conheça
e as minhas alucinações são comuns
Os fantasmas me amedrontam
ou sou eu que os faço fugir de medo?
Um pequeno barco na tempestade
é talvez o que me restou da vida
Que importância tem isso agora
se tudo vai se consumindo aos poucos?...

(Extraído da obra "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Meu Nome É Nuvem (Baseado numa canção de Lô Borges)

Resultado de imagem para menino na chuva
Meu nome é nuvem
não me peça pra ficar
eu já fiz todas as coisas
já tentei até te amar...

Meu corpo é água
eu só posso só dançar
já fui aí de baixo
mas não tenho mais lugar...

Caio em todos os lugares
Por que iria me importar?
Posso ir até desertos
ou posso cair no mar...

Sou sereno ou tempestade
posso até te matar
caio pelas madrugadas
posso cair sem molhar...

Meu nome é nuvem
eu não posso mais ficar
eu já fiz todas as coisas
já tentei até te amar...

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Apenas Luto

Resultado de imagem para menino vestido de preto
Apenas isso...
o que eu tento chamar de vida,
cansada, calada, vencida,
mas que pode ser mais nada,
cansada, vencida, calada...

Os sonhos escaparam dos dedos,
há eternos corredores e seus medos,
quebraram-se todos os meus brinquedos...

Apenas isso...
o que eu tento chamar de amor,
escorraçado, calado, com dor,
é mal que não pode ser sarado,
escorraçado, doído, calado...

Os olhos fechados para o não,
acostumados com essa tal escuridão,
brincadeira de muito mau-gosto, solidão...

Apenas isso...
Apenas luto...
desses que nem se quer sequer lembrar...

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Alguns Poemetos Sem Nome Número 41

Resultado de imagem para menino cabisbaixo
muito que aprendi
eu esqueci
mas o que sofri
ainda dói
pouco ou muito
tanto faz

todos os meus amores
já morreram
mas cada um deles
feriu-me 
como se fosse 
me matar

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preciso de coisas que nunca tive:
planos que dão certo
amores que retribuem
manhãs de total calma
passos menos cansativos
paixões domadas
ternura suficiente
se vou tê-las é outra história...

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quase nunca
quase sempre
destino moeda rude
quase medo
quase coragem
a ilusão se ilude
quase perto
quase longe
fiz o que pude

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pássaros em bando
sonhos chorando
meu céu desabando
e assim segue
os passos de um triste...

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Sentado na barbearia
Vejo os carros através
Da porta de vidro
As outras pessoas
Esperam sua vez...
A TV está ligada...
Tudo passa aos meus olhos
Numa sequência impaciente
De quem só respira
Pensamentos são abismos
Já cansei de me atirar...
Engoli tanta coisa...
As estranhas estão
Cheias de cadáveres
De sonhos perdidos
Em sujas batalhas...
Quem me dera
Mudar a alma
Como aparência...

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Sou apenas isso...
O sobrevivente do temporal
Caído na noite fria...

Sou apenas isso...
A careta patética no espelho
Querendo arrancar rugas...

Sou apenas isso...
Mil palavras desarticuladas
Que falavam de amor...

Sou apenas isso...
O corte sem sorte...
O norte com morte...
O desespero que respira...

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eu sou do que passou

do que morreu 
e foi sepultado
mas não cheguem perto
meus mortos costumam acordar

eu sou do que não volta
do que correu
e não foi pego
mas não se importem
até o gosto saiu da minha boca

eu sou do que perdeu a corrida
do que escorreu
de uns olhos agora tapados
não tenham pena alguma
meus próprios sonhos me mataram...

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Come Na Cuia

Comê na cuia Comê na tuia Comê na nuia Experimente o berimbau catreiro Em todas as noites de pé de sapo! Paca tatu Paca tutu Paca Dudu Apert...