quarta-feira, 29 de maio de 2019

O Mesmo de Sempre

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Minhas dúvidas são como répteis que me seguem sempre querendo morder meu calcanhar. Será? Eu faço novas experiências com o velho alquimista e nem importo com as teias que eventualmente acabam entrando em minha boca.
Tenho deveras medo dos portos que tenho que partir ou que vou chegar. Será? Há gostos que eu esqueci com muito esforço e há outros que eu guardei em sereno desespero.
Misturo palavras e rimas até não poder mais aguentar. Será? Os soldados estão chegando com a cara séria e muita vontade de rir da piada que ainda não escutaram.
E as novas músicas exercem todo um fascínio que só o flautista sabe explicar. Será? Nunca escrevemos tantas páginas em branco porque o tempo nos foi roubado na mão grande.
Eu tenho medo da fumaça dos incensos indo pra lá e pra cá. Será? Em redondilhas mancas quase nem me entendo e dispenso algumas lições que outro dia mesmo precisava.
O galo de metal já cantou no alto do edifício e já é hora de se acordar. Será? Nunca estivemos tão felizes com nossas infelicidades e as novas drogas nos estimam como ratos de laboratório.
Um menino pobre juntou suas pratinhas e comprou balas na rua de lá. Será? Tento asfixiar-me apertando minha garganta e os meus dedos dizem que não ajudarão um estranho.
Morangos com gosto de pêssego e os usuais dropes de anis é o que temos pra degustar. Será? E o meu calor se transforma em frio com todos os enfeites que qualquer uma loucura requer.
Eu não sou um e sou outro em outro sem um quê para explicar. Será? Nada fiz de bom ou de bonito ou de certo como os milhões que tentaram e acabaram indo.
Alguns me conhecem e outros me estranham e alguns nem querem me cumprimentar. Será? Uma bomba caiu e sobreviveram todos o que causa lamento em nossa vil exibição de comoções.
Um carro passa com som bem alto e fala de coisas que não vou comprar. Será? Os meus instintos estão adormecidos por conta da inutilidade dos dias de hoje.
Quem um dia bateu na minha cara hoje não pode me atacar. Será? Lamento muito que algum dia desses a maldade aceite que estava errada e acabe chorando.
Alguns morcegos andam no dia pro sol poder enfeitar. Será? As minhas ilusões costumeiras bailam na minha frente como as modelos das revistas que eu comia.
Os robôs agora possuem também o seu lar. Será? Sem dúvida alguma em nossos tempos muito se acha invertido e vilões e mocinhos agora estão indistinguíveis.
Me dê algumas folhas que é pra eu fazer um chá. Será? Velhos conceitos surgem das cinzas e o acabam-se tudo o que é imortal e possível.
O cara é um filho-da-puta e não se pode mais negar. Será? Em malabarismos nos contradizemos e nossa maldade escapole nas asas do primeiro anjo que pedirmos.
Vamos parar de uma vez com esse quá-quá-quá. Será? As minhas mãos não possuem mais calos e os meus pés já estranham qualquer caminho.
Narguilés que às vezes matam é o que temos pra fumar. Será? Tenho dúvidas que nunca dissiparei enquanto não puxar o fio da meada ou ter a velocidade das flores.
Me bota uma aí Seu Zé! Qual? O mesmo de sempre...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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