quinta-feira, 30 de junho de 2022

Simples Assim


Simples assim,
Simples sim,
Simples de dar dó,
Não queiramos mais que inocência,
Nem filosofias abstratas ou ciência,
Pois a cabeça dá um nó...

Queremos risos sem ter motivo,
Para estar aqui, estar ao menos vivo,
Nossa roupa está rasgada,
O carnaval acabou, não resta nada,
O amor passou, o amor foi embora,
Toda tristeza também tem sua hora...

Simples assim,
Simples sim,
Simples de até doer,
Não queiramos mais que a ternura,
Não queiramos mais do que a cura,
Do grande enigma de viver...

Queremos nuvens aos montes,
Queremos passar por todas as pontes,
Nossa maior dádiva é a insanidade,
Queremos é fugir desta cidade,
Talvez não possamos mais andar,
Mas ainda podemos voar...

Simples assim...

(Para João Vicente Ramalho, poeta).


 

Cada Dia É Um Besouro Que Escapa das Mãos




Eu vejo tortamente o choro

Assim que meio sujo

Das carpideiras malpagas...

Não há morenas para chorar por mim e nem aviões que desapareçam em fatídicos triângulos, mineiros ou não. Eu desperto aos dias com o meu fraco tem que conto aos poucos...

Um pobre cão uiva 

Em quaisquer manhãs

E os bem-te-vis não se importam...

Ninguém sabe como será o gosto do café, podem haver falhas de percurso imprevisíveis. Só ficaremos surpresos se não houverem mais surpresas...

O meu sono me hipnotiza

E tira coelhos da cartola

Que afinal nunca tive...

Para explicar determinadas coisas não precisamos explicar quase nada, bastam alguns gestos. Imagino um outro céu que nem os loucos concebem...

Sua nudez não impressiona

O comum tomou seu lugar

E agora é tarde demais...

Cada dia é um besouro que escapou de minhas mãos, voou pesadamente com suas asas de discreta cor pesada. O segredo do faraó está bem guardado, mas sua alma não...

Meus olhos andam cheios

Não sei se de nada

Ou muitas águas salgadas...

A minha emoção engoliu à si própria, não seria mais motivo de riso algum de malvados. A peça ainda não terminou, mas o homem da cortina tem lá sua pressa...

O carro da propaganda passa

E o cara que fala nele

Parece rezar ou então gemer...

Olho para os meus pés, acabo enxergando velhos estranhos conhecidos. Músicas antigas podem até consolar meu coração, isso se eu ainda tivesse algum...

Eu vejo tortamente o choro

Assim que meio sujo

Das carpideiras malpagas...

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 177

É tudo apenas uma valsa triste
O salão? É o mundo...
Em que tudo teima e resiste
Mas apenas por um segundo...

É tudo apenas mais uma farsa
A nossa mentira não persiste
E nem o riso disfarça
O que é alegre do triste...

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Quantas voltas dá o cata-vento?
Na mão do menino dá voltas infinitas
Até que o tempo não exista mais...

Mar infinito de ondas giratórias
Girassol que mudou suas cores
Para ter todas elas de uma só vez!

Por onde andarão as praças e as festas
Em que pedia você ao meu pai?
Noites frias de São João agora mortas...

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Teste preste reste veste 
As palavras desfilam ante meus olhos
Para que algum motivo algum?
Veste inceste agreste peste 
Até o silêncio tem sons
Nunca parou para observar?
Celeste oeste faroeste cafajeste
Há uma música para tudo
Até as máquinas gostam de cantar?
Teste inceste celeste peste

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Matar-se de uma vez
Ou em pequenas doses?
Todo momento é mágico e único...
Por que desperdiçá-lo?
A morte virá ao seu tempo,
Tristezas e alegrias também...
Desesperar-se logo
Ou fazer isso aos poucos?
Toda tragédia vai acabando...
Vamos esperar mais um pouco!
O medo espreita à todos,
Rindo de tudo o que existe...

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Cartas marcadas, dado viciado,
Quebre as regras do jogo,
Não se importe com o rogo,
São tiros para todo o lado...

Passarinho de asa quebrada,
Misture o tudo com nada,
A vista está tão cansada...

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Amargo da língua
Em concepções raulseixianas 
Pesadelos que acabam agradando
Tudo se move mesmo na imobilidade
Me dê dois por favor
Os opostos se contraem
Queria eu que tudo retornasse
E o retorno fosse contínuo
Do que se gosta até se enjoa
Mas mesmo assim a teima é maior
Procurei no escuro
Mas só achei claridades obsoletas
Algumas mariposas bem pequenas
Acabam fazendo toda a esta...

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Discretamente com as nádegas à mostra
Ela bêbada e drogada gritava sandices
Para quem passasse por perto...
Onde estará minha antiga estrela?
Ao se refletir espelho do mar
Todo seu brilho acabou se apagando...

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terça-feira, 28 de junho de 2022

Eternidade No Bolso


Na cena (i)móvel de um espaço infinito

Deliro sem delírio algum frequentemente

Não sei se virei estrela ou se verme

Mas a eternidade está em meu bolso

Eternas lembranças mesmo as esquecidas

Que mesmo assim marcaram e muito

Na rua passam figuras conhecidas e inéditas

E a minha contradição pula alegremente

São fogueiras, senhor, são fogueiras!

Estrelas que vieram passear cá embaixo

E que subirão fumaçamente aos poucos

Sinto então um frio paranormal

Com alguns tons de cor que desconheço

Talvez da superfície de estranhas águas

Que me perseguem pelos meus maldormidos sonos

O menino permanece em solene vigia

E seus olhos tortos ainda servem

Tudo muda e mesmo assim nada muda

O meu nascimento será minha morte

Assim como meu prazer um pouco de dor

Tudo permanece e mesmo assim tudo muda

Um dia fui herói e hoje sou o vilão

Velhas esfinges decoram a cristaleira

Entre outros tantos cristais

Ou seriam velhas fotografias amareladas?

Na cena (i)móvel de um espaço infinito

Deliro sem delírio algum frequentemente

Não sei se virei estrela ou se verme

Mas a eternidade está em meu bolso...

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 176



Azuis como sempre
Teus olhos que não eram azuis
O amor consegue transformar
Palavras e realidades
Nunca mais os caminhos
Irão ser os mesmos
Bem o sabemos e negamos
Por puro exercício
E também desperdício
Meu martírio não é dos piores

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Nenhuma tristeza
Como o que possuo
Isso até virou tipo moda
Como quebrar regras                                           
De alguns pontos de vista
A fila da mediocridade anda
E como figuras de dominó
Vamos todas caindo

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Definitivamente
Definitiva mente
Definitiva mente

E os poetas a usam
Para expressar a verdade
Assim como lucidez
Sem ter loucura
É simplesmente impossível

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Sentir-me novo como cada dia
(mesmo que digam impossível)
Sentir-me alegre como passarinho
(ainda me faltando alguns céus)
Sentir-me solto como vento vadio
(liberdade sempre seja bem vinda)
Sentir-me amante como um palhaço
(no grande picadeiro da vida)
Sentir-me aventureiro como menino
(poder galopar nas entrenuvens)
Sentir-me velho como cada dia
(isso não podemos evitar...)...

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Gira minha pobre cabeça tonta
Em letras de todos os tamanhos
E a minha fantasia apronta
Os meus devaneios mais estranhos

Corre minha alma quase presa
Em lugares antes não conhecidos
E mesmo desagradável a surpresa
Os nossos caminhos foram merecidos

Voa minha fantasia mais louca
Se esconde entre as nuvens de algodão
Mesmo que a tristeza cale minha boca
Não poderá calar o meu coração

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Silêncio 
Entre o barulho do centro da cidade
Na hora do rush estamos surdos
Pombos não voam
Apenas correm e correm
Bem mais que os gatos
O insólito serpenteia
Entre vitrines e pessoas
Silêncio...

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Talvez sim, talvez não,
A lápide traz apenas a data
Que a vida viveu e agora mata,
Se acabou toda a estação.

Ou medo ou indiferença,
Obra de arte ou objeto sombrio,
O que era só calor agora é frio,
Não importando qual a crença.

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sábado, 25 de junho de 2022

Aos Vencedores As Baratas

 

Uma valsa vienense em ritmo de samba

Copos americanos mal lavados com a purinha

Moscas voando por todos os cantos

Tonteando com a fumaça de mata-ratos

Oriundos de maços agora amassados...

Passos cambaleantes pelo lixo discreto

Enquanto uma louca profere maldições

Tudo está bem porque mal está...

A velha televisão de tubo mente 

Trazendo frivolidades que fazem chorar

Enquanto os políticos prometem loucuras

E a morte cumpre religiosamente seu papel

Me dá um pé de galinha aí? Esse não, aquele

Manda mais uma também e capricha

Vou no enterro do corno do meu vizinho

O cara morreu de enfarte fulminante

Um fodido, assinei até a lista dele...

O banheiro é mais um santuário

Onde o incenso é apenas amônia

Mas olhem que interessante!

Alguém cagou e fez hieróglifos com a merda

As pontas dos dedos escreveram nas paredes...

O chiclete mascado na boca da adolescente

Com os dentes repletos de cáries...

Todas as vitrines estão lotadas 

São tristes manequins em sua imobilidade - nós...

Uma esmola para o cego sentado na esquina

Enquanto bombardeios acontecem no exterior

E promessas vãs são solenemente seladas...

Não temos lado algum que nos pertença

Os perdedores estão em todos eles

Todos os finais imprevisíveis são óbvios...

As baratas passeiam entre quase tudo

E o gato mais esperto ficará com elas...

Aos vencedores as baratas...

sexta-feira, 24 de junho de 2022

A Duração Mórbida do Tempo Que Ela Não Veio


... E você não veio...
Não trouxe mais luz para as tardes sombrias
Quando eu me desesperava entre paredes
Esquecendo até quem eu era
Trazendo o tempo nas mãos
Como quem colhe flores num jardim
Num jardim vagabundo e tão vivo
E me trazia notícias de um mundo lá fora
Enquanto eu respirava em meu túmulo...
Ninguém... Ninguém... Ninguém...
Não fugiu para ver o quase convalescente
Não correu o risco de risco nenhum
E nem me trouxe o seu riso bonito
E nem o seu choro mais bonito ainda...
Quanta saudade das bobagens
Que podíamos falar um para o outro
E dos desenhos que fazíamos
Com a fumaça dos cigarros...
Nossa inocência malvada
Que era feita só de encantos...
Você deitava na minha cama
Enquanto eu pensava em bobagens inconfessáveis...
Prometia que voltava no dia seguinte
Mas em  um deles não mais voltou...
Agora já é tarde... Muito tarde...
Para visitar o morto que continua vivo...
O cheiro mórbido da vida
Acaba incomodando você e eu também...
Apareça se puder, pelo menos uma vez
Já me cansei de pensar no vestido negro
E nos encontros de rua que você apenas sorri
E não podemos mais falar nada...
Apareça, nem que seja para me chamar de tolo
E sair batendo o pé, malvada...
... Mas você não veio...

Daily

Um tiro no escuro. 

Como é alto o muro. 

Simples expansão.

Subo depressa.

Minha promessa.

Quase desmaio de exaustão. 

Não sobrou uma moeda. 

Apenas a queda. 

Acabei beijando o chão. 

Meus sentimentos. 

Morrem em tormentos. 

Dentro do furacão. 

Na madrugada. 

Caí da escada. 

Sem alguma salvação. 

O meu traje é preto. 

O ferreiro sem espeto. 

Não há mais solução. 

O time perdeu a partida. 

É somente a vida.

Sem alguma encenação.

Sufoco imediato.

É tudo gato e rato.

Nesse mundo-cão.

Tudo parece festa.

Quase que presta.

Eis aí a explicação.

Fumaça de mil cigarros

Um carro, dois carros.

Todos na contramão.

Cheguei no porto.

Tava quase morto.

Não tenho ambição.

Um tiro no escuro.

Como é alto o muro.

Depois é escuridão...

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 175


É preciso morrer mil vezes para perceber que o tempo não é nada. Só as lembranças que estão em nosso bolso, ao alcance das mãos, valem alguma coisa. Escuto os sons do dia, nem todos reconheço. A memória anda fraca, a alma mais ainda. Não quero chorar mais, já passei da cota. Absurdamente quero rir, mesmo de desagrados que esbarram comigo nos lugares mais imprevisíveis...

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Marcas de mim
de todo mundo
peles diferentes
porém cicatrizes
a profundidade não importa
sua  existência quem sabe?
Começo sem fim
minhas condolências
para final um início
quase inesperado
temos que guerrear
mesmo se a morte vence?

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Nunca parceria
apenas (...) cumplicidade
fixa estes teus olhos
maltrata minha timidez
me faz mais gato do que sapato
não há mal algum nisso
viver é ruim, mas tão bom...
Quero colher pérolas
em alguma flor
para fazer um lugar-comum
nestes teus cabelos...

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Todo sentido sentido alguns
Até cicatrizes foram embora...
Tudo serve para nossa tristeza
Até velhos escombros sem porquê...
Eis as fadas voando em volta de mim
Como incômodos mosquitos no quarto...
Nunca os mortos deram algum adeus
É como estava escrito na bula...

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Tenho todo espanto do mundo
constantemente
a mente é constante mas mente
Motivos de sobra
versos em excesso
decisões arrependidas no improviso
Eu olhei a rua através do vidro
e só me vi do outro lado
andando sozinho em desespero

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Poucos tiveram sorte
outros nem tanto
colocaram os pés no caminhos
e eles foram feridas
o começo vem desde o engano
todos sonham - muito perigoso
asas voam somente em abismos...

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Enganam-se aqueles que acham
que não existe felicidade
os que acham também...
Eu já a vi um dia
só não sabia seu nome
e nem lhe cumprimentei...

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Alguns Poemetos Sem Nome N° 174


Eis os menestréis,

alguns malditos,

outros benditos...

Suas canções,

umas tão lindas,

outras tão feias...

Eis o palco do mundo,

uns cheios de vida,

outros com a morte...

Eis-me aqui,

nada sei e nada tenho...


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Tantos gatos houveram, agora não tenho nenhum. Se a solidão fosse  um gato, eu teria um deles, mas não é e nem será. Tudo parte sem deixar rastro, só suas marcas nos afligem e doem. Não adianta pedir retorno de coisa alguma. Tudo vai e nada volta. Um imenso carrossel talvez. Ou uma roda-gigante durante a noite num tempo quente. Assim é. Bombom pelo menos me dê um sinal...


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Noite cheia de sons

Os cães ainda ladram na vizinhança

Eu sinto o chão frio sob meus pés

O destino é um grande narcisista

E tudo se sucede como não deveria ser

(pelo menos para os tristes)

Eu sinto vários odores

Como se fosse um cão farejador

Tudo dói em minha volta

(estava escrito no script da peça...)...


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Dias velozes, isso sim

Em que as horas são levadas

Pelos minutos, formigas apressadas

Levando folhas mortas

Ou corpos também

Dias ferozes, isso sim

Em que vários monstros

Disputam entre si 

Os vários sorrisos que engolem

Sem cerimônia alguma

Dias atrozes, com certeza

Dias da execução das fantasias,

Do assassinato dos sonhos,

De muitos e cruéis desamores

Que cavam suas próprias covas...


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Cenas todas

velozes ou quase paradas

Cenas tolas

feliz mediocridade

Cenas pobres

e na óbvia simplicidade triunfante

Cenas ricas

e vários detalhes para caírem podres

A minha felicidade é sem limites

mesmo quando está triste


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Perdi uma ideia

Fugiu-me como a mosca

Que não é capturada por mãos

Tudo acaba fugindo

A inspiração sobretudo

Sou muito distraído

Há muitas nuvens para serem olhadas

E momentos para serem contados

Esses raios de luz também são meus

Perdi uma ideia

Fugiu-me como mosca

Só os olhos capturam certas coisas...


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 A vida... Um remédio amargo

que temos de engolir...

A morte... Um pequeno susto

que pode acontecer...

A paixão... O espinho que pegamos

e se fere - repetimos...

A alegria... Um pássaro bonito

que a porta ficou aberta...

A tristeza... Uma visita 

que veio e acabou ficando...


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quarta-feira, 22 de junho de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 173


A estrada, a poética,

vento soprando estranhezas,

o que está na superfície,

ou nas profundezas,

nossas convicções,

nossas incertezas...

Todas as veredas

com suas visagens...


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Haviam uns olhos magros, haviam

que não diziam quase nada

(quando diziam...)

uns olhos sem cor, indefinidos,

esquecidos em alguma gaveta,

eram os meus de tanta saudade...


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Muitos ases sem nenhuma manga

E o nada tomando conta de mim

Lembranças fúteis são lembranças

E certas radicalidades não existem

Tudo acaba se transmutando

Até com as palavras isso acontece

Sem aviso algum, sem aviso algum...


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Porque teimei em dançar

Acabei encenando uma farsa

Não arrancou risos da plateia

A tristeza só faz risos de maldade

Porque tentei cantar

Realizei os piores ruídos possíveis

Era melhor ter permanecido

No mais calmo dos silêncios

Me traga sonhos bons poesia

Antes que cheguem os pesadelos


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Postes bêbados, isto sim

Acabo errando as letras

Por dentro da noite sem fim

Claro-escuro e muitos tons

O cinza sempre presente

Mesmo quando não está

Posto bêbado

Canções infinitas de desculpa...

Caí...


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Eu me curvo ante às ilusões

Como quem naufraga num copo d'água

Eu faço festas por motivo algum

E isso apenas por fazer

Perdi todos os meus encantos

Mas ainda continuo vivo...


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Bilhete premiado, sorte grande,

Muitos gritos insanos pelo espaço,

Somos o que somos

E acabamos perdendo tudo,

A rotina nos engole deliciosamente

Como um Tiranossaurus Rex...


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Os



Os marginais,

os cegos, os aleijados,

quem está demais,

por todos os lados...

Quem está à flor da pele, quem perdeu o que queria, o que não tem mais o que reclamar, quem já perdeu ou perderia, quem é choro, quem não tem fantasia, um prato vazio, mas quem diria...

Os descrentes,

os tolos, os condenados,

todos os ausentes,

todos os desacreditados...

Quem está na pobreza e quem duvida, quem perdeu a chance ou perdeu a vida, quem é só miséria ou é só ferida, quem não tem trabalho ou está na lida...

Os vacilantes,

os feridos, os estropiados,

são retirantes,

totalmente insaciados...

Quem escreve poemas, quem escreve bobagens, quem perdeu as chances, quem confundiu as imagens, quem está no meio ou está nas margens, quem sabe mentir ou contar vantagens...

Os saltimbancos,

os ilesos, os avariados,

os que são mancos,

os que não olham os lados...

Quem faz falcatruas, quem faz caridades, quem perdeu as botas, que se perdeu na cidade, que está sob a sombra, ou na claridade, quem é pela mentira, quem é pela verdade...

Os marginais,

os enganadores, os enganados,

quem está lá atrás,

quem delira nos carnavais... 

quinta-feira, 16 de junho de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 172

Espião... Aqui e lá...

Para no final do dia

Ter histórias pra contar... 

Menestrel assim

Pelas terras que há...

Até quando? Não sei...

Mas um dia irei parar...


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E o menino gostou tanto dos céus

que decidiu ir embora

quanto mais alto - melhor

quanto mais longe - melhor ainda

Esperem amigos passarinhos!

Não quero solidão entre as nuvens...


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Não vejo - fiquei cego

Olhos? Já não os tenho mais

Meus olhos foram embora

Com os barcos que partiram no cais

Não vejo - fiquei cego

Olhos? Já não os tenho mais

Eles foram embora contigo

Motivo dos meus ais...


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Quero dar nomes novos

para algumas velhas coisas

Neologismos? Quase isso...

Começarei por renomear

velhas coisas cobertas

com a poeira da minha memória...


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o passado por aqui passou...

que sujeito mais estranho!...

nem cumprimenta ninguém...

dá passos diferentes

(ora rápido, ora lento)

feito um bicho ferido

ou um amante bêbado...


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Não possuo muita coisa

Só o tempo que existi

Cada segundo respirado me testemunha

Alegrias ou tristezas

Se alguém quiser

Fique com minhas lembranças

E faça bom uso delas...


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Tenho vários símbolos, vários deles,

Alguns na pele, muitos outros na alma

Tenho vários códigos, vários deles,

Uns para segredo, outros não

Deixe-me aqui no meu canto

Nunca ouvi algum rouxinol cantar...


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Nada Pode

 

Nem os vivos e nem os mortos em suas fogueiras

Nem as palavras mais sábias na boca dos avatares

Nem os brilhantes com o maior dos valores

Nem as torres mais altas de todos os castelos

Podem superar os nossos sonhos...


Nem a mágica que tira o coelho da cartola

Nem os trovões que pintam os céus de cinza

Nem a marcha dos soldados invadindo algum país

Nem o riso debochado de malvadas multidões

Podem rasgar nossa velha fantasia...


Nem a canção aziaga do velho corvo no galho

Nem a profecia mais preocupante do oráculo

Nem a fumaça tóxica das grandes chaminés

Nem o Caos dos carros no centro da metrópole

Podem matar nosso resistente coração...


Nem a faca com sua lâmina mais afiada

Nem a canção mais fúnebre que possa haver

Nem o desespero que possa invadir o cais

Nem a mortalha mais sinistra que nos cubra

Podem retirar um pedaço de nossa alegria...

Olhos da Morte

 

Olhos da morte, boca da vida

Eu até tive sorte, fechou-me a ferida

Foi apenas um corte, sobrou sobrevida


Corro nu pela rua

A culpa foi sua

Apenas um susto

Que teve seu custo


Olhos da morte, nariz da vida

Eu quis o meu norte, estrada comprida

Eu pensei que era forte, não vi a caída


Canto feito louco

O riso foi pouco

Apenas bobeira

Não foi a primeira


Olhos da morte, ouvidos da vida

Talvez não importe, minha despedida

E eu não suporte, a luta vencida


Falo tanta bobagem

Foi apenas visagem

Simples alucinação

Desse mundo-cão


Olhos da morte, boca da vida...

Pão com Mortadela & Outros Requintes

Vertigens eu tenho de sobra pra dar e vender

Bebo da minha fantasia até ficar inconsciente

Meu cartão de crédito me ofende ao máximo

Eu sou aquele que o tempo já faz tempo esqueceu

Estou numa velha gaveta que não é túmulo

Porque os túmulos pelo menos tem propósito

Mesmo que seja esquecimento e abandono

Eu sou o pedaço de pão mordido e jogado fora

A pergunta deixada de lado pelo seu absurdo

O brinquedo que veio defeituoso e jogaram no lixo

A folha que cumpriu seu papel e caiu no chão

A rua está deserta e silenciosa sem testemunha

Para meu suicídio sem morrer ao menos

Os que sofrem podem me entender um pouco mais

Por que deveria gritar no meio de nada?

Nem os pombos fogem quando me aproximo

Asfixia moderna essa que agora me aflige

Estou morrendo afogado fora da água

Aviões cegos e covardes agora erram o alvo

E os tolos passam suas lições de casa

Eis os ossos que não são mais os nossos

Acabou de acabar e foi bem no final

Não tem chorare ou outra marmelada

Agora os melhores são os piores

Vamos entrar nas míticas filas inexistentes

De um sabor agora inexistente e acabado

Assim como já teve tem para todos nós

A vida não sabe pentear meus cabelos

Mas a ternura salvou minha alma...


(Extraído do  livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 14 de junho de 2022

Isto É

Um espinho atravessado na garganta feito faca, eu sou o alvo, não escapei. O veneno do silêncio angustiado envenenou-me o máximo possível e nenhum remédio poderá curar-me. Tarde demais...

Eu cambaleio...

O que houve, senhor?

Não houve nada...

Tropecei numa malvada pedra, fui direto ao chão, sinto o sangue em minha boca e meus joelhos arderem. Aonde estavam minhas asas quando tanto precisei delas? Poderia ter voado para bem longe...

Deixe-me ajudá-lo.

Não foi nada,

Apenas uma vertigem...

Um zumbido incômodo bloqueia os outros sons do ouvidos, parece que estou em um carrossel desgovernado. Milhares de rostos surgem na minha mente. O problema é que são dos que já foram embora...

Não quer ajuda?

Já disse que estou bem,

Isso logo passa...

Todas as cores transformaram-se num cinza totalmente pálido, não existe mais o azul que eu tanto gostava. Pedra por pedra os castelos dos meus sonhos vão caindo. Eram de areia e o mar chegou até eles e eu não sabia...

O senhor está pálido.

É impressão sua,

Isso passa logo...

Não sei se isso passará ou não, só sei que ainda estou vivo, apesar dos palpites em contrário. Viver ou não são coisas idênticas, vai tudo de acordo com a vontade do freguês. Os poetas, por exemplo, não conseguem morrer...

Então vou embora...

Pode ir, sou grato,

Vai com Deus... 

Come Na Cuia

Comê na cuia Comê na tuia Comê na nuia Experimente o berimbau catreiro Em todas as noites de pé de sapo! Paca tatu Paca tutu Paca Dudu Apert...