Sou quadrado feito bola, peraí me dá uma esmola, não tenho nem escola, vai que cola. Minha moça, meu moço, é uma poça, é um poço, quem não pode, se sacode ou então rebola.
Sou malvado feito gente, igual mas diferente, tou atrás, quero ir na frente, fiquei demente. Eu não tive mais carinho, tou em grupo, ando sozinho, quero flor, só tem espinho.
Sou faminto feito bicho, acabou o meu capricho, eu nem vi, pisei no lixo. Eu não sei mais o que é, se é cobra ou jacaré, qualquer dia eu dou no pé, me solta e me guarda, cuidado lá vem o guarda.
Sou feio feito o cão, eu não tenho educação, sou guloso e meto a mão, nada tem explicação. Essa vida é uma piada, me estrepei nessa parada, estar vivo é uma roubada, vamos embora daqui agora, tá chovendo lá fora.
Sou preguiçoso feito um gato, eu me escondo feito rato, eu não morro e nem mato, o sentido não é lato, eu mio e não lato. Eu não como tem três dias, não é culpa das Marias, eu espero outras folias, lá vêm as tias.
Sou arisco feito um troço, isso é meu e não é nosso, eu só faço quando posso, não aceito mais remorso. Nas esteiras deitam os mortos, os barcos saem dos portos, meus olhos ainda são tortos, não foi culpa minha, não foi culpa sua, foi da luz da lua.
Sou bobo feito apaixonado, mas o certo deu errado, eu não pago esse pecado, não me olhe assim de lado, nem quero. Foi assim, quase um zero, não me venha com esse lero, é mentira, mas é vero, é ruim, mas ainda quero.
Sou careta igual burguês, tenho medo fim de mês, é quem faz e é quem fez, espere chegar a sua vez. Eu ainda guardo uma esperança, eu ainda sou uma criança, dá licença, entro na dança, quem espera nem alcança, quero esquecer dessa lembrança.
Sou preso feito passarinho, eu não quero andar sozinho, dê licença, entro no ninho, me esqueço do caminho. Quem quiser que ainda ande, isso é longo, isso é grande, não tenho ideia da plateia, tou preocupado com a estreia, me dê logo a panaceia.
Sou calado feio carrasco, me dá dó, mas me dá asco, não sou brasa, eu sou churrasco, me colocaram na fogueira. Eu só penso em besteira, eu não tenho outra maneira, não é mais, só é canseira, quase caí, eu tou na beira.
Sou maluco que nem poeta, sai da mira, sai da reta, eu não sou nem um profeta, tenho dor e é secreta, a fumaça ainda é concreta. Não é costume, é um vício, eu aceito o sacrifício, vou pular no precipício e o fim também é início, só sei lá, quero chorar.
Sou quadrado feito bola, peraí não me amola, não tenho nem mola, vai que esfola. Minha moça, meu moço, é uma poça, é um poço, quem não pode, se sacode ou então rebola...
(Extraído da obra "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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