terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Escolha ou Simples Dicotomia

Cada gosto, um gosto,

Cada rosto, um rosto...

O DNA dá piruetas, fica tonto e cai no chão. A estética trepa com a ética, veste sua roupa, ganha sua remuneração. Onde estamos? Estamos na Terra do Não. Crocodilos à parte, nada mais tem explicação. Todos os versos são parecidos, parecem até irmãos. Em terra de cego quem tem um olho é o Cão...

Cada riso, um riso,

Cada siso, um siso...

Um simples detalhe pode nos levar ao pelotão. Vamos pular do prédio? Vamos brincar de avião? Quando tomamos um remédio, deveríamos pedir extrema-unção. Cada um é o lobo de si mesmo, cada um é o campeão. O vaso está entupido, pode limpar com a mão. Aquele velho decrépito, um dia foi um garanhão.

Cada pena, uma pena,

Cada cena, uma cena...

Já faz tempo que eu não como, deve ser indigestão. Acabou tudo que tínhamos, não sobrou nem um grão. Mentira por mentira, vai se vencendo a razão. Nem tudo que sobe, podemos chamar de balão. Vaias para o herói, palmas para o vilão. A caneca quebrou, tem que pegar com a mão.

Cada trama, uma trama,

Cada rama, cada lama...

A moda agora virou uma nova obrigação. Matam até a mãe, querem apenas um milhão. Jogaram fora abelha, ficaram só com o ferrão. Vamos xingar o juiz da partida, essa é nossa obrigação. Todos pela burrice, todos pela destruição. 

Cada disco, um disco,

Cada cisco, um cisco...

Minta em todo momento, é a moda da estação. O cara tentou ser honesto, vale menos que um pão. Nossa vergonha é garantida, bote a bunda no chão. Foram-se todos os anéis, só nos sobrou a mão. Eu achei que amava, era só meu tesão. Acabaram-se os versos, sou apenas um cuzão...

Cada gosto, um gosto,

Cada posto, um posto...

O Espinho Daquela Flor



Machucou-me
Feito nuvem escurecendo o dia...
Turva os olhos
Como quem não foi e iria...
Era um quente
Que só pode vir ventania...

O espinho daquela flor...

Debochou-me
Igual um riso vindo fora de hora...
Diz que vai ficar
E quando vemos já foi embora...
Que é tão breve
Mas mente e diz que se demora...

O espinho daquela flor...

Atacou-me
Como o predador faz com a presa...
Com maldade
Igual um susto ou uma surpresa...
Tão terrível
Como o belo que perde a beleza...

O espinho daquela flor...
Me matou... Me matou...

MemÉtica

Não há perdão...

Entre tigres e rabiscos...

Mistura-se tudo...

Só existem riscos...

Um risco latente

Meio que diferente

O risco da risada

E - mais nada...


Não há questão...

Entre mansos e ariscos...

Outra ideia...

Tempestade sem coriscos...

Corisco divertido

Mas invertido

Diversão ao avesso

Tão caro - o preço...


Não há razão...

Entre feras e tiriscos...

Serve-se tudo...

Todas as carnes petiscos...

Petiscos humanos

Projéteis insanos

O choro da piada

E - mais nada...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 228


 Ela está lá. Tranquila. Serena. Sem maldade alguma agora. Isso foi em outro tempo. Um tempo em que ocorria uma batalha em que eu era seu oponente. Como não lembrar? Mesmo que esqueça. Se a vejo. Alguma coisa vem em minha mente. Fazia parte. Mas ao mesmo tempo. Não fazia. Há quem goste. Eu não. Não foi como as que eu pedi. E estão lá também. Coloridas. Ou não. Ambas com data. Ela está lá. Ela. Elas. As muitas cicatrizes do velho corpo. Sem falar as da alma. Uma outra história...


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Eu tenho agora a calma. Um pouco ou muita. Cada coisa em seu momento certo. Mesmo o não-desejado, o não-querido, o não-avisado. Assim mesmo. Nem todas as surpresas felizes ou agradáveis. Alguns reencontros poderão acontecer ou não. Lamentar por isso há de aumentar a tristeza habitual que me acompanha. Mesmo quando rio de uma certa alegria. Eu agora tenho a calma. Um pouco ou muita. Não sou muito afeito  às medidas. Ela virá...


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Quero só o corpo

O teu corpo

Dispenso a alma

Almas ferem e muito

Bandeira disse 

E eu concordo

O corpo é a rosa

A alma - o espinho

O corpo quer 

A alma tem dúvida...


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O tempo veio me falar coisas ao ouvido

Coisas que deveria guardar comigo

Coisas que não deveria espalhar...

A vida veio me ensinar uma quase crueldade

Que deveria ser dessa forma mesmo

Porque ninguém é de ninguém...

O destino veio apontar o dedo na cara

Algumas coisas mudamos e outras não

Esperar o final não é mais do que podemos...


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Falta cais para tantos barcos

Eles querem atracar e não conseguem

Estão esperando sua vez

E tudo acaba certamente cansando...

Falta abismos para se voar

Minhas asas já se enferrujaram

Pois o tempo não perdoa ninguém

E elas poderão falhar quando pular...

Falta espaço para tanta saudade...


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Até um...

Até mais de um...

Explosão solar em espaço vago...

Raios de sol em vários jardins

Borboletas numa eterna dança...

Lugares-comuns que acabaram

Pegando um certo encanto

(A flauta e a serpente pois...)

Uma nova rota para barcos...

O corpo quase-novo

De algo-alguma-esperança...

Até um...

Até mais de um...


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Muitos tiros na manga... Muitos deles...

Não parar até que se pare...

(É simples lógica, viu?)

Os humanos magos tentar dançar

Mesmo que sob a chuva...

Iremos um livro nunca dantes escrito...

Flores definham como são...

Toma-lhe tempo e como!

Não falemos alguns nomes 

Até que tudo cesse de uma vez...

Muitas cartas no gatilho... Muitos deles...

Não parar até que se pare...

(É simples tragédia, viu?)...


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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Poetica Pro Miseri

 

O rico fica mais rico...

O pobre fica mais pobre...

O miserável já é...


Vida...

Essa merda

Que não é pior porque única...


O justo é traído...

O amigo desprezado...

Amor não tem valor...


Mundo...

Esse hospício

Para pacientes sem cura...


Zombam de Deus...

Destroem o planeta...

Acabam com a festa...


Humano...

A tolice em pessoa...

Porrada em todos os cornos...


O rico não levará nada...

O pobre nada levará...

O miserável nem tem pra isso...

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Alguns Poemetos Sem Nome N° 227

 


Somos alguns pedaços

de retalhos de lembranças...

Nada impede o avanço

de tristes ausências...

Brinquedos quebrados...

Amores perdidos...

Tratos desfeitos...

E só no resta andar

Pelo caminho

Que nunca conheceremos...


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A rima perfeita do acaso

a surpresa tão boa ou ruim

eu quero enlouquecer 

de forma rápida e incisiva...

Não preciso de baratos

para dançar sob chuvas...

Não me intoxicarei 

com mais do que os sonhos...

Eu visto a fantasia

de todos os dias que se repetem

mesmo quando isso chame 

a atenção de todos os tolos...


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Quem sou eu?

Nem o espelho pode dizer...

Em manhãs pesadas

Que abro os olhos

Para que o dia me mate

Novamente me preparo

Para meu sacrifício...

Abro os braços...

Mais como espantalho

Do que mártir

Por coisas que desconheço...

Conto as rugas

Como tiros que tomei

E nem ao menos percebi...

Muitos haverão de morrer

E nem sei se poderei ver

Outro amanhã tão pobre...

Quem sou eu?...


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Estou bem no meio

De um barco navegando

Entre ondas nunca vistas

Estou bem no meio do tempo

Onde cada dia é uma batalha

Para pelos menos poder respirar

O tempo irá dar em que lugar?

Cada segundo transforma as coisas

Transforma as coisas, todas elas...


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Mar revolto, cabelo solto. Duas vezes. Não para de ventar. Um no céu, outro aqui embaixo, eu mesmo não me acho. Irei me matar? Grito preso, círio aceso. Bem quieto. Pra ninguém me apagar. Medos estranhos, de todos os tamanhos. Até além do mar. Um pássaro cantou, um outro voou. Para o gato não pular. Seu pulo certeiro, bem mais que morteiro. Não vá me pegar. Bato na porta, a alegria tão morta. 


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Feito um condenado

Que vai tranquilamente 

Ser executado

Não tem medo de morrer

Riu de tudo que pôde

Dançou até cansar

Gritou e amou

Todas as vezes possíveis

Foi bom e mau ao mesmo tempo

Foi transcendental e humano

Apontou o dedo

Mas amanhã será morto

Ano que vem ressurgirá

Outro carnaval...


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Ponta de faca

Direção da mão...

Quem ataca

Não é a questão...

É ressaca

É rebentação...


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Frevo Místico

Rostos sorridentes - imortalidade

Profano e sagrado - unidos

Que meu coração bata até exaurir

Que pare! Pode parar...!

Já bateu inúmeras vezes, incontáveis

Foram milhares delas, pois não?

Sombrinhas, varinhas-de-condão

Olhos brilhantes qual estrelas

Alceu é rei e incorpora Exu

Deus-movimento, pai e amigo

Colorido infinitamente infinito

Num céu mais que céu

Onde todos os elementos 

Acabam se juntando numa grande festa

Mesmo que seja eu um solitário

Em ruas desertas por aí

Rostos sorridentes - a morte se atrasou

Profano e sagrado - a disputa teve trégua

O sangue correndo nas veias

Vindo lá do alto do mapa 

A esperança remoendo o coração

Por dias que certamente não virão

Mas... o que importa agora?

Talvez o mundo pare um dia de girar

Mas não estarei mais aqui

Enquanto isso brinquemos

Como tantas outras vezes

Tentativas feitas de teimosia

Não podemos parar

Enquanto o destino não cobra fatura

Assim funciona o encanto

Místico e certamente mágico...

domingo, 19 de fevereiro de 2023

Parado...

não foi nada...

quando muito uma brisa emboscada

que apenas cessou...

era tarde... com todas as tardes

que destinadas estão à se acabar...

era brisa... mesmo com força ou não

ventos sempre são assim...

desapego... nem folhas caídas queria...

lixo nas ruas... sonhos...

pensamentos já esparsos...

não responda pergunta alguma...

redemoinhos são novas fantasias...

para carnavais que hão de passar...

gatos já dormem...

e a teimosia dos rios é apenas cena...

faça-me o favor... faça-me...

não chore e nem acorde mortos...

cata-ventos... pipas... bolhas de sabão...

balões... e alguma fumaça...

passeios de variadas nuvens...

moinhos brigam com cavaleiros...

a saia cigana rodopia...

dezenas... centenas... milhares...

a ciranda não recomeçará...

muitas rodas... girassóis cansados...

a rosa despetalada em tuas mãos...

a lágrima agora parada...

sem gravidade... como foto...

até a bomba dormiu...

aviões congelados...

não foi nada...

quando muito uma brisa emboscada

que apenas cessou...

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Putrescere

o mundo

todo ele

sem por e nem tirar

humano

profano

o caminho até lá

desde sempre

sempre foi

o rio vai descansar

é um jogo

é o logro

abismo vamos pular

fume logo

beba logo

até não mais aguentar

é a cerca

é acerca

baratas para degustar

é uma guerra

prato do dia

chega de quá-quá-quá

enterrei o cara

uma joia rara

quase que não mais há

a calçada

toda que ela

trono para sentar

smart phone

sou um clone

não há como reclamar

a roupa suja

a vida rasgada

temos que conformar

restos de lixo

menos que bicho

o bicho vai devorar

legião de zumbis

vivos-mortos

estamos aqui e lá

a fera que fere

putrescere

tudo um dia irá...

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Todo Fim É Previsível

Todo fim é previsível...

A vida é um bang-bang,

De muitos tiros, de muito sangue,

De muito riso, pouco consolo,

Consegui meu diploma de tolo,

Comer até a barriga estourar.

O resto? Não há...


Todo fim é insensível...

Hoje é folga das carpideiras

Vamos chorar por nossas besteiras,

Pelo brinquedo que se quebrou,

Eu não sei nem quem eu sou,

Beber até poder me afogar...

O resto? Não há...


Todo fim é invencível...

Vamos correr desse leão,

Só nos resta deitar no caixão,

Tirar mais um sono bem tranquilo,

Esquecer disso ou daquilo,

A pergunta ninguém responderá...

O resto? Não há...

Bocado de Gente

Bocado de gente passando fome

Bocado de gente sem ter nome

é um simples papel a gente sabe

mas quanta coisa ali cabe...


Bocado de gente catando lixo

Bocado de gente feito um bicho

não se cumprimenta não se fala

quando morre ninguém se abala...


Bocado de gente que não sabe ler

Bocado de gente que enxerga e não vê

que o rico burguês passa a perna

que até hoje nunca saiu da caverna....


Bocado de gente que aceita tudo

Bocado de gente que fala e é mudo

que pega desaforo e leva pra casa

que tenta chegar e só se atrasa...


Bocado de gente se dando mal

Bocado de gente que é anormal

que sai gritando sem ter motivo

que já morreu e cisma ser vivo...


Bocado de gente sem ter dente

Bocado de gente que é parente

mas não liga pra quem é pobre

é tudo plebeu se achando nobre...


Bocado de gente que faz heresia

Bocado de gente troca noite por dia

mas não sabe qual é o caminho

e nem sabe que está andando sozinho


Bocado de gente, bocado de gente...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 226

 

Todo sono

Guardado para depois

Depois da chuva

Depois da curva

Quase final

E eu nem calcei as botas

De algumas sete léguas

Como na fábula

Que acabei me transformando...


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Caras e bocas

Tão poucas...

Corremos para o que será esquecido

Raciocinamos e tudo carece de sentido

Vivemos sem saber o temos vivido...

No final da estrada não há mais nada

A nossa vista estava apenas vedada

Enquanto nossa melodia era calada...

Caras e bocas

Tão loucas...


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Já acabou tudo

Em sorrisos forçados nos encontramos

Em poses inauditas conforme a bula

Andamos na contramão

Nossa sabedoria um deboche

Em filas pulamos no abismo

Alegria forçadas e frases artificiais

Tudo pela metade na escuridão

Tudo de goela abaixo

Já acabou tudo...


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Quando os pássaros caíram

era eu que caí...

Quando as folhas morreram

a morte era a minha...

Quando as rosas murcharam

foram as rugas em meu rosto...

Tudo vai e vai

a vida é um caminho sem volta...


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Quantos versos jogados fora!

Pobres poemas, órfãos 

Dormindo sós nas calçadas...

Foram pedaços de sonhos

Arrancados de pobres carnes,

A carne da alma do poeta...


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Foi num dia desses, foi sim

Quando a inocência

Era uma muralha protetora

Contra a própria vida...

Foi num dia desses, foi sim

Quando em velhas gavetas

Guardava meus segredos

Com quem vai pra guerra...

Foi num dia desses, foi sim

Quando eu já sabia chorar

Mesmo desconhecendo

Que chorava pelos meus sonhos....


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Não tenho nome algum

mas tenho todos

Não tenho direção

vou em todas elas

Não estou mais vivo

mas respiro sempre

Não sou mais sonho

nem tampouco realidade

devo ser só um vento

ainda soprando por aí...


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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Alguns Poemetos Sem Nome N° 225

sem nome

sem cores

invisíveis

um minuto de silêncio

com fome

com dores

insensíveis

um minuto de silêncio

para todos os miseráveis...


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Tento porque tento, quebrar pedras com as mãos, segurar rios em peneiras, conter centenas de ventos. Tento porque tento, retroceder todos os dias, engolir todas as eras, fotografar tudo o que já passou. Tento porque tento, realizar todas as fantasias, beijar todas as estrelas, passear vagabundo por todos os céus. Tento porque tento, fugir desta cidade, acabar com esse desespero, falhar em tolos compromissos. Tento porque tento, não temer a morte, compreender a sua necessidade e esperá-la até que chegue...


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Por que te escondes de mim?

Eu te procuro pelos canteiros

Como quem caça fadas

E nada encontro...

Por que te escondes de mim?

Eu mergulho em todas as águas

Como que naufraga

Estrela insondável...

Por que te escondes de mim?

No meio de todos os foliões

A tua beleza não encontro

E logo acaba o carnaval...

Por que te escondes de mim?...


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Vai fazer carnaval... E as ondas da nossa loucura farão nossas naus de sonhos navegarem em mares nunca dantes navegados... Carnavalar é preciso, viver não é preciso... Vai fazer carnaval... E nosso corpo será apenas mais uma fantasia, ali reside nossa alma em festa... Vai fazer carnaval... Talvez até ressurja algum amor esquecido, um daqueles que ficou perdido entre quatro dias em que um novo rei governou... Vai fazer carnaval...


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Sem sentido

tantos passos

Sem sentido

tantos fracassos

Tantos sonhos

jogados foras

Tantas ilusões

engolindo o agora

Meus pés tropeçaram

depois caíram

Minhas lágrimas

depois subiram...


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Não tinha nome. Nem lenço. Nem documento. Nem vento. Nem conhecia alguma poesia. As rimas eram desnecessárias para quem tem fome. Roupa não tinha. Só aquela que escondia o corpo que sempre conheceu a magreza. Não tinha casa. Nem séria. Nem engraçada. Só conhecia o nada. O nada de uma calçada que é de todos para ser de nenhum. A calçada é de quem passa e de quem fica. Tudo na vida acaba passando. Dos miseráveis mais ainda. Só um número. Nada de epitáfio. Talvez tem alma. Ou não. Isso foi vida?...


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Guernica é logo ali

E andamos mais que cegos 

Olhando o que não existe

Não tapemos nossos ouvidos

Ao som de milhares de bombas

Mesmo que silenciosas 

E invisíveis que nos lançam

Não podemos ferir carne alguma

Mesmo que a tristeza

Faça agora parte de nossa rotina

Nunca esqueçamos

Guernica é logo ali...


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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Da Sobrevivência


Mais cheio 

mais vazio

mais feio

mais cio


O rato roeu a Roma do rei

O fim do final do caminho não sei

Todo erro transformou-se em lei


Mais ausente

mais perto

mais demente

mais esperto


Ivo nunca mais verá a uva

A nossa sorte é uma triste viúva

A tristeza me cabe como uma luva


Mais comida

mais inanição

mais corrompida

mais nação


The table on the book

Capriche na nudez do look

Acabou o biscoito só tem cookie


Mais porto

mais caverna

mais morto

mais eterna


O ovo não é mais da vovó

A minha mente acaba dando nó

O cidadão de bem é o que não tem dó


Mais cheio

mais vazio

mais feio

mais cio


Procura-se o que comer...

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Insondável Agora

Espadas de fogo colocam-se em fileiras

Enquanto sofregamente amarram seus tênis

E pensam como teria sido tão bom

Se algum final feliz aparecesse por aí

Eu não tenho mais dentes que me ocupem

Algum espaço vago entre as estrelas

São vedadas todas as disposições em contrário

Enquanto poetas vertiginosos fazem suas rasantes

Entre alguns copos vazios em mesas plásticas

É a minha paranoia presenteada com mimos

E ramos de flores cobertas de certo exotismo

Cobras e aranhas e escorpiões compõem a fauna 

Enquanto sacis nativos pitam tranquilamente

E os pajés continuam seus mais usais rituais

Nossa moral é tão grande como um grão de mostarda

Enquanto os reality shows apodrecem nossas carnes

Jorge acabou de chegar da Capadócia agorinha mesmo

O meu idioma mudou todas as minhas palavras

E agora primo por uma banalidade excepcional

Onde misturam-se totens e tabus na mesma receita

Leve como um elefante é como venho me sentindo

Sobretudo quando passeio em cemitérios animados

E vejo tantos vivos esquecidos de se morrer

Tudo o que foi avisado foi agora jaz apagado

Para nosso itinerário estão marcadas tolices

Quanto mais fácil mais será bem-vindo ao nosso inferno

Vamos dançar um xaxado grego completamente nus

Os bombeiros já chegaram trazendo a gasolina

Rosas azuis e violetas amarelas é o que temos

Toda ferida agora é uma deliciosa casca

E os peidos do imperador dignos de aplausos

A estética tira educadamente sua meleca do nariz

Enquanto a impiedade continua mais firme e forte

Eu ignoro solenes pedidos de socorro inocentes

Enquanto cato algumas palavras no lixo da rua

Cada gole de cigarro me afasta do sossego

E sou mais um ponto no meio de inúmeros deles

Especialistas em porra nenhuma me visitam

E dão suas consultas de eméritos charlatães que são

Está no horário correto da chuva forte desabar

Em pedras de sabão que já viraram espuma

Enquanto pedaços de carne verde boiam tentadoras...

domingo, 5 de fevereiro de 2023

Alguns Poemetos Sem Nome N° 224

Frases complicadas e guaraná. Era assim. Desde os tempos que os tempos eram tempos. E nada mais. Esperanças frias em dias quentes. Ah, as esperanças... Essas sim. Buliam com a gente que nem espinhosos matos que se pisa descalço. Mais alegria que fogueirinhas e papel e folhada seca. Papai deixava usar fósforos se cuidado tivesse. De vez em quando sim. Em outras não. Neste caminho agora quase ninguém passa. E como choro...


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Papagaios poucos. Alguns riscos naqueles olhinhos miúdos. Tenho saudades dos periquitos e dos calopsitas. E dos canários nem se fala! Só não sabia das gaiolas do mundo. Estas mais malvadas ainda. Sem pena. Com portas abertas e impossibilidades. Como ossos torcidos e não quebrados. Uma fumaça entrou nos meus olhos. Deve ter sido isso que me fez até chorar.


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Falta de letras para escrever uma poesia bem bonita. Daquelas que o choro é quase alegre. Nunca se sabe. Faltam letras ou palavras? Agora fiquei em dúvida... Talvez algo meio que diferente... Talvez faltem algumas flores. Isso! Algumas flores num caderno qualquer. Flores aqui. Flores ali. Flores acolá. De um jeito que possa valer a pena. Talvez até como aquele menino fez. Que menino? Eu. Que agora ando bem distante de mim mesmo...


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O sangue escorre na perna, seca na pele... Sangue difícil de tirar! Veio devagar feito goteira, feito córrego pequeno e acabou secando antes de chegar aos pés. Sangue morto e sangue triste, muito triste. Vindo de uma ferida que não fiz. Uma invasão. Nasceu lá e pronto. Uma pena. Continuará lá. Até que eu possa dar algum tipo de jeito. E só...


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Um dia aprenderei a ser como um pássaro. Não precisarei mais de gaiola. Nem da ração que meu aprisionador me dá quando se lembra. Pularei pelos galhos. Mais feliz de todos os seres. Sem preocupações. Contas no banco. Compromissos medíocres que só me ferem. Cantarei aquilo que quiser. Nas manhãs de sol. Ou nas madrugadas tranquilas. Um dia aprenderei a ser com um pássaro. Um dos muitos donos dos céus...


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Palavras certas. Palavras tortas. As que acariciam. E as que agridem. Ditas com precisão. Ditas ao acaso. Ensinando algo. Desnorteando mentes. Como tiros. Ao acaso. Que trazem dúvidas. Ou acabam em certezas. Palavras bonitas. Palavras toscas. Por cerimônia. Ou sinceras demais. Palavras de ordem. Palavras de paz. As que eu um dia conheci. As que me esqueci. Duras como pedras. Flutuantes nuvens. Mar insondável. Céus desconhecidos. Amor sincero. Desejo sujo. Palavras. Palavras. Cala o boca menino!...


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Suspiro. Pelo dia? Talvez seja. Todos os dias, mesmo os alegres, trazem uma ponta de tristeza que chamamos saudade. Por algum dos muitos sonhos que morrem à todo instante. Suspiro? Pelos relógios que correm em sua lentidão enganosa. Alguém será sepultado agora. Agora alguém sentirá dores insuportáveis. Um grito ecoará de medo e de susto por essas ruas cruéis e apáticas. Nada está bem e talvez nunca ficará. Suspiro?...


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sábado, 4 de fevereiro de 2023

Alguns Poemetos Sem Nome N° 223

Faça de conta que o sonho continua...

Faça de conta... Faça de conta...

As estrelas ainda não foram dormir

Em suas camas feitas de nuvens...

Os gatos ainda sobem nos muros

E os passarinhos ainda decoram o dia...

Vamos escrever mais alguns versos?

Mesmo falando de tristeza servem..

Faça de conta que o sonho continua...

A festa também... A festa também...


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Vento que venta ventando

Histórias que vai contando

Conta histórias

Derrotas e vitórias

Ri ou está amuado

Tem rido ou tem chorado

Vento que venta vendando

E sempre vai passando...


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Um voava com versos

Outro voava com asas

Quase o mesmo

Pássaros e aviões e poetas

No mesmo cristal...


Meus versos rastejam

Quais vermes

Saindo de exposto corpo...


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Alma sem gosto

alma sem cor

silenciosamente má...

Alma do mundo

alma sem razão

onde estão teus sonhos?

Alma sem mar

alma sem céu

tocaia me esperando...

Alma sem vida

alma sem alma

Morreremos nós dois?...


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A praça grita!

Admirável feito impossível

Com flores e meninos...

O sol acontece

Mesmo em dia de solenes chuvas...

O poeta caminha

Ainda que com passos pequenos...

Tudo amanhece

Até quando noites depois virão...

Vamos fazer silêncio

Para finalmente escutá-la...

A praça grita!...


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Telas com digitais

Feitos com miniaturas

Um deus novo

Que há de devorar

Seus fiéis mais fiéis...

Tela nas salas

Que mente para a mente

Vamos construir

Alguns novos idiotas?

É tão fácil...


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Nada contra e nada a favor,

Só tenho saudade 

Daquele tempo que era meu...

Foi bom ou foi ruim?

Não sei... Só sei que era meu...


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Cada poema é um rasgo

Um rasgo na roupa sem costura

Cada poema é um grito

Mesmo quando a boca está fechada

E eu ando assim tropeçando

Cada sonho é um pesadelo

Que um dia mais cedo ou mais tarde

Há de se transformar

Pela tristeza de não acontecer

Cada poema é um rasgo

Um rasgo no que chamamos alma...


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Come Na Cuia

Comê na cuia Comê na tuia Comê na nuia Experimente o berimbau catreiro Em todas as noites de pé de sapo! Paca tatu Paca tutu Paca Dudu Apert...