sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Alguns Poemetos Sem Nome Número 97



O vento zunia baixinho lá fora
Fazendo uma madrugada medrosa
Onde estrelas se escondem
E bichos da noite se recolhem...
Até as almas já dormem...
O amanhã nunca se saberá...
As estrelas davam-se por tímidas
Escondendo seus rostos nas nuvens
Como os que fecham os olhos
Para nunca mais encarar o espelho...
A paisagem existente é triste...
Assim como a tristeza é...
Só eu vago em minha insônia
Como um fantasma de um passado...

............................................................................................................

Sinto muito
não olhar mais para o alto
é que a impossibilidade
de ir até as nuvens
acaba me irritando
saber que contar o tempo 
é um exercício inútil
acaba me entristecendo
e há muito que não é bom
nem ficarmos comentando
o óbvio dispensa
quaisquer cerimônias

............................................................................................................

Não é bom
esquecer que lembrou de esquecer
ou ainda
lembrar que esqueceu de lembrar
Nem todas as palavras certas
moram em bocas
ou descansam em mentes
Tudo muda a forma
nada mais que isso
o vive-versa anda e muito
tenha certeza
A modernidade não é um sonho
apenas um pesadelo bonito
tenha certeza disso...

...............................................................................................................

Eu canto 
sem encanto
Os sonhos repetidos
agora saem 
de bocas caladas
Um funeral por vez
por favor
A porta se fechou
e a janela já estava
isso incomoda
Mas verdades
foram assim feitas...

...............................................................................................................

Uma estrela arrancada com as mãos
da mais distante das galáxias
Uma razão para querer continuar
mesmo com os pés muito machucados
Uma loucura quase beirando à sanidade
mesmo que o amor não prove nada
Eu sou aquele que não tem época nenhuma
e perdido estou nestas dobras de tempo

...............................................................................................................

O maior dos pulos
ou o maior dos sonos -
agora tanto faz...
Se não há mais poesia
eu faço com os loucos -
discursos sem nexo...
O menor dos gestos
ou quase nenhuma cor -
todo pedido é inútil...
Um soco sem direção
acertando a fantasia -
eis a minha escuridão...
Não sou como tantos aí
que inventam dores -
eu as transcrevo até o fim...

...............................................................................................................

Barulho de goteira
irritâmcia contumaz
Amanheci com olheira
crivado de tanto-faz
Foi na noite passada
eu contava segundos
Eu faltava escada
pra ir à outros mundos
O frio esfriou a alma
feito ferida insistente
Não sei se é trauma
de corpo ou de mente
O sol aparece no dia
Por que apareceu?
Já não há alegria
essa na noite morreu
Barulho de goteira...

...............................................................................................................

O impossível está aí
com seus passos miúdos
e sua velocidade acentuada
Vem acompanhado da surpresa
visitar o insólito e o absurdo
que estão morando juntos

...............................................................................................................

a primeira vez que foi a última
a última vez que foi a primeira
minha mente claudicando
em pulos mais excepcionais
meu amor que é desamor
falo sério sempre brincando
em rimas de improbabilidade
coloquei meu chapéu nas nuvens
para ter o ensejo de buscá-lo
parado em constante movimento
danço tango com a mais nova 
de todas as carpideiras 
que vieram em meu funeral
não há réquiens suficientes
e no meu bolso bandidas ilusões

...............................................................................................................

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Um Poema Quase Silencioso

 
Quase silêncio, quase tudo,

As aves no céu, um coração mudo,

As mãos de espinho, os pés de veludo...


As lágrimas escorrendo pelas faces,

A corrida desesperada pela escuridão,

Não adiantaram esses meus disfarces,

Já alcançou-me a solidão...


Quase silêncio, zumbido de inseto,

A carne exposta, meu amor mais secreto,

O próprio destino é o meu desafeto...


O brinquedo novo já foi quebrado,

O tiro quase que acertou no alvo,

Não houve crime, mas eu fui culpado,

O salvo-conduto não me deixa salvo...


Quase silêncio, velando o morto,

O barco nunca chegará ao porto,

O meu azul acabou torto...


O meu riso agora é desnecessário,

Estou rindo sem ter algum porquê,

Não há nada de novo no diário,

Nem segredos para esconder...


Quase silêncio, quase mudo,

Todo espinho fere, é agudo,

Deixem-me calado, acabou tudo...


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Quase Concreto

 

Quase concreto

Abstrato só

Quase objeto

Minha mente um nó

 

A menina se vendendo por cocaína

A miséria morando na próxima esquina

 

Quase abjeto

Tenha pena e dó

Quase secreto

Sou apenas só

 

O garoto vendendo bala no sinal

O louco fora de época pulando carnaval...

 

Quase indiscreto

Como todo mundo é

Guardei o afeto

Destruí minha fé

 

O velho abandonado na calçada

A cidade grande não tem pena de nada...

 

Quase quieto

Morto sempre em pé

Curvo quase reto

Esperei muito até

 

Todas as paredes vão desabando

Enquanto meus olhos vão se fechando...


(Extraído do livro "Palavras Modernas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Um Poema Sem Maldade

 

Arma na mão 

e um mundo mais perigoso lá fora

feito de maiúsculas incontáveis

A velha contradição

acabou de lubrificar

todas as suas velhas engrenagens

Milhares são

de meninos perdidos em seus

efêmeros pontos de vista

Eu choro até quando durmo

e esses soluços que escutam

são doces pesadelos

A morbidez entranha-se

pelas minhas carnes

e acaba me dando sustos

Gostaria de tapar meus ouvidos

e retirar as cores

a vida é agora filme antigo

Decerto a morte

(companheira inseparável da vida)

faz todas as lições de casa

Cenas e cenas e cenas

sua velocidade inatingível 

apenas me confunde mais

Eu queria gritar

mas não sei se devo

e minha mudez é quase santidade

Dou um tiro sem munição

e ar é meu aliado

para estranhas canções

Não sei nada mamãe

não sei mais nada

aliás nunca soube

Minha inocência é milenar

e sua poeira é venenosa

como toda mesmo é

Me esqueci desculpem

a minha sentença

no bolso da outra calça

Rosas agora dão medo

e os cravos talvez sim

mas talvez não

Juro minha inocência

até que o tempo

escorra pelas paredes

Estou aflito 

como qualquer mortal

ainda mais que não morrerei

Não enfeitei a casa

para que ocorresse a festa

e tudo virou um funeral

Não pude evitar

de que a rudeza

me invadisse feito tsunami

Foi quase nada e nada

do que sobrou do jardim antigo

onde tudo já existiu

Me deixem pelo menos 

a memória de tudo 

e não apaguem meus arquivos

Proibidas cenas

um café à mais

e o cigarro que quase não acendi

Não temos agora

isso é uma ilusão

só o ontem e o amanhã estão aqui

O destino é uma piada

que o comediante 

não queria contar e contou

O palhaço fez piruetas

mas acabou falhando

e caiu pelo chão

A musa espirrou

na hora errada

e nem tinha lenço

Uma vez por semana

me visto de preto

para lembrar-me vivo

Toda filosofia caducou

envergonhada ficou

diante de um prato de comida

Toda reza calou-se

diante da morbidez

de uma fé inútil

Nem mesmo velas acesas

adiantam alguma coisa

perante nossa escuridão

Aniquilo-me totalmente

um dia sim um dia não

de acordo com o freguês

Escondo-me frequentemente

atrás de invisíveis portas

que minha mente constrói

Os gatos são anjos de bigode

que esperam com paciência

nossos frequentes tombos

Não existe mais razão

para consertarmos

os brinquedos quebrados

A casa toda desarrumada

os tênis jogados num canto

a cama de solteiro pra dois

Os desafios do tédio

como uma goteira

que teima em continuar

Não compro mais jornais

não coleciono mais domingos

e apenas posso chorar 

Não esqueça o like

deixe ali a bike

terremotos também passam

Tudo estremece agora

muito além das possibilidades

de uma fantasia maliciosa

Nomes comuns

não são tão comuns

dependendo de onde

Quero reinventar

brinquedos antigos

e antigas cirandas também

Rebecas e Manuéis

ainda andam na corda bamba

e se assustam sem susto

O velho rádio ressuscitou 

traz notícias impossíveis

não há mais sangue no chão

Eu não sou um novo Cristo

mas não me pendurarei

em qualquer uma árvore

Um cigarro no portão

e as intermináveis celas

compondo a paisagem

Toda cor agora é negra

sob os olhos da miséria

que tudo domina

Arma na mão 

e um mundo mais perigoso aqui dentro

letras minúsculas de um contrato sujo...

Alguns Poemetos Sem Nome Número 96

Enigmas sem esfinge
olhos mais que fechados
Uma mosca executa uma sinfonia
num ar igualmente morto
Quantas lágrimas ainda chorarei?
Esqueci a alegria por aí
e alguém deve tê-la encontrado...
Por favor, me devolva!
É a única que tenho,
me falta como comprar outra...

...............................................................................................................

- Tá, eu prometo!
- eu-menino falou com a cara
mais cínica do mundo...
Passados tantos anos,
não consigo por mais que tente
deixar de engolir todos os sóis que aparecem
como um girassol
que não pára de crescer...

...............................................................................................................

Morte-alma
não-morte-corpo
Viver morrendo por aí
eu já vi o bem-te-vi
Andei por terras
com e sem guerras
Águas no alto e no chão
com e sem coração
Chorar virou arte
um pedaço não é parte
Morte-alma
não morte-corpo
Tudo no mesmo lugar...

...............................................................................................................

A irrealidade das telas
das mentiras que contam
sem saber qual a cor do pano
muitos que já foram
que o digam
Tudo com seu preço
é tão barato comprar gentes
Escrever caminhos
que sigam aos abismos
prefiram virar para a parede
e dormir...

...............................................................................................................

Não é pássaro
é um drone
Não é uma estrela
é um LED
Não é tempestade
são vários lasers
Não é choro
é apenas ensaio
de uma peça mal-ensaiada

...............................................................................................................

Estou cansado
de esperar a chuva que não vem
o pequeno jardim ressequido
olha tristemente para mim...

Estou descrente
de qualquer fé existente
enquanto insisto em pedir
algo que não virá...

Por isso
vamos debochar sempre
enquanto pudermos
nem jantar eu quis...

...............................................................................................................

Um arco de corda tesa
e o disparo preparado
Um amor impossível
pela soma dos fatores
Uma indecisão periga
no beira do abismo
Matar-se sem morrer
é muito e muito fácil
Deixemos que tudo seja
como não deveria ser

...............................................................................................................

Palavras que conheço
palavras que desconheço
umas demais 
outras demenos
invento o que necessário for
Gostos que provei
gostos que não provei
uns muito bons
outros nem tanto
tudo parecido com as marés
Deixem-me por aí
andando com minha sombra...

...............................................................................................................

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Uma Valeriana

 

Na casa de mãe Joana, Joana não mora

e sabemos isso quando o tempo passa.

Eu não sei mais nada porque tudo esqueci...

Sem sombra de dúvida - a dúvida

palitará os dentes com meus ossos.

Eu vivo evitando mirar nos espelhos...

Continuam minhas loucuras - todas elas

como um grande bloco que desfila.

Ser insano tem lá as suas vantagens...

Se existe felicidade - eu desconheço

seu gosto é estranho para minha boca.

Eu me entorpeço cada vez mais...

Há muitos rios por aí - morrem todos

e são sepultados no mesmo lugar.

Talvez de fogo me torne água um dia...

A lâmina brilhou no escuro - como pirilampo

e o vazio faz até o medo ir embora.

Toda tempestade traz seus clarões...

Nem sempre beleza e tesão deitam juntos - acontece

assim é feito nosso quadro de absurdos.

Minha reza pode ser uma ofensa ao sagrado...

Eu sinto o aroma do perigo - em muitos cantos

minha selva tem edifícios e muito asfalto.

Não sei se sou o carrasco ou o condenado...

Quero quebrar todas as regras - pisei em ovos

e mesmo assim juro a minha inocência.

O cinismo não precisa de nenhum ensaio...

Eu tenho todos os nomes - e nenhum deles

sou o anonimato mais público que existe.

Uso todos os vernáculos possíveis de vulgaridade...

Quase tudo nem notamos - são formigas no chão

e pisamos na cabeça de todas as oportunidades.

A felicidade muitas vezes o lixeiro levou...

Casa de ferreiro - o espeto é espeto

e sabemos isso quando o tempo passa.

Eu não sei mais nada porque tudo esqueci...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).


Pequeno Poema para O Dia 15 de Fevereiro

 

É assim...

A impossibilidade brinca comigo

como uma criança malvada...

Não sei mais nada

só tenho esses meus versos...

Brindemos...

A vida vazia sem sentido...

A distância do tempo

é como o rio da morte...

A morte que respira

e dança pensando não ser...

Eu ando e a tristeza é 

a minha sombra...

A solidão duma rua suja

é a minha pior companhia...

Gostaria de achar minhas asas

e voar para longe de vez...

Não olhar mais tua cara...

Esquecer meu próprio nome...

Mais uma alma morta

entre tantas que andam por aí...

É assim...

Não de outro jeito, meu amor...

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Sobre Veneno

 


Teimo com o impossível

e por mais que capriche

minhas tentativas são vãs...

Nada do que faça

muda o correnteza do destino

e por isso só me lamento...

Não sei mais o que faço

e acabo me perdendo

entre milhares de desconhecidos...

As intenções foram as melhores

mas todos os planos

todos eles acabaram morrendo...

Sinto um gosto diferente

na dose de sonho que tento engolir

e desconheço o que isso é...

Acabo brigando com as nuvens

e talvez me arrependa depois

não foi sua culpa minhas ilusões...

Estou mais frio que o lá fora

e não posso culpar ninguém

que não seja eu mesmo...

Na frente de uma grande tela

construí um santuário

para todas as minhas decepções...

Os meus versos viraram-me as costas

porque a esmaguei a fantasia

com as minhas próprias mãos...

Faça um ritual

para falar com os mortos

através do meu celular...

Hoje está chovendo

e nos outros dias também

mesmo quando parece ter sol...

A minha poesia se esconde

com timidez pelos cantos

e talvez morra junto de mim...

Tenho visto tantos fracassos

que acabam dando certo

e rir disso de nada adianta...

Minha mente faz perguntas

que alma tenta ignorar

por estar tão cansada...

Escondo-me onde consigo

de algum amor fatídico

que possa chegar atrasado...

Só não consigo escapar

da menina de cabelos verdes

de veneno nos lábios...

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Pequena Reticência

Diferenças marcantes que marcam a nossa pele. Profetas itinerantes com desgraças tão familiares. Eu não vi o meu próprio nariz. Enchi minhas mãos do pó do minha própria memória e o joguei ao vento...

E entre rosas poderosas e cravos escravos minha via-crucis acontece por todas as manhãs...

Os rios feitos de gilete feitos na puta. Sonhos inalcançáveis de um lanche na esquina. Eu desconheço agora quem sou. Engoli num só trago a minha sensatez para que não me ferisse mais...

E eu sinto alguns dentes faltarem na minha boca como quem relembra seus mortos...

O pontapé inicial na decisão de um campeonato de futilidades. Mentirosos de plantão ditam para os alunos. O cheiro da droga inunda o ar como mais um lugar-comum...

Já me cansei de clichês que acontecem em todos os filmes exibidos no meio das tardes cheias de tédio...

Tenho um coração tão malvado como qualquer outro. Os tarados pela ilusão masturbam-se discretamente para o mundo. Eu me tornei a fumaça que sai de desconsoladas chaminés...

A bosta é o tesouro dos besouros e o nojo a medida de nossos próprios limites...

Nunca custou tanto nada ser apenas nada como tantos outros. Quantos mosquitos serão necessários para um massacre? Na barra da noite eu fiz feito uma saia...

Uma comédia grotesca e famosa acaba falando de porra nenhuma e rimos...

Agradeço minha miséria todos os dias até isso se tornar um vício. Berrei até ficar afônico com canções que não sabia a letra. O desejo é mais que uma piada de muito mau-gosto...

Ser enganado é um sedativo igual à qualquer outro e acaba fazendo efeito...

A necessidade faz as maiores transformações e estabelece as condições ideais. Temperei minhas impressões em solene arqueologia. Até o final não esperei coisa alguma...

Para todo final há um começo e essa monotonia do inusitado irá aos poucos nos consumindo...

Não foi por minha opção que atravesso todas estas selvas fazendo amizade com todas as feras. Convido pontuais leões para jantar. Todos os opostos são pura aparência...

O mendigo pede todas as sentenças do mundo para que a imortalidade prevaleça...

Toda paixão é uma piada que quase não foi contada e mesmo assim provocou riso. As emoções são paradas de um ônibus que perdeu seu percurso. O sinal de perigo já foi dado há muito tempo...

Acabei de abrir portas e janelas mas o sol teima em não entrar...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Mais Uma De Camaleão

Eu sou onde estou

movimentos de bote

e já era presa...

Quase raio de sol...

Cores e cores

numa profusão

mais que explosiva...

Não me faça perguntas

eu posso respondê-las...

Eu capturo os momentos

e os paraliso

em minha saudade...

A conta exata

da mira infalível...

Numa guerra

quase não-declarada...

Não sou falso

apenas sobrevivo...

Bonecos de Olinda

e mais algum...

Gerais feições

vivos e mortos...

Escolho palavras

para nada dizer 

mas tudo sentir...

Sou eterna repetição

que se transforma

em novidades...

Até meus cigarros

são únicos...

Nada há além de mim

eu engulo tudo

com a voracidade 

de um certo desespero...

Espelho sou

e nele reflito até

aquilo que amo ou odeio...

Acenda a luz

o show começou...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Tristeza É Tudo Igual

Trança que nunca vi

Tristeza é tudo igual 

Escuridão em que nasci

Debaixo de um temporal


Deixe-me por aqui mesmo

Recordando e chorando...


Fato que não vivi

A esperança é um mal

Não sei porque não parti

Vai que seja no carnaval


Deixe-me por aqui mesmo

Resmungando e delirando...


Quantas vezes caí

Sofrer é tão natural

Não sei porque não desisti

Numa teimosia anormal


Deixe-me por aqui mesmo

Sonhando e desesperando...


O livro fechou e não vi

Tristeza é tudo igual

Escuridão em que cresci

Eu sou esse temporal


Deixe-me por aqui mesmo

Recordando e chorando...

Desespero Em Qualquer Cor

Você só conhece quando põe a mão, seu sem cacau. A fuzarca quando fica pronta, é isso. Desaforo de meio e perfume barato, daqueles de revista pra enganado. Eu que o diga ou me cale, os dois, eu caio no rio de cabeça e não se fala mais nisso. 

Foi quase ontem mesmo, num sabe? Eu sambava em cima do prego que nem calango quando avoa pela primeira vez e dá de focinho na parede. Aí sim! Doeu? Fedeu... O mármore só é gelado enquanto é, bobagem pouca é besteira. 

Amanheci com vontade de miar que nem um sapo dos grandes, mas sapão não! Longe de mim pelo menos um centímetro, que seja. É que às vezes tou de pião pra lá. Adianta nada ser de boa, a moçada acaba estragando o desenho. Não perco mais meu tempo, só se for fazendo nadinha como gosto.

Tomou, papudo? Verso e versico é o que mais tenho, nem que seja só pro forma, bolo e café. Tantas vezes fiz que acabei nem fazendo. Me dá uma peste braba que sai de perto. Nem eu me conheço, até que me apresentam novamente. Aí a conversança não pára até cair os dentes. Sempre acontece quando acontece.

Estalei os dedos na chuva, Deus me perdoe, livre e guarde, sou perigoso até pra mim. Só sonho sonhando. Já viu que absurdo? Além de burro, sou abusado. Nem quero, mas encho a barriga de doer respiro. Misericórdia, My, quase que eu caio em cima e ia bem gostar...

Todo pedaço é um inteiro, só faltou verem isso. Empurrei o cabra de ladeira abaixo e nem viram... É nota de cem, malandro, nota de cem! Faz até festa e macaco sai andando só na birra. De um tanto pra lá, eu sei bem muito. Já dei surra em jacará com violão.

É de monstro pra lá. Quem quiser corte o barbante e diga que eu enlouqueci que o charuto já está aqui. Quero doce e meio, sou muito exigente, isso lá e cá sou mesmo. Chato que nem bola cheia, sou sim.

Troco de canal direto pro padre xingar em latim.

É de merengue pra lá, me dê logo o troco, seu sem graça, senão eu aponto o dedo. Nuvem boa esse, engana até pobre. Rico não, rico só se engana quando respira. Tô precisado de todo ouro do mundo, me dá? Napoleão e seus cem soldados, Napoleão e seus cem soldados, Napoleão e seus sem salgados...

Nem é mais, saiu da reta, curva é. Tragédia grega é lição de casa, até faço de mão pro alto. Jujuba é banquete, não sabe? Então sabe agora, anota aí. Posta de peixe e camarão, pirão sem falta. E morango pro tango, isso sim.

Sou doce que nem jiló, isso sou, muito e até mais. Nem rondó eu faço mais, me bondó, é isso aí. Sem café eu mato mil, sai de perto, eu mato mesmo. Percorro os cinco cantos do mundo pra encontrar uma nova encrenca. Por isso, sou de muita paz.

Não tem bebedeira que me vença, é parquinho toda hora. O vento fora de hora me derruba e a cabeça dói. Linda, linda e mais linda ainda, pena que é pena e nem começa quando acaba. Vou numazinha só e que me dê por rogado.

Não vejo a hora porque o relógio morreu. Tá enterrado no meu pulso. É cigano se não me engano. A Bahia fica quase no Pará, pertim de Olinda. Pra mim é pouco ou demais, sem piscina, eu dispenso a despensa. Tão humilde quanto o rei.

A festa acabou antes de começar, assim são todas elas. Jerico meia mula sumiu na poeira e sem explicações. Eu mesmo sinto saudades da saudade que acabou se esquecendo de mim. Não quero falar bonito, a maioria nem isso consegue. De repente, acabou o sorriso, é a mesma oração que não faz milagre...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Alguns Poemetos Sem Nome Número 95

 


Cicatrizes enganam...

Carregam consigo a memória de choros

que nem mesmo o tempo destrói

ainda que ele seja o responsável...

Saudade mata...

Mesmo que a morte não apareça

e assim continuemos andando

achando que estamos vivos...

Os sonhos gargalham...

São fantasmas que atormentam

e gargalham em nossos ouvidos

até que cheguemos na loucura...

Cicatrizes enganam...


...............................................................................................................


Eu sou o paciente

que a sobreviva maltratou

antes acabasse quase tudo

Parem o canto dos passarinhos

congelem o dia por inteiro

eu quero um silêncio absoluto

Se é que ele pode existir...


...............................................................................................................


Façam de conta que é ontem

que o dia nem mesmo nasceu

Façam de conta que é festa

mesmo que o silêncio nos engula

Façam de conta que o esquecido

foi apenas um erro de percurso

Façam de conta que é amor

o desejo que nasceu quase agora

Façam de conta que eu escrevi

um poema e esqueci onde foi...


...............................................................................................................


Eu escolhi morrer quase agora

sem sintoma algum

sem mal algum

porque você nem veio

por isso não partiu

Eu escolhi morrer quase ontem

sem medo algum

sem tristeza alguma

isso dói bem menos

que qualquer impossibilidade...


...............................................................................................................


Eu não sou nada

e por isso mesmo

acabo sendo alguma coisa...

Eu não vivi alegrias

e por isso mesmo

sei o valor que elas têm...

Eu não sonhei

e por isso mesmo

uma vertigem me acerta...

Eu não pulei do abismo

e por isso mesmo

sei calcular as distâncias...

Eu não fui amado

e por isso mesmo

conheço de perto o desamor...

Eu não sou nada

e por isso mesmo

acabo sendo alguma coisa...


...............................................................................................................


Os domingos morrem

as segundas festejam

É tudo uma caçada

mesmo que invisível

Os domingos agonizaram

as segundas riram

Há crueldade em tudo

como a forma mais natural

Os domingos desconheciam

as segundas e seus ardis

O tempo é uma sucessão

de inúmeros abismos

Os domingos vieram

as segundas fizeram tocaia

Só se esquecem 

que as terças também virão...


...............................................................................................................


A chuva caiu!

Bem feito pra ela!

As nuvens bonitas

viraram água...

Andarão por terras

ou ficarão paradas

mas nada falarão...

Antes conversavam

sobre o que viam

aqui em baixo...

Brincavam juntas

de fazer desenho...

Agora são apenas

um choro apenas

de vida ou morte...


...............................................................................................................


Nada mata mais que a vida

nada mais deixa insone que o sonho

O caminho tem todas as cores

mas a que queremos faltou

A pressa é apenas mais um medo

o medo do relógio que dispara


...............................................................................................................

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Intransponível Barreira de Tristeza

 

Ando levando comigo esse fardo pesado de mim mesmo como uma besta de carga - e é o que sou... Fico desejando alegrias que poderão nunca vir - e decerto não virão... Tento rotas de fuga da maldade que manda nos homens - mas também sou humano...

Intransponível barreira de tristeza que os sonhos ajudaram a construir...

Canto canções que foram esquecidas há muito e perderam o sentido - mas ainda assim canto... Erro as datas e acabo pensando que todos os dias são carnaval - mas talvez sejam... Fico olhando os edifícios (bestas de concreto) que construíram e não entendo - acho que ninguém...

Intransponível barreira de tristeza que a vida sempre nos oferece e não podemos recusar... 

Tento entender filosofias baratas de um otimismo exagerado - mas a prática é outra...  Em vão desejo arrancar o tumor da ternura e toda tentativa é inútil - ela há de me matar... Corro desesperado do amor que me aniquila - mas essa fera é mais ligeira do que eu...

Intransponível barreira de tristeza que me trouxe de presente a solidão...

Levanto o dedo quando chamam por um idiota - sou o maior deles... Tento me desviar dum tapa na cara - a verdade me agride... O destino me deu tantas negativas - como um indigente...

Intransponível barreira de tristeza que comeu minhas carnes e agora rói-me os ossos...

Não consigo conter as minhas taras - elas são simples demais... Os meus bolsos andam sempre vazios - muito mais a minh'alma... Acordo pelas manhãs tentando me livrar dos pesadelos - mas o dia será mais um deles...

Intransponível barreira de tristeza onde a misericórdia já foi embora faz muito tempo...

A chuva que cai agora de mais nada adianta - morreu o jardim... Eu olho em todas as direções - todos já partiram... Até respirar se torna um fardo - um dos mais pesados...

Intransponível barreira de tristeza feita de um óbvio que me foi uma grande surpresa...

Aquela que eu amava se tornou mais um espectro - agora é apenas isso... O veneno que corre em suas veias - é o que me mata mais... A paz é um muro alto que não consigo subir - sei que me machucarei demais...

Intransponível barreira de tristeza que cada segundo aumenta de tamanho até que me sufoque de vez...


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Ferido

Andar por ruas que não quero

Ter o resultado que não espero

Um sonho abortado na maternidade

Perder o amor para a eternidade

Procurar pelo que não tem sentido...

Ferido! Ferido! Ferido!...


Ir por sob a chuva que não posso

Encher-me de ternura até dar um troço

O meu carro vai indo pela contramão

Eu sinto tanto e não tenho coração

Eu sou o anjo que foi corrompido...

Ferido! Ferido! Ferido!...


Não deixo meus passos pela areia

Me transformo em fera na lua cheia

Perdi a minha fé e continuo à rezar

Dar um passeio sobre as ondas do mar

Não sou o vencedor, apenas o vencido...

Ferido! Ferido! Ferido!...


Cortei minhas carnes, mas não sangro

Dispensei a valsa, agora quero um tango

Quero a embriaguez de quem nada tem

Acabo confundindo o mal com o bem

A vida é uma selva, eu estou perdido...

Ferido! Ferido! Ferido!...


Grito enquanto muitos ficam calados

Eis mais um privilégio dos desesperados

Gritar até não poder mais e ficar rouco

Entre ali na fila, é apenas mais um louco

Não é só de prazer que se tem o gemido...

Ferido! Ferido! Ferido!...


Vou parando estes tristes versos por aqui

Não sei mais em que floresta eu me perdi

Igualmente tristes me são a morte e a vida

Eu tenho a dor, mas não dói mais a ferida

Talvez seja mais uma dádiva ser esquecido...

Ferido! Ferido! Ferido!...

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Alguns Poemetos Sem Nome Número 94


Se me perguntarem 

porque ando,

eu não sei...

Se me perguntarem

porque insisto,

também não...

Os pés já estão feridos

com feridas absolutas,

dessas que não fecham...

O suor escorre da testa,

entra nos olhos

e queima junto às lágrimas...

Se me perguntarem

porque ando,

eu não sei,

pode ser por 

simples força do impulso...


...............................................................................................................


O medo da morte ficou lá atrás,

numa curva qualquer

velando o cadáver dalgum sonho...

A tristeza de ficar velho foi embora,

junto com a vaidade

que já pediu as contas há muito tempo...

O desengano de não ter amor,

não consegue me ferir mais

me viciei com certos espinhos...


...............................................................................................................


O tiro se desviou e não foi por sorte,

foi apenas maldade do tempo

que quis me castigar mais e mais...

A doença queria me aniquilar de vez,

mas o destino chegou e disse:

- Agora não! Deixa sofrer ainda!

A minha memória tentou me aliviar,

fazendo que eu esquecesse velhas histórias

e agora me pergunto: Quem sou eu?...


...............................................................................................................


Um tic-tac diferente enche o ar

sufocante ser que nos sufoca

Eu engulo pedras

como qualquer condenado

E me satisfaço agora

com menos nada do que antes

Certeiras miras nos espaços

como noites que nem vi passar

Onde estão os pirilampos?

Esconderam-se em estrela qualquer

Lantejoulas não brilham mais

no vermelho da minha fantasia

Um tic-tac diferente enche o ar

é um marca-passo acabando a bateria...


...............................................................................................................


A carne não é culpada pela tristeza

os espinhos simplesmente estavam lá

A incerteza é nossa única certeza

e nós podemos apenas chorar...


Os versos é tudo aquilo que nos resta

o vento leva as folhas pra lá e pra cá

Toda vida acaba num final de festa

e nós podemos apenas chorar...


...............................................................................................................


Eu vejo a vida como uma serpente

que rasteja na areia quente

esperando um pé para picar...

Eu vejo a ilusão como um veneno

aguardando num frasco pequeno

a hora de nos matar...

Eu vejo o amor como uma fera

que na tocaia no espera

vai nos engolir sem mastigar...


...............................................................................................................


Espirais de fumo

sobem tranquilas

até chegarem ao céu

eu não quero mais nada

espero em silêncio

porque o grito morreu

antes de sair da boca

Bando de nuvens

passeiam até cansarem

e se jogarem 

em abismos líquidos

alguns dias sim

alguns dias não

tristes ou alegres...


...............................................................................................................


Minha única certeza

é a incerteza

Meu amor

recebe ódio de volta

Essa é a vida

é tudo que temos

Meu choro 

é riso de alguns

Bondade?

Isso não é coisa nossa...


...............................................................................................................

Come Na Cuia

Comê na cuia Comê na tuia Comê na nuia Experimente o berimbau catreiro Em todas as noites de pé de sapo! Paca tatu Paca tutu Paca Dudu Apert...