sábado, 24 de dezembro de 2022

Inípio

 

O cara trompou com outro

Os leitores de jornais são

Quero me distrair tempestades

Pelas nossas fiéis metades

É apenas extrema-unção


Felipe bateu de carro

A favela perdeu a dimensão

Cariocas são argentinos

Quantos velhos ainda meninos

É tudo apenas uma diversão


Comprei novo dicionário

Agora eu resolvo essa questão

O que você tem sob as vestes

São as curas ou são pestes

Não me sobrou nenhum tostão


Mastigo favas de anis

São boas para a digestão

Eu comemoro o meu enterro

Cada acerto é um novo erro

Vou com o carro na contramão


Começou a estação de caça

Sua bunda é sua perfeição

Qualquer cuspe me engasgo

Qualquer culpe me rasgo

Eu surto e caio no chão


Viva nossa musa já morta

Vamos sambar no caixão

Aos miseráveis a comida

Tudo um arremedo de vida

Brinco e pulseira e cordão


Estética mais filho-da-puta

Eu tenho meus calos na mão

Nunca fomos tão miseráveis

Pelos fatos mais notáveis

A serpente nos legou o não


Tudo é inípio.... Mesmo não sendo...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

(In)Móvel

Estar e não estar

Na altura das nuvens

Um tumultuado tráfego

Os cangaceiros jogam game

Madalena nunca mais se arrependeu

Os juros mais altos

Meu pobre estômago

Não sei mais rezar o credo

Eu cato todas as mangas do chão

Não posso mais tomar uma cana no bar

Flores para os mortos

A ponte ainda não desabou

Vamos fazer tatuagens de canetinha

O carrasco impaciente está esperando

Eu acabei de ganhar uns bolinhos para o chá

Os dentes estão caindo

A carruagem agora ladra

O controle-remoto me controla

Vamos sambar por cima das brasas

Eu carrego um elefante aqui na costas

Todo sucesso é inútil

O perfume estará no fim

Talvez os sonhos sobrevivam

Se o deus-marketing assim permitir

Eu tenho ganho alguns bolos nas mãos...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

(In)Definido

Vamos brincar de nada até que o nada seja

Insanidade na real troca de certos papéis

Eu me esqueço da palavra agora censurada

Como certos perfumes feitos para nos ferir

O palhaço consegue rir de quem rir consegue

É tudo apenas uma questão de lugar e pronto

Esqueçamos de todos os sinais de fumaça

Vamos repetir novamente a nossa sobremesa

Até que a glicose possa então nos salvar

Eu furei a ponta do meu pobre e magro dedo

E dele não saiu sangue e saiu apenas poesia

O carrasco foi um pobre coitado sob as ordens

É proibido proibir o que proibimos proibir

A fila dos ossos agora mudou de matéria-prima

Tempo e fogo agora dançam sobre as águas

Minha mordida será pior que do próprio lobo

São muitas palavras para poder decorar

Cada ponta de cigarro tem seu justo valor

Moscas suicidas em direção ao inseticida

Voos rasantes calculados com certa maestria

Um dedo de conhaque para variados dedos

Todas as mitologias mais vulgares possíveis

Holocaustos esquecidos em comemorações

Palavras grandes demais para insignificâncias

A questão genética ainda continua com intrigas

Um beijo na boca da morena que nunca será

Confundir certas coisas é o mais comum...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).


quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 219

Era tão. Que não sabia mais nada. Que não queria mais nada. Que soltava versos pelo ar. Como quem quase respira. Um silêncio e talvez ternura. Quando muito. Ou quando pouco. Com seu tênis novo e quase velho. Com suas recordações escondidas. Com seus causos sem graça. Com suas piadas de choro. Em matos agora inexistentes. Findaram-se alguns. Acabaram-se todos. Um fim de romance. Um nome para a praça não mais conhecer. E o mar calar a boca de vez...


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Eu quero mais riscos.

Ou mais ciscos.

Alguns Franciscos.

Alguns dilemas. 

Alguns poemas.

E na hora H a bomba falhou

E os meninos só riram...


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Apenas mais um domingo assassinado. Uma segunda parida de qualquer ressaca. Os desesperos da semana de pé. Nada mais temos do que alguma saudade de coisa alguma. Muita fumaça reclamando céus. Quem sabe um dia? Onde alguma interrogação possa ser respondida de forma quase definitiva. Um frio quase quente percorre os ossos de forma um tanto estudada. Fantoches em bizarras telas. Certa ansiedade por algo. Nem eu mesmo sei. As crianças estão de férias...


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Gatos entre os túmulos. Recordações para cá e para lá. Epitáfios gritando sem quem os escute. O tempo acaba dormindo um sono pesado. Os pássaros insistem em sua tarefa. Aqui e ali existem mais recordações. Até as ruas falam certos segredos. Talvez o fundo de uma garrafa fosse um consolo. Sinto dor do tombo de ontem. Todo normal pode parecer um tanto inédito. Imponentes anjos ante meus cansados olhos. E muitos cigarros sem a possibilidade me deixar. Gatos entre os túmulos como se fossem telhados...


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Interminável. Como formiguinhas numa fileira - nossas lembranças e sonhos também. Eu escuto muitas palavras que gostaria não entender. Uma amnésia poderia não ser tão ruim. O frio poderia ir embora sem sequer um adeus. Há muitas coisas que não vejo mais, nem sei se existem agora, se existiram ontem. Os papa-ventos devem ter idos para os céus. Ficaram por lá mesmo. Enfeites para os cabelos das nuvens. Alguns espelhos ainda sobraram. E o meu tempo tedioso sem querer - interminável...


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Sem desastres, o público não aplaude. Sem tragédias, não há vivas dos que assistem os espetáculos. A alegria se inverte em nossos tempos. Há especialistas na nobre arte de nos enganar. Na primeira fila que aparecer, entrarei. Mesmo sem saber o que estou fazendo ali e meus bolsos estiverem vazios para pagar coisa alguma. Repetem-se os mesmos filmes. Tudo é apenas um engano, até mesmo para os enganadores. Nossa tecnologia\tropeça e cai de boca no chão sujo. Deveriam inventar o impossível. Quero chorar muito, mesmo sabendo que o drama nem aconteceu...


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Você é como uma chuva

Me faz bem...

Me faz mal...

Faz o jardim florescer

Mas molha os ninhos...

Você é como vento

Me faz bem...

Me faz mal...

Traz notícias boas

Mas leva sonhos embora...

Me faz bem...

Mas me faz mal...


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domingo, 18 de dezembro de 2022

Meu Transe

O café amargo pela falta de adoçante

O passado com seus passos segue adiante

Eu até fico feliz pela minha tristeza

Hoje iremos dormir sem ter sobremesa

O menino de óculos bem comportado

Aquele amor que morreu sem ter amado

Uns gestos e até mais uns gestos mais

Há muitos barcos mas não há cais

O meu oceano tem sede e quer água

E a minha carne foi feita de mágoa

Os pombos disputam suas migalhas

Enquanto as paixões tecem suas malhas


A fé amarga pela presença de um instante

O passado com seus tropeços não é como antes

Eu sou um infeliz tenha toda essa certeza

E um dia iremos dormir por sobre a mesa

O menino ridículo até hoje tem chorado

Aquela dor doeu sem ter me machucado

Eram protestos e até protestos mais

Há muitos marcos em meus haicais

Meus gregos e troianos tem suas léguas

E meus pesadelos não aceitam tréguas

As fantasias vão tecendo suas malhas

Enquanto meus tesões lançam batalhas...

Nojo

Pássaros em bando para a fila do abate

Os cordeiros gostam de abismos pularem

A noiva acabou de dizer não na hora do sim

Não gostei do refrigerante que experimentei


Semi-ótico

Romance robótico

Proibição proibida

Vida...


As rimas agora são apenas nosso velho engano

Novos Santos Dumonts com vertigens de altura

A perfeição pode ser apenas mais um balde de lixo

Os gigolôs são os novos profetas do dia-a-dia 


Semi-erótico

Efeito narcótico

Cara lambida

Vida...


Nossos vermes entram na fila e pegam senha

A nudez é a fantasia com o maior destaque

Garçom traga logo a conta que eu não pago

A mitinga compareceu ao baile de debutante


Semi-exótico

Resto caótico

Vaca parida

Vida...


Toda metade é o inteiro que ficou humilde

A realeza foi pedir esmolas bem na esquina

Abre-se uma coca e de lá não sai o gênio

Tomei um tombo e quase continuei rezando


Semi-psicótico

Misterioso narcótico

Doida varrida

Vida...


Descobrimos a pólvora quase anteontem

A felicidade mora num quartinho alugado

Vamos ser mais leigos que todos os sábios

Algumas semanas tem mais de sete dias


Semi-gótico

Questionamento sinótico

Desabrigada guarida

Vida...


A porta foi fechada logo na minha cara

Uma duelo de espadas para cada minuto

Cavalos-marinhos passeiam pelos prados

Como era gostoso aquele meu inglês


Semi-ótico

Preço módico

Descer na subida

Vida...


(Extraído do livro "Palavras Modernas" de Carlinhos de Almeida).

sábado, 17 de dezembro de 2022

Caos de Vidro

 

Letra faltando

Que falte

Invento o que quero

Palavras e ruídos

Nomes feios

Tão bonitos

Falta vento

E algodões-doces

Tirados da boca

Eu o sei

Sou um mestre

Elefantes indeterminados

Escorpiões mansos

A bala na boca

Do canhão ou do bebê

Sangrando sangrado

Falta tudo

Até o nada

Aí complica

Se explica

Bolas de gude

Foram engolidas

Pelo meu passado

Lojas fechadas

E maniqueísmo barato

Restos de comida

Santa xota

Ereções voluntárias

Nada é

Quando muito

Sobraram ossos

Todo amanhã

Será um dia

Entorte as tortas

Cabelos grandes

Em pequenos discursos

Linda e a Fanta uva

Ninguém dá nada desgraça

Só pombos são azuis

E esperanças indolores

Esqueça isso

Bezerros de ouro

Estão na exposição

Arrependa-se quem puder

Cavei minha cova

Espertamente

Durante um festival

Cada cabeça numa travessa

Pedras flutuantes

Toneladas em gramas

Firmes firmas

No pescoço de sacerdotes

A elite do quem

Bonecas de cabelos quadrados

E alguma burguesia

A torta de maçã está pronta

Só falta jogá-la fora...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 218

Nem lembro

Nem quero lembrar

Quantas vezes caí

Quantas vezes menti

Para eu mesmo enganar


Nem lembro

Nem quero lembrar

Quantas vezes amei

Quantas vezes me entreguei

Para o amor me matar...


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Ela andava

Como só voam os pássaros

As borboletas

E outros pequenos bichos

Providos de asas...

Ela flutuava

Que nem nuvens grandes

Em muitos céus

Conhecendo todos lugares

Até os de mim...


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Um pedaço de mim criou outras pernas

E saiu correndo

Era quase madrugada quando aconteceu

Mas ninguém escutou

Um pedaço de mim de repente ficou veloz

E quase não senti falta

Na verdade só senti quando meu rio de sangue

Acabou parando de vez

Era o meu pobre coração...


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A parede suja

Parece que estou parado

Eu nada entendo

Ou entendi errado

Nada estou vendo

Estou encegado

Ou saio correndo

Ou olho pro lado

Estava bebendo?

Fiquei embriagado...


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Cárcere privado

Privação dos sentidos -

eis o que temos de mais moderno!...

Sensações estranhas

Sentimentos manipulados -

eis o que há para prato do dia!...

Falsa alegria

Máscaras mais bonitas -

eis o que há de farsa por aí!...

A ciranda já se acabou

E isso já faz muito tempo!...


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Foi o choro que eu engoli ontem

Acaba voltando do meu estômago 

E em segundos cairá pelo chão...

Foi a escuridão que eu escureci mais ainda

Que trouxe muitos pesadelos novos

Capazes de gelar qualquer sangue...

Eu sinto a dor mais profunda possível

Como aquele velho poço abandonado

Que um dia brinquei jogando pedrinhas...


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Cuidado com as alegrias gratuitas

(Falo isso por experiência própria e bem amarga)

Todo açúcar em demasia quando vai embora

Não nos digna a dar nem sequer adeus

Não irá em cenas bonitas ou feias

Não importa se cavalga nuvens claras ou escuras

Todo o cinza de nosso luto tem o mesmo tom...


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sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

MultiUso

Multiuso

Poliuso

Tudouso

Eméritos cidadãos que não valem nada

A porta estreita

A cara malfeita

A vida é mais uma simples piada...


Multibunda

Polibunda

Tudobunda

Nosso riacho nada tem de plácido

A verdade é façanha

A ternura é estranha

Vamos fazer um brinde com ácido...


Multimundo

Polimundo

Tudomundo

É tanta gente sem ter nem nome

A mentira é regra

O mal a si nega

Toda crueldade agora nos consome


Multimerda

Polimerda

Tudomerda

Vamos jogar dados sobre o manto

É tão legal

É sensacional

Não ter mais nenhum canto


Multiuso

Poliuso

Tudouso

Grandiosas ideias são somente piada

A tolice perfeita

A comida malfeita

A vida vale somente um nada...


(Extraído do livro "Palavras Modernas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Poema Terceiro

 


Não fiz nada nada nada

Todos os meus esconderijos

São apenas mais subversivas tentações

Minhas taras mandam cordiais lembranças

Sem vírgulas sem rédeas sem cabimento

E tampouco pedidos de alguma desculpa

A casa está toda em um barulhento silêncio

Manhãs parecidamente mórbidas e tals

Eu uso eu mesmo como escudo

Morrerei certamente hora dessas

Malvada morte que não avisa nada

Deveria pelo menos soltar algum rojão

Malvada vida que não me deu

Pelo menos algum sincero sorriso

Me escondo no meio de tantas palavras

Como um velho que sou me abrigo

Num velho cobertor bem mais novo que eu

Onde andará aquilo que pelo menos

Me deu algum pedaço de alguma ternura?

Algumas luas e muitas estrelas

Ficarão bem legais na roupa do mago

E um cigarro com gosto de uva

Cairá muito bem feito uma oferenda

O que fazer na hora exata do risco?

Talvez algumas meias de lã e mais nada

Preciso limpar meus óculos

E atrapalhar o passeio de alguma formiga

Sem Severinas não existe capricho algum

Eis o grande enigma lançado ao ar

A esfinge tomará seu coquetel em silêncio

E as moscas em bando serão bombardeiros

Perdi meu cartão de crédito que nunca tive

No bloco do sujo ainda sou o rei

Conheço o som das latas uma por uma

Te importa essa minha constante tristeza?

Cada macaco no seu alho e só

Estavam todos esperando um gran finale

E eu nem ressuscitei no terceiro dia...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 217

Toda antigo é novo, todo novo é antigo. A lei do vice-versa é implacável. Não há escapatória. A novidade enfartou na hora de seu solene discurso, na frente das câmeras, ao vivo e em cadeia nacional. Por isso existe a sabedoria dos pombos que passeiam pelas praças catando migalhas e os velhos com suas intermináveis partidas...


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Luas e estrelas num fundo azul. Sons indecifráveis - algum movimento. Eis o que há para um agora sempre aflito. Todas as aflições quase possíveis. Uma saliva presente em algum beijo de possibilidade. Vultos indecifráveis. Vivos? Não há resposta para tal pergunta. Quimera está de folga hoje e aproveitou para arrumar a casa. O fim é apenas o fim. E a câmera é desligada para mais uma banalidade...


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Um desenho qualquer sobre a pele. Alguns fios de sol também. Manhã como quase todas as outras. Quem viver, será. Gladiadores no seu afã de queimar fogueiras em seus pulmões. Pensar pode ser apenas um martírio. Cada um é um universo. Com detalhes feitos com todo capricho possível. Nunca se sabe o que está na próxima curva. O ambulante apregoa seus milagres. E filosofa besteiras como quaisquer outros...


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A lua que eu não vi, mandou-me recados. Mandou me avisar que na próxima noite, ao surgir, misteriosa como sempre e redonda, pedirá meus mais sonoros uivos qual lobo solitário. Me pedirá também, se possível for, alguns versos improvisados, desde que sem desespero algum. Me mandará algum orvalho para que eu possa substituir minhas lágrimas por ele, o que será muito bom. A lua que eu não vi, mandou que o sol tomasse conta de mim...


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Não há mais musas de sorrisos simpáticos. Os violões acham-se quebrados e sem cordas. As fogueiras apagaram-se de uma vez. As borboletas foram encantar outros jardins. Não há mais colibris e nem sequer bem-te-vis que sirvam para algum consolo. Eu não choro porque quero fazer feia qualquer cor, choro porque elas ficaram feias antes meus olhos. Eu não me entristeço porque eu gosto de morbidez, foi a alegria que foi embora sem dar sequer um adeus...


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Mais caros que os preços dos supermercados, o que nos cobram para estarmos aqui. Num mundo sem sabor, recheado de maldades. Todos passam virando o rosto para o outro lado. A empatia agora é uma grave doença, a piedade a primeira tolice na lista de erros. Todos agora perdem tempo tentando evitar sua perda. Todos possuem medo da morte, mas correm para poder abraçá-la. Não percebem que as lápides são todas cegas e os epitáfios são mudos? Esqueceram da ternura, algo que mais nos aproxima dos anjos. Enquanto só o amor é dono da imortalidade...


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É noite. Meu filho já foi dormir. O amanhã será maçante e ingrato quando for cedo para o trabalho. Sentando em frente ao computador ouço alguns ruídos. Não ruídos comuns que a noite lá fora traz. Algum bacurau deve estar fazendo seu lúgubre canto no meio do mato que ainda sobrevive por aqui. De vez em quando algum carro deve passar trazendo seu condutor para descansar de um dia cheio. Deve ser ruído de algum dos meus mortos, querendo lembrar que ainda levo dentro de mim a eternidade de todos os meus dias vividos...


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segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

É Porque Sempre É Noite (Amanhã Pode Ter Mais...)


Calçadas e seus rastros de choro...
Bacuraus e seu eterno mau-agouro...
Postes solitários e espectrais...
Amanhã pode ter mais...

O meu medo caminha junto comigo...
É porque sempre é noite!...

A lua imóvel faz várias caretas...
Os morcegos agora são borboletas...
Todos os cheiros agora são especiais...
Amanhã pode ter mais...

Eu sou apenas uma sombra sem horário...
É porque sempre é noite!

Os mendigos choram a sua desdita...
Uma praga é rogada e tão contrita....
Há silêncio até nos bares do cais...
Amanhã pode ter mais...

Apresso meus passos como um fugitivo...
É porque sempre é noite!

Minha prece nunca vai ser escutada...
A minha coragem? Eu acho que nada...
Só espero que o disparo venha de trás...
Amanhã pode ter mais...

Me transformo naquilo que já sou...
É porque sempre é noite! Sempre!...

Quando As Sextas Forem Domingos

 

Eu bebo com muita alguma satisfação

O primeiro dos muitos cafés para hoje

Será halloween e eu não o sei?

As parabólicas choram por sua inutilidade

E eu preciso de sete velas para um feitiço

Um desses bem bons que tragam mais flores

Ao meu pobre canteiro e me ajude 

Para que menos folhas se suicidem hoje

Eis a perfeição vinda em caixinhas!

E enormes interjeições para melhor cena

Quem dera fosse um cão vadio e não mais

Não me lembraria mais dela com olhos verdes

E um sorriso meio malicioso que encantava

O caminho é longo de centenas de léguas

E as minhas botas já estão mais do que gastas

Viva aqueles que nem o nome eu lembro!

Isso prova que algumas tristezas também parte

Dois patinhos na lagoa cantado no bingo

E algumas frutas quase que experimentais

Meus versos possuem a diferença de todo igual

E mais ilusões são mais do que bem alimentadas

Eu li centenas de páginas na solidão menina

Enquanto a malícia não brotou em minh'alma

Eu dei discursos para que ninguém escutasse

E no meio de gares tumultuadas fui apenas um

Me faltou carinho! Me faltou sim e sim!

Experimentei todas as loucuras ao alcance das mãos

Como quem vive dentro de escuras cavernas

E acaba saindo delas para comer o sol

Num laboratório experimento fáceis venenos

Até que nada mais seja capaz de fechar-me os olhos

Há dias que esqueço de estalar meus dedos

E assim vou cantando sem violas que me acompanhem

Não me fale de amor! Não! Não me fale!

Eu não quero subir ao patíbulo mais uma vez

Vou tentar por enquanto sentar numa calçada

E tocar minha flauta esperando algum aplauso...

domingo, 11 de dezembro de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 216

Sento num banco de praça e vejo tudo ao meu redor. Isso aqui parece com o mundo. Cantos bonitos e outros feios. A alegria das crianças que aproveitam o sol de hoje e a tristeza do mendigo que tenta não pensar em mais nada. Escolha o seu personagem. Flores nos canteiros e restos de lixo de passadas noites. Passarinhos em galhos e gatos se lambendo. Escolha seu papel. Sento num banco da praça e sou apenas mais um velho, descansando de muitos dias já idos...


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Talvez a menina bonita tivesse pena de mim. E me desse um sorriso pra guardar. Um sorriso de uma fração de segundos, mas um sorriso ou um quase-sorriso se fosse pedir muito. Eu o guardaria bem aqui dentro de mim. Serviria para aplacar algumas tempestades malvadas que acontecem. Quando chegassem gritando nomes feios eu diria: - Alto lá! Não me atinja com sua mortalha cinza! Aqui tem o sorriso que a menina bonita me deu...


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Nativivo

Natimorto

O que presta?

Quase nada vale

Alguns sonhos que escapam

Pesadelos se tornam...

Redivivo

Redimorto

O que resta?

Quase nada existe

Alguns pássaros escapam

Buscam outros céus...


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Não pensar... Pra que?

A vida é apenas um emaranhado de arames,

Todos eles farpados, todos eles ferindo...

Aos vencedores as batatas,

Mesmo se elas estiverem estragadas...

Pegue a senha, espere a sua vez...

Converse coisas sem nexo pra se distrair,

Reclame daquilo que você bate palmas

Ou pelo menos do que deixa acontecer...

A selva está toda suja 

Limpar dá muito trabalho...

Não pensar... Pra que?


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Sangue demais, quase uma hemorragia. Não tenho mãos e nem pés, só me resta o dia. Sangue na mão, sangue no chão, sangue em qualquer lugar. Vermelho, verde, transparente, opaco, da cor que se enxergar. Chances jogadas fora, chances por esperar. O que chegará agora, o que nunca vai chegar. Moda, alternativa, tradição. O que dá vida, o que mata, o que fere sem compaixão. O ouro e a prata. O que faz renascer e o que mata. A ilusão mais barata. Me deem logo trinta pratas, está acabada a questão...


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Não conte pra ele...

Não conte pra ela...

Que a vida é um disfarce

Apenas uma novela...


Não conte pra ele...

Não conte pra ela...

Que a cidade é apenas

Mais uma grande favela...


Não conte pra ele...

Não conte pra ela...

Que o sol sempre invade

Minha pobre janela...


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Tudo posso em meus sonhos

(e quase nada fora deles,,,)

Vamos purificar o ar das manhãs?

Que as malvadas fumaças vão embora...

Vamos alentar o desamado que ama?

Que os olhos da manda procurem os seus...

Vamos acompanhar os passarinhos?

Acabei de comprar um par de asas novo...

Que dia será hoje?

Mais um pouco e o carnaval chega...

Tudo posso em meus sonhos

(e quase nada fora deles...),,,


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(In) Perfeição

 

Direita, esquerda, direita, esquerda. Eu me tonteio todos os dias, das manhãs até que o sol faça seu descanso mais do que merecido. Não sei, não quis, apenas sonhos em cima da minha pobre cabeça. Onde se pode ser feliz? Pergunto, assunto, mas as paredes sofrem de surdez. Aguda, tudo muda, até a ponta do espinho. Estou fraco, tão fraquinho, o velho que cai de cara no caminho. E daí? E de lá? Em terras que minha carne nunca irá. Estúpido, mesquinho, guardo minhas moedas logo no bolso que está furado. Danou-se, danado, espere mais um pouco, fique ali do lado. A putinha dança nua no banheiro, A maior das mentiras: o último é o último, não é o primeiro. Todos loucos, todos poucos, muito roucos. Perdeu a alma aquele tal de faraó. Sem pena, sem dó. Lá vem, no trem, o Có. Couraça, cachaça, pirraça. Margarida já deixou de ser flor, continua sendo vadia, não tá mais quente, tá muito fria, bola tá murcha, ficou vazia. Enquanto uns outros catam papéis qual fossem anéis, ao invés, ao revés, silenciosos quartéis. Irão nos seus próprios enterros os coronéis? Miragem, visagem, imagem, quebraram o nariz do menino. Foi destino. Que lhe sirva de ensino. Frases pequenas, alguns labirintos. A sensação do dever comprido. Valeu ter morrido. Muito maniqueísmo, muito cinismo, algum escapismo. Troquei os móveis de lugar, mas os bibelôs irão continuar. Enquanto alguns camelôs até sabem cantar. Passaredo, passará, arvoredo, arvorá, é tão cedo pra acordar, tenho medo de te amar. O homem que não ria morreu com uma piada. Mas que nada, que mancada, vai voando, não na escada. Cena erótica, cena robótica, cena sem ótica. Estou profundamente demente. Ganhei a vida, perdi meu dente. Tanto faz, o duque ou o ás, os que está lá atrás, o que está na frente. Jogando bola, pedindo esmola, eu fiz escola, Vem cá, parente! A realidade é um estado imaginário e quem bebe cola conhece o sistema monetário, seu otário. Em cima, em baixo, em cima, em baixo.  câmara dos horrores tem que ser à cores, de outro jeito nem pensar.  Alta definição, alta indefinição, pois não. Elemento humano, profano, quase felino, seu menino. Em livros estranhos que afinal eu nunca ali. Nem nunca fui Salvador. De imortais pastéis, tudo ao invés. Vamos correr uma lista em todas as ruas possíveis, até as que não vemos, tão incríveis. Vide bula, vide mula, vide Sula, acabou-se o encanto das frutas que não amadureceram, e ainda, o desencanto de alguns sonhos que quase morreram. Palmas para todos os idiotas! Quanto mais, melhores. Ventos e recordações repentinas, dá uma aflição que seria boa, não fosse tão má. Sá Pereira era maneira, com sua falsa magreza e formas beirando à quase perfeição. Esperei errar em quase todas as contas, quase acertei. Palhaço não, talvez um clown com clichês quase comoventes. Um punhal no que sobrou de meus pobres dentes. A morte zunindo em meus ouvidos, tudo pode ser festa. Fazemos capitães com as sobras do jantar de ontem. Canto gregoriano com toques insólitos de um funk meio que comportado. Deu tudo certo para o que era errado. O meu desenho está apagado. Quem nada tem, tem alguma coisa. O simples fato de ser já é cartesiano por quase inteiro. Estrelas, grandes demais, mesmo assim, não imortais. O silêncio canta demais. Eu ainda uso capas, a espada na cintura, criatura. O Vade Mecum sumiu das prateleiras azuis e cor-de-rosa. A minha epiderme apresenta manchas insólitas de quase muito tempo. Enrolar pode ser fácil. Que o digam os carretéis e as moscas que quase não são capturadas. O cravo não brigou com a rosa, era apenas uma fofoca que a internet cuspiu sem querer. A eternidade é tão passageira como qualquer outra. Quem me dera dormideiras e campos que não existem mais. Túmulos em contrição na voz disfarçada do poeta...

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Tempo do Zero

Foi no tempo do zero

Esquina do impossível

Quando o ouro era lixo

E o brilho valia alguma coisa

Centenas de gudes

No garrafão de vinho vazio

O barco vermelho

E o salva-vidas amarelo

Com o cavaleiro solitário

Sem soldados ou índios

Eis o trem em círculos

Numa eternidade de pilha

As varinhas-de-condão

E os trocados postos

Nas cuias dos pretos-velhos

Eu não gostava do meu corte

Mas de grandes maçãs

E biscoitos comprados no trem

Voltem logo sóis

Perdi mais tantas palavras

Que a saliva agora amarga

Os espadachins riram 

E os heróis usam capas de toalha

Chapéu de papel nós temos

Barcos para povoar o oceano

E gaivotas para o céu todinho

A velha cadeira azul

O pequeno travesseiro e o grande

Os muitos beijos inexistentes

Muitos mistérios aparentes

O índio de muitas penas

E a machadinha de madeira

E eu nem ao menos sabia

Que tudo um dia acaba...


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Fato Notório

É fato notório e consumado

que estamos do mesmo lado

o lado triste e desgraçado

Dos que nada mais tem

não há mal e nem bem...


O passarinho cantava e caiu do galho

O frio chegou e não temos um agasalho

Confundimos sempre choro e orvalho

Hoje eu amanheci em frangalho

Menos que um pedaço no talho


É fato notório e conhecido

que todo o sistema está falido

quem é o vencedor ou o vencido

Da alegria que não vem

não há mal e nem bem...


A nuvem levou um tombo e foi ao chão

Fui colher a rosa e o espinho feriu a mão

Minha cela é o que chamo de coração

Todo jovem na verdade é um ancião

Eu fico sozinho mesmo na multidão


É fato notório e exposto

que lá vem aí meu desgosto

tirar serviço no seu posto

O sino não toca em Belém

não há mal e nem bem...


A maior traição vem do amigo

Qualquer silêncio é sinal de perigo

Certas tempestades não adianta abrigo

A vida vive pregando suas peças comigo

Não conseguimos ver além do umbigo


É fato notório e  indiferente

tristeza mesmo se estando contente

é minha teima mesmo se estou doente

O que vai e o que vem

não há mal e nem bem...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 215

Aonde andam alegrias dominicais?

Deixe-as em surpresas dos sábados

Para nunca mais buscá-las...

Palavras é o que tenho, palavras

Silêncio é o que tenho, silêncio

Arranjo todos os meus gestos em quadros

E minha parede é apenas um cemitério

Posso engolir letras vez em quando?

O ambulante passa gritando na rua

Em meio às casas sonolentas e apáticas...


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Os contos de fada apagaram-se

(ou acabaram?)

As fadas hoje se exibem pelas redes

e pedem um pix

por sua nudez vulgarizada...


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Gostaria de rasgar meus poemas

Picar cada papel de um a um

Não posso...

Escondem-se nas nuvens da net

E debocharão da minha cara

Se assim tentar fazer...

Eu sou um poeta do meu tempo

Coberto de sérias tolices

E recheado de mediocridade...


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Réu confesso,

nada te peço,

talvez uns últimos tragos,

foi grande este estrago,

que a vida deu em mim,

talvez começo, talvez fim...


Menino travesso,

eu não me esqueço,

daqueles dias repetidos,

mas que foram assim vividos,

que a vida fez em mim,

talvez começo, talvez fim...


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A pintura dos cegos...

O discurso dos mudos...

Os loucos começam sua pantomina...

Onde estarão as chaves?

Quero sair dessa cela prontamente

Carona nas nuvens necessário é...

Quero engolir o mar qualquer dia

Perdi o sono dormindo...

A pintura dos cegos...

O discurso dos mudos...

Os loucos terminaram sua pantomina...


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Num mar sem águas

Quase morro afogado

Num deserto de lágrimas

Fiz caretas para o espelho

Me perdi na multidão de um só

O meu desespero ficou desesperado

As minhas piruetas falharam

Caí lá de cima da corda bamba

Mortais, isto se chama vida?


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Choverá? Uma hora dessas...

A greve geral de sonhos

Está marcada para nunca mais...

Franca teimosia.

Se quero estrelas, estalo os dedos!

A mortalha não serviu-me,

Seu número era menor...

Vou bater na lata até cansar

E farei carnaval eu mesmo...!


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Come Na Cuia

Comê na cuia Comê na tuia Comê na nuia Experimente o berimbau catreiro Em todas as noites de pé de sapo! Paca tatu Paca tutu Paca Dudu Apert...