domingo, 30 de outubro de 2022

Urbania II


Acabei de esvaziar
uma garrafa de vodca barata
pelo gargalo...
Me arrependo de todos os pecados
sobretudo os que não cometi...
Eu sou o passarinho vagabundo
que não vale a gaiola 
que me prenderam...
E você a culpada da inocência
que cobre mus dias de luto...
Não faça chover mais...
Por favor, chuva não!
A vida é um arremedo de um
teatro burlesco onde feras
dançam o que não sabem...
Pecados muitos, pecados vários,
a morte servida à la carte,
cartéis de vários carretéis...
Carros apressados, 
baratas tontas pelos cantos,
minha saudade quase imensa...
Meus entre-dedos sujos
em suas entre-coxas metálicas,
agora em super promoção!
Não quero a carne, 
quero somente os ossos,
um pouco de sangue talvez...
Estamos todos muito tristes,
os clowns nunca estão rindo,
quem poderá provar o contrário?
Me vendi por trinta likes,
desesperei-me por trinta dias,
gozei em menos de trinta minutos...
Uma caixa de Pandora
sem mais esperança
é a minha garrafa vazia...
Amanhã após a ressaca
Você será meu jantar...

sábado, 29 de outubro de 2022

(Im)Percepção

 

Abraça um tango chinês com desvarios que só o violino pode nos dar. Homem ao mar! Homem ao mar! Na garupa de um unicórnio galope em prados azuis com tons mesclados de rosa-choque. Não procurei mais nada, o palheiro incendiou quase agorinha. Meus cigarros têm alguma pressa. Madeira, pregos, uma lata de sardinha vazia e o fogareiro está pronto! Eu tenho mais tatuagens do que o vulgo imagina... Não sei de mais nada, mas a velha máquina ainda funciona um pouco. Até quando? Isso não é pergunta que se faça. Minha bula não era papal, mas determinava ordens expressas. Um vento de sol dançava margaridas de todas as cores (desde que fossem brancas...). Uma pintada de sal, outra de açúcar, outra de saudade, a sorte está lançada, mesmo que nos faltem dados e algum evento inédito. Eu mesmo me condeno, eu mesmo prescrevo a minha pena e caio na gargalhada, sou mais um bêbado solitário em multidões nervosas. Minha fome sofre de amnésia crônica e minhas unhas doem quando penso em alguma coisa. Levantem as cortinas e comecem o novo show! Hoje teremos encenações baratas e óbvias sobre um cálculo que deu errado. O auto acabou de passar, mas eu não tinha chegado no ponto. Na hora exata, estarei quase lá. A fila anda, se tiver fila... Dou bom-dia até aos mosquitos que estão nas paredes fartos do meu sangue, somente esqueço de mim. Pobre espelho, tem que repetir a mesma cena quantas vezes quiser eu. Pensei em algo, juro que pensei, mas os bárbaros estão lá fora, querem invadir meu frágil castelo de ilusões inocentes e maliciosas. Todo som agora é bem-vindo, inevitável de acordo com o que foi decretado. Haviam lembranças que evito com assovios desnecessários. Pés manipulando areias, isso sim. Não como eu queria, mas as flechas acabam conhecendo seu caminho. Namastê, Zan-Zan, a chaleira já chia no fogo. Estamos irreconhecíveis como todos os outros ficaram também. O Forte caiu de fraco. Um sabor desagradável de conhecimento é o que eu quero. Estamos parados nesta correria toda. A partida já é chegada e os quartéis tremem em alvoroço. Uma balada cigana em pleno carnaval precisa de algumas carpideiras. Tudo muda de nome hora dessas. Meus erros são propositais. Deu águia na cabeça! E coceira nos pés! Javalis assados já valem alguma coisa... Borboletas malvadas brincam de vampiros. Eu bebo mais que a bebida. Pode assinar aqui onde tem um xis. O bolo está pronto, mas ainda está quente. Toda nudez será notada. E receberá inúmeros likes por conta disso. Todos os rádios eram do mesmo tom, plásticos até. Nova ciência acabou de nascer. É muito inglês para meu humilde sotaque eslavo. Bombas festejam quando querem. Quando não, acabaram se emocionando, mas só um pouco. A mentira pari muitos filhos. Estou aqui, mas em outro lugar desconhecido. Meu chá acabou de chegar, o motoboy foi até muito solícito. Entre gregos e troianos acabaram indo todos embora. E o tango continua...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 206

Passarim caiu do alto,

Passarim não sabe nadar,

Caiu, se afogou,

No lago do meu chorar...


Passarim veio de longe,

Veio de qualquer lugar,

Caiu, não morreu,

Mas soube se machucar...


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A lâmina que fere. O metal que mata. Não há mais tempo para passadas brincadeiras. Há poeira suficiente para nos sufocarmos. Eu gostaria de ser mais um entre alguns. Mas a dança da morte requer minha triste coreografia. Eu tropeço em meus passos e minha cara vai beijando a lona. Minha salvação - alguns versos me levantam, mesmo quando tonto. Minha mãe me embala, suavemente, mesmo não sabendo que estou morto...


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Me perca, se quiser, a floresta é densa e perigosa. Não há jeito de sair ileso. Aqui não há saída de emergência. Todo som pode ser enganoso. Toda festa terá seu final. Palmas e vaias pouco definem qualquer apreço. Os índios e os ciganos conhecem suas fogueiras. O meu vidro embaçou, culpa das lágrimas. A verdade não conhece cor alguma. Há mais fantasmas no meu armários que estrelas num céu grande. Enganaram-se todos, principalmente os mais sábios. A tolice assobiou uma canção e todos acabaram gostando. A floresta não tem nome, já que seu nome é vida...


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Notas musicais

Preenchiam-me a alma

(e com isso matei o tédio

sem pena alguma...)


Cores possíveis

Pintaram-me o rosto

(mais do que um clown

um arco-íris...)


Sonhos diversos

Todos tão bonitos

(até minha musa

ficou com inveja...)


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Alto no céu (céu)

Fundo no mar (água)

Não estamos onde estamos

O que temos? Mágoa...


Perto da vida (vida)

Quase na morte (fim)

Eu tenho vários enigmas

Onde que estão? Em mim...


Junto do nada (nada)

O talvez (talvez)

Caminho nas sombras

Meu medo? O fim de mês...


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Toda rotina

Assassina

Ou pelo menos desanima


Todo tédio

É médio

Ou não tem remédio


Toda cobiça

Atiça

Ou não tem justiça


Toda rotina

Assassina

Ou é a guilhotina...


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Nem quando nem nunca

Os meus passos doem por si

Não há melhor carrasco

Do que eu...

Eu sou a chuva que não posso ficar sob

O sol que abrasa minha solidão

Toda história dispersou-se

Nos mais variados pedaços...

Não há remédio algum

Quando a doença é o tempo

E mesmo estando em várias águas

O fogo já se apagou...


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segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 205

Todos loucos...

Tua nudez bem vale um jardim de goiabas e teu rosto de sol, acho que mais ainda. Nunca entendi de signos, mas assim mesmo escrevo em estrelas. Eu faço uma festa de pequenos detalhes, será até não poder mais. Tudo tão igual... Meninos e meninas desenham flores e pássaros em generosas areias e eu bato palmas, mesmo que sob algum desespero que me traz comoções. Ontem mesmo, abria a jaula de leões procurando algum colorido, talvez com maios ou setembros para um ano inteiro...

Todas loucuras...


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Quando brinquei de nomes

Eram todos eles azuis...

Não estava me lembrando

De alguma outra cor exata...

Quando brinquei de céus

Exagerei nas nuvens...

Todas elas me davam

Os mais reais jardins...

Quando brinquei de amar

Feri-me gravemente...

Quantos espinhos irão

Esconder tantas rosas?


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Infinito sem cor

De uma morbidez imediata

Que salta aos olhos

Nunca mais haverão versos sinceros

Enquanto o tempo ainda for tempo

E ao mesmo algum sequer

Eu quebrei todos os vidros possíveis

Enquanto o caminho

Era apenas mais um desconhecido

Numa métrica tão exagerada

As palmas se desfazem em folhas

Que caem mortalmente tranquilas

Assim são meus domingos

Tristes como todos eles são...


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Em quase mil anos que te vivi, tudo era apenas um tédio venenoso que suspendia-me pelas paredes. Qual mosca na teia sem apresentar desespero, apenas silêncio. Estão chegando novas tempestades, mas as velhas continuam seu roteiro. Velhas manchas na tinta antigo, quem poderá me livrar? Talvez o mistério, companheiro de inumeráveis eras que ajudou a esconder meus inocentes pecados. Numa ladeira está o destino de cada um de nós, mas desconhecemos qual nosso sentido...


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Havia um rio como qualquer outro. Azul? Verde? Depende de olhos para esses detalhes. Parado? Ligeiro? Não queremos entender de tal malabarismos, pelo menos por agora. Saudades doem mais do que espinhos, pode anotar isso. Somos de um tempo de simples toques e, aí, tudo acabou caindo. Havia um Rio que tentava me engolir. De uma vez só? Me come aos poucos? Depende de quantas calçadas existentes. Original? Repetitivo? Não sei, acabei virando solenemente meu rosto para o lado, não quero me lembrar jamais...


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Era um galope extremo. Como um pássaro que foge, meu cavalo de ilusões foi estrada à fora. Uma taquicardia que me aflige sem ao menos me matar. Não relembro de batalhas antigas, cada dia surge uma nova. E como saio ferido. Talvez um dia consiga escutar um samba-canção sem ao menos chorar. Eu trago pés e mãos atados e pés feridos. Toda tristeza é inevitável, afinal, somos o que somos...


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Rei deposto

Rei morto

Rei posto

A maldade é o prato do dia dos homens

A sã loucura está em falta no mercado

Quanto pior, melhor - eis o nosso lema

As asas já chegam quebradas da fábrica

Rei deposto

Rei morto

Rei posto

A mediocridade chega, saúda, pede passagem

Novas cores são inventadas para cegarem

O poeta é o clown sem ter qualquer picadeiro

A fome nos anima cada vez mais ao desespero

Rei deposto

Rei morto

Rei posto...


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sábado, 22 de outubro de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 204

Onde estamos?

Onde nem esperamos...

O sonho já acabou,

Mas ninguém acordou...

Pensamos que subimos,

Mas apenas dormimos...

Um som atrapalha a canção,

Deve ser nosso coração...


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Eu não sei andar de bicicleta, 

Nunca nem ao menos tentei,

Nas poucas vezes que fui na garupa

Tive medo e como todo medroso - gelei...


Pelo menos não posso reclamar,

Pois nunca caí...


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Os dias te enganam...

Não são dias,

Nunca foram,

São noites disfarçadas...

As alegrias te confundem...

Todas elas,

Quando menos se espera,

Trarão algum choro...

Os amores te enganam...

Não acariciam apenas,

Deixam marcas

Que nunca sairão da alma...


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Os poetas não possuem mais tempo,

Não que o desperdicem como os burgueses

Que tentam de uma vez engolir o mundo...

É que agora as tempestades são frequentes,

Mesmo sobre estas eles devem escrever...

Todo antagonismo merece ser lembrado,

Se não for, será apenas falta de talento

(O que agora quase virou moda),

Gosto muito de rosas, mas até seu cheiro

Acaba de vez em quando enjoando...


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Não sou filósofo, 

Não procuro solução alguma

Para problema algum...

Não sou cientista,

Não quero estripar a verdade

Quem nem um peixe...

Não sou político,

Não quero falar de nada

Sobretudo inverdades...

Sou apenas poeta,

Brinco com nuvens

Tão facilmente...


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E o meu chão estremeceu feito epilético na hora da crise. Eu bebi demais o mundo, agora impossível colocá-lo para fora. Seu veneno passeou entre as minhas veias como um velho cão pela praça enquanto ninguém acordou para o domingo. Estou agora confundindo os dias. E acabo dançando nos lutos e chorando compulsivamente pelas folias. Acontecem alguns milagres, mas só vez em quando. Não sei quantas pátrias apareceram, só sei que foram tão repentinamente como paixões sufocantes. Os doces dos cinemas estão em falta, o amargo da minha boca acabou de responder - presente.


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Quero morrer como nunca vivi - alegre. Não preciso estar feliz, estive tantas vezes e nem notei... A alegria sim, essa faz um grande alarde. Ela acorda os que dormem, cumprimenta os vira-latas da praça, os meninos da rua compartilham dela, brinca com as nuvens e entende a língua dos passarinhos. Quero morrer como nunca vivi - contente. Contente por tê-la feito rir com alguma coisa engraçada. Contente simplesmente por estar, mesmo quando haviam motivos para não estar... 


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quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Todos os Lugares da Alma

Todos os lugares da alma

Estão preenchidos pela ressaca do ontem

Ela não se importa com a natureza

De seus fantasmas e ilusões

Um vento frio leva a poeira embora

Enquanto saudades teimam em ficar

Um par executa um tango argentino

Em passos precisos demais...

O meu contentamento se espalha

Entre os móveis mais imóveis

Como um menino acuado no canto

Que nem sabe se chora ou se ri

Como só as marés sabem fazer

Um pássaro solitário e sem malas

Prepara ao acaso uma viagem

Para durar segundos ou eternidades...

Eis a poesia bebida em fartos goles

Como num quadro na parede

Onde autos amarelos desfilam

Em um carnaval fora de prumo

Com a pressa imotivada de zumbis

A menina loura de lábios de sangue

Ainda repousa num mundo morto

Que podemos chamar noite passada...

Somos todos canalhas por acaso

Até que alguém prove ao contrário

Um inferno de chamas coloridas

Aguarda-nos em novas embalagens

Que acabaram de chegar pelo correio

E todos os profetas de plantão

Anunciam mais breves tempestades

Festivais de adjetivos e substancialidades...

Os trios elétricos da ilha de Marajó

E a foto do Elvis no boteco sorriem iguais

Um pouco de ternura faz muito bem

Mesmo quando isso nos acaba ferindo

Domingos esperados de cinema

Com luzes numa roda-gigante

Que só mesmo os antigos verões 

Acabam nos presenteando gentilmente...

Todos os lugares da alma

Estão preenchidos pela ressaca do ontem...

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 203

Prefiro em pequenas doses

O veneno que me fará sucumbir

Serei apenas mais um vulto

Desbotado entre muitos...


Prefiro em pequenos passos

A minha marcha ao abismo

Pularei sem asas no espaço

Não pássaro e sim pedra...


Prefiro em pequenos estágios

A maior das caretices

Ser mais um burguês cínico

Que não viveu e está morto...


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Dança que balança

Folhas e frutos

Numa cadência quase perfeita

Na nossa alma...

Dança que balança

Suspiros quase escondidos

De amores novos...

Dança que balança

Chamada esperança...


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É o karma

é a arma

é o pequeno vício crescendo

é o dia escurecendo

É o esmero

é o desespero

o castelo de cartas caiu

é o ninguém viu

É o carro

é o escarro

Há lapelas sem cravos

Somos todos escravos...


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Não gosto do classicismo afetado,

afinal de contas, a pobreza bate em minha porta,

devo atendê-la com certa simpatia

e por que não? o companheirismo dos que sofrem...

Falo das traições que acabam magoando,

dos amores mais óbvios e menos fiéis,

são como novelas previsíveis...

Lembro da poeira que insiste de tudo sujar,

do tempo que acaba enferrujando tudo

e engole o brilho de tantos metais nas manhãs...

Meus dedos vacilam sobre o teclado

e minha mente acaba se ensandecendo

como quem se afoga numa poça d'água

depois de voltar do bar debaixo de chuva...


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Paradoxos paradoxais é o que temos

É o prato do dia o que nós comemos

O amor e o ódio nunca brigaram

Os que acham isso se enganaram...

A tristeza e a alegria nunca saíram no tapa

E toda certeza não está no mapa...

Paradoxos paradoxais é o que temos

Estando vivos é que nós morremos...


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Bom dia, fim de mundo...

Até quando nossa expectativa

(De dias bem melhores)

Irá tirar este nosso sono?

Preciso sonhar com amores novos,

Amores que me firam menos,

Já sangro faz muito tempo

E não sei de onde consegui

Sobreviver desse jeito...

Eu saúdo o sol das manhãs

Como quem respira inutilmente...

Bom dia, fim de mundo...


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Um brinde à mediocridade, senhores!

Ergamos nossos copos de plástico

Para louvarmos a idiotice humana!

Aos poetas que se acham estrelas

Mas que o são apenas de papel dourado!

Eu quis acordar quem dormia,

Mas como era pesado seu sono...


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Poemo

De peixe 

de inúmeras estações

Um nó na garganta

De segredos inconfessáveis...

De rosas 

com muito pouco sangue

Veias abertas ao vento

De tantas canções...

De marinas

com cores diferentes

As naus se foram

Para a escuridão da tempestade...

De desenganos

em porões mais escuros

Onde correntes maltratam

Todo o meu ser...

De caminhos

que conduzem aos olhos

Os olhos sem par

Onde posso morrer...

De fumaças

que sobem lentamente

Enquanto o tédio

Mata tudo em torno...

De bicho

em perigosas selvas

Onde tudo e nada

Acaba dando na mesma...

De sangue

uma interminável romaria

O coração num baticum

Feito samba-canção...

De sono

livre de todos os pesadelos

Ninar que embala

Com o passar das horas...

Poemo

não me aponte o dedo

Eu não sou culpado

De ser somente assim...

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 202

 


Quadriláteros insanos

Jardins com indiscreto charme

Drogas impensadas de mais nada

Triângulos aflitamente

Colocados de uma vez

Em mais um dos ataúdes

Prontos para entrega...


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Faça uma longa túnica

(Ou será talvez um manto)

Coloco estrelas possíveis

(Um Universo inteiro)

Calo-me ante tanta tristeza

Mas nem todas elas sujas

Eu vou usá-lo um dia

Não como Bispo

Porque não espero algum final...


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Perdi minha velocidade

Estaticamente quedei-me vencido

Estou mais que exausto

Esse mundo certamente não é meu

Nem um pequeno pedaço

A alegria não me foi negada

Ela nunca foi minha

Já o choro é sim

É todo meu sempre

Tanto que todas as minhas lágrimas

Ainda estão em meu peito...


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Chamem o gato! Chamem logo o gato!

Acabei de ver um rato andando pelos cantos...

Ou seria uma barata e me confundi?

Mas ainda assim o medo é o mesmo...

Chamem o gato! Chamem logo o gato!

Atrapalhem seu sono e o acordem logo...

Se está se lambendo sob o sol da manhã

Expliquem que isso é mais importante...

Chamem o gato! Chamem logo o gato!

Diga para ele que o meu desespero

É bem maior do que todas as nuvens juntas

Para poderem cair logo lá de cima...

Chamem o gato! Chamem logo o gato!...


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Num dia desses qualquer

Não estarei mais aqui

E em lugar algum

(Meu corpo não será 

Mais a minha pobre casa...)

Não sei se algo existe

Ou mais nada há

Tudo é bem parecido

Dentro do meu silêncio...


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Atrás de qualquer drama

Uma trama

Atrás de qualquer trama

Um enigma

Estamos num tempo

E num espaço

Desnorteados

Só as estrelas

Continuam presas

Na colcha do céu...


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- Ave de mau-agouro,

Por que sobrevoas minha cabeça?

- O cheiro dos teus sonhos mortos

Acaba me atraindo...

- Nunca me deixarás em paz?

- Não sei em que tempo,

Mas certamente te deixarei...

- Não me darás 

Um sinal do teu abandono?

- Sim, te darei.

Irei embora qualquer dia destes

Em que fores igual aos teus sonhos...


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Alguns Poemetos Sem Nome N° 201

Eu estou num labirinto

Sem Creta,

Apenas meus sonhos me confundem,

Se fundem,

Entre a dor e que não há,

Será?


Eu estou num cadafalso

Tão falso,

Ilusões me perseguem,

Conseguem,

Que eu chore até cansar,

Será?...


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A mania de ter manias

vindas de não sei onde

Algumas antigas

Outras quase novidades

Algumas tiques?

Não sou famoso para tanto

Só tenho

Mania de ter manias...


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Todo poema é grande

enorme

independente do que é ou do que diz

Toda palavra é significante

decisiva

mesmo que não haja contexto algum

Toda letra é decisiva

marcante

ainda que seu som seja mudo

Todo poeta é pequeno

formiguinha

andando pelas folhas da poesia...


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Ele não pede, fica com aquela cara de bobo sem pedir, mas pedindo. Os minutos passam, ora ligeiros, ora lentos, na fumaça de vários cigarros que explodem sua fumaça pelo ar. Seu rosto é um enigma, daqueles que já vêm com alguma receita na embalagem. Se assim não fosse, impossíveis seriam por toda a eternidade dos tempos. Um riso sai de repente, sem motivo algum, outros o seguem, mais ilógicos ainda. O que farei? Não sem, sinto em mim o mesmo medo de quem vai apertar o botão e lançar a bomba...


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Acabou de sair o café. Os pequenos sons saem da cafeteira automática. Alguns sons místicos até. E o seu cheiro? Ah, o seu cheiro... É o responsável por várias epopeias, centenas, milhares, milhões delas. O café? Grande viajante da história, consolo de vários poetas. Cafeteira ou varinha de condão?


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Tantos vidros quebrados. Alguns barulhentos, outros mudos. Alguns assustados, outro surdos. Muitos saem dançando, outros quedam paralisados. Os poetas enlouquecem de tantas inspirações. Muitos carnavais e fantasias diversas. As músicas acabam escapando da poeira. As cores são salvadoras, pois não. Hoje os lobos não uivaram para a lua, nem bois berraram para o sol. Tantos vidros quebrados...


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Ria sem motivos até não poder mais. Olhava nuvens de todas as matizes com desmedida felicidade. Anotava águas de pequenas poças de chuva. Sentia cheiros de calmas praças. Narrava divinos eventos de meninos jogando. Tinha a tranquilidade de manhãs com mais um sonho. O burburinho de entradas e saídas nas escolas. Os primeiros amores? Anotava-os todos sem falhar em algum sequer. Paixões quase esquecidas. Escrevia receitas de inocência com variadas ternuras. Ria sem motivos até não poder mais...


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domingo, 16 de outubro de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 200

Gueixa ao avesso

(inclusive na cor)

para nós isso são meros detalhes

que nada importam...

Nossa história é tão longa,

tão bonita, mas tão triste...

Com uma leve pitada de sordidez

(quem disse que os sórdidos

não podem amar?...)...


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Faço qual aranha

Teço teias de fantasias

Quais presas procuro?

Alguns sonhos gordos

já são o bastante...

Quando pegos

eu os enrolo em minha ternura...

Quero que fiquem lá

até a hora de me deleitar

com cada um deles...


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Minha solidão é um cavalo selvagem,

me atira no chão quantas vezes quiser...

Minha tristeza é que nem um vírus,

qualquer hora ela me mata por acaso...

Minha aflição é que nem um trapezista,

se arrisca na corda bamba por palmas...

Meu tempo parece mais um pedinte,

quando tem é que não tem mais nada...

Meu amor é o mais cruel de todos eles,

me deixa suspirando e logo vai embora...

Desgraçado que sou entre muitos outros,

nem eu mesmo sei onde me encontro agora...


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Garganta...

Por ela não passarão mais bravatas,

Não mais apertarão minhas gravatas,

Não sustentará mais ideias primatas,

Assim...


Olhos...

Não testemunharão mais tanta maldade,

Não se assustarão mais com essa cidade,

Não se machucarão mais com a verdade,

Sempre...


Coração...

Acabou virando apenas uma pedra de gelo,

Acabou explodindo por mais um pesadelo,

Acabou se ferindo porque teve falta de zelo,

Coitado...


Acabei tirando meu diploma de robô...


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O poema é tão pobre...

Entra na fila da humilhação,

Ganha esporro do patrão,

É roubado dia sim, dia não,

Conta moedinhas pro seu pão,

Acabou virando bicho em extinção,

Era um guri, virou um ancião,

Não tem grana pra alimentação,

Um dia foi rei, mas hoje é peão,

Sua musa foi parar em um lixão,

Não tem modos, nem educação...

O poema é tão pobre...


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A garrafa de café sempre cheia

O saco de pão pendurado na parede

A televisão de madeira preto-e-branco

As roupas que a mãe passava cantando

O meu medo dos bacurais cantando

Noites frias cheias de estrelas

A casa pequena sem muitos móveis

Sonhos tão simples e tão bons

Tantas vezes esbarramos com a felicidade

mas nunca que a vimos...


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Bandolins agora tocam

saudades que não passarão jamais...

Eu nunca vi um campo de trigo

mas devem ser bem bonitos...

Por que deveria reclamar?

Existem outras belezas 

para meus pobres olhos...

Nunca vi plantações de girassóis

mas vi pelo menos alguns deles...

Ah! Tinham algumas abelhas 

que voavam em torno sempre...

Violinos também me fazem chorar...


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sábado, 15 de outubro de 2022

Cansô

Cansou, 

canso maneira,

tanta besteira,

quero esquecer,

(em que lagoa)

onde estão os patos,

onde estão os fatos,

o menino faz caretas

e expõe a língua...


Camões estava mais surdo 

do que cego,

batemos palmas

sem saber o que é palma

e os idiotas vão para o trono...

Vocês querem bacalhau?

Então, comprem,

seus filhos-da-puta!


Suspira o bardo,

com cara de leopardo,

traseira famosa,

quanto goza

(suspira ou agoniza?)

o livro de ética moral

caiu na sanita

e puxaram a descarga...


Acadêmicos,

lambam meus pés,

a minha bunda nunca,

eu não tenho dinheiro

para pagar a conta,

do meu cigarro sobrou a ponta,

Querem dar um trago?

Sou bonzinho e deixo...


Coloco o Jabuti

numa sopa,

Opa, opa,

como as mulatas

que os turistas degustam

quando pisam 

com tênis de marca

invasores piedosos...


Vamos jejuar?

Dia sim, 

Outro também,

cresçam suas barbas,

até quem não tem...

Raspem seus pentelhos,

as genitálias agora

também possuem fome...


 Cansou, 

canso maneira,

tanta besteira,

quero esquecer,

(em que buraco)

onde estão os ratos,

onde estão os fatos,

o menino faz caretas

ri e quebra vidraças...

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 199

Meus olhos riem

apesar de uma qualquer imobilidade...

Movimentos imóveis 

é que nos restaram...

Cores imperceptíveis

de um jogo apenas cego...

É quase noite

e os guerreiros não voltaram para jantar...


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Eu escrevo versos

Como quem veste seus mortos,

Com roupas feitas em casas,

Com alguns panos tortos,

Eu escrevo versos

Sem pé e também sem cabeça,

São apenas improvisos,

Mesmo que assim não pareça,

Eu escrevo versos

Sem métrica e sem sequer ciência,

Versos apenas tristes

Desde o fim de sua antiga inocência...


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Numa simetria quase impossível

Desenhei honestos desenhos

De toda a sinceridade do meu peito...

Meus sonhos estão fracos

Rastejam pelos desertos

De todas as minhas desilusões...

Não sei até quando suportarei

Um sol em minha cabeça

Até que os delírios comecem...


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Não pode rir...

Não pode se mexer...

Quem rir, perde...

Quem piscar, também...

Mas como irei fazer isso?

Olhar em teus olhos,

Duas estrelas que são?...


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O corpo em cena,

O corpo é arena...

Como num palco com as luzes acesas,

Somos nós, as mais simples presas,

De uma trama malfeita,

De onde a fera agora espreita...

O corpo em cena,

O corpo é arena...


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Tatuagens de flores em suas pernas,

flores parecidas com um fênix...

A minha inocência misturada

com mais uma dose de lascívia...

Onde estará daqui um segundo?

Ainda não tive tempo de escolher

Em que nuvem será nossa cama...


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E eu a vi...

Como um menino que toma um susto

vendo a tempestade que já chegou...

Como um passarinho que perde o rumo

e vai querendo percorrer o mar...

Como quem vai fazer um discurso

e esquece aquilo que ia dizer...

A ferida acabou de se fechar

mesmo que a cicatriz agora reclame...

E eu a vi...

A mais linda de todas...


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Come Na Cuia

Comê na cuia Comê na tuia Comê na nuia Experimente o berimbau catreiro Em todas as noites de pé de sapo! Paca tatu Paca tutu Paca Dudu Apert...