quinta-feira, 29 de julho de 2021

Altamente Inflamável

 

Quero sair pelo mundo de bolsos vazios, sem ter a preocupação de algo cair no chão e se perder. Não chorarei por perda alguma, todos nós vivemos tristes por muitas insignificâncias. O tempo se perdeu, os dias correram, as semanas nos viraram as costas, os meses não possuem mais sentido, os anos estão todos sepultados, o futuro é apenas um túnel escuro cheio de pálidos fantasmas...

Esquecer meus caprichos é o mais ideal, se os jardins não mais florescerem, não tem mais importância. Cada estação é aquilo que é, não mais que isso, indiferente se apreciamos mais o frio ou o calor. O destino é um cara surdo que vedou os olhos e esqueceu de abri-los novamente...

As paredes fraquejam, os ventos colaboram para tal, os sonhos são pobres vítimas de um crime mais do que perfeito. Os sinais nos avisam, mas a nossa teimosia cresce cada vez mais, não importando com a nossa falha mais do que evidente. Tudo muda, tudo se transforma, os mapas não podem nos apontar exatas direções, assim como nem todas as receitas dos livros irão dar certo...

Eu tropeço entre vírgulas, entre frases malfeitas, erros grosseiros da gramática de um cotidiano em que homens se matam por praticamente nada. Tudo em filas se transformam, mostrando que nem sempre os suicidas param de viver apenas em certidões de óbito...

Amar é como tentar desenrolar intermináveis quilômetros de linhas enroscadas, montar quebra-cabeças que faltam algumas peças e só percebemos isso depois que a nossa paciência se esgotou. Nada é o que é, as frases mais bonitas possuem um pouco da mais inocente das mentiras. Nada para enquanto não chega ao seu fim...

Mais que um simples espelho, somos máquinas que se preocupam com alheias opiniões que de nada acrescentarão na conta bancária de nossa passageira existência. Vencer é uma forma como qualquer outra do resultado do jogo que desconhece algumas das regras mais essenciais. O nosso placar é de zero à zero...

Não me peça explicação alguma. Aspirante à vivente, tenho muito que desaprender, uma delas é chorar, outra é esquecer do tom cinza que agora cobre este céu. Qualquer vidro vagabundo brilha que nem diamante, só o perigo é bem menos, só quando se quebra...

A estética escorregou, deu de boca no chão, não pode mais sorrir porque lhe faltam os dentes. A inocência acabou, afinal, pode nunca ter existido e foi só mera questão de um cálculo em que erramos seus resultados. Eram bruxas ou fadas? Isso só depende do que acha a plateia. Na hora do gol o juiz esqueceu de apitar...

Uma pausa para o café, tomar um fôlego pode ser bom, nunca mais seremos os mesmos. Aliás, acho que nunca fomos. Uma sombra e mais nada, minha mente gosta de me pregar muitas peças. Como qualquer sujeito identificado ou não...

Quero sair pelo mundo de bolsos vazios, sem ter a preocupação de algo cair no chão e se perder. Não chorarei por perda alguma, todos nós vivemos tristes por muitas insignificâncias. O tempo se perdeu, os dias correram, as semanas nos viraram as costas, os meses não possuem mais sentido, os anos estão todos sepultados, o futuro é apenas um túnel escuro cheio de pálidos fantasmas. E a vontade de viver é altamente inflamável...

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Paradigma do Nada

Num castelo sem paredes

Refugio-me até quando não sei...

Os sonhos desfilam um à um

Até que minhas vistas cansem...

Assim como tenho medo da tristeza

Acabo tendo medo da alegria...

Andamos em cima de certos muros

Como gatos que se desequilibram...

Todos os finais que foram felizes

Mesmo assim são apena finais...

O meu desespero acha graça

E me prende numa cela sem porta...

As minhas mãos se esvaziaram

E os meus dedos enregelados estão...

A brevidade é mais um infinito

Que passou e nem percebemos...

O ódio e o amor estão desfilando

Para que encantemos com sua nudez...

As folhas mergulham pelos chãos

E anunciam sua própria morte...

Eu acendo meu próximo cigarro

Como quem faz um funeral...

Os fantasmas agora passeiam

Livremente dentro do quarto...

Até a poeira já está cansada

De tentar me trazer sua companhia...

Estou mudo como quem grita

Uma ideologia baseada em fatos...

Quero apenas uns rostos menos

Para evitar este meu tédio...

O nada vem vindo em largos passos

Para condecorar-me sem medalhas...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).


terça-feira, 27 de julho de 2021

Poesia Estranha

Poesia estranha essa,

que dorme em calçadas

depois da desesperada noite de ontem...

Poesia tão rude essa, 

que fala do desamor

e acaba dispensando todos os sonhos...

Estranha, calada, incomum,

que nem sente o sol

que invade o mundo e aquece a carne...

Intranquila, quase insone,

que dispensa artifícios

para que a beleza não exista mais....

Poesia quase bêbada,

mas o álcool passou,

aliás, como tudo assim passa...

Poesia quase drogada,

invada os pulmões

e a mente se confunda mais ainda...

Poesia quase cega,

que não vê os fantoches

que ainda se dizem seres humanos...

Poesia tão apática,

não sente suas dores

para não sentir nem outra dor...

Poesia estranha essa,

que dispensa os versos

e cospe em toda a real estética...

Poesia mais que feia,

que tem olhos tortos

para um destino tão malvado...

Poesia debochada,

puladora de abismos,

desprezando qualquer um perigo...

Poesia mais suja,

que veste seus andrajos

para poder se exibir ao mundo...

Poesia quase nua,

despida de uma moral,

destruidora de todas as regras...

Poesia mais barata,

como a puta decadente

faz da rua o seu próprio prato...

Poesia mais insana,

nunca sabe onde parar,

mas vai andando e andando...

Poesia tão intranquila,

que mata e mata,

sem que ao menos eu perceba...

Poesia tão estranha,

que ainda não percebeu,

que o poeta morreu faz tempo...

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Alguns Poemetos Sem Nome N° 108

 

Tudo pode ser muito

ou quase nada

depende do silêncio

ou ainda do barulho

da alma de quem respira...

Eu esqueci de fazer as contas

e o tempo passou ligeiro...

Nada mais, nada menos 

do que isso

Todas as lembranças 

me matando aos poucos...


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Velhos filmes ou velhas fotos

me fazem tremer

mesmo não estando febril

Dói e acaba doendo e muito

quando eu morro em mim...


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Vou morrer quando agosto

for bem em março

e os maios surgirem de repente

em painéis pintados às pressas

com letras que não entendo mais...


O menino gritou para os céus

transformarem-se 

em azuis pedaços de umas bandeiras

e os meus dias forem todos engolidos

como uma música que toca eternamente


O vento acabou soprando cinzas

e eu mesmo me coroei

há uma placa com futilidades escritas

mas eu me recuso de toda a forma

a dançar com as máquinas...


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O vento gelado da noite

dói em meus ossos

com se fossem tristeza

A escuridão além dos céus

cegam-me maldosamente

como se fosse poeira

Escuto na noite alguns carros

que passam longe

como apáticos espectros

Até agora não inventaram

um remédio eficaz

para os que são tristes...


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O corpo de baile...

Um minuto de inércia...

Até os sons esperam...

A palavra dita para pela metade...

Apenas solenidade...

Eu estou comigo...

Nem a tempestade amedronta...

É apenas mais um sopro...

Cessaram as notícias...

Água ou vinho?

Só conheço o começo...

O fim desimporta...


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A solidão aos pedaços

Doses homeopáticas para matar...

Desamor em tsunami

De uma só vez para me acabar...

Eu ergo os braços pedindo socorro

Quem vai me salvar?...

Rimas pobres são repetidas

Não há mais o que falar...


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Já me perdi em tantos labirintos...

Alguns estranhos, outros conhecidos...

O desespero nos escolhe à dedo...

A pista está quase derrapante...

E o amor acordou mal-humorado...

Eu só consigo enxergar ruínas...

Um luz de sei lá que olhos me segue...

Quase nunca! Quase nunca!

Grito querendo ocultar meus estigmas...

A verdade é um tanto tímida...

A sinceridade sim essa é atrevida...

Nunca desdenhei a esperança...

Mas nem sempre isso dá certo...


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O vício das palavras

acabou com a minha saúde

Meus olhos possuem olheiras

de até alguns sonos teimosos

A vida segue adiantes

em suas várias paradas

Nunca hei de reclamar de nada

Sobretudo e inclusive

das mais sérias feridas


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domingo, 18 de julho de 2021

Morto Apaguei A Vela do Sol

Morto apaguei a vela do sol numa mesma estrutura quase caída de velhas ilusões que só falharam. Eu sou a mesma pergunta não respondida e transformada em cinzas nada brilhantes. Com um pouco de sorte, me transformarei em poeira e então, poderei bailar seguramente em todos os cantos que eu assim o quiser. Eu ataco a presa indefesa e os meus riscos são os maiores possíveis. Estou endividado até a raiz do meu cabelo com os sonhos que acabei esbarrando por aí numa bebedeira que nem me lembro se fiz ou não. Eis a minha única solenidade - abrir portas sem chave alguma. Gosto de observar o correr das águas inexistentes de imaginários rios dos meus quase-pesadelos. Coloco o meu chapéu de abas largas (para que possam conter o mundo todo) e desafio o vento amigo para amistosa competição. O tempo acaba escondendo a realidade de todas as coisas, sobretudo as bobagens que fui testemunha ocular. Eu consigo transformar minha vulgaridade em algo mais do que singular. Podem me revistar à vontade, minhas anormalidades acabaram de acabar quase inda agora. Todas as cinzas me desobedecem e se transformam em bem menos ainda. Tenho várias perguntas, maior é o meu medo de que elas sejam respondidas. As procissões prosseguem como num efeito especial mais ou menos malfeito. Faz tanto frio agora como meu infeliz peito. Minha lista de desaparecidos parece mais com um antigo livro de receitas. A mosca pousou e acabou perdendo toda a sua aerodinâmica. Desculpem-me toda essa minha rudeza, só não sei se consigo superá-la ou se o paciente escapa de hoje. Apenas um delírio, só mais um, mais um pouco de febre também e tudo estará consumado. Nenhum detalhe escapa deste idiota aqui. Construirei mais um templo com as pedras do acaso que acabei topando em vários e vários dias. Nada é tão bom que o tempo não possa destruir e nem tão ruim que alguém não possa gostar, afinal de contas, tudo faz parte de uma dança sem passos. O desespero é uma tática como qualquer uma outra. O nosso romantismo acabou sendo castigado e não sensibilizou ninguém por conta disso. Queimei velhas cartas com meu frequente ódio por um otimismo barato que não vai dar em nada. Em certas ocasiões, até o nada pode ser uma boa escolha. A linha do novelo não me guia pelo labirinto, isso eu tenho mais que certeza. Meu amor se transformou num simples jogo de cartas, todas elas já foram marcadas. Minhas pálpebras obedecem ao mesmo mais puro nervosismo e isso pode até ser bom, nem sempre tragédias acabam sendo tragédias. Morto apaguei a vela do sol numa mesma estrutura quase caída de velhas ilusões que só falharam...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 17 de julho de 2021

Alguns Poemetos Sem Nome N° 107

Objetos espalhados pelo quarto

sem propósito algum

As cinzas com seu lugar de destaque

e as antigas miniaturas ao lado do PC...

O tempo corre em minha inutilidade

de ver a vida escondendo-me

Serei eu um fugitivo sem o saber?

A própria idade devorou-me...

É apenas inútil voltar atrás...

Para a morte não existem malas prontas...


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Eu queria apenas um doce...

Eu esqueci seu nome,

esqueci seu gosto,

esqueci seu próprio tempo...

Só arrisco-me a dizer

que era muito bom...

... Arrancou-me um dos meus raros sorrisos!

Era daqueles que vinham na caixinha?

Um anel daqueles seria uma joia

para meus trêmulos dedos...

Eu queria apenas um doce...


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Meus poemas pecam pela velocidade...

São enganosos...

Surgem silenciosamente como lamentos

que verdadeiramente são...

Mas surgem rápidos...

Muito rápidos...

Dificilmente surgem sós...

Depois deles aparecem outros...

São formiguinhas em fileira...

Levam de forma solene

os cadáveres dos meus sonhos, 

de todos eles...


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O mundo é apenas isso:

por mais que enxergue

(ou pelo menos ache que enxergo),

nada existe além de mim...

Tudo que parece existir

estamos redondamente enganados...

Toda dor da existência é toda nossa,

quando alguém morre,

nós é que saímos do palco.

O mundo é apenas isso...


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A TV emite seus gritos

quer vender e vender bem mais!!!

Vender fantasias inexistentes

em que o amargo fica doce...

Quer que acreditemos em mentiras

como indecentes decentes cidadãos.

Grande promoção do dia:

Pague três e leve uma.

Grande promoção do século

morra continuando vivo.

Grande promoção do milênio

seja o mais idiota de todos.

Os frutos apodreceram antes

de poderem cair no chão...


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Tudo quase pela metade

não achei mais aqueles sorrisos

que guardei na velha gaveta

as sonoridades agora absurdas

abusaram de mim 

por bem mais de tempo indeterminado

a tontura agora persegue-me

oferecendo seus préstimos

e a morte (como sempre)

diz-me que ainda não marcou

a minha hora como deveria...


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minha tristeza é mansa e suave

não mexe uma folha caída

como qualquer vento desses atrevido

minha tristeza é calada e tímida

ela sempre vira a cara pra parede

até que o sonho então venha

um dia desses qualquer

eu acabo então me compreendendo...


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Escuto o silêncio

Bem vejo a escuridão

Espreito os sonhos

Como quem caça

Mas...

Com tantos detalhes

Acabo esquecendo

Se sou humano

Ou apenas mais um felino...


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quarta-feira, 14 de julho de 2021

Sinal de Transe

Espero mais nada e assim mesmo esta espera me cansa. Espumo num canto da boca como quem espera na fila de boletos. Talvez um bando de borboletas voe em volta de mim. Sou um cidadão cuidadoso com todos os meus pecados para que nenhum deles falhe.

Um tiro é apenas mais um tiro, vida ou morte...

Sou como um leão após almoçar sua pobre presa. As lâmpadas se acenderam e os insetos cantam em coro. Agora tanto faz o sol da madrugada ou a lua das manhãs. As palavras estão embaralhadas em minha mente e eu mal sei falar...

Um estalo de dedos, somente um estalo de dedos...

Esqueci todos os preciosismos e todas as táticas agora inúteis jazem num canto. Multifacetados poetas com seus castelos como os que nunca conheci até agora. Águas escorregadias de chuvas malfadadas que ainda caem de dentro de mim...

Touros e toureiros arrancam exclamações da plateia...

As folhas planam no seu último tombo do cimo das árvores. As abelhas exercem seu ofício enquanto o cientista aperta o botão. O amante sente o gosto da saliva da mulher amada enquanto o bebum está sentindo o gosto do vômito surgindo como um monstro que emerge de suja lagoa...

Acabou o combustível no meio do voo e é só isso...

Estamos no meio do meio de uma discussão quase interminável. E ainda desconhecemos as cores que os olhos da madrugada terão quando ocorrer isso mais tarde. Seria convidativo se pudesse dançar sob a chuva sem impossibilidades. Meu classicismo é tão atual...

Agora só acenderemos velas para os que vivos estão...

Os androides batem palmas emocionados com gregas tragédias e espinhos ferem com certa ternura. É tudo uma simples questão de física quântica de singelos pais assalariados. Enquanto cato os ossos dos mortos de improváveis enchentes...

Passeio no parque como quem percorre o mundo...

Preciso de alguma insanidade imediata que me alivie do meu próprio caos de uma vez por todas. Encham de moedas o meu pobre chapéu que coloquei no meu chão. Todos os vícios podem dar em nada e meu silêncio é mais um deles...

Para ser imortal preciso urgentemente de um minuto...

Os porcos se soltaram do chiqueiro e correram direto para a liquidação nos shoppings. O novo ministro declarou em cadeia nacional que não tem mais nada à declarar. Quero usar capa e cartola no meio de mais vadia modernidade...

Posso não vencer o sono e acabará apenas dando empate...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 13 de julho de 2021

Sempre Menino

 

Sempre menino tentei justificar o mais óbvio que em mim encontrei. Brancas nuvens num céu azul inocentemente repetitivo. A incoerência até pintou os desenhos mais bonitos que um caderno poderia receber...

Eu não faço armadilhas para passarinhos, minha malvadeza é outra, eu capturo instantes de pura eternidade, coloco-as em velhas gaiolas para que elas fiquem lá...

Ainda menino aprendi a enganar os mais inocentes espelhos. Esses cabelos encanecidos não são meus, tampouco essas rugas que brincam em meu rosto como em decadentes muros. Não descobri fórmula mágica alguma e nem pretendo descobrir...

Quando muito executo duvidosas reticências que irão embora brevemente. O meu sorriso não tem malícia alguma, sou apenas toda ela em um só golpe. O golpe acertou...

Um violeiro toca cego na feira, esse sou eu. O barulho de mil passos tentam enlouquecer-me, mas não consegue, só a música e a minha voz entram em meus ouvidos e chamo isso de satisfação...

Tenho grandes abismos... Ou serão apenas o que eu cavei em passados domingos na praia? Não há mais testemunhas para meus crimes sinceros e os cigarros já se apagaram...

Eu sou a minha própria dor, não esqueça isso, eu mesmo faço questão de não me esquecer. A velha roupa quase se rasgou tentando uma seriedade que só existiu em meros contratos sem graça alguma...

Gostaria de dormir mais um pouco, mas a dor faz questão de bater seu cartão de ponto. Qualquer dia chegarão do trabalho e eu estarei calmamente morto. Toda a inutilidade se acabou num passe de mágica...

Não pretendo discutir falsas teorias, cansei-me do próprio cansaço, tive vontade de puxar a toalha e jogar todo o banquete no chão. Estou estreando um novo ofício - agora sou um fazedor de cacos...

A moda não mais incomoda. Bandeira ri de minhas inúteis tentativas. Prometo devolver meus pequenos roubos. Não haverão mais peixinhos em vidros de maionese. Todos os segundos de um século são insuficientes para esquecer tal obra...

Não fui burguês por conta própria, talvez a maldade fosse insuficiente para isso. Não há mais capas e espadas para isso, toda lógica acaba sendo repugnante, eu bem o sei...

Farei um tango para as bicicletas, prometo limpar o canto das minhas unhas, serei um bom menino. O jantar pode ser servido de uma vez por todas, será a minha última refeição...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 105

Garrafas vazias

em todos os cantos

sem os encantos

as manhãs são frias...

E estaticamente

tudo é diferente

Quem diria?


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Rosa rosa sem encanto

O riso morreu afogado

O azul de uns olhos

Me enlouqueceu

E um cheiro que não identifico

Acaba invadindo o ar


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Eu sou poeta, senhor,

só tenho palavras

intangíveis sonhos

um à um

qual fumaça de cigarro

Eu sou poeta, senhor

só tenho choro

inúteis desejos

um à um

qual água de muitos rios

Eu sou poeta, senhor

quase um morto...


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... eu me perdoo

de ter me perdido

em esquinas vazias

E era quase madrugada

... eu sou a sombra

eu sou a quase sombra

de simples alguns dias

E minhas mãos vazias

... um simples beijo

e a morte perguntando por mim...


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Esqueci de esquecer

de algum absurdo mais sensato

Fiz perguntas ilógicas

que acabaram tendo respostas

Interrompi esse meu canto

para escutar o aéreo silêncio

Eram montanhas tão longe...

Quando caí os joelhos ralados

nada mais significavam

Eu acabo debochando de mim mesmo...


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Se surpreenda quando assim quiser

eu sou apenas um guardador de impressões

sejam elas de notícias de alguma vinda

ou o término de educados epitáfios

joguei a mágoa para o lixeiro levar

e o ressentimento perdi entre as tralhas

eu me enganei com antigos rabiscos

inlembráveis de uma certa forma...


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A poeira suja meus dedos

e mesmo assim eu a olho 

com uma certa ternura

tudo acabou acabando

e mesmo que um toque

de alguma eternidade

ainda tenha sonoras notas

eu não sei mais o que dizer

e isso pode ser bom ou ruim...


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Tudo parece até mais fácil

quando o desespero toma conta

e os tiros atingem seu alvo

Eu gritei ao meio-dia

e não tinha mais ninguém

O cavaleiro tirou a espada 

da bainha e apeou do cavalo

A pluma de seu chapéu

acabou desenhando

a beleza que não existia...


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segunda-feira, 12 de julho de 2021

Alguns Poemetos Sem Nome N° 104

 Não há mais tantos sóis como antigamente

e nem calçadas que poderiam nos alegrar

E como um peixe fora d'água inutilmente

eu me debato querendo me salvar...


Caí desesperadamente fora do aquário

pensando ter asas para poder voar

Enquanto feria o meu imaginário

Tentando conjugar o verbo amar...


Não há mais conjugações, só infinitivo...


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Meu coração feito um tambor

é o que tem

Escuto passos que não existem

imagino fantasmas

Os dias já chegam me machucando

a impiedade acordou cedo

Os pássaros irão enfim acordar

isso irão com certeza

Tudo parecerá como sempre normal

mas nunca foram

Um fantasma real andará sobre a terra

esse fantasma sou eu...


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Muitos gostam de muitas coisas

é normal tentar parecer normal

Enquanto teimo por outras cores

também usadas e esquecidas também

Quem disse que gosto de tristeza?

Está re-don-da-men-te enganado

(Não fez bem sua lição de casa)

Eu tenho a malícia dos palhaços

que choram para fazerem rirem...


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Todas as coisas acabam se repetindo

inclusive a maldade entre os homens

Não existem meras coincidências

nossa tontura sempre aconteceu ontem

A noção de tempo é apenas brincadeira

feita com muito mau-gosto e insistência

Todas as naturezas-mortas vivas estão

E eu sou mais um cavaleiro andante

que nunca ouviu falar de Quixote...


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Brigo contra a minha própria natureza

Tentando me matar com minha contrariedade

Persisto com uma normalidade inexistente

Como todos os que entram em filas

Mas afinal, de que adianta ficar parado?

A minha pressa é a mais lenta de todas

Poderia aprender com coisas, plantas e bichos

Verdadeiras lições que me salvariam...


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Não há diferença em diferença alguma

Quanto mais enxergo, mais fico cego...

Qualquer dia desses precisarei de óculos escuros

De uma bengala e de um cão-guia...

A pior de todas as pandemias mata mais

Espertamente deixando todos os seres vivos - 

O preconceito constrói saudáveis zumbis...


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Gostaria de ser um poeta desses

que pegam o primeiro avião e voam

direto para Paris

para tomar o primeiro café

quando o sol nasce

mas há milhares de crianças feridas 

em guerras idiotas

que precisam de minha lembrança...

Desses que suspiram de amor

quando a primeira rosa floresce

em jardins exatos e singelos

mas meus olhos se desviam

para as calçadas desta cidade

onde corpos invisíveis

guardam singelos sonhos

transformados á força em pesadelos...

Minha poesia não é asséptica 

e nem limpa e nem exata

como as paredes recém-pintadas

por um pintor sorridente

minha poesia traz a sujeira

de antigas e sujas paredes

onde ainda choram antigos dramas...


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Livros de história sem memória

dramas teimosos desconhecidos

no entanto em suas brancas páginas

possuem dramas interessantes

quanto qualquer uma colossal batalha

a batalha dos simples 

querendo coisas mais simples ainda

e que acabaram não obtendo


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terça-feira, 6 de julho de 2021

Libertina

Ela é dona do seu corpo, mais ainda de sua alma, como poucos serão. Trancada no seu quarto, fugindo da TV, cavalga em ginetes saídos da escuridão do tempo sem cair sequer uma única vez...

Libertina,

marginal,

como outras,

sem igual...

Ela construiu a máquina do tempo, o espaço agora é um simples detalhe que não importa, nem o barulho dos carros nas manhãs ou dos bêbados na noite lhe afligem, suas correntes já foram partidas faz tempo...

Libertina, 

assanhada,

muito séria,

engraçada...

Ela perdeu o medo do amanhã, mesmo se ele chegasse agora trazendo todas as novidades boas ou ruins, todas as vidas são mais ou menos rios e vão chegar no mesmo lugar...

Libertina,

fugitiva,

nunca morre,

sempre viva...

Ela é a ladra que roubou um anjo, pegou suas asas e foi ao local mais alto para de lá poder voar, escolheu a torre de um castelos desses bem bonitos, só não perguntou se o anjo era demônio...

Libertina,

quem diria,

vestiu luto

ou fantasia...

Ela pediu ao poeta que fizesse versos bonitos, esqueceu da noite que vive nele, que a alegria do poeta se perdeu por aí e vive pedindo socorro sem encontrar seu triste dono...

Libertina,

sem igual,

mesmo a morte

é carnaval... 


(Para a poetisa Tônia Lavínia).

Alguns Poemetos Sem Nome Número 103

pedra e meia

sangue e veia

flor e morte

dor e corte

não há mais fio pelo labirinto

digo que te esqueci e minto

só é real aquilo que sinto

vazia e cheia

sangue e areia

ardor e sorte

cor e norte

não há mais ninguém pela estrada

cada vez mais cheio de nada

a minha mente é torturada...


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até que me ataques sem avisar

grão por grão pombos catam migalhas

faço questão de não mais questionar

o verdadeiro encanto se ocultava

e todo efeito ficava sem validade

como se fosse um bicho morto

ou apenas uma ideia esquecida


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ela não imagina a eternidade que eu lhe dei

dentro desses meus versos sujos e desajeitados

há muitos ruídos que nem ao menos percebemos

e a cantoria desse seu pobre coitado

que pede esmolas mas é rico em fantasia

eu queria poder te ofender mas isso não consigo

seria o mesmo que dar um murro no espelho

vai logo na primeira estrela e me deixe em paz!


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nós na alma

nós e vários nós

perguntas irrespostas

sem cinema ou tão

dúvida árdida

invento o inventável

e subo serras

que não existiram

nem cortaram


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Várias sombras passeiam por aí...

Umas com pressa, 

Outras bem devagar, quase parando,

Umas só chorando,

Outras achando que estão contentes,

Umas comendo bem,

Outras com um vazio grande na barriga,

Umas festejando,

Outras enterrando seus queridos mortos...

Várias sombras passeiam por aí...

Umas com pressa,

Outras bem devagar, quase parando...


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uma cortina branca ou azul

(tanto faz desde que tenham estrelas pregadas)

e um sorriso novo daqueles bem antigos,

tão reais e tão etílicos!

como uma novidade que caiu no chão...

onde estará aquele rosto que não vi?

podem ter virado canção...


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Depois de passada tanta tristeza

se ela dissesse que me ama eu diria:

- Mentirosa!...

Depois de acontecido tanto choro

se ela me pedisse perdão:

- Nunca!...

Eu sou aquele que depois de pesadelos

acorda para dar risadas...


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Todas as roupas deveriam ser azuis

mesmo quando o azul fosse de outra cor...

Todos os parecidos seriam livres

voar seria a condição exigida para tal...

Eu não tenho talento algum,

quando muito finjo que tenho,

à não ser este e somente este mesmo:

olhar com olhos da profundidade infinita...


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Delírio Imediato

 

A morbidez com sua cara pintada e ar totalmente juvenil. A morte com seu ar cansado de tanto trabalhar. Credos rezados de trás pra frente para o sortilégio que não aconteceu. O tambor tocado com os pés. 

Eu nunca vi aquilo que não vi ou será o inverso?

A sobrevivência tenaz com seus dias fracassados. A coxa de frango que não comi ontem está dentro da geladeira. Uma ciranda de pés descalços pode ser nossa salvação. O quintal é o meu refúgio.

Será que acabei mergulhando na areia e me afoguei?

O termômetro não tem mais graus para registrar. A puta corou com minha proposta indecorosa. O meu contrato com a loucura estava vencendo e eu o prolonguei por mais mil anos. Sou direto feito corisco.

Será que pelo menos dessa vez o xamã vai me chamar?

Só a estrada conhece todas as suas armadilhas. O destino é apenas um emaranhado de muitos nós. Só nos arrependemos depois dos erros serem cometidos. Toda fantasia está rasgada.

Será que meu silêncio é uma forma requintada de riso?

A encomenda não chegou porque o carteiro acabou dormindo. O teatro fechou porque está em reparos. Alguns fetiches são vendidos com manual de instrução. O fogo não pegou mais.

Os fuzis se calarão algum dia finalmente?

A fantasia acaba inventando os venenos mais letais possíveis. Na horizontal que os reis e os miseráveis se deitarão um dia. Correr como uma tartaruga  pois o coelho já se aposentou. Estou tossindo abundantemente.

O espelho também me fará caretas?

Todas as novidades acabaram não tendo mais surpresa. Esbarrei na minha sombra e acabei caindo no chão. As estrelas nunca reclamam de nada. 

A fome também possui senso de humor?

Os palhaços podem rir de quase tudo. As escolhas erradas são sempre as mais escolhidas. Já me cansei de me cansar com tantas canseiras mais inúteis. Todos os balões acabam caindo do alto.

Derrotas e vitórias acabam sendo semelhantes?

Pintei vários quadros sem tela e sem tintas também. Gaguejei na hora do discurso e isso acabou sendo bom. Eu nunca soube de nada e continuo não sabendo. Tomar café é uma grande arte.

O desespero pode me fazer vencer a corrida?

Ontem o ontem era o anteontem e o amanhã é apenas hoje. Eu carrego ternura sobressalente para uma eventual necessidade. A decepção é um mendigo dormindo sem cobertas na rua sob a noite de inverno. Tudo é tão simples e tão complicado.

O deboche também é uma forma de defesa?

Um cigarro aceso e a sorte está lançada. A nudez nem sempre aceitar passar com a malícia de mãos dadas. Meu boy escuta a mesma música até poder adormecer. Faíscas vivem de sua própria morte.

Conseguirei de uma vez fugir da fuga?

Um delírio é apenas um delírio à mais. Muitas soluções estão inseridas nos próprios problemas. Minhas loucuras acabaram se tornando meras banalidades...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Come Na Cuia

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