domingo, 29 de julho de 2018

Armazém de Tolos

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Estão expostos, estão dispostos...
Estão nas fileiras,
Estão nas prateleiras,
Esperando quem vai comprar,
É a grande liquidação,
É a grande competição,
Quem vai afinal ganhar?

Estão despidos, estão feridos...
São todos marcados,
São todos soldados,
Esperando quem irá lutar,
Lutam por besteiras,
Lutam sem maneiras,
Quem não vai chorar?

Estão calados, estão sedados...
São duques ou marqueses,
Operários ou burgueses,
Não dá pra separar,
Assim vai o mundo,
Assim vão os segundos,
Quem vai os recuperar?

Estão expostos, estão dispostos...
Estão nas fileiras,
Estão nas trincheiras,
Esperando quem vai levar,
É a grande exposição,
É a grande extinção,
Quem vai afinal nos salvar???

sábado, 28 de julho de 2018

Sinceridade Artificial

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Prefiro que você cobre 
Do que fale que me ama sem amar
Pode até me falar "eu te amo"
Quantas vezes que eu pedir
Você não vai querer me ferir
Saber que você sai com outros
Definitivamente não é me trair
Você terá sempre um sorriso
Mesmo quando estiver indisposta
Não reclamará da minha barba crescida
Ou da cor da minha nova camisa
Não me exigirá mais do que posso fazer
Não me perguntará de quem é
Aquela mensagem que chegou agora
Sempre fingirá sua frieza
Com palavras bonitas de falso tesão
Não me cobrará a meu falho desempenho
E não rirá do tamanho dele
Você tem pressa e isso é compreensível
Afinal de contas negócios são negócios
Tem paciência comigo?
Hoje só quero beber e poder falar
Coisas há muito entaladas na garganta
Coisas que sempre tive vergonha de contar
Sonhos que foram de água abaixo
Cálculos e planos que não deram em nada
E mesmo que eu lhe xingue
Acredite que foi da boca pra fora
Muitas vezes nem sei o seu nome verdadeiro
E nem imagino qual será a sua vida
Mas deve ser doída como a de qualquer um
Cada vida é um livro pra se colorir
Mudam as cores e o desenho é o mesmo
Depende do lápis de cor e de quem pinta
Quem sabe? Muitas vezes escutei histórias
Que desses encontros já nasceu até amor...
(Extraído do livro "Só Malditos" de autoria de Carlinhos de Almeida)


Miragens e Delírios de Um Tocador de Tuba

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verbos deveras usados em palavras soltas
paisagens de um quadro incolor bem bacana
eu solto o verbo e também alguns adjetivos
não é à toa que fui escolhido como nada
que os comentários maliciosos cessem de uma vez
os ratos acabam se assustando com meus passos
mas ir ao comércio continua sendo uma moda
são eras de muitas eras e de eras pelos muros
mas a rua algumas vezes se entristece e é assim
eu só sei fazer haicais se a vida me embriaga
e os colchões de solteiro são muito ingratos
quero estar novamente onde eu nunca o fui
e espelhar-me nos fogos de artifício do reveillon
a distância correta são meus medos que sabem
e nunca disto duvidei mesmo quando em dúvida
ser sincero sinceramente pode ser até cruel
mas não conheço outra língua em minha insanidade
faça-me o favor! não faça mais quaisquer enigmas
esses me bastam pra fazer aquele meu relatório
tudo é tão aleatoriamente com as contas feitas
que a perfeição bate em minha porta reclamando
quase não cabem sentimentos em minhas cartas
e cada uma delas acaba indo pra um intinerário
a saudade se mudou ontem pra casa ao lado
e inda bem que não veio me pedir nenhum açúcar
fico pensando nos pensamentos de vários objetos
e possa ser que eu tenha cara de um estrangeiro
nem a força gosta de ser forçada à alguma coisa
e fios de cabelos são encontrados em qualquer chão
pelas minhas pesquisas não gosto de pesquisar nada
a cegueira pode enxergar bem melhor que a visão
vamos nos sufocando de beber tão muitas águas
e nada disso será levando em conta no dia final
estreito no peito um jeito malfeito de ir direito ao eito
mas sou um fã que o afã seja bem vindo só amanhã
verbos deveras e de Alice de vez em quando...

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida)

As Palavras São Minhas





























As palavras são minhas!
Eu as coloco onde quiser...
No abismo mais profundo,
Pra lá do fim do mundo,
São nuas ou enfeitadas,
Falando tudo ou falando nada...

As palavras são minhas!
Eu as coloco onde quiser...
São como uma febre louca,
Partiram da minha boca,
Mas vieram do meu peito,
Não há um outro jeito...

As palavras são minhas!
Eu as coloco onde quiser...
Em feitio de uma oração,
Sujas como um palavrão,
Complicadas de entender
Ou as mais simples de ler...

As palavras são minhas!
Eu as coloco onde quiser...
Numa panela de feitiço,
Rabisco sem compromisso,
Estavam fora dos planos,
Mas isso foi há muitos anos...
(Extraído do livro "Rubianan Decide" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Meio Céus

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meio céus em brancas nuvens
houve alguma coisa por lá
só não sei o que é que houve
meu anjo não quis me contar

meio águas caindo ligeiras
não podemos o evitar
quanto sono já perdido
não há de se encontrar

meio fumaças ardendo olhos
coisa mais de sufocar
as minhas palavras fogem
falta até o que rimar

meio vidas quase impossíveis
até o de comer vai faltar
falta luz e falta abrigo
sem carrossel pra girar

meio céus em brancas nuvens
houve alguma coisa por lá
era simples pedaço de vida
meu anjo não quis nem quebrar...

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida)

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Sobre A Arte de Fazer Cigarros

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paciência é o que não temos...
temos teimosia!
insistência e insistência
de fazer da noite um dia!

espalho pedaço por todos os lados
nas pontas dos meus dedos os amarelados!

esperança é o que não temos...
temos ilusão!
eu sabia e não sabia
tenham compaixão!

me humilho por um simples pacote
sou apenas triste não há ninguém que note!

perfeição é o que não temos...
temos tentativa!
nós cremos e não cremos
se a alma está viva!

é cinza espalhada e muita sujeira
e a felicidade é apenas uma maneira!

submissão é o que não temos...
temos picardia!
vou andando e andando por aí
nesta sina mais vadia!

sou apenas isso não tire sarro
seja legal comigo me dê um cigarro!
(Extraído do livro "Só Malditos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Só Os Loucos

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Só os loucos não se vendem...

A loucura não tem preço, 
O sonho não tem endereço,
Sonhar é tudo que temos,
Mesmo quando perecemos...

Só os loucos não se rendem...

A alegria é nossa necessidade,
Nossa natureza é a liberdade,
Rir é nosso melhor remédio,
Pior que a morte é o tédio...

Só os loucos não se prendem...

Fora idiotas convenções,
Gritemos à plenos pulmões,
Poder viver de verdade
É poder viver a simplicidade...

Só os loucos que aprendem...

Aprender essa arte da vida,
Como se sara essa ferida,
Chorar só de vez em quando,
Vamos todos levando...

Só os loucos me compreendem...

Compreendem  versos malfadados,
Os amores que foram mal amados,
Fogem dos tiros cruéis no escuro,
Esperam sem medo do futuro...

Só os loucos não se vendem... 

Pequena Dança Número 2

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até meu frio dança!
é dia não posso esquecer
a luz tudo alcança
estou vivo não vou morrer!

há choro em plena praça
não chorem acabará o mal
ainda tenho a pirraça
aí vem outro carnaval!

até meu frio dança!
seja sol ou seja chuva
a luz tudo alcança
estrada reta estrada curva!...

Cuida de Mim

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Cuida de mim, por favor, eu peço. Ando como que meio desesperado com esses dias feios que o mundo apresenta e nem sossego mais tenho pra poder dormir.
Cuida de mim, tenha pena. Não deixe que os soldados me encontrem em casa e me convoquem pra fazer parte dos seus batalhões. Eu não quero sair de casa, ir longe de casa, morrer por lá. Guerras são inventadas todos os dias.
Cuida de mim, tenha dó. Eu não quero mais enlouquecer lentamente, homeopaticamente, com as preocupações inexistentes de uma caça selvagem, onde caça e caçador são as vítimas. A minha alegria precisa de boa parte do pouco tempo que ainda tenho.
Cuida de mim com cuidado. Os meus sonhos são frágeis demais, são simples demais e são ternos demais. São pacientes que requerem absoluta atenção porque podem sucumbir ao menor descuido, exigem delicadeza nos gestos e absoluto silêncio pro seu repouso.
Cuida de mim com esmero. Não negue o sorriso que só você pode dar. O espelho já me amedronta faz tempo, nossa amizade anda muito abalada e faz vários dias que nem cumprimentamos um ao outro.
Cuida de mim com paciência. Eu sei que sou um chato, seja com galochas ou não. Um chato que abraça demais, que quer beijos toda hora, que faz carinhos até que enjoe, que fica repetindo velhas histórias e fatos sem noção de segundo em segundo.
Cuida de mim, me atura. Esquece as vezes que xinguei e te deixei vermelha de vergonha, que dancei fora de hora, que fiz perguntas indiscretas de mais. Cada um tem sua própria natureza e eu não tenho culpa de ter meu nome escrito no rol dos loucos.
Cuida de mim, me protege. Das mentiras que contam por aí, das farsas que são inventadas, dos abismos que são cavados pelas mãos dos malvados. Eu não quero ser apenas um cego que, mais cego ainda caminha pro ridículo que só a mesquinhez aprendeu fazer.
Cuida de mim, me sustenta. Não te importes quando a imaginação me incomodar ao ponto de desenhar pelas nuvens, não tenhas ciúme se a outra (a inspiração) vem me visitar com frequência. Ela não atrapalha nosso amor, só aumenta.
Cuida de mim, por favor, eu te peço...

Pequena Dança Número 1

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debaixo de um sol risonho
vejo uma pequena dança
posso estar tristonho
mas ainda há esperança!

que dança é essa?
dança de perfume e cor
a borboleta começa
o seu namoro com a flor

é apenas um namoro
como eu nunca vi
sem pudor e decoro
os dois irão por aí...

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Inexplicavelmente Só Queria

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Eu só queria voar. Com todos os adereços necessários para uma boa viagem. Sem saber de qual será me itinerário. Não preciso de mapas. Horários longe de mim! Tenho todo tempo do mundo e tempo algum. Minha pressa é tão grande...
Eu só queria cantar. Ser incômodo todas as vezes que quiser e acordar toda a vizinhança. Mostrar que a alegria que não tive pode existir. Há uma festa correndo pelo tempo. O dia faz as honras de gentil anfitrião. Mesmo que não possa...
Eu só queria gritar. Gritar em todos os possíveis lugares onde a vista alcançar. Desmentir essas mentiras baratas que andam por aí. Falsas promessas de soluções impossíveis. Me reconheço humano e falho e insano...
Eu só queria derrubar os muros. Os muros do meu medo. Retirar as cercas da humana vergonha. Seguro firme a esperança entre meus dedos como uma criança com seu brinquedo novo...
Eu só queria dançar. Usar o melhor dos programas. Em volta de intermináveis fogueiras que acabam sendo estrelas pelos chãos. Colocar o velho corpo em movimento como há muito não faço. Um bom cansaço invadiria de novo como em bons tempos já idos...
Eu só queria seu beijo. Sentir o calor de sua alma. E então ficaria mais vermelho que as rosas que estão calmas entre os espinhos sérios e mal educados. Experimentar sua saliva como quem mergulha no rio mais caudaloso sem vergonha alguma...
Eu só queria o perfume quem me preenche. Cheiros bons que a mente por um triz não desconheceu. Cheiro de cinema em tardes mansas de domingo. Cheiro do parque no meio das férias. Cheiro do carnaval sempre bem vindo... 
Eu só queria decifrar diários enigmas. De como andam as coisas. Dos porquês da vida e das certezas da morte. Matar todos os pontos de interrogação sem piedade alguma. Saber porque essa fila não anda. Sou apenas um menino impaciente...
Eu só queria mergulhar em claras águas. Entender porque a profundidade verdadeira está nas coisas mais simples. Descobrir a sabedoria das cores. Sem medo e sem pudor algum como só sabem fazer os apaixonados...
Eu só queria mais calma. A calma de quem vai ao seu destino sem medo... Inexplicavelmente...

terça-feira, 24 de julho de 2018

Eu Sou O Próprio Mestre dos Meus Enganos

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Eu já perdi a noção do tempo. Por isso tenho todas as idades possíveis. Sou mais velho do que as pedras, mais novo que a última manchete dos jornais...
Não ralhe comigo, o menino arteiro só quer brincar entre as nuvens e galopar em bravios ventos que vêm lá das bandas do mar. Estou contente, olho minha caixa de brinquedos com a satisfação que só eu mesmo posso conhecer...
Deixem que siga meu caminho em paz. Os sapatos apertam os pés, a vida segue adiante e, mesmo assim, longe de mim ser apenas mais um burguês sem quaisquer pretensões loucas...
Não tenha pena de mim, o velho anda lentamente recontando as moedas da felicidade que se foi, sem angústia alguma, na obediência natural de todas as coisas. Velho marinheiro, vou navegando entre as ondas sem quaisquer temores...
Eu já perdi a noção de espaço. Não sei mais qual a minha velocidade. Se muito rápido vou até às estrelas lhes dar um beijo furtivo, se muito lento as conto e reconto delicadamente. Muitos caminhos vão até Roma, mas só um ao meu próprio coração...
Faço quase todas as insanidades que quiser, as escolho à dedo, rio nos momentos mais inoportunos, danço enquanto deveria permanecer imóvel, mas mesmo assim respeito o luto dos meus próprios dias...
Não sou afeito à todas as superstições, mas reverencio os símbolos do que está a minha volta como quem permanece de joelhos até não poder mais. A minha, as nossas vidas, são intermináveis pedidos que sobem os ares como os incensos mais suaves...
Deixem que continue a desenhar risonhos sóis na terra para que o tempo fique bom novamente. Eu amo todas as manhãs com a simplicidade dos que sofrem por excessiva ternura e dos sonâmbulos que andam pela escuridão sem mais algum temor...
Eu sou como o pássaro ferido que insiste em voar. Já quebrei os grilhões que me prendiam, abri a porta da gaiola e a verdade cegou-me com sua luz. Nada mais impede que os meus versos acordem os que andam pelas sombras...
Eu sou o próprio mestre dos meus enganos. Deixem que seja assim, é a vida...
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

Minha Poesia Morre

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Minha poesia morre...
Quando vejo a maldade dos homens
Tão tolos e tão mesquinhos
Correndo por tão falsas ilusões...

Morre aos poucos
Quando vê as guerras acontecerem
Morre de uma vez só
Quando todos os amores partem...

Minha poesia morre...
Quando todas as crianças choram
E todos os meus sonhos
Se desfazem feito fumaça no ar...

Morre aos berros
Ao presenciar a insensatez humana
Morre em silêncio
Quando não vê esperança em parte alguma...

Minha poesia morre...
No colo das mães desesperadas
Nos asilos com os velhos abandonados
Pelas ruas onde vivem desamparados...

Morre tão demente
Sem entender o porquê da vida
Morre do jeito mais são
Ainda com um tênue fio de esperança...

Minha poesia morre...
E mesmo morrendo todos os dias
Ressuscita em alguns momentos
Para galopar em brancas nuvens...

Fato Consumado

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Eis o que aconteceu 
nem certo, nem errado
meu coração entristeceu
é só um fato consumado

E nem as nuvens vejo
mesmo se o dia é nublado
nem quero, nem desejo
tragam de volta o  passado

Agora só conto os dias
por aquilo que tenho chorado
são poucas minhas alegrias
tão pouco eu tenho sonhado

Deixem que me emudeça
é apenas o que estou fadado
mas mesmo que o medo cresça
não ficarei tão desesperado

Eis o que aconteceu
muitos caminhos tenho andado
minha vista se escureceu
é só um fato consumado...

domingo, 22 de julho de 2018

Eu Te Segui

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eu te segui por ruas escuras e sem ninguém
e quando me perdi já era muito e muito tarde
e ainda espero encontrar meu caminho de volta...

eu te segui entre corredores frios de crueldade
e quando vi o meu tempo já tinha ido embora
e apenas repetirei seu nome com desespero...

eu te segui como um falso profeta com suas mentiras
como um demônio que mostra apenas suas asas
e como a fera enjaulada que apenas descansa...

eu te segui pela vida pelo mundo pela maldade humana
e todas as vezes que fazia perguntas era sem respostas
e todas as vezes que rezava ninguém me respondia...

eu te segui enquanto esquecia de me seguir
não vi o tempo escorrendo por essas sujas paredes
e nem a morte se aproximando passo por passo...

eu te segui num sonho mais do que passado
e talvez os meus versos ainda fiquem insistindo
e eu possa finalmente te encontrar...
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Pouco e Muito ou Humana Condição

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Pouco amor, muita paixão,
Muito sexo, pouco carinho,
Não gostamos da escuridão,
Mas nos perdemos pelo caminho!

Pouco verdade, muito engano,
Pouco tempo, muitos vícios,
Dizemos que somos humanos,
Mas longe de nós sacrifícios!

Muita reza, pouca crença,
Muito moralismo, pouca moral,
Por favor, me dê licença,
Eu quero mais um carnaval!

Muitos olhos, pouca visão,
Enquanto a roda do tempo roda,
Somos filhos da nova estação,
Somos os escravos da moda!

Muitos versos, poucos poemas,
Palavras bonitas, sem criatividade,
Vítimas de vários esquemas,
Não existe a tal de felicidade!

Pouco amor, muito tesão,
Muito sexo, pouco carinho,
Achamos que temos razão,
Mas nos perdemos pelo caminho!

sábado, 21 de julho de 2018

Muitos Dias Já Passaram

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Uma tristeza me invade. E os olhos alongam-se por manhãs agora perdidas que nem o sono podia impedir. Onde elas estão? Será que subiram aos céus? Nunca mais voltarão? 
O relógio declarou-me guerra. E cada ruga em minhas faces é um soldado morto em um campo de batalha. Apenas uma pequena cruz não indica quantos sonhos não se realizaram...
A solidão veio me visitar. Ela veio tão de mansinho que quando vi já estava lá. Olha-me com uma piedade tão impiedosa. E um silêncio gritante acaba descompassando meu coração.
Quando poderei abrir a boca e gritar os pequenos segredos que guardo? Um minuto de atraso assassinou o mais feliz dos encontros. Uma onda veio de repente e desfez o castelo que demorei a fazer...
Quando o vento colaborará comigo e levará as juras que não fiz? Quando será meu escudo contra a timidez que brotou qual erva daninha em meu pequeno jardim? Eu ainda lhe espero para que espante os fantasmas que povoavam as minhas noites...
Escuto meu coração descompassado em horas aflitivas. Em mim fica a eterna dúvida se dói mais o corpo ou se dói mais a alma. E mesmo assim ainda consigo fazer alguns versos bobos de alguma satisfação...
Como tenho saudade! Das pessoas e das coisas e das brincadeiras e dos poucos risos que um dia tive. Dos gostos que passaram em minha boca. Das cores em minhas retinas. E até dos lugares que passei e os que queria ir e não fui...
Uma tristeza me invade. Eu era nada e agora nada sou. E não sei como mesmo assim não consigo matar a esperança por dias melhores. 
Muitos dias já passaram...
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Quase Nada (Canção Desesperada de Um Simples)

foram dias e partiram sem um adeus
quando muito algumas fotos
ou simples impressões visuais

é o que eu tenho agora
e mesmo assim possuo muito medo
do esquecimento me levar

são muitos os ladrões que andam por aí
sobretudo a tal de tristeza
que é exímia mestra em disfarces

eu só gostaria que o tempo não passasse
pois as coisas simples doem tanto
o desespero e eu somos um só

podem rir à vontade do que sinto
o desprezo já não mais me afeta
item tirado desta agenda de restos 

eu não sei fazer frases de efeito
e nem a beleza me encontrou por acaso
mas mistérios estes sim eu tenho e muitos

até o meu dia ainda está dormindo
(muitos dormem para não sonhar)
e simplesmente já não aguento mais...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Poesia

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poesia é sangue,
corre pelas veias
gritos ou silêncio,
bonitas ou feias

poesia é amor,
ódio ou indiferença
de pé ou de joelhos,
fé ou ainda descrença

poesia é a marcha,
dança ou carnaval
luz que queima no dia
ou canto do bacurau

poesia é posse,
total desprendimento
o que seguro nas mãos,
o que espalho no vento

poesia é vida,
é o final de tudo
sinais pelas paredes,
discurso de surdo-mudo

poesia é sangue,
me mantém vivo
enquanto para viver,
só há este motivo

Todo Mundo, Menos Eu

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todo mundo percebeu as loucuras 
menos eu...
as aflições que castigavam mais
menos eu...

porque os loucos nunca percebem 
que assim o são e assim o serão
e os aflitos gritam constantemente
mas sempre estarão surdos...

todo mundo percebeu os olhares
menos eu...
os sorrisos escondidos na minha tristeza
menos eu...

porque os olhares falam sem parar
e nos labirintos eu te procurava
e tudo que vinha de você
poderia trazer alegria até da morte...

todo mundo ficou em silêncio
menos eu...
sabiam que um bobo que coisas impossíveis
menos eu...

e só soube disso quando o tempo passou
e já era tarde pra qualquer providência
e o impossível acompanharia meus passos
até que a morte finalmente chegue...

todo mundo foi feliz
menos eu...
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida)

Imitações

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a vida imita a arte
vamos para qualquer parte
a arte imita a vida
a chegada veio da partida
a flor só se veste nua
só na noite existe lua

cantemos mesmo que sozinhos
andemos mesmo entre espinhos
oremos mesmo que não acreditemos
tudo se repete é tudo o que temos

o fim imita o começo
qualquer coisa tem seu preço
o começo imita o fim
entre escombros sobrou o jardim
eu busco a felicidade
para bem longe da maldade

prossigamos mesmo com medo
nada vem tarde nem vem cedo
subimos mesmo quando descemos
tudo se repete é tudo o que temos

o verso imita o poeta
a fumaça pode ser até concreta
o poeta imita o verso
eu sou o meu réu confesso
o que anda é a estrada
o tempo todo está parada

suportemos mesmo esta paixão
algumas vezes é bom ter ilusão
combatemos mesmo não querendo mais
é tudo assim até que venha a nossa paz...

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Meu Silêncio É Um Discurso

Grandes e sombrios dias estes. Em que o tempo me cansava até que ele mesmo acabasse se cansando. Aí era aquilo: andar sem passos firmes por um aí.
Acendo cigarros com insistência. Fico imaginando se a fumaça pudesse levar alguma mensagem para bem longe. Terras que nem imagino devem existir. 
Tento calcular a distância que não consigo. E o tamanho de tudo acaba ficando do mesmo tamanho que meu coração. Cada detalhe é guardado com um carinho que me chega à doer.
Meus bolsos estariam furados? Sei que faço perguntas demais. É assim que está no meu roteiro de fiéis ilusões. Minha roupa estaria rasgada? Assim também se rasga a alma em amores feridos.
O relógio está cansado, deve ter bebido demais. Mas os sós devem ficar agradecidos porque ele nunca nos abandona. Mortos ou vivos todos possuem o tempo. É um grande engano achar que o repouso se torna absoluto.
Centenas de rostos vem na minha mente. Milhares talvez com alguma certeza. Fragmentos que nem as areias de várias praias. Eu aponto o dedo e a cena fica congelada. Sou o próprio mestre dos meus enganos. Eu sou a memória de todas as coisas. O pintor que vai fazendo todos os esboços. 
Eu sou o caçador de matas escuras. Eu sou o colocador de sons em cada canção. Por mais estranha que ela possa parecer. Por mais que eu não entenda seu idioma. 
A manhã já está se desfigurando. A tarde ocupa seu lugar na fila. Inflexível é a palavra de ordem. Permanente é o que nos falta e isso acaba sendo a mesma. Com chuva ou com sol os bem-te-vis ainda cantam e isso pode ser bom ou não.
A noite assim chegará. Com seus requintes ou sua rudeza. Não podemos escolher tal coisa. Aguardar acaba sendo a nossa arte. Tenhamos mais um pouco de calma. 
Eu até gostaria de não falar nada. Os meus olhos já muito falam! Mas os meus versos acabam me obrigando...

Viva

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Viva...
mesmo o barco estando à deriva
viver é a única coisa que se tem
são apenas conjecturas o mais além
e se há algo mais também será vida
é preciso suportar a ferida...

Viva...
mesmo se até o destino não incentiva
e as tristezas vão chegando em bando
pois um dia até elas irão se acabando
rir é a única coisa que se aproveita
mesmo se a obra foi malfeita...

Viva...
não procure pois não há alternativa
pois ainda estamos no mesmo porto
deixe o morto cuidar do outro morto
há ainda muitas flores lá pelo jardim
e olha que elas não têm medo do fim...

Viva...
ainda que tudo em torno seja negativa
devemos nos acostumar à escutar o não
mas se devemos aceitar é outra questão
não é tão difícil conseguir ser feliz
mas é que tudo nessa vida é por um triz...

Viva...
vamos logo tomar esse iniciativa...

segunda-feira, 16 de julho de 2018

A Inominável Arte de Fazer Cigarros

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os pares ímpares arrumam-se como podem
é mais uma dessas manhãs de pedra e de sal
não tenho muito o que fazer a não ser o que fazer
isso pode ser muito bom ou muito talvez talvez
não que eu me esconda sob as cortinas do sofá
há muitas pérolas por aí procurando razões
e eu nem mesmo sei o que estamos por aqui
desordem é a palavra de ordem que mais ouvimos
e quando as novidades pararem nós morreremos
quase nunca temos os nomes que nos escolheram
e isso é forte indicativo de uma solidão acompanhada
eu não quero mais alguma coisa que acrescente
já que os versos já foram escritos há séculos
e um grande meio de esquecermos é a loucura
não acordo na hora certa nem que me cobrem
cada especial na TV custou muito sangue
e nem os vampiros sabem explicar o porquê
eu acabei de descobrir que pensar dá calos
e algumas outras coisas de bolsa de mulher
nunca soube de nada mais engraçado que choro
sobretudo quando andam de sobretudos por aí
um silêncio é maior que mil discursos
e os moralistas armam uma tocaia que pode dar certo
eu nunca vi uma embolada feita na feira
mas as segundas nunca faltam comigo
juro que andarei pelo mundo afora anteontem
e os bem-te-vis estão usando colarinho hoje
para cada cerimônia eu faço um lenço novo
e para cada miçanga acabo fazendo uma alegria
experimento pratos estranhos com toda familiaridade
e mesmo que não goste faço que sim com a cabeça
a varanda é o maior pedaço que podemos herdar
e o quintal lá detrás tem muitas histórias prontas
a pulseira de prata que carrego na minha alma
é o resultado da última equação que pude fazer
eu evito gritar no meio de tanto e tanto barulho
para que as margens dos rios não tenham medidas
e os ratos consigam de uma vez serem felizes
não adiantam bons conselhos para melhores idiotas
e eu fico querendo que essas procissões se acabem
juro por mim mesmo que estou quase aprendendo..
.
(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de Carlinhos de Almeida).

Escada e Dalila

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foi um tempo até que nebuloso
porque assim são os dias
dificilmente uma memória não fraqueja

mas tudo havia mesmo pequeno
pequeno todo espaço que me lembro
e eu mais ainda em pouco tempo

uma rua sem saída igual estrada
incontáveis folhas secas que ele juntava
e eu ia logo depois acendendo tudo

haviam dois poços por lá
um era a ordem e tudo que usávamos
o outro o mistério o tabu e uns tapas

mas o que eu gostava mesmo
era correr por aquele quintal grande
antes até num tempo de cerca 

a pequena garagem que até brinquei
e as flechas que atirávamos
dificilmente grudavam no álbum

o jardim com a lápide do pequinês
que até me davam medo e rosas
até o dia que não deu mais

mas a escada era tudo e tudo
até me dava um não sei quê no peito
mas até não me importava com isso

eu juro que vi uma cobra!
nesse dia descemos como balas
e dias levamos para ir lá de novo

mas eu ia Dalila e me lembro 
daqueles cachos tão bonitos
e da pouca roupa que você usava...
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida)

domingo, 15 de julho de 2018

Contradictio

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faz tempo que não tenho tempo
e o tempo não me dá mais
e agora meu passatempo 
são mergulhos abissais

talvez o interesse não interesse
eu morro me traga os sais
eu xingo como numa prece
vou ser consagrado nos carnavais

meia palavra já é que me basta
são todos estes meus avais
a vida é colorida porém madrasta
tudo em letras miúdas e garrafais

eu sou quase humano meu mano
eu sou nós somos e assim serás
misturando sagrado e profano
nosso candidato é Barrabás

minhas lágrimas são inocentes
são como sintomas vitais
e agora me caem meus dentes
mandaram-me alguns sinais

agora se tornou muito chique
dizer que é moderno cheio de paz
mas se na hora for um trambique
não importa e já tanto faz

sai no tapa religião e ciência
são mais de mil e um espinhais
por favor tenha santa paciência
isso tudo eu já não aguento mais
(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

E A Guerra Continua

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E a guerra continua...
É minha, é nossa, é sua...
É escondida, fantasiada, é nua...

Tanto atinge os tetos das cidades
Como mente nos jornais descaradamente
Não escolhe cara e nem escolhe idade
É o mundo, é a vida que está doente...

E a guerra persiste...
No céu, no chão, em tudo que existe...
Umas vezes alegre, outras vezes triste...

Os tempos mudaram, mas não mudaram
E os velhos erros são sempre repetidos
Alguns vilões agora se mascararam
Toquem música alta! Abafem os gemidos...

E a guerra teima...
Ela fere, ela mata, ela queima...
O ser humano é sua guloseima...

Mesmo os que choram cruzam os braços
Vamos reclamando sem nada fazer
Com nossas taras e nossos fracassos
Só nos importa termos o que comer...

E a guerra continua...
É minha, é nossa, é sua...
É escondida, fantasiada, é nua...

sábado, 14 de julho de 2018

O Grande Exército de Formigas de Mossoró

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É inevitável que fatalmente acreditemos no destino
(E grandes cápsulas do tempo são lançadas)
E um torpor cor de cinza nos dê tempo algum
(Um cantor de jazz tem suas próprias cicatrizes)
E a nudez discreta me traz saudades de nenhum tempo
(Próprio de quem faz discursos animistas legais)
Eu espalho ventos da forma mais concreta
(E não são muitos os séculos que me restam)
E minhas festas são sempre regadas como o mar
(É lá que adjetivos e superlativos se degladiam)
E não sei bem o português arcaico dos havaianos
(Claro que sim, claro que não às vezes)
O Estado já trouxe margaridas para o morto
(Um grande incêndio para refrescar o verão)
Fatos e fadas já estão fazendo nova cobertura
(E os meninos agora não choram mais de tristeza)
Sobem em bandos os bandos de bandoleiros
(Quase como nunca é a minha trama de folhetim)
As cinzas não se conformam com seu trágico destino
(Mais um teatro exibirá matinês de carnaval)
Pois o imperador liberou mais cedo os gladiadores
(Vou engolindo palavras dispensando certas sílabas)
A alquimia só deu certo nos erros mais galopantes
(Quase que eu me caso com a pessoa certa)
Minhas cicatrizes são bússolas para tristes naus
(Ontem cheguei bêbedo é fato inédito de todo dia)
É costume dos índios indicarem fortes indícios 
(O chafariz agora alberga simpáticos paquidermes)
E a moça linda não fez a propaganda do creme dental
(É tão normal fazer esculturas com a poeira)
E os túmulos são disputados sobretudo pelos vivos
(Quase que morro ao ver os novos preços da aflição)
Prometo que nunca mais serei o que nunca fui
(É divertido ler epitáfios enquanto tenho delírios)
Conforme-se com o conformismo de falsos profetas
(Gosto tanto dela que assim faz eu não gostar)
Na claridade é que os morcegos fazem hora extra
(Eis a grande receita de um novo prato sem gosto)
Lá vem o grande exército de formigas de Mossoró!

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida)

Da Natureza do Mal

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Previne-te do mal, ò meu amigo. Não se faz necessário que vás ao encontro deste, ele é um bom operário e cumpre as tarefas que lhe confiadas com afinco e nunca descansa.
Desde o instante em que abres os olhos para o teu afã de viver ao que o sono finalmente te vence, ou ainda, a noite te consome em desespero, ali ele está. 
Repara em seu sorriso inocente e sarcástico. Pois sim, ele se apresenta de inúmeras formas, tem inúmeros nuances e é um bom ilusionista em fazer seus magistrais truques. 
O mal à sua maneira é um sábio, pois o engano pode ser mais do que imaginamos e seus companheiros são inúmeros e irão auxiliá-lo em sua mórbida tarefa de te afligir. 
Esquece um pouco as tuas ilusões, olha adiante e enxerga de uma vez por todas que estás na vida e que ela é apenas um perigo em cada minuto como uma agulha que irá te ferir. 
Previne-te do mal, ò meu amigo. Ele é um grande alquimista que consegue transformar coisas e seres. É corajoso em sua covardia, é digno de todos os adjetivos que a linguagem dos homens determinou e até muito mais.
Examina bem todas coisas, meu amigo. O mal pode transformá-las de forma imperceptível. A flor da cicuta é branca, mas a maioria dos remédios são amargos, alguns até dolorosos.
Não te afastes da verdade um só momento, ela geralmente não é bela, nem muito gentil, não quer te embalar com belas canções e nem te restaurar o sono que falta em trágicas noites, mas nunca te trairá. É ela que quebra todas as correntes e assusta a mentira e a faz ir embora envolta em seu manto de vergonha.
Por outro lado, não te preocupes com o deboche dos tolos. A grande tolice é o próprio mal, a mão que fere também será ferida. Não sejas responsável pela tristeza dos outros, ser da tua mesmo já é fardo bem pesado.
Previne-te do mal, ò meu amigo. E segue adiante...

sexta-feira, 13 de julho de 2018

É Complicado Complicar Demais

Resultado de imagem para menino com ursinho de pelúcia
Vamos ser simples como as águas
sem guardar tantas mágoas...
Sorrir em cada sol que nascer
estamos aqui vamos viver...

É complicado complicar demais
vamos pular muitos carnavais...
Eu quero ainda muitos amores
com todas as possíveis cores...

Todo o começo tem o seu fim
vamos colher flores do jardim...
Emocionadamente eu choro
e a estrela mais bonita namoro...

Vamos ser simples como o vento
e saborear cada um momento...
Se enternecer pela noite que cai
E mandar embora que a tristeza vai...

Poema do Nada

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Nada pense... nada fale...
que o desconhecimento te traga paz...
deixa que teu silêncio seja tua fortaleza...
as coisas doem menos se as ignoramos...
e o caminho pode até parecer mais curto
se não contarmos nossos passos...

Nada queira... nada peça...
os desejos são nossa fonte de aflição...
os sonhos ás vezes se tornam pesadelos...
há perigos ocultos nos esperando...
muitos abismos querem o nosso salto...
não é ser fatalista e ser mais tranquilo...

Nada espere... nada comemore antecipado...
toda dor surge de uma expectativa...
todo lágrima esperou o que não veio...
ter ternura é bem querer sem nada esperar...
não precisamos pedir ao mar as suas ondas
mas é inútil pedir que ele as cesse...

Nada faça... nada o intranquilize...
faça apenas o que a natureza te exige...
o bem pode parecer que cansa e isso só parece
já o mal é a insistência de não esperar pelo castigo...
o cansaço não tem sequer alguma má intenção
ele só te ajuda à fazer os cálculos certos...

Nada se apegue... nada deseje...
o apego de alguma coisa é o autor da tristeza...
o desejo é apenas a proposta da decepção...
a ilusão é o veneno corroendo as nossas veias...
a  vontade não pode mudar o rumo de coisa alguma
mas pode colocar doce onde amargo está...

Nada de desespero... nada de tristeza...
quanto mais nos debatemos ele vai rir...
quanto mais afastá-la ela se apega por nós...
um sorriso pode não resolver coisas ruins
mas deixará quem nos aflige decepcionado
porque será bem maior nossa capacidade...

Nada pense... nada fale...
que a inquietação não possa te perturbar
com suas palavras vãs e desprovidas de sentido...
as questões desta vida são sempre complicadas...
muitas vezes para ganharmos temos que perder...
lembre-se sempre do zero e o ponha em sua direita...
Nada pense... nada fale... mas sempre olhe...

Aflição de Doró

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não que estalem versos entre os dedos
as canções do vale já não valem nada
a praia tem muito lixo espalhado por lá
e em branco passam as velhas canções
a destruição distribui vastos aperitivos
e não saber mais nada é a única opção
andrajos sim meu caro e estimado barão
a única novidade é a que eu contei anteontem
que os vira-latas agora aprenderam à dançar
e cada reta é um círculo bem rodado sim senhor
fazem muitos e muitos anos que aqui estou
mesmo que ainda esteja lá de vez em quando
vamos agorinha para uma nova escola de solfejos
alisar as giletes que já perderam seu corte
nada mais complexo que esses peixes mortos
e um frio que cobre a cabeça feito mortalha
tem água pra todo lado até no mesmo sertão
capriche aí no capricho dessa pequena foto
quem sabe o mundo não acaba aqui mesmo
e compreender seja a última coisa que queremos
bombons e tretas fazem o negócio de Rafael
e os ratos não se abalem com mais nada
o xerife já chegou em altos brados de silêncio
e o universo se transformou em duas cores
a alma pode ser mais marvada do que a carne
e ainda rio duma história que nem eu mesmo sei
um fio de cabelo enche todas as entranhas
e eu mesmo fiz toda a decoração desse lago profundo
o cantor de rap acabou de mudar de lado
e a agora as mentiras possuem mais um tempero
eu quero passar o tempo em sérios passatempos
porque nada é a doce conclusão que todos chegamos
repito e repito sim quantas vezes quiser
a abolição da abolição nem sempre aboliu tudo
um coro de nerds canta mil e uma obscenidades
e no politicamente concreto acaba me encantando
fato começado é fato acabado assim diz a fatalidade
nunca devemos nada além de nossas dívidas
Zaratustra fechou a boca e se recusa terminantemente
e agora os patos nos ensinam quase todas as lições
eu tenho marcas indeléveis de tudo que não fiz
a quantidade suficiente não é mais suficiente
e os devaneios já não vão mais no mesmo clube 
se os paredões tivessem o dom de nada mais adiantaria
até as figurinhas dos álbuns viram preciosidades
e cada peça que o destino apronta faz um dominó
não há nada mais sério do que os quadrinhos que lia
e mais nada em branco do que os negócios acordados
eu sei muito bem que um dia virarei alguma teoria
mas até lá vamos chutando latas e beijando uniformes
é e era um caminho qualquer dando não sei onde
e mesmo assim os lampiões de querosene fazem fama
a lama dos regaços são bem vindas sem ficarem por lá
e o amálgama na verdade nunca foi o meu forte
muitas lacunas ainda esperam trotes sem telefone
e os santos estão impacientes nas prateleiras
até a verdade foi na esquina comprar chicletes
e acabou vindo com um ramo de flores em flor alguma
já é desnecessária a necessidade de alguma cor
enquanto os pães sentem frio num forno aceso
escapar do óbvio é como escapar de si mesmo 
só dá certo toda vez que der certo de uma vez por outra
por aqui tenho muitos amigos e só falta a amizade
é porque gosto de camisas estampadas e cigarros amassados
tenho maldições no bolso se quiser alguma pode falar
(Extraído d'O Livro do Insólito e do Absurdo de autoria de Carlinhos de Almeida).

A Não Lira de Todos Os Homens

Resultado de imagem para lira
Não há lira e todo lirismo agora é fingido
O tempo é escasso e o destino é medido
Cada um entra resoluto na frente da bala
Ninguém mais grita todo mundo se cala
Só mudam os dias não mudam as estações
Só mudam os olhos as mesmas impressões

Não há lira e todo lirismo agora é fingido
Tudo se inverte e tudo é muito divertido
Lá vem a tristeza sem dar sequer um aviso
O choro às vezes tem a forma de um riso
A maior necessidade pode ser não ter nada
E assim vamos tropeçando do alto da escada

Não há lira... Nunca teve...

Come Na Cuia

Comê na cuia Comê na tuia Comê na nuia Experimente o berimbau catreiro Em todas as noites de pé de sapo! Paca tatu Paca tutu Paca Dudu Apert...