terça-feira, 31 de julho de 2012

Real


Nada do que eu sonho dorme comigo. E me faz os afagos que preciso. O que acaba. O que deixa o gosto na boca. Ou a marca na areia. Tem mais pena do meu choro. Os meus dias que se acabam mais piedosos foram. Porque levaram consigo os males que trouxeram. O espinho foi mais terno. A verdade menos feia. E a crueldade da negativa mais pena teve de mim. Ela não quis que o sonho me entranhasse pelas veias. Com promessas que nunca acontecerão.
Nada que me emociona me consola. E as tintas que marquei além dos olhos só torturam. Escapou entre os dedos. Saiu do alcance das mãos. Tudo que talvez merecesse. Ou pelo menos eu me esforçasse para ter. Não me diga que me ama. Ninguém ama nem a si mesmo. Se tudo tivesse realmente justificativa seria bem mais fácil. Mas só nossos pecados possuem perdão. E nossas intenções são as melhores.
Nenhum espelho possui brilho a mais. E nenhum discurso convence mais que o silêncio. Não me diga que foi sem querer. Coisas só acontecem porque as pedimos. E só as orações mais loucas chegam aos céus. O sossego nunca é bem vindo. E junto ao plano vem a falha. E a sensatez perdeu o horário do avião.
É noite agora. Sempre foi noite. Mesmo quando meus olhos confundiram-na com o dia. As cortinas se fecharam. E mesmo falando o que pensava. Isso de pouco adiantou. As verdadeiras verdades são ignoradas. Ou quando muito incomodam.
Você nem me viu. Eu espreitava cada detalhe e achava lindo. Nem eu mesmo me vi. Porque me escondia de   mim mesmo. E dos sonhos que me perseguiam. Como sombras. Pacatas sombras que esperavam meu triste fim. Nem me escutou. Eu fiz uma canção de desespero. Com notas dissonantes. E belos brilhos. Eu fiz um livro. Onde cada palavra escondida era um pedido de perdão. Mas sei que ele não será atendido. Quando muito escutado. Se assim for.
Você nem me viu. Nem me verá. E mesmo assim estarei presente. Fracassado mas presente.

sábado, 28 de julho de 2012

Vou Tentar


Vou tentar falar de festa
Da menina que me viu sorrindo
O sorriso que ainda resta
Mesmo que o sonho vá sumindo

Mesmo que o sonho vá sumindo

Como o resto do dia
Ei continuo dormindo
Esperando uma outra alegria

Esperando uma outra alegria

E o Carnaval já veio
E era tudo o que eu queria
Estar ali no meio

Estar ali no meio

Como qualquer outro mortal
Não sendo bonito ou feio
Quando muito normal

Quando muito normal

Sem medo de um vento forte
Mas de um medo fraco e igual
Chamado Morte

Chamado Morte

Que esquenta a testa
Sem sul sem norte
Vou tentar falar de festa...

(Ana Holanda, perdoa se o sorriso ainda é e será triste...)

segunda-feira, 23 de julho de 2012

As Palavras

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As palavras não são difíceis. Quando solicitadas atendem. São como faíscas das idéias. Se usadas corretamente acendem. E mesmo emboladas pelo chão. Lá estão. São o sonho que não chegou. Ou o amor que partiu. Cuida bem delas. Um dia serão o que restou.
As palavras não são sujas. Quando querem encantam. Mas são também as ditas cujas. Cujos mortos levantam. E mesmo esquecidas no mão. Lá estão. São cada passo no caminho. Ou o caminho que não veio. Cuida bem delas. Um dia a lembrança lá estará.
As palavras não são feias. Quando querem namoram. Mas cuidado correm nas veias. Pois é lá que elas moram. E mesmo presas a construção. Lá estão. São o único desabafo. Ou a mentira não desabafada. Cuida bem delas. Um dia serão a tua única defesa.
As palavras não sou boas. Nem más tampouco. São como são as pessoas. No tarot são como o louco. E mesmo que seja por só confusão. Lá estão. São cada lance do destino. Ou cada carta marcada. Cuida bem delas. Um dia serão vida e morte.
As palavras não são lentas. Quando muito flechas. Quando fala-se venta. Mas se a boca fecha. E seja enterro ou comemoração. Lá estão. São a força de cada momento. Ou o ingrediente da fórmula mágica. Cuida bem delas. São tuas únicas armas. Ou quando não tua defesa.
As palavras não são fáceis. Quando chamadas esquecem. São como a chuva caindo. E se um dia aquecem. O inverno vem surgindo. E mesmo que se queira ou não. Lá estão. São a meta não alcançada. Ou o pulo do alto da escada. Cuida bem delas. Te custa tudo ou nada.
As palavras não são claras. Quando querem espantam. Seja vulgares ou raras. Todas elas acalantam. E se acalanto marca o torna são. Lá estão. Nas folhas de um livros. Ou gravadas nas paredes. Cuida bem delas. Um dia serão por ti.
As palavras não são belas. Quando muito se entendem. Fazem os beijos das novelas. E depois os vendem. E mesmo estando no dia a dia sem nossa percepção. Lá estão. A espera de moinhos de vento. Ou fantástica promoção. Cuida bem delas. Elas ficarão no fundo do baú.
As palavras não são maldosas. No caminho que estão elas seguem. O perfume é das rosas. E os espinhos nos perseguem. Onde quer que vamos em nossa perseguição. Lá estão. Nos cartazes nas paredes. Ou na última vontade. Cuida bem delas. Poderão salvar tua alma ou perdê-la.
As palavras não são ligeiras. Quando muito regulares. Mas ainda são as primeiras. A chegar nos seus lugares. E mesmo na contramão. Lá estão. Nas bocas dos sábios.Ou na alegria dos tolos. Cuida bem delas. Cada uma tem seu sabor.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Domingos e Feriados


Nas manhãs de domingo encontram-se manhas. Manhas que só o próprio dia conhece. Manhas que só tempo sabe fazer.
Depois de um sono sem pesos, a preguiça dos olhos é finalmente dominada e acordamos.
Como está o tempo?
Se chove, vem a desculpa que outros bons domingos virão. Se não chove, foi um bom domingo que veio.
Pois bem. Mas toda exceção tem uma regra. Há domingos que se parecem dias de semana. E isso também é bem triste. É quando não temos mais nada para esperar. Nada encanta em nossa volta. É quando o cotidiano entrou pelos nossos poros como um veneno ou como a falta de riso. Nesse caso, grave está o paciente e mesmo que houvesse remédio, não ia querer tomar.
Já os feriados são como bufões, loucos por si mesmos e não precisam de nós, não precisam de ninguém. Os esperando com ansiedade ou não, tanto faz.
 Eles vêm em cena em seu tempo certo, mas não se engane, não vieram para declamar um poema todo perfeito que sabem de cor. Vieram com uma folha quase em branco na mão com somente um título. O improviso é com eles.
Mas domingos e feriados possuem muita coisa em comum. São quase irmãos, primos deste ou daquele grau que se conhecem. Sem falar que às vezes, ambos vêm no mesmo tempo. Aí, nem mesmo o sábio saberá. O feriado caiu num domingo? Ou o domingo caiu num feriado?
A coisa mais triste é o outro dia. Que por mais que seja bom não foi feriado. Ou então é segunda (a não ser que o feriado seja este). Que por mais que tenha sol, este não nos dá. 
Não temos o sol, não temos! Ainda que nos atinja em cheio, é nossa rotina que nos acompanha, ou melhor, nos persegue. Não temos o sol, não temos! Ele nos ilumina como uma grande lâmpada, só isso. E nos lembrará constantemente que somos os que somos na realidade: frustrados humanos...

Simples


Eu quero a simplicidade das manhãs que não pediram licença. Mas trouxeram o sol. Todo o sol. E nos alegraram com toda a sua força. Mesmo sabendo que logo morreriam. Eu serei como elas. E se tudo for breve. Mesmo assim foi. E se no melhor da festa. O coração falhar. A vista turvar. Ou coisa que valha. Terei meu momento de estar contente.
Quero também a clareza da água. Seja como for. Parada esperando que algum amor reflita nela. Ou correndo. Em direção ao mar. Para que seja eterna e sem fim. Assim serei eu um dia. Parte de um grande sono.
Ser o ar também é uma grande solução. Frio ou quente. Parado ou dançando. Tanto faz. O ar que invade os pulmões. Sopra as folhas. E faz as pipas guerrearem numa grande batalha azul.
Ser o verde. Que se cobre com a capa do orvalho. De uma grande treva que também se foi. Não somente o verde enfeitado. Mas o simples verde que cobre o chão. E nunca se mostrou.
E ser mais ainda. E ser principalmente. O sonho na tua mente. E a lágrima dos teus olhos. Talvez não esteja mais por aqui. Contando coisas engraçadas pra espantar tua tristeza. E grandes histórias pra te distrair. Lembra das que eu contei. Lembra que nunca te menti. Quando disse que a beleza pousou em teus ombros. E que a felicidade caminhava ao teu lado. E mais ainda. Lembra do que eu te prometi. Estarei contigo. Nem que para isso eu tivesse que subir do mais profundo abismo pra te proteger. Lembra que tens a vida ao teu alcance. Coisa que me foi negada. Lembra que foi a minha própria vida. Simples e negada.

Canção Urbi et Orbi pra Você


Não que eu veja moinhos de vento. Sei que existem. Mas não os vejo. Vejo a sorte. A lida. A vida. A morte. O periquito do realejo. E quando ando nesta cidade. Me dá saudade. De coisas que nunca aconteceram. De sonhos que cresceram. Como frutas que não comenos. Isso é de menos. Há mais venenos. Me acompanhe amigo. Que eu te digo. Fórmulas exatas. Por trinta pratas. As mesmas que foram o meu preço. Se eu mereço. Isso ou mais um pouco. E fico louco. De voar entre os edifícios. Como é difícil. Fazer propostas que eu mesmo não sei onde vai dar. É devagar. Quase parando. Quase não me escondendo. E vou morrendo. Quanto mais vivo fico. Me sacrifico. Faço piadas de qualquer drama. Ninguém me ama. E nem ninguém irá ao meu enterro. Qual foi o erro? Foi fazer um carnaval em cada esquina. Quebrem a rotina. Eu nunca mais vou usar azul. Eu fico nu. Em frente ao Planalto. Em frente ao Papa. Em frente ao lobo. Eu sou o bobo. Eu sou palhaço. Me dê um abraço. Me falta espaço. Porque a vida é pequena. Que nem arena. Me tenha pena. Que eu prometo que não demoro nem segundo. Te dou o mundo. Te dou o sol. As estrelas. E os planetas. Também cometas. Me faz caretas. Faz pose pra fotografia. Acenda o dia. Acende a cena. Que eu te levo no cinema. Pra ver qualquer um tango em qualquer Paris. Me pede bis. Que eu desenho traços longos a nossa ponte. Eu tenho um monte. De bons motivos pra te amar sem ser amado. Tá tudo errado. Qual é o lado? Da moeda que jogaram em minha veste. Cabra da peste. É a cabra é cobra. E ainda sobra. Inspiração pra mil versos espaçados. Vidros quebrados. E o sol entrando pela janela. Face mais bela. Eu atenho nos detalhes fascinantes. Por uns instantes. E quero fugir numa carreira. Eu dei bobeira. Entrei na festa. E não sabia o que que era. Solte a fera. Leão? Pantera? Ou é o ursinho? Aquele que te acompanha quando está sozinho. Tome um carinho. Tome um gole. Não é mole ser careta. Mas não é treta. O que embriaga. E que me esmaga. É tudo isso. É andar e andar. E o compromisso. É mostrar a vida. E correr. Sem te esquecer. São poucos anos. E tantos planos. Queu não sei no que vai dar. O que que há? Não há mais jeito. No meu peito. E a contagem regressiva começou. Não sei quem sou. E borboletas ainda voam no quintal. É menos mal. E se não voltar hoje. No carnaval. Venho te buscar. E nesse dia. Dia quente. Diferente a gente não vai mais se separar...

Enfileirados


Um dia sonhamos. Um dia pensamos. Um dia pedimos. Mas os céus não possuem ouvidos. Ou fingem não ver. E com isto vamos nos fazendo diferentes sem ao menos ser.
Há sol. Mas nossa alma fica no escuro. Há ar. Mas o sufocamento visita nossas gargantas. E falamos frases comuns que em nada admiram.
Há pouco tempo. Mas até pouco tempo parece demais para quem tem medo e chora. Sim. Concordamos com tudo. Mas fazemos somente o oposto. Não. Há muita maldade espalhada por aí. Mas nós mesmos a fizemos. Há tanta cinza. Mas nós mesmos fizemos a fogueira. Mas não contemos o incêndio.
Estamos enfileirados. E de máscaras. Quem é quem? Estamos enfileirados. Com nossos uniformes ou fardas. Quem é quem? Em posição de sentido. Sem sentidos. Sem emoções. Ou emoções demais. Procurando a resposta perfeita. Para a pergunta que nunca foi feita. Sobre o rumo que nunca tomaremos. E o porto perfeito que nunca virá aos nossos olhos.
Um dia eu como todo mundo sonhei. E não simplificava coisas como hoje. Mas antes as enfeitava. E podia dizer da bondade que tive. Enquanto todos foram maus. Hoje é o inverso. E posso mostrar o demônio que sou. Porque ele não veio para terra sozinho. Mas os anjos o trouxeram até aqui. Vocês foram maus. Porque riram do menino. Vocês foram maus. Porque do alheio choro beberam. Vocês foram maus. Porque as cicatrizes que hoje tenho foram feitas por suas facas. Estas mesmas facas que hoje porto e aponto. Estas mesmas facas que procuram suas gargantas. Nas mãos de quem ri da sua desgraça do hoje.
Eu agora me vingo. Porque tudo que tira seus sonos é o que mais desprezo. E o que mais lhe preocupa nada me diz. A cada castelo seu que desmorona caio na risada. E desprezo cada conceito tolo que rege sua medíocre existência.
Vocês esperam a morte disfarçando. E eu sou ela que brinca em suas fileiras. Suas máscaras não possuem olhos. Mas eu vejo. Suas máscaras não possuem narinas. Mas eu respiro. Posso derrubá-los no chão um a um. E às vezes faço isso. Mas me deleita mais quando caem por si mesmos.
Eu os prezo sim. Mas do jeito que me ensinaram. Amando e odiando ao mesmo tempo. E os quero. Mas como o caçador quer sua presa. Eu os respeito. Mas como o ladrão que se esconde no escuro beco. E falo amenidades enquanto os amaldiçôo. E nunca os invejo. E isso é altamente prejudicial para as suas vidas. Para suas vidas não! Para o arremedo que um dia perderão até a próxima novela. Onde o drama mexicano talvez se repita.
 Mães de família. Ainda putas. Sempre putas. As putas que se comportaram. Pais de família. Os pequenos delinquentes que agora se comportam. E ambos perdem seu sono porque tudo se repete com os que vieram depois.
O sacrifício está pronto. A pedra de sacrifício brilha ao sol.  Espere cada um a sua vez...

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Nome


O teu nome é coisa estranha. É coisa Espanha. Não tem tamanha. Sai da entranha. É sina e sanha. Cheio de manha. Ninguém apanha. Minh’alma arranha. Chamem o Homem-aranha! Vamos brincar? De adedanha! Não faça isso! Senão apanha. É uma loteria. Quem é que ganha?
 E o meu nome é tão normal. Como alegria no meu quintal. Num tempo antes não tinha mal. E os meus versos eram carnaval. Foi bem antes do temporal. Me dê motivos pra por o sal. Corre depressa. Pegou geral! E quem aí quer bacalhau. Espetei o dedo. Me dê dedal. Eu tive um sonho. Não foi real.
E o outro nome. Já não me comporta. Tire a roupa. E feche a porta. Inês é morta. A faca fere. A faca corta. É o bicho papão. E a moura torta. Me deram um tiro. Na veia aorta. O meu talher. O Uri entorta. E mais o resto. Já não me importa.

Lugar-Comum


Lugar-comum. Comum lugar. Porta. Janela. Primeiro andar. Andar de cima. Andar em cima. Nada a declarar. Lugar sem clima. Lugar sem rima. Me tirem quero andar. É abafado. É apertado. Não dá pra decolar. O coração. O avião. Vão logo despencar. O prédio cai. O tempo vai. Não dá pra retornar. Sai daqui sai. Eu quero um haicai. Mas não sei o que falar. Eu não escapo. Do papo. Do trapo. Que cobrindo está. É muito alto. O sobressalto. De quem está. Lugar-comum. Lugar nenhum. Despedido. Sem despedida. É a vida. E toda sua conjuntura. Sem estrutura. Qual a cura? Seria a cura um copo? Seria a cura um trago? Eu me engasgo. Eu me contagio. Com o elogio. O fundo do rio. Onde afogo o fogo. Se ter nem jogo. E o fogo aumenta. Ninguém agüenta. Essa pimenta. Anos sessenta. Anos noventa. Eu fiz uma prece. E sobe e desce. O elevador. Quem foi que errou? O rock errou. O rock horror. Nem sei mais o que escrevo. Será que devo? Ninguém será. A lida é má. Meu saravá. Andei por becos. Com olhos secos. Dispenso o lenço. Nem sei se penso. Só sei que pinto. O labirinto. E a cor é essa. Tá bom à beça. Num começa. Num interessa. Lugar-comum. Eu quero a passa. Dispenso o rum. Quero a fumaça. Fiquei bebum. Se tudo passa. Eu quero um zoom. Se tudo mata. Quero mais um. Ali. Na lata. Me dê um fora. É amanhã. Eu quero agora. Valha-me Deus. Nossa Senhora. Atrás dos meus. Tem a história. Na rua eu fiz a minha glória. Lugar-comum. Que nem novela. Todo final. Que nem tabela. Sem carnaval. É nova tela. Meu bem. Meu mal. Que nem janela. É meu mural. É minha cela. É gadernal. E meu torpor. É sol voltando. E me revoltando. Sem Parador. Sem paranoia. Minha nova jóia. Eu imagino. Imaginava. O meu destino. Onde é que estava. E a minha mente é que voava. Lugar-comum. Acordo cedo. Pra mais chorar. Eu tenho medo. Eu sei voar. Cadê o enredo? Dá pra enrolar. É em Tancredo? Qualquer lugar. Não há passaredo. Nem cor do mar. Não há escola. Mais pra estudar. E nem viola. Pra disfarçar. Me dê a esmola. Pra eu guardar. Ninguém deu bola. É meu penar. É coca-cola. Ou é guaraná. É como mola. Sem esticar. Nada consola. Deixa eu parar. Eu quero uma estola. De urso polar. É tive um sonho. Vou lhe contar. Era medonho. Era de assustar. Onde é que eu ponho. Este luar. Tá tudo aí. Sem aumentar. Mas também não diminuí. Isso não há. Já tirei o terno. Já tirei a gravata. Assim me mata. É aqui o inferno. Isso é bravata. O meu interno. São trinta pratas. Passei o inverno. Na catarata. Lugar-comum. Não tem medida. É meu lado mau. Não tem saída. É como o sal. Não tem comida. Não ao mingau. Sim à bebida. É bacurau. Tosse comprida. É o escambau. Isso é a vida. Viva o Blau-Blau! Quebrei a louça. Varri quintal. Quero que ouça. O som final. Foto tão triste. No coqueiral. O dedo em riste. Tal qual e tal. Eu não entendo. Porque tão mal. Só você vendo. Pegou geral. Eu tava lendo. Que vai tão mal. Me faça um esquete. Pra eu me rir. Na internet. Eu vou subir. Me canta Ivete. Eu vou partir. Lugar-comum. Que não é mais não. Eu faço rima tão comum. Em algum lugar. Ou lugar nenhum.


Antes do Vento


Antes que o vento chegasse. Era eu. Meu pai juntava as folhas em grandes montes. Não muitos. Mas grandes o suficiente para mim. E eu ia atrás. Após isso. O menino com a caixa de fósforos nas mãos e pedaços de papel colocava fogo. Era um deleite ver o fogo surgindo. E vê-lo aumentar e aumentar cada vez mais...
O que era o fogo? O fogo era a coisa mais linda que podia haver neste mundo. Era perigoso. Porque podia queimar e destruir. Mas o menino aprendeu isso desde muito cedo: coisas belas podem ser e geralmente são perigosas. O fogo queimava. Os sonhos queimavam muito mais. O fogo se extinguia. E os sonhos não...
 E a fumaça filha do fogo desenhava no céu que aos poucos escurecia. O que eram nuvens? Seriam a fumaça que ficou lá em cima e se transformou em água. O menino não sabia. Mas gostava da fumaça e das nuvens. E sonhava em pisar nestas quando seu corpo deitasse de vez.
Sim. Existia a morte. Mas a morte deveria ser um sono eterno que seria sonhos aos bons e pesadelos aos maus. Decerto seria isto. Porque mais não compreendia mesmo se quisesse compreender.
 Mas voltando ao fogo... Sim. O menino ia acendendo cada monte. Até que correndo voltasse à casa. E quase invariavelmente vinha o vento. O vento vinha. E este acabava todo o serviço. Todo ofício. De transformar folhas mortas em fogo. De transformar fogo em fumaça. Arder os olhos. Fazer as nuvens. E ser bem vindo em outro dia.
 Ainda hoje. Quando vê o fogo. O menino lembra daqueles tempos. A casa já se foi. O pai descansa o sono que agora se pensa diferente. E tanta coisa aconteceu. Algumas boas. E muitas ruins. As nuvens definitivamente não são de fumaça. Mas assim mesmo parecem com seu choro. Mas o fogo permanece. O mesmo fogo. Antes. Durante. E depois do vento...

Assim É...

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Assim é se te parece. Nada de novo há de nos redimir. Estou apenas esperando que as fronteiras caiam de vez. E a quinta vez logo venha. 
Enquanto isso. Hei de ser egoísta o bastante para chorar de mim. Ver meus sonhos espalhados pelas paredes. E nada mais.
 Há teias de aranha espalhadas por todos os cantos. E suas vítimas repousam num sono de mau jeito.
Olá. Como vai? Não apenas acene para mim como manda o protocolo. Nem sorria como manda a educação. Há mais coisas do que imagina. E essas coisas o perseguirão até que os tempos se consumam.
Eu sou o carrasco. E se faço tuas vontades é por pura estratégia. E se escondo meus desejos é por pura teimosia. 
Olhe como está esta rua. A maldizes em cada passo que dás. Quão tolo tu és! Ela conhece seus passos mais que tu mesmo. E sabe seus pensamentos mesmo que os ignore. Ela conta cada história que tua mente escondeu. E cada vergonha sem nome que compõem o teu calendário. É a ela que deves o teus dias. E na verdade. A dívida é tão alta que nunca poderás pagar.
 Ali vendiam balas. Mas mesmo que as vendam. Na verdade não venderam mais. Não é porque cansastes de comer o doce que só a boca sente e o destino não dá. Não. Não é isso. Outro é o motivo. É porque a morte ali veio como passeia em outros lugares.
 Deixa pra lá. Tudo é normal. A única coisa que conta é aquilo que não conhecemos. A única saída é atravessando paredes. Mesmo que isso signifique sangue em nossos olhos. Nenhum muro é mais sólido que a nossa vergonha. E maior inimigo não há que nosso ridículo.
 Conta teu tempo. E conta o meu. Na verdade não vivi um segundo a mais. Pelo contrário. Enquanto tento o meu menino pra que não envelheça. Levas o teu para a velhice que não tem mais volta. Conta teu tempo. E conta o meu. Na verdade não vivi um segundo a mais. As velhas coisas e as coisas novas são iguais. O encanto é mesmo. E isso basta. Quando olhar antigos brinquedos não veja o que eles são. Mas o riso que deram. E esse riso não muda nunca.
Não há nada mais sólido do que aquilo que desejamos. Coroas caíram de reais cabeças. E canhões enferrujaram. Os metais apodreceram sob o sol mudando de cor. E todo sangue derramado secou sobre a terra. Mas o que cada um de nós desejou em sonhos assim o permanecerá.
 Depois de conversar um minuto: até a próxima. Depois de conversar uma hora: até já. Mas e aí? Não. Não é isso que eu quero. Quero os americanos na Normandia. Ou as cigarras no calor. Tudo é fim. Tudo é meio. Só o começo desconhecemos por sua imprevisibilidade.
 Não. Não é isso que eu quero. Mesmo que seja para pedir desculpas pelo engano. Estava sem óculos. Era a mente que não andava boa. Era o calor e a luz que me confundiram. Foi o repente que fez a vaga num coração vazio. Mas se não for e não tentar: será a morte. Não essa morte que vem logo e nos leva. A morte aos poucos. Que é a pior. A morte que não nos muda de mundo. De país. De sei lá. A morte à prestação por não ter tentado o que talvez valesse à pena. Pior que essa – só a rotina.
 Assim é se te parece. Se o tempo é pouco ou muito. Se falta a estética. Ou o verso tem o pé quebrado. Se as pedras são muitas. Ou as noites mais compridas. Ou se os amigos te deixariam. É puro engano. Nada que perdemos foi verdadeiramente nosso um dia. Nada que ficou no caminho poderíamos levar se assim o desejássemos. Para o pote quebrou não há conserto. Cada coisa é cada coisa e nada mais.
Ontem mesmo sonhei com o auto. Era o mesmo. Mas não era. Daria para entender? Pois bem. Na poeira de vinte anos espelhava a mesma cor em outra diferente. E um caminho qualquer me esperava. Não mais aos meus olhos. Mas em mim mesmo. Assim como este. Outros ainda rodam eternamente. E cada um tem os seus.
 Até a próxima. Até já. Como sombra ainda tem espreito. Como em velhos filmes de terror. Até a hora que o sangue brote aos olhos do vampiro.

A Dança

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A dança não tem passos marcados. Às vezes nem tem música. O par nem sempre existe.
 E vamos vê-la, menina, sonhando sonhos intermináveis. Leves. Possíveis. Mas nunca realizados afinal. Porque tudo que te cobram será muito. E darás sem pena. E nada terás de volta. Promessas vãs.
E vamos vê-lo, menino, sonhando sonhos intermináveis. Previstos. Possíveis. Mas sempre abortados afinal. Não deu. Não teve tempo. E o pagamento por tudo isso não será devolvido. Nada é devolvido. Tudo passa. E nada terás de volta. Promessas vãs.
A dança dança por si mesma. Não nos convida. Mas de forma irresistível vamos a ela. Mesmo quando não nos quer. Do jeito que estamos. Ou não. 
Ela é triste. E achamos graça. Ela é alegre. E muito choramos. Vem de noite. Quando amanhecemos. Vem no dia. Quando fechamos os olhos. É um finado em pleno carnaval. Ou um último samba de despedida.
A dança não quer meu bem. Nem quer teu mal. Não quer nada. E pega tudo. É um simples fogo que não se apaga. Ou a novidade velha de sempre. Eu a vejo em qualquer canto. Sem face alguma. E com todos os rostos. Linda. Feia. Sem que eu mesmo possa defini-la.
Eu quero dançá-la enquanto posso. Também tu queres. Mesmo que não. E os que não querem. E os que partiram. E os que dançaram. Na verdade. Ainda dançarão.

Exata Mente


Faz tempo que eu sonhava com águas. Foi assim: na casa da minha tia tinha uma vista. Era um morro e além da casa da frente que hoje não existe mais, existia água. E quando íamos à casa da minha vó, além da rua, depois do mato, também havia. E aquelas águas, tão diferentes e tão iguais, eram as mesmas. Não eram o mar que eu conhecia de vida e morte, não eram grandes e nem eram bonitas, mas eram água. E como não vieram, não passaram. Estão no mesmo lugar, calmas e calmas, esperando à hora de saírem do meu peito.
Faz tempo que eu voava. Não com asas que não tenho, nem a coragem que não quero. Eu fecho os olhos e a mesma se repete. O medo da altura se transforma e lá vou eu. Não há asas, mas casas e cadeiras voam comigo. Não há tempo, mas ele se faz meu aliado em todas as minhas diabruras. Não há medo. E o medo é um desenho mal feito que eu passei a borracha e apaguei.
Faz tempo que eu descia escadas. Com uma alegria que nunca tive. Eu não descia na verdade. Eram escorregadores da escola ainda não morta. Ou de morros imaginários que não davam medo. Escadarias que não me machucavam. Escorregas em que a vida era só riso, sorriso, meu riso, sem risos antigos que zombavam de mim. Sem a queda no cinema de um tempo de pressa sem a minha voz.
Faz tempo que eram mágicas. E os imãs eram constantes de minhas mãos. Vejam os meus truques, respeitável público. Eu estou treinando e juro que vou melhorar e, se por enquanto é só isso, em breve serão montanhas e não pequenos objetos que andam na mesa. Eu sei que é bem diferente, mas assim é até com cópias em série.
Faz tempo que faz tempo. E assim o seria mesmo se não fosse. Um tempo em que cachoeiras tinham lamas. E caminhos não escolhiam suas próprias palavras, mas não importava porque nem falar podia. E a mente e somente ela servia de companhia para um desespero sem precedentes... 

Teoria da Maldade

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Não há perdão. Seu capitão. Pra nenhum mal. Seu general. E num silêncio que nem a noite quer escutar. Me ponho a sonhar. Por mortos ainda vivos. Que estão aqui. E estão lá. E de qualquer maneira. Queira ou não queira. Só podiam estar.
Não há pista. Desista. Nem por que. Nem senão. Então. Só o faraó tem alma. Só o faraó tem calma. Deitado em sua prisão. E antes que alguém recorde. Antes que o monstro acorde. Cantemos nossa canção.
Eu vim sem nada. Assim irei. Somente palavras e palavras. Cujo sentido. Nem sei. E após tanto tempo e poeira. Zoeira. De qualquer maneira. Voltarei. E se as frases são reduzidas. É que são muitas as vidas. Que vivi. E viverei.
É tudo um jogo. É tudo ciranda. E se não há. E se não anda. E não há plantas na varanda. E nem quem faz. E nem quem manda. Quem tem na mão. Quem tem no pé. Quem diz que traz. Quem diz que é. E a cabeleira do seu Zezé.
O problema é que não há problemas. E nós criamos. Não há amores. Mas nós amamos. E não há dores. Mas nós choramos.  Viva eu! Viva tu! Viva todos! Viva nenhum! Quando falta a rima. Quando falta embaixo. Olhe pra cima. É tão comum.
A vida é rosa. Espinha e flor. Ó meu amor! Por que voltou? Pra ver meu riso sem sentido. Pra poder falar no meu ouvido. Que tudo vai bem. Nem vem. O que era cedo. Agora é tarde. Sou mesmo um covarde.
E cultivo no jardim. As flores mais feias que posso. Sem remorso. Viva a pose! Viva a rose! Viva o close! Viva tudo que num pode! Viva a cirrose! E a ressaca do outro dia. Ave Maria!
Eu juro que me calo. Ou eu te falo.
Eu faço a maldade de sonhar. Toque o apito. E fique o dito pelo não dito. E eu tão aflito. Sem reclamar. E ora vejas. Quantas cervejas. Pra consolar.
Façam o que quiserem. Doa a quem doer. Porque aquém ou além. Irei sobreviver. Batam no menino se quiserem. Arranquem o doce de sua mão. Ele já descobriu o segredo. Que é feito de cedo. Que o fim do seu medo. É o sim ou o não.

Teoria da Bondade


A bondade fere mais do que cura. Depende de onde. De quando. E por que.
 Não falo da bondade que dá o pão. Dá a água. O abrigo. Ou o carinho. Esta na verdade não é bem bondade. É o cumprir na natural das coisas. Se o homem soubesse quão divino é. Os problemas do mundo se resolveriam por si só. Porque na verdade nada temos. Ou se temos, tudo que temos é que não pode ser carregado nos bolsos ou trancado em baús. 
É da outra bondade que eu falo. A bondade cuja origem é o mal. A bondade que cortou o sonho. Que calou o riso. Que nos colocou na cama. Antes que a festa acabasse. A bondade que nos quis moldar ao seu jeito – para o nosso bem. Esta não é bondade. É a maldade em seu mais alto grau. Como um veneno que se põe açúcar para se dizer agradável. 
Como a disciplina que só cria tolos. Como a ordem para a preservação. Do nada.
Vês aqueles muros, senhores? E aqueles castelos adiante também? Não se iludam. Podereis tocá-los. Podereis senti-los. Acariciá-los ou se ferirem com cada uma de suas pedras. Mas somente isto. Na verdade o que existe são seus olhos. E o tempo deles já passou antes mesmo que viessem...
Deixem que a nota destoe. Que o conjunto da obra seja diferente e soe mal ao que não quer. O mundo não foi feito de regras. Mas de exceções. Muitos santos queimaram nas fogueiras. Até hoje os tribunais desculpam-se de seus erros. E juram descaradamente boas intenções.

Mistérios


Grandes mistérios, coisas simples. E o enigma sobre os dinossauros pode ser resolvido em jogo de amarelinha. Grandes opiniões, ciência dos loucos. Há flores pelo quintal e queremos o choro de todos os outros. Dêem-me palavras tortas e bonitas e saberei como cantá-las.
Grandes mistérios, um sucesso a mais. E tudo que se aprendeu feito em cinzas. Grandes conceitos, tudo virando pó. Há boas intenções aos montes e faltam-lhes plausíveis razões. Dêem-me blasfêmias modernas e eu as transformarei em preces.
Nada, possivelmente nada ou quase nada tem o tamanho do seu valor. E aí reside nosso erro. Nada que vem aos nossos olhos tem cor. E nada que é mais concreto do que aquilo que sentimos. Os deuses riem quando falamos algo sério e triste e se iram com nossas orações tortas.
Rosas parecem vermelhas, violetas parecem azuis. Cada gole que eu bebo, me leva embora para nunca mais voltar. Cada vez que enlouqueço, a verdade vem me visitar. Cada vez que respiro, a vida vem me lembrar.
Grandes mistérios, coisas simples. Uma canção num dia nublado lavando os ares. E um jogo de bola na rua censurando os homens. O sono é meu, o sono é meu e o divido com quem eu quiser. O desespero é meu e dele faço a festa que bem me aprouver.
Ontem ou sei lá que dia as palavras me fugiam, hoje, delas corro. Porque mesmo com lábios cerrados não as posso impedir em seu caminho. Nova York, Nova Delhi, Nova Gaia, Novo Mundo na canção de Tim Maia.
Velas ao mar, velas ao morto. Ai, ai, ai, meu amor fez meu pensamento torto.
Hoje é feriado, hoje é festa por exatamente não ter motivos para se festejar. Hoje é dia, hoje é sol e por isto a noite vem nos abrigar.

Culinária

Resultado de imagem para panela no fogao de lenha
Os gostos na boca ficaram. Se não os vejo é outra história. Sim, outra história bem contada ou não, mas sempre outra.
Em dias de chuva ou de sol mal resolvido, elas vêm à tona com mais intensidade. E se confunde com tudo e todos sem pedir licença alguma. Foi há muito tempo ou foi ontem. E a mesma proporção será guardada. Nada mudou ou tudo mudou e nem vemos. Foram beijos fatais desprovidos de amor propriamente dito, mas cheios de certa ternura.
Os cinco sentidos despertos. E colaborativos com o sexto. Não peça perdão por um pecado que não existiu. O sacrifico já começou. Faça a sua parte. Alguém morreu por você. Honre sua morte. Não florirão mais. Mas você sonhará ainda. Não farão outros sacrifícios. Mas viverão em sua respiração. Tudo se confundirá muito além da física quântica.
Um dia foi na calçada. E se já falei nisso, muito mais ainda falarei. As frases serão escolhidas sim. Com o mesmo carinho que tive em uma época boa. Os sóis caíram um a um. Mas nada o pôde consumir. As noites escureceram cada um dos painéis. Mas isso pouco importou. Eles foram. Eles são. Eles serão. Tão importantes como nem eu fui.
Águas. De um sonho nebuloso ou realidade? Nos velhos rótulos novidades mais que cientificas. Beijos de açúcar açucararam nossa vida. Suspiros não escutados. Mas dados. Cânticos quase que religiosos em mudas palavras.
Águas de novo. Algumas límpidas, outras nem tanto. Umas que passam. Outras que perseguem. Umas que acariciam. Outras que batem.
Peças. De um teatro. Ou de um quebra-cabeças. Ou de alguma coisa que valha.

Não Flores


Não flores como estas de rua.
Não flores como estas de bar.
Mas como as do meu despropósito
Simples como o meu te amar.

Não flores feitas de sonho.
Não flores do sonho se morrer.
Mas outras rudes e roucas
Feitas do meu bem querer.

Não flores feitas de pedra.
Não flores feitas de quase nada.
Mas flores feitas de meu sangue
Tapete pra você passar na estrada.

Não flores feitas de gozo.
Não flores feitas só de espinhos.
Mas flores que escolhem passos
Pra poder passar no caminho.

Não flores com promessas loucas.
Não flores de vã certeza.
Mas flores quem vêem a alma
E nela tua beleza.

Não flores cheias de sono.
Não flores filhas do escuro.
Mas flores de cada passa
Que olham só pro futuro.

Não flores que falam baixo.
Não flores que pegam leve.
Mas flores que falam alto
Com seu discurso mais breve.

Não flores como estas de rua.
Não flores como estas de bar.
Mas como as do meu despropósito
Simples como o meu te amar. 

Desculpe, Foi Engano


Desculpe, foi engano. 
Eu pensei que os sonhos fossem iguais em cada ser humano. 
E que pudéssemos dividi-los sem qualquer plano.
Continuem senhores, sentados. 
Há projeteis para todos os lados. 
Há mortos para serem enterrados. 
E grandes segredos de estado.
Desculpe, foi engano. 
Eu pensei que os sonhos fossem para todo ser humano. 
E que a roupa fosse apenas o pano.
Continuem senhores, assistindo. 
Os prédios que vão caindo. 
Os loucos que vão sorrindo. 
E os balões que vão subindo.
Desculpe, foi engano. 
Eu pensei que o mal entrasse pelo cano. 
E o que fosse reparado qualquer dano.
Continuem senhores, mastigando. 
Os soldados vão delirando. 
Os amantes amando. 
E os amores definhando...




Todas


Eu ainda não esqueci os encontros. Que foram tristes. Mas foram alegres. Que foram alegres. Mas foram tristes. E trago todos eles guardados em meus bolsos. Eu tenho teu rosto na mais impossível das batalhas. Onde cada instante era um. E nada mais andava comigo. Onde estás? Em algum canto. Sorrindo sem se importar. Ledo engano de pensar que me desespero. Eu carrego o vento daqueles dias. E faço uma canção em cada minut consegui chegar ao chão. Alcei voo pra não sei que dimensão. Mas nem lá fiquei. Eu te quero como o viciado quer uma bebida. E hei de passar mal de te beber. Mas insistir mesmo assim. A embriaguez o. É o hálito. É o som. E a voz também. Atravesso as pontes. E se elas caem. Não importa mais. Eu te coloquei numa gaiola dourada. Num círculo de fogo. Numa caverna profunda. Pra te defender de mim mesmo. Não há demônio que se iguale. Outrora perseguido por coisas tão pequenas. Hoje te persigo em cada esquina. Caia o mar em novos tsunamis. Encham os jornais de trágicos enredos. E tentem me obrigar fazer versos perfeitos. A perfeição nunca me visitou. Mas já a vi andando em outras ruas. Eu subi num alto prédio. Mas nãoque todos os dias me visita. Onde estás? Não tens culpas. Mas a tragicidade faz parte do show. Nada é por acaso. Só os amores que torturam. As dores que não vão embora. E o cheiro de morte que enfeita o ar. Estou sozinho e dispenso notas. Sou o pior de todos. Mas sou o mais triste. Haverá perdão? Quanto mais pedir. Há de ser negado. Do topo do mundo vejo outros sonhos. Sonhos que não são meus. E palavras que nunca falei. Nem mesmo calado. E não vejo tanta diferença assim. Encene a peça. Chore por chorar. E diga que não me ama fazendo cara feia. Se aborreça. Diga que eu entendi mal a sua fala. E que nosso encontro foi uma farsa arquitetada pelo destino. Eu sei. Mas teimo. Eu quero. E queimo. Eu rimo o improvável provável. E falo em todas as línguas menos a minha. Sou um estranho de mim mesmo. E teu rosto a causa de todas as ressurreições. Eu levanto do túmulo ao terceiro minuto. Pra que esperar mais? A vida já é o que é... No corpo imortalizo a alma. E antes que se acenda a primeira vela. Já terei rezado meu desespero. Em bando as aves no céu. E um mar bem longe sem porto de salvação. Deixe beber até cair em teu colo. E nada mais...

sexta-feira, 13 de julho de 2012

A Verdadeira História de B...


Não me importa quantos copos você bebeu. Ou quantas noites passou em claro. Ou que rua. Já tive minhas noites de animal noturno. Hoje em dia não tenho mais. Me sento em frente as minhas palavras. Enquanto a vida insiste. E a morte não vem. Me importa um coração triste e escondido. Me importa uma alma pura como a minha não foi. Me dê um cigarro. Ria pra mim. Não me fale o que fez. Não me mostre o que tem no bolso. Nem fale da tua tristeza de sonhos mortos. Eu quero passar as mãos nos teus cabelos. Como se fosse um bicho de pelúcia. E com o cuidado de quem coloca a última peça num quebra-cabeças. Você é linda. Já lhe disse isso tantas vezes. E vou repetir enquanto meu sono não vem. Você é maravilhosa como a festa que não fui. Como a dança que não sei. E como as terras que meus pés nunca pisaram. Vem de longe em qualquer uma asa. Ou navega neste mar desconhecido. E me encontre. Não que eu seja um santo. Prometo ser o mais lascivo possível. Mas como um anjo recém expulso do céu. Misturando a sua delícia e meu desespero. O seu riso franco e o meu semblante sério. Eu sei que o seu sono chega. Prometo que logo logo lhe deixarei dormir. Eu sei que o cansaço cobra seu preço antes de ir embora. e ao seu lado velarei seu sono. Não a incomode sol. A lua comprou seus direitos. Não importune som. Há cantos em todas as luzes da rua. E ainda milhões de pirilampos. Asas existem muitas em quaisquer lugares. Eu espero mais tarde que desperte. E aí sim. Verá o sorriso que quase ninguém vê. E aí sim. A próxima noite será minha...

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Eu Queria Ser Burguês


No meio do trânsito engarrafado
Escutando notícias tristes e normais
Xingando e xingado
Em letras garrafais
Normal e alienado
Como qualquer pessoa faz

Eu queria ser burguês
Um pesadelo em cada mês

Chegando em casa cansado
Meus pés não aguentam mais
Mal servido mal amado
Tanto fez e tanto faz
Não há certo ou errado
A novela nos satisfaz

Eu queria ser burguês
Só um amor de cada vez

Sentado à mesa calado
Em discursos tão normais
Com medo e assustado
Do que ficou pra trás
Quero dormir acordado
Os meus sonhos de Alcatraz

Eu queria ser burguês
Igual ao que a mídia fez

À noite num leito emprestado
Tentando gestos sensuais
O meu tesão acorrentado
Como todo mundo faz
E além um mar não navegado
O qual não existe cais

Eu queria ser burguês
E falar errado meu português

Na outra manhã acordado
As crianças e seus cereais
Depois meu carro importado
Pra rotina dos sociais
Ou talvez um retrato estampado
Acidente em todos jornais

Eu queria ser burguês
E ter pesadelo fim de mês...

terça-feira, 10 de julho de 2012

Poeminha Feito de Sonhos


Não há nada tão bonito
Quanto teu rosto
Com o cansaço da vez passada
Mesmo que isso custe
Os sorrisos que não tive
A preocupação se está tudo bem
E o perigo de mais uma vez
Já passou
Cada dia um dia
Ou melhor
Cada noite uma noite
E não queria
Mas mesmo assim
Levanto um brinde
Para toda a loucura
Que nunca terei
E não queria
Mas ainda assim
Versos e versos hão de lembrar
De coisas impossíveis
Pena que seja assim
Poderia cantar uma canção
Tão suave quanto desse
Que nem uma caixinha de música...

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Ainda


Ainda que falte a alma
Sobrará o corpo
Que relembrará de velhos dias
Que a retina guardou
E nunca mais partirão

Ainda que falte o corpo
Sobrará o sopro
Que animará outras vidas
E neles fará
Velhos sonhos renascerem

Ainda que a vista escureça
A luz brilhará
E nos quintais haverão bandeiras
E haverão novos gritos
Saudando o tempo

Ainda que falte a luz
Sobrarão os olhos
Atentos no meio da noite
Procurando novos gostos
Para saciar a boca

Ainda que tudo falte
Que as janelas se fechem
Em pesado silêncio
O sonho viverá
Mesmo que escondido

Ainda que nas janelas
Nada se tenha
A vida continuará lá fora
E a alma terá peso
E ainda terá espaço

Ainda que faltem versos
E que o poema seja bobo
O carnaval virá
Com suas eternas máscaras
E o enredo viverá

Ainda que sobre o bobo
E os versos fujam
E o jogo seja sujo
E os dados se viciem
Em sua eterna jogada

Ainda que o meu medo
Seja uma constante
E a morte bata na porta
Ainda assim o poema
O mesmo poema viverá...

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Poesia, Poesia


O sangue que corre nas veias. Quente na manhã fria. Poesia, poesia. E os meus olhos olhando. E vendo o que não mais via. Poesia, poesia. E meus pés que vão andando. Por uma estrada vazia. Poesia, poesia. E eu não tendo mais sonhos. E, afinal, quem teria? Poesia, poesia. O que não mais sei fazer. Em vão aguardar alegria. Poesia, poesia. O que eu vejo no alto? O começo do fim do dia. Poesia, poesia. Que fiquem guardados pra sempre. Aquilo que a alma dizia. Poesia, poesia. Do nada vindo do nada. Somente uma canção vadia. Poesia, poesia. Em tudo há de tê-la. Até onde não havia. Poesia, poesia. Muita coisa se perdeu. Mas mesmo assim havia. Poesia, poesia. Até onde a mente. Por si só recusaria. Poesia, poesia. Sem medo, sem preconceito. Sem nenhuma hipocrisia. Poesia, poesia. Tenho tantos motivos. É mar ou é maresia? Poesia, poesia. Estreitos becos, também caminhos. Sina capaz, picardia. Poesia, poesia. Guerra, estado de sítio. A mesma idiossincrasia. Poesia, poesia. Sentir dentro de mim. Mais que psicografia. Poesia, poesia. Em mil cenas registradas. Muita fotografia. Poesia, poesia. Cinema de domingo. Roda-gigante que subia. Poesia, poesia. As cartas na mesa. Como ninguém queria. Poesia, poesia. O improvável e o insólito. E outros tons de folia. Poesia, poesia. Vamos beber deste vinho. A loucura será nosso guia. Poesia, poesia. A novela na tela. A louça suja na pia. Poesia, poesia. A moda mais brega. É a maior fantasia. Poesia, poesia. Foram muitas coisas. Os doces de minha tia. Poesia, poesia. Não vejo mais estas ondas. Mas sinto a maresia. Poesia, poesia. O que eu quero. Você queria. Poesia, poesia. Minha testa ainda arde. E não é hipocondria. Poesia, poesia. O mapa-mundi. E a nova caligrafia. Poesia, poesia. O sangue corre nas manhãs. Quente na minha veia fria. Poesia, poesia...

Come Na Cuia

Comê na cuia Comê na tuia Comê na nuia Experimente o berimbau catreiro Em todas as noites de pé de sapo! Paca tatu Paca tutu Paca Dudu Apert...