Por mais caminhos que ande, desconheço coisas e pessoas. As coisas ficaram sem alma e as pessoas sem nenhuma alegria. E é por isso, não mais que isso, que eu não entendo o dia...
Por mais que as novas cores sejam brilhantes, eu as desconheço. São cores tão brilhantes sim, mas cobertas de apatia. E é por isso, não mais que isso, que eu não entendo o dia...
Sou um estranho em meu próprio tempo, muito diferente dos demais. Eu procuro o que não existe mais, mas que já me deram muita euforia. E é por isso, não mais que isso, que eu não entendo o dia...
Parece que estou indo ao meu próprio enterro, vão sepultar quem já morreu faz muito tempo. A paixão ainda é quente, mas a terra é apenas muito fria. E é por isso, não mais que isso, que eu não entendo o dia...
A vida corre apressada, estão todos buscando o que não perderam. Cada um é apenas o dono de sua mais mórbida idiossincrasia. E é por isso, não mais que isso, que eu não entendo o dia...
Os passos nunca estiveram tão vacilantes, tudo é destruído por fruto de um malvado acaso. E somos fiéis de cada estonteante apostasia. E é por isso, não mais que isso, que eu não entendo o dia...
Novidades não duram um segundo, tudo foi feito para servir à obsolescência. Um fantasma nos persegue em nome de estranha tecnologia. E é por isso, não mais que isso, que eu não entendo o dia...
Viver agora é apenas um termo, nunca estivemos tão próximos da nulidade. E a beleza só funciona mesmo como uma vã teoria. E é por isso, não mais que isso, que eu não entendo o dia...
Eu olho tudo o que vai se sucedendo, façamos um brinde ao fim. O fim de cada um, o fim de todos, sem nenhuma hipocrisia. E é por isso, não mais que isso, que eu não entendo o dia...
O dia que deveria ser de todos, o dia que deveria ser de muitos. Um dia de sol quente ou de qualquer chuva, isso não importaria. E é por isso, não mais que isso, que eu não entendo o dia...
(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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