sábado, 30 de setembro de 2023

Maitó

Sempre que grande e pequeno

Astuto bastante e inocente

Amargo remédio e veneno

Pura lógica mais incoerente


Espada de fogo com carícia

Ineditismo de fato consumado

Bandido com cara de polícia

Plano certo que deu errado


Ferida aberta sob a cicatriz

Coberta que esfria e esquenta

Risada histriônica de um infeliz

Pedra dura que não foi noventa


Mártir atira pedras na multidão

Feitiço feito páginas do evangelho

Defunto que carrega o seu caixão

Novo que já morreu de velho


Guerra de ninguém com tudo

Trompas de falópio bem altas

Apenas espinhos com veludo

Meus troféus são minhas faltas


Dançarei xaxado entre o fogo

Quero ser o governante do nada

Quero chorar antes desse rogo

Bater cabeça bem na encruzilhada


Fiquei pelado estando vestido

Morri de sede me afogando 

Ser vivente sem ter nem nascido

O maior dos amantes te odiando...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

De Vez De Vez 2 (Brasilidade Non Sense 2)

Poisintão entonce

O maricu donça é once

Maridu di lesma é lesmo

Nunca mai fui o mesmo

Vou bibê inté caí

Num tô neim mai aqui

Num colocu meia

Por mode medo di sereia

Meo pataco caiu

E ninguéim viu

Buchim quasi chei

Chegui logo se apeie

Delei raspava a sombroncelha

Pudia raspá a cutelha

Lembra da Filismina?

Pois foi pá mina

Junto co barão du teu rabo

Aqueile beim brabo

O barão da nota véia

Queim peidou aí na platéia?

Agaranto quinum fui ieu

Devi ter sido u Zebedeu

Reinata é puita bairata

Iara meti a cara na laita

Bibico faiz cara difurico

Tava doidaum e bebeu nu pinico

Correu peilado nu campu

Paco paco paco paco

Mideu coiceira nusacu

Tou quineim pagagaiu in poera

Andaindu quineim loco nabera

Mangangá mi moideu

O fidaipuita inda num moirreu

Joia didoci é diprásticu

Proigraima didumingo ié Fantasticu

Numpaissa aperna nimim naum

Sôpió qui tubairaum 

Iwu tou joinha joinha joinha

Inum tou tendu neim furinha

Kinó faiz o cardu mió

Ieu cada dia tou mai pió...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Um Anjo (Para J.)

Um anjo sem sexo definido

(Desde de a queda de Constantinopla)

Um anjo safado

Quase perdendo seu lugar no céu...

Debochado, encrenqueiro,

Com todos os adjetivos que não se quer...

Daqueles bem vulgares,

Anjo de figurinha,

Daqueles que capricham no almoço

E chegam bêbados para o jantar...

Anjo de família,

Mas que esconde o flagrante no bolso...

Que tem medo do amanhã

E se esquece da eternidade...

Que ama e nem sabe amar,

Que transa e esquece de gozar...

Um anjo com olhos desiguais,

Seios desiguais, 

Vida mesquinha desde que veio de lá...

Um anjo que beijou a boca dos meninos

E também beijou a boca das meninas...

Com contas à pagar, 

Dormindo além da conta

Em nuvens que não existem mais...

Que curte pagode e funk,

Mas está mais pra um heavy metal...

Que não conhece meus olhos de tocaia

Perdidos no meio da mais total escuridão...

Anjo de bem e de mal, 

De rimas quase insuficientes,

Que fica bem com vestido de luto...

Um anjo sem sexo definido,

Que tem o bem querer desse demônio aqui...


(Extraído o livro "Só Malditos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Dia Estranho (Miniconto)

Foi um dia muito estranho. Desde que acordei hoje de manhã não escutei nenhuma discussão na minha rua. Aquele meu vizinho que está sempre de cara amarrada me cumprimentou e até esboçou um sorriso. Não tinha lixo jogado na rua como sempre fazem. Não vi ninguém bêbado falando bobagem na porta da barraca. Antes de sair de casa, vi o noticiário da manhã e não tinha nenhum assassinato, só algumas reclamações sobre o governo em geral. Até um vira-latas passou abanando o rabo e não fugiu arisco como sempre fazem. Dia estranho mesmo...

Sobrevivência (Miniconto)

Acontece assim. É pura verdade. Dá até pra filosofar, sabe? Pra comer, os outros é que têm que comer. É difícil entender? Pois eu acho fácil até demais. É o que chamam de círculo vicioso. Numa cadeia alimentar meio louca. No fundo, no fundo é assim mesmo. Comida, sexo, sobrevivência. Comida pra não morrer de fome, sexo pra posterioridade, sobrevivência que pode ser muita coisa, depende de casa um. Vai aí um cachorro quente, freguesa?

À Esquerda (Miniconto)

 

Olá! Deixe me apresentar. Sou o morador daquela cova ali da esquerda. Não tem nome e nem é preciso. Todos daqui possuem números. Não possuem nomes. Sabe como é... A vida nos deixou anônimos, sofremos o tempo todo por uma questão ou outra de fatalidade. Chamam isso de destino. E quando veio a morte... Foi do mesmo jeito. Sem nomes, sem data, sem um epitáfio sequer. Mas de certa forma, está ali nossa imortalidade, sem rosto. Não demorará muito tempo para sermos substituídos por outro que foi também infeliz. Mas por enquanto estou aqui... Vejo que você trouxe algumas flores, mas não as colocou para ninguém. Não sei porque isso aconteceu, mas tudo pode. Então se quiser, sou o primeiro à esquerda. Coloque-as lá. Vou ficar muito feliz...

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

O Tempo É Um Absurdo Que Falta No Céu


 A fé é apenas o pau da barca

Todos os meridianos são iguais

Colares de plástico verde inigualável

E sorrisos quebrados por quedas

Eu morro ainda por qualquer coisa

Desde que não seja na hora exata

Estar onde estou é um novo enigma

E os frios são maiores que os calores

Alegria de palhaço é ser testemunha

Do circo se afogando em nuvens

A maior de todas as nossas invenções

Foi sem dúvida a bolinha de gude

Todos os caixões são aumentativos

Meias e cântaros de louça são geniais

Cuidado com a laje que o santo é de pedra

Tenho gripe dia sim e outro também

Sonho com os mortos todos os dias

Andar não é mais para mim nunca mais

Eu sigo todas as modas que acabaram

Acorde quem esteja dormindo e pronto

A boca está amarga e o coração azedo

Bato palmas até minhas mãos doerem

Tenho tantos versos que já esqueci alguns

O estar me ajuda não me engolindo 

Mas onde me castiga com labirintos

O meu cochilo é em redes sociais

O cansaço atinge as velas e elas apagam

Acho que eu mesmo sou o meu cansaço...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 26 de setembro de 2023

Um Barulho Estranho No Meio da Noite

Um barulho estranho no meio da noite...

Talvez de um ser dentro de outro ser...

Pode ser também um pássaro noturno...

Ou mais um tiro galopando pelos céus...

Qual será o teu trágico destino?


Uma maldição vinda dali de perto...

Algum bar que ainda teima aberto...

Onde algumas mágoas procuram alento...

Nada está seguro ante as tempestades...

A morte virá também tomar seu trago?


Uma maquiagem meio que borrada...

Música da moda tocada nos puteiros...

Rugido silencioso de alguns automóveis...

Pouca roupa e muitas coisas não-contadas...

Qual teu preço para mais uma ilusão?


Cores mortas pelas calçadas do cidade...

Papelões e jornais embalando sonhos...

Esse frio é pior do que o dos infernos...

Sempre sobra alguma inocência para a manhã...

O sol virá cumprir o seu papel?


Um barulho estranho no meio da noite...

Acendo mais um cigarro e caminho triste...


(Extraído do livro "Ele É O Pássaro" de autoria de Carlinhos de Almeida).

O Banquete dos Imbecis

A mesma reta para todos

O pobre e o rico fora da geladeira

O bebê e o centenário

O pregador e a puta


A mesma sina para todos

O pobre e o rico não possuem nada

Esse ou aquele

A cidade e o morro


A mesma lida para todos

O pobre e o rico também precisam

O nativo e o estrangeiro

O poderoso e o mendigo


A mesma dança para todos

O pobre e o rico também adoecem

O homem e a mulher

Quem crê e quem duvida


A mesma pena para todos

O pobre e o rico também se cortam

O herói e o covarde

O presente e o ausente


Só os imbecis não conseguem enxergar isso...


(Extraído do livro "Ele É O Pássaro" de autoria de Carlinhos de Almeida),

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Ele É O Pássaro

Ele é o pássaro...

Com suas plumas negras

Herdadas da mãe do mundo

Por sobre um Atlântico Oceano

Com mistérios insondáveis...


Ele é o pássaro...

Condor em todas as alturas

Ultrapassando as nuvens

E quase tocando as estrelas

Com seu silêncio andino...


Ele é o pássaro...

Mistura de Ícaro e de Hermes

Ao som dos tambores

Em volta das velhas fogueiras

Cantando em todas as noites...


Ele é o pássaro...

Passarinho acordando o dia

Invasor de todos os quintais

Dono de todas as cores possíveis

Com a voz de um menino encantado...


Ele é o pássaro...

No olhar de todos os poetas

Folhas esvoaçantes e flores miúdas

Frases de amor bem guardadas

Segredos inconfessáveis para partir...


Ele é o pássaro...

E o pássaro também sou eu...


(Extraído do livro "Ele É O Pássaro" de autoria de Carlinhos de Almeida).

O Rei do Nada

 

Pura insistência (inútil)

De derrubar paredes com cabeçadas

De quebrar pedras com socos

De gastar água com choro...


Palavras ditas ao vento

Palavras ditas para o vento

(Esqueceu que o vento é surdo...)

Como frases em muros ou banheiros...


Otimismo barato vendido à prestações

Mãos estendidas por alguns likes

(O mesmo dedo na tecla ou na tela

É o que aponta e também condena...)


Ele colocou uma coroa de plástico

Seu cetro é um cabo de vassoura

Sua capa a velha toalha de banho

Só falta agora poder também voar...


Decretou a praça o espaço de todos

Onde meninos e pássaros habitam

E colhem pequenas flores sem nome

Para um eterno carnaval ou ciranda...


Ele fez careta e deu língua pra morte

Caiu na gargalhada pelos tolos

Fez as bombas congelarem no caminho

Como quem para a cena no meio...


Bebeu o último gole de refri da pet

Num brinde ao que mais interessa

(À vida, essa bonita tão malvada)

Esperando suas novas asas crescerem...


Pura insistência (inútil)

Querer levar o que não se leva

Esquecer o que se tem de melhor

E não ser rei do que mais existe - o nada...


(Extraído do livro "Ele É O Pássaro" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 24 de setembro de 2023

Alto-Retrato

Foi num carnaval desses sem carnaval

Que um anjo caiu lá de baixo

E não voltou mais pra casa...


Vamos chorar pela dor sem dor alguma

Em miraculosas festas sem motivo

Amar amores mais que impossíveis

Com a distância que nos mata

E o tempo nos faz virar apenas pó...


Numa maternidade como existem muitas

Que surgiu um medo sem fim

Com os muitos passos que não são mais...


Arrume bem esse seu lindo terninho azul

Espere o momento com calma

O velho Ford nos espera lá fora

Hoje à noite iremos para o parque

O calor ainda não nos abandonou...


A casa era pequena e a alma menor ainda

O quintal era o mundo todo

E o poço toda nossa profundidade...


Não me conheço nem em frente ao espelho

Essa cara ainda continua suja

As mesmas lágrimas ainda correm

Feito um rio que águas turvas

E as mãos agora tremem bem mais...


Virem a câmera para o outro lado

Não fotografem este meu fracasso

Em insistir com palavras não-escutadas...


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Poesia Gráfica LXXVI

C A I P I R A

C A T I R A

D Á E T I R A

P Á E A T I R A

T Á S A M B I Q U I R A

S E M A L I R A

É M E N T I R A

C A I E P I R A


...................................................................................


E S T É T I C A

S O M E N T E É T I C A

M A S T Ã O P A T É T I C A

D E C A M I S A S E M P R E

A C A S A A R U A E O M U N D O

P O E T A S S Ã O O Q U E S Ã O

O U O Q U E N Ã O S Ã O T A M B É M

E S T É T I C A 

E X - T É T I C A


...................................................................................


U M P U L O U M S A L T O

M E S C L A D E D O R E D E A T O

M O V E O T E M P O E A H I S T Ó R I A

B A S T A R D A E I N G L Ó R I A

A I A I A I D E N Ó S

N U M G R I T O S E M V O Z


...................................................................................


U I A

D E V O L V E M I N H A C U I A

U I A

Q U E I M A R A M M I N H A T U I A

U I A

G R I T A R A M A L E L U I A


...................................................................................


U M A D O S E D E D O Z E 

O V E R D O S E S E M P O S E

U M D O Z E S E M D O S E

U M A P O S E S E M O V E R D O S E


...................................................................................


U M P U L O E U M G R I T O

T Á M A I S Q U E F E I T O

F E I O O U B O N I T O

N Ã O T E M M A I S J E I T O

P O D E S E R E S Q U I S I T O

M A S É V I N D O D O P E I T O


...................................................................................


D E S C O N H E C I D O

D E S E R T O S E M Ó A S I S

D E S E R T O S E M C A M E L O

A S S I M M E S M O A N D A N D O

A T É A M O R T E C H E G A R

D E S C O N H E C I D O

O U I N C O N H E C I D O


...................................................................................

terça-feira, 19 de setembro de 2023

De Vez De Vez 1 (Brasilidade Non Sense 1)

Ih! Ieu zóio u espeio

Inquanto cortu o cabeio

Feitu firgurinha

Dasbem tiguinha...

Moçabinita amostrou raibo

Niesse mundo mal caibo

Caio reto ni asfalto

Mãozi pros zalto!...

Meiia lata di cocô pru Caitano

Cum dia já foi manu

Ho né não mais

Parmas pru rapais!...

Inquanto coço as viria 

U patu já mia

U bodi fais sopranu

Ientra anu nosanus...

Zinabru fudidu maita

Renaita comi na laita

Beisteira poca ié beisteira

Quasi dei cagaineira...

Tu brinca cum meo brincu?

Deis nu meiu é cincu?

Num vô nu meo interro

Itá cheim de erro...

Capadócio caipa poicu?

Miassigura que toilocu!

Foi apassiá nosInfernu

Dicu difora iternu...

Praquê tanta inhorância

Sipraventu num tem distância?

Vaisentá ni muluncia

Pragasquerosa di tia...

Ieu batu us pratunapeirna

Minha morti maimoderna

Xerebo quiudiga

Mimpuita maiantiga!...

Ih! Ieu zóio o espeio

Inquanto cortu u penteio

Feitu firgurinha

Né nom miputinha?...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

São Os Dias

São os dias que me trouxeram aqui,

Sim, eles que trouxeram, sim...

Eu chorei na maternidade

(Numa madrugada fria e chuvosa)

E não me lembro se depois olhei o sol

Ou se simplesmente dormia...

Dias longos, mas bem curtos,

Povoados de inúmeras tristezas

E de algumas esparsas alegrias

(Felicidade? Essa quem conhece?)...

Dias cinzas, tentando serem azuis,

Povoados de medos e de incertezas,

Mesmo quando viver requer coragem

E a ousadia que se é possível...

Os carnavais já foram embora,

Os que amamos um dia também foram,

Tudo é uma grande despedida

Mesmo quando isso não existe...

A vida é apenas um (in)terminável espera

Para que então o último deles chegue...

São os dias que me trouxeram aqui,

Sim, eles que trouxeram, sim...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Máximos e Mínimos

 

O máximo para o rico

O mínimo para o pobre...


O máximo é ausente

O mínimo é transparente

O máximo é excludente

O mínimo é carente...


O máximo para quem tem

O mínimo para quem não tem...


O máximo a mansão

O mínimo o papelão

O máximo a mansidão

O mínimo o pelotão...


O máximo é o nobre

O mínimo não tem cobre...


O máximo tudo come

O mínimo só tem fome

O máximo tem nome 

O mínimo se consome...


O máximo fala o que quer

O mínimo aceita o que vier...


O máximo faz drama

O mínimo faz lama

O máximo tem cama

O mínimo nem ama...


O máximo para o rico

O mínimo para o pobre...


(Extraído do livro "Palavras Modernas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 17 de setembro de 2023

Suprema Arte de Fingir (Feito Um Filme)

Ela finge que goza,

Ele finge que gosta,

Ela diz que deseja,

Ele faz que concorda...


Leia bem esse roteiro,

Vamos todos prestar atenção.


Ela fala que é boa,

Ele fala que presta,

Ela declara que ama,

Ele se diz apaixonado...


As instruções estão na bula,

Não erre nunca na dose...


Ela fala ter o mundo,

Ele diz mandar no tempo,

Ela fala em amar a vida,

Ele diz não temer a morte...


As câmeras estão preparadas

E a filmagem já vai começar...


Ela desdenha o dinheiro,

Ele não liga pra fama,

Ela dispensa os likes,

Ele não quer seguidores...


Tudo é apenas um comercial

Para vendermos o produto...


Ela não tem preconceito,

Ele não possui nenhum medo,

Ela é uma saudosista,

Ele chora o verão passado...


Todos falamos o que não sabemos

E estamos conscientes da tolice...


Ela finge que goza,

Ele finge que gosta,

Ela diz que deseja,

Ele vai e dá que corda...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Céu Sem Céu

Céu azul, céu sem cor, céu verde,

Céu amarelo,

De acordo com a vontade do freguês,

Coloque filtro,

Ou coloque aquela máscara,

Já está pronto,

Não falemos mais nisso...


Não vou mais na praça, sou ela mesma,

Quase encanto,

Grito dos meninos, todos os domingos,

De forma realmente

Abstrata feita qualquer uma pedra ali,

A minha imaginação

Seria mais talvez etílica bebendo algum...


Pássaro rasteiro, amigo fiel do chão,

Na vida não voei,

Só nasceram as penas, todas elas cruéis,

Que nem injeção,

Que nem ponta de faca, entrou na carne,

Não sai mais de lá,

Todo hábito acaba fazendo sua morada...


A juventude já morreu de sua velhice,

Cabelos brancos,

Fique bem ali, logo naquele seu canto,

Olhe para parede,

Disfarce agora com aquele disfarce,

Só esperaremos

A folha acabar caindo ao chão...


Céu sem céu, é isso...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Milagres e Não-Milagres

A vida não é milagre,

a vida faz milagres...


Faz que tudo se repita

mesmo sendo diferente,

Mesmo que os dias morram

todos eles hão de voltar...


O tempo não é milagre,

o tempo faz milagres...


Transforma pedras em pó,

sementes em florestas,

Engole toda água existente

e as nuvens mergulham do alto...


O amor não é milagre,

o amor faz milagres...


Faz o Inferno virar céu

e o humano ser humano,

Água se tornar vinho

e vinho se tornar sangue...


A fantasia não é milagre,

a fantasia faz milagres...


Inventa novas cores,

transforma todas antigas,

Escreve em outras línguas,

inventor de novas palavras...


A morte é milagre,

a morte não faz milagres...


Espera bem-comportada,

fará sua lição de casa,

Não reconhece ninguém,

mas não maltrata coisa alguma...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 16 de setembro de 2023

Lições

Quero cair feito um bêbado

Quero chorar feito um corno

Sentar na próxima calçada

Esperando ela que nunca passa


Quero comer feito um lobo

Quero gritar que nem o dia

O dia que grita sempre

Com suas alegrias e desgraças


Quero rir igualzinho um tolo

Esquecer o medo feito um soldado

Olhando ansioso pra esquina

Pra ver a hora que a banda passa


Quero dançar feito um louco

Brincar que nem uma criança

Fazer brinquedos com nuvens

Rodar nessa ciranda da vida


Quero rezar como numa conversa

Dizer que as estrelas são minhas

Não ocupar mais nenhum espaço

Mas poder todos os possíveis


Quero cair feito um bêbado

Quero chorar feito um corno

Chorar em desespero na calçada

Porque ela passou e eu nem vi...

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Perfeição S.H. (É Um Blues)

É um blues! É um blues!

Gritaram todos os palhaços

Lascivos como tais

Numa amnésia de dar dó...

É o lobo! É o lobo!

Pois o meu classicismo

Chora e ri ao mesmo tempo

Por esses meus mortos...

Venha cá! Venha cá!

O mesmo rosto vermelho

Assombra meus traumas

Enquanto me acho vivo...

Alto lá! Alto lá!

Elas beijam na boca

Nos mais de quarenta minutos

No meio dessas feras...

Viva o Cão! Viva o Cão!

Coloquei meus pecados

Numa linda moldura

Para pendurar na parede...

É no meio! É no meio!

Escalei com coragem

Teu monte-de-vênus

Mais que o Himalaia...

Nas nuvens! Nas nuvens!

Um olhar mais bonito

Que um samba-enredo

Ganhador do carnaval...

Olha a bomba! Olha bomba!

A minha libido cardinal

Cata conchas na praia

Enquanto há tempo...

É um blues! É um blues!

No mais absoluto silêncio...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Poesia Gráfica LXXV

E S Q U E Ç O L E M B R O

L E M B R O E S Q U E Ç O 

A T R I S T E Z A F A Z E S Q U E C E R ?

O E S Q U E C I M E N T O E N T R I S T E C E ?

O T E M P O E N G O L E T U D O . . .


...................................................................................


A H T A L H O S

A H P R E Ç O

A H M A N T E S

A H D I A N T E 

A H V A N T E

A H F I C C I O N A D O

A H T A R E F A D O

A H M O R


...................................................................................


T U T T I - F R U T T I

D E M A S I A D A F A N T A S I A

D E M A S I A D A I L U S Ã O

D E M A S I A D A N A D A H A V I A

D E M A S I A D O Q U A S E N Ã O

T U T T I - P U T T I


...................................................................................


Q U E D A D E B R A Ç O

Q U E D A D E E S P A Ç O

Q U E D A D E P A S S O

Q U E D A E C A N S A Ç O

Q U E D A D E C A B A Ç O


...................................................................................


O C I N Z A T A M B É M É C O R

É C I N Z A A M I N H A D O R

É C I N Z A O M E U H O R R O R

É C I N Z A O M E U A R D O R

É C I N Z A O M E U R A N C O R

É C I N Z A O M E U A M O R 

O C I N Z A T A M B É M É C O R


...................................................................................


O T E M P O É R E L Ó G I O Q U E B R A D O

O T E M P O É Q U E B R A D O R E L Ó G I O

O T E M P O É R E L Ó G I O

O T E M P O É Q U E B R A D O


...................................................................................


O P O E T A C O M E P A L A V R A S 

O P O E T A C O M E S E N T I M E N T O S

O P O E T A C O M E N U V E N S 

O P O E T A C O M E E S T R E L A S

O P O E T A N Ã O C O M E

O P O E T A P A S S A F O M E


...................................................................................

Stonks

Velhos remédios

Para novas feridas

O apito da fábrica 

É apenas um réquiem

O poeta pega sua flauta

Feita de humanos ossos

E toca em seu passeio

Por essa viva necrópole

Dicionários carnavalescos

Me exibem gentis

As novas bundas

Como quem não pode

Escolher um doce

Pois não possui moeda

Vamos pular na arena

E puxar a juba dos leões

Entrar nas fogueiras

E rir das Inquisições

No abismo colheremos

Flores-de-maios azuis

Sem cabelo nenhum

Para então enfeitar

O pobre coitado

Esqueceu de fechar 

A sua triste braguilha

Mas não havia sexo lá

O fantasma esqueceu

Suas correntes no além

E seu cartão de crédito

Falsos profetas

Exibem a bondade inexistente

Enquanto pedem cabeças

Para o afiado machado

Nas mãos do carrasco

O poeta corre léguas

Com suas fracas asas

Chorando em desespero

Pelos bitcoins que perdeu

O plano já está feito

A sujeira sob o tapete

O morto no armário

A bomba bem embrulhada

O rosto virado

Para o outro lado...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Come Na Cuia

Comê na cuia Comê na tuia Comê na nuia Experimente o berimbau catreiro Em todas as noites de pé de sapo! Paca tatu Paca tutu Paca Dudu Apert...