sábado, 30 de abril de 2016

Ainda


Ainda não fui almoçar com os canibais
E nem sei bem de onde é que eu venho
Quais são todos os pecados que eu tenho?
Quais são minhas necessidades essenciais?

Ainda não aprendi como é que nós oramos

Eu me ajoelho na frente de qualquer fogo
Querendo saber como são as regras do jogo
Mas o problema é que todos nós roubamos...

Ainda não consegui piedade em meu coração

Porque sempre é a fome que chega mais forte
E são tantos perigos que nos chegam do norte
E cada um tem seu medo de viver em vão...

Ainda sou apenas mais um pequeno aprendiz

Alguém que erra sem nunca poder acertar
E que se engana quando pensa em pode amar
E que nem mesmo sabe aquilo que sempre diz...

Ainda guardo comigo o perigo aqui no bolso

Uma bomba que explodirá em qualquer momento
Formada de chuva formada de sol e de vento
E que me engana dizendo que ainda sou moço...

Ainda não fui pra guerra e nem peguei as armas

Não matei e ainda nem sequer também fui morto
Não tive alegria de atracar em qualquer um porto
Enquanto isso colecionemos os nossos carmas...

Ainda não fui almoçar com os generais

Não menti como eles para as nossas gentes
Quais são as alegrias que nos deixam contentes?
Quais são os dias em que virão meus carnavais?

terça-feira, 26 de abril de 2016

Rabiscos


a sede da sede não cede
o pedido não pedido pede
estamos em cada um lugar
e não estamos aqui nem lá
a vida é apenas um esboço
do que pode ser um alvoroço

o mal no mau mal sabe

a cabência do que cabe
no silêncio eu me silencio
calor quente ou quente frio
vamos que vamos que vamos
não sabemos onde estamos

a mais livre das liberdades

eu saúdo minhas saudades
ave César nós vamos morrer
numa cena prum inglês ver
padre-nosso e ave-maria
quem me descobriu o dia?

experimento a experiência 

sem ser ciente de toda ciência
eu sei de sábias sabedorias
que estão nas carnes dos dias
vou andando e andando e vou
nem sei mais quem eu sou

a sede da sede não cede

o pedinte que pede não pede
estamos em cada um lugar
e não estamos aqui nem lá
a vida é apenas um esforço
do velho que um dia foi moço

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Insaneana Brasileira Número 101 - Que Lado?

Quem é o bonzinho nesta história? Quem é o fofo? O ursinho de pelúcia em cima da cama? O anjinho de procissão de cabelos encaracolados e olhos que imitam o céu? Ora pro nobis...
Quem tinha razão e deu o segundo tapa? Quem foi xingado primeiro? Quem estava com o pé debaixo? Quem foi esbarrado? Nunca sabemos e nunca saberemos! Ora pro nobis...
Só saberemos que deram uniformes e armas nas mãos de meninos. Sejam eles de quaisquer idade. Que existia medo em cada par de olhos. E muita humanidade no peito até de quem matou... Carrasco e condenados - ambos tremem. Ora pro nobis...
Há choro nos dois lados do muro. Pesadelos bailam em cada uma de nossas noites. E bandeiras diferentes são apenas mapas de uma fatalidade que aconteceu. O sal tem o mesmo gosto e as ambas as moedas são frias e más. Ora pro nobis...
O choro de mães e filhos são todos parecidos. O desespero conhece o peito de cada um de nós. E todo o pecado que condenamos é aquele que nós mesmos fazemos com todo prazer e toda crueldade possíveis. Bom e mau ao mesmo tempo. Ora pro nobis...
Batinas e mantos e abadás despertam a mesma chama. Cantos felizes são todos parecidos. E cada idioma tem sua hora e sua vez. Sejam oferendas de sangue e de nosso sangue - todas elas são aceitas. Ora pro nobis...
Nada é possível e tudo é possível. Sejam tintas feias ou tintas mais bonitas. Eu não sei em que lado nasce o sol e mesmo assim o vejo todos os dias. Também é muito lindo o mar. Ora pro nobis...
Quem é o bonzinho nesta história? Quem é o fofo? O ursinho de pelúcia em cima da cama? O anjinho de procissão de cabelos encaracolados e olhos que imitam o céu? Ora pro nobis...

terça-feira, 19 de abril de 2016

Eu - Tudo e Nada


Eu - resultado mal feito de um DNA revoltado. Junto em minha todas as características nada artísticas de uma vida comprida que consiste e insiste em respirar. Nada mais ar.
Eu - fórmula mágica sem segredos. Aqui estão as dores e ali estão os medos. Por favor tenham um pouco de cuidado. Porque aquele espelho em que espelho é feio e velho e tem mais de um lado.
Eu - divindade sem poderes. O mais infeliz de todos os seres. O mais louco entre os homens. A minha herança é uma esperança com vários nomes.
Eu - um rio sem afluentes. Momentos felizes não apenas contentes. De segurar entre meus dentes. Nunca mais dormentes. Sóbrio entre alguns seres viventes.
Eu - rodopio de ventos no quintal. Aonde e por onde houver algum carnaval. Fim do fim do fim do final. Tirem as roupas do varal. Está chegando aí o meu temporal.
Eu - um emaranhado de palavras. Algumas livres e outras escravas. Em quase duas vezes trinta. Muito corante e pouca tinta. Quem quer que minta. Ou sinta.
Eu - experiência malsucedida de laboratório. Escravo de escritório. Frequentador de sanatório. Meu destino inglório. Se é que podemos chamar de destino. A dor de um menino.
Eu - apenas um comum cidadão. Que não reconhece a estação. Que já viveu de verão. Entre sim e não. Falando com os olhos e com as mãos. Qual a minha razão?
Eu - apenas isso...

domingo, 17 de abril de 2016

Todos Os Poemas


Todos os poemas que fiz foram somente um
Com versos desengonçados e sem motivo
Quentes como um asfalto sozinho e hostil
Que queimava coisas e mais coisas assim...

Todos os poemas que fiz foram somente um

Que usava a mesma máscara naquele baile
Que sempre acontecia e nunca mudava na verdade
Mudamos nós e as coisas permanecem as mesmas...

Todos os poemas que fiz foram somente um

E a previsibilidade de um final não muito feliz
É que era esse gosto um pouco mais que amargo
Repetindo muitas vezes uma mesma só lição...

Todos os poemas que fiz foram somente um

Como o mesmo ritual a mesma missa a mesma reza
Onde as luzes mesmo que brilhando apenas cegavam
E tateando no escuro era apenas nosso elemento natural...

Todos os poemas que fiz foram somente um

Jogue ele num canto o esqueça de uma vez por todas
Assim é feito com a grande maioria das coisas
Mesmo as que nasceram do maior de todos os carinhos....

Todos eles...

Tercetos Maiores


Quando encontro uma pedra no meio do caminho
Me calo e acabo me sentando assim sozinho
E pergunto: aonde foi parar minh'alma, passarinho?


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Em poucas terras mais que distantes eu estive
Mas é lá no fundo do meu quintal que o peito vive
Por estar assim tão enterrado lá fundo é que sou livre...


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Vamos pular cantar e dançar são apenas três dias!
Nunca saberemos quando e se vão haver outras folias...
A única certeza que temos que haverão manhãs frias...


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Achei na vida tudo aquilo que eu nunca procurei

Nenhum dos meus sonhos foram aquilo que sonhei
Mas ainda assim no meio das nuvens sou o rei...

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Cada Qual


Cada qual
Cada tal
Cada sal
Cada mal

Cada um com suas preces seus apelos

Cada um com seus medos seus pesadelos
Cada um com seus anjos suas assombrações
Com seus crimes e com suas apelações

Cada qual

Cada cal
Cada tao
Cada quintal

Cada um com seus riscos com seus medos

Cada um com seus enigmas seus segredos
Cada um com seus deuses com seus juízes
Com as suas febres com suas dores e crises

Cada qual

Cada normal
Cada avental
Cada temporal

Cada um com suas fantasias suas mil faces

Cada um com suas mentiras seus disfarces
Cada um com suas canções com suas gritarias
Cada um com seus gemidos com suas putarias

Cada qual

Cada tal
Cada sal
Cada mal...

Come Na Cuia

Comê na cuia Comê na tuia Comê na nuia Experimente o berimbau catreiro Em todas as noites de pé de sapo! Paca tatu Paca tutu Paca Dudu Apert...