quinta-feira, 31 de março de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 155

Chama ardente e veloz

de minha súplica sem voz

O que será de mim?

Tudo acabou antes do fim...

Sem dor mas dor atroz

Bicho manso e feroz

O que será de mim?

O cemitério é um jardim...

Fujo do meu algoz

Fujo até de nós

O que será de mim?

Tudo acaba tudo tem fim...


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Eu costumo gritar

na maioria das vezes

sem ter medo algum

como um cachorro assustado

que fica ganindo 

se um estranho chega perto...

Também saio correndo

pulando os muros

da minha falsa coragem

como um gato arisco

que tem medo 

de tudo o que esteja perto

ou então se mova...

Sou como os pombos da cidade

que voam sem bando

até sem motivo...


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Uma lua, uma rua

Quase minha, quase sua

Eu mesmo me desafio

Saltando em todos abismos

Mergulho salto mortal

Milhares de estrelas

Que eu coloco em seus cabelos

Uma lua, uma rua

Quase minha, quase sua...


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Era um dia desses... Onde estarei eu? 

Talvez entre o tumulto de ruas e pessoas

Me procurando...

Estarei pelas calçadas 

Admirando tanto desabrigo?

Certamente meus olhos arregalam,

Não consigo aguentar

Tanta alheia tristeza...

Era um dia desses... Onde estarei eu?

Talvez entre o riso e o choro de todos

Me procurando...


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Eu vou tentar esquecer o que puder

esquecer de você e esquecer de mim

Vou silencioso me entregar ao carrasco

que ele corte depressa a minha cabeça

Acabou tudo tudo está tão longe

e a cinza cobre suavemente o que restou

Tentarei esquecer seu nome de uma vez

e se mentir por isso não tenho culpa

Eu vou tentar esquecer de uma vez só

esquecer de você e esquecer de mim...


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A carne apodreceu

Soltou dos ossos

E um sorriso debochado

E sinistro é o que tenho

Conto para eu mesmo

Histórias macabras

Mas eis que não há medo

O meu maior medo

Sou eu mesmo...


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Menino de vermelho e preto

menino atentado como poucos

Eu brinco com fogo e não me queimo

Eu mexo na água e não me molho

Não irei atrás de passarinhos

tenho um pouco deles comigo

Subo nas goiabeiras

e ainda gosto de brincar de nuvens...


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Alguns Poemetos Sem Nome N° 154


Por que não rirei?

Teu deboche acabou indo embora

E no lugar ficou apenas decepção...

É o que existe de mais comum

No desfecho de todos os dramas

A hora dos carrascos também chega...


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Pego um pequeno galho seco

E mexo na terra

O que estou fazendo?

Nem eu mesmo sei...

Posso estar desenhando um sol

Implorando que ele volte...

Posso estar escrevendo teu nome

Que ainda continua lindo...

Ou apenas alguns rabiscos

Sem noção alguma

Que nem meus sonos mal dormidos...


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M.F. morreu cedo. Mais tarde do que muitos, mas mais cedo do que muitos outros também. Nunca sabemos de nada. As surpresas atacam-nos quais mosquitos que zumbem nos nossos ouvidos quando apagamos a luz. Será lembrado? Não sei se sim, não sei se não. Mas eu com certeza lembro vez em quando daqueles cabelos grandes que não poderá mais cortar para que cresçam novamente...


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Morbidamente descolorido

Fingidamente feliz

Sorrisos só por praxe

Segredos inconfessáveis

Comportamento vexatório

Por aí existem esqueletos

Que são contudo cheios de carne...


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Eu confundo certas unidades e cálculos errados dão rotas para onde não queria ir. A felicidade também é algo perigoso, é que nem a riqueza transformando ricos em miseráveis. Os peixes morrem fora da água. Sem céus não há estrelas. Não cortem as asas dos pássaros. Eu confundo certas letras e acabo dizendo aquilo que não queria. A solidão é um vício como qualquer um outro, basta que haja espaço para se acostumar. Os abismos também possuem vertigem. Sem medo a coragem se amedronta. Não mexam em minhas feridas...


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Todo tamanho

A rua é pequena para os homens

Tão grande para as formigas

O pó conhece vários infinitos

Todos eles de uma vez

Eu cansei de ver isso

No destino de todos os miseráveis

Todo tamanho...


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Não importa quem tem razão, não interessa de qual lado é. Tudo que é humano humilha, persegue, machuca, dói. Não interessa quem começou, quem termina, quem ganhará. Tudo que é humano deve ser vigiado, medido, desconfiado. De todos os erros, a guerra é o maior deles...


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Alguns Poemetos Sem Nome N° 153

Todo dia o dia todo

Cada segundo indo e vindo

Poucos versos ou muito versos

O meu destino rindo

Rindo de não sei quê 

Mas achando tudo lindo

Da água que cai

Ou da fumaça subindo

Do meu pesadelo

Ou do meu sonho infindo...


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Nem orei. Era ruim de decorar tudo, inclusive preces. Que cada passo meu seja uma delas, pedindo ao grande Desconhecido que conheço que, se as lágrimas do rosto do meninos não secarem, pelo menos diminuam mais um pouco. Que meu silêncio chegue aos Teus ouvidos... 


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Eu não marquei nada

Acredito que não precise

Cada ferida chegou

E mesmo que não doesse 

Pelo menos tanto

Foi ficando e ficando

Feito poeira que nem vemos...


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Ela não tinha culpa, muito menos eu. Ele não era adivinha e eu permanecia calado. É que tive medo, muito medo, não sabia o que poderia existir depois do não. Só não esquecerei nunca mais estes teus olhos, mesmo que a eternidade não exista.


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Riem os loucos

Silenciam-se os sábios

Pois acaba dando no mesmo

Os filósofos tentam

Explicar aos que são tolos

O grande baile está formado...


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Devolvam esta boneca para quem já perdeu a inocência, deem logo este carrinho para quem o tempo acabou acabando. O tempo nos tirou das mãos o que tínhamos de melhor. Se isto não for feito, ela virá fazer tal feito - a morte...


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Olho no relógio

a mágica mais feia de todas

a que trouxe minhas rugas

a que branqueou meus cabelos

que confirmou meu estrabismo

de olhos de azul roubado

todo o doce que eu tive

virou amargo azedo ou salgado

num inevitável fatalismo

Olho no relógio

como são malvados seus ponteiros...


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quarta-feira, 30 de março de 2022

Ao Descompasso

Escuto o som alto

(não é do rádio, 

rádios não existem mais,

pelo menos aqueles de madeira,

velhos senhores...)

Admiro milhares de fotos

(acabaram-se as velhas revistas,

aquelas que o preto-e-branco

coloria nossa imaginação...)

Sinto diversos odores

(só não aqueles que gostava,

inclusive os de sabonetes

que mamãe colocava

no meio das gavetas de roupas...)

Velhos carnavais sim

(os de hoje de forma alguma,

mas aqueles que se alegrar

sem ter motivo algum

era o motivo principal...)

Temporais que já passaram

(muitas águas viraram rios

e foram para o mar

enquanto outras

foram para o fundo da terra...)

Flores que já morreram

(e folhas que caíram amarelas

tudo sem perder a graça

de um dia terem 

apenas existido...)

Ensaio passos escondidos

(os tristes quase sempre

escondem alguma alegria

que acabou chegando

com endereço errado...)

Ganho de volta meus brinquedos

(de nada me adiantou envelhecer,

quero ser o menino de sempre,

o mesmo menino, mesmo 

que isso possa doer...)

Sinto-me meio doente

(como a maioria de tudo,

nada é por completo,

o que acaba nos afligindo mais...)

Escuto o som alto

(não é o do rádio,

não tenho mais nenhum,

é o som do meu coração

que anda muito descompassado...)...

terça-feira, 29 de março de 2022

Poema de Uma Observação

 

Foi estrela, foi, não foi, foi, não foi,

Desatinos colados em brancas paredes

(Paredes estas já sujas pelo tempo)

E águas paradas que machucam demais

Aqui eu estou ainda neste meu canto

Quase vivo, quase não, quase vivo,

Com os pés de todo cansaço existente

Até que acabe a gasolina do motor

E as engrenagens parem surdamente

Não haverá mais brinde com taças

De um mais puro e falso cristal

Já fomos vendidos como bons escravos

Para as circunstâncias que nos levaram

Eu sou barco, eu sou mar, eu sou barco

Ou talvez um mero e triste albatroz

Querendo chegar logo e logo lá

Onde nem faço ideia onde é ou será

Rasgo a camisa em vários pedaços

Não me importa mais estética alguma

A menina bonita tem errado os tiros

E agora os likes só lhe sabem ferir

Até que somente os ossos existam

O fogo acendeu, o fogo apagou, acendeu

Dança da chuva não posso mais fazer

Falta-me um penacho adequado

E minha voz para os gritos se silenciou

A visão mística dos seus pelos pubianos

Me fez lembrar aquelas velhas revistas

Com a cumplicidade solitária de banheiros

O capim agora cresce tranquilo no jardim

Entre outras ervas que não conheço

É a guerra, não é, é, não é, é, não é

Enquanto os burgueses limpam os óculos

E os meninos vendem balas pelos sinais

Tudo corre normalmente anormal

E nem eu sei mais o que acontece comigo

Nem uma vela para a alma de Pessoa adianta

Está tudo abafado como sempre esteve

E os meus dedos são apenas desobedientes

Como tudo o mais que encontrarei

Foi estrela, foi, não foi, foi, não foi,

O cachorro pequinês foi enterrado no quintal...

domingo, 27 de março de 2022

Dona Mariquinha (Poema pra Mãe de Papai)

 

Dona Mariquinha,

branquinha, baixinha, com aqueles olhos

tão azuizinhos feitos um céu bonito,

passos miúdos na sala que foi salão...

Nem parece que foi ontem,

dez filhos pra criar e coragem

(tio Nélson era adotado)

e um marido poeta e bêbado 

pra poder mesmo não querendo amar...

Dona Mariquinha,

naquele universo de Senhora das Neves,

tudo que o tempo já comeu sim, 

filhos que partiram atrás deles,

netos que ficaram velhos tristes

(até o Erasmo foi embora depois da tia)...

Dona Mariquinha,

dentro daquela caixa grande,

meu medo de menino de quatro anos,

não teve nem festa pra mim,

só teve um bolo cortado

onde davam aula de piano,

ah isso eu bem me lembro...

Dona Mariquinha,

lá no céu, quietinha como sempre,

rindo só com os olhos...


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

Tempo Marca a Gente


Tempo marca a gente...


Com rugas com cicatrizes e tatuagens

com quantas marcas forem necessárias

com as que aconteceram sem querer

com outras voluntárias...


Marca de faca marca de tiro

marca de sonho desfeito marca de paixão

cadáveres boiando pelos inúmeros rios

que vão dar no meu coração...


Marca na frente do espelhos

marca pelas costas desse cabra infeliz

e daquele amor que foi virado desamor

tudo aquilo que não quis...


O soco na cara me rancou sangue

tentei defender e cabou que não pude

escolhi as palavras que iria dizer

mas no final foi tão rude...


Já me confundo com quase tudo

faz parte de todo e qualquer um fim

entrar e não mais sair dum labirinto

acabei me perdendo de mim...


Ele marca sem dó e sem piedade

marca afinal sem propósito algum

transformou em pó a minha existência

e me fez virar um nenhum...


Tempo marca a gente...


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 152


Oito, oitavo, Oitávio,

os doces e as velas e o medo,

tempo grande senhor,

de vento e chapéu,

nem sei se de banda 

ou era palha mesmo...

Dona Regina também, 

com insondáveis óculos...


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 Eterno sono sem dormir

Dias galopando sem direção

Eternos estar e não estar aí

Eu me perdi entre a multidão

Eterno suor escorrendo

Mesmo não sendo verão

Meus sonhos vão sofrendo

Areia caindo da minha mão


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Misturam-se uns e outros

misturam-se muitos, misturam-se demais

Pobres e ricos, feios e bonitos

senhores da guerra, mendigos da paz

Os que comem tudo, os que comem nada

os das frente da fila com os lá detrás

Os que atropelam e os atropelados

os de Deus com os de Satanás

Os que são famosos e os sem nome

uns são os barcos e outro o cais

Os que vivem muito e os que morrem logo

uns para sempre e outro para nunca mais

Misturam-se uns e outros

misturam-se todos, misturam-se demais

Pobres e ricos, feios e bonitos

senhores da guerra, mendigos da paz

Mistura eterna de clowns, todos humanos...


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Falta de mim

de antigos sorrisos que valiam a pena

pelas simples histórias que encantavam

pelas coisas de alguma graça que faziam rir

pelas aventuras que imaginava sempre...

Falta demais de mim...


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Dois bêbados perdidos por aí

Por esse mundo pequeno e grande

Tudo ao mesmo tempo

Pequeno para os nossos sonhos

Grande para nos perdermos

Dois bêbados perdidos por aí

Você bêbada pelos enganos de vida

Eu bêbado por você...


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Sim fim tão não

Eu me enlouqueço com certas letras

(Se bobear com todas elas)

E acabo errando no que falo

As rimas acabam colaborando

E é aí que tropeço cada vez mais

Cada dia um erro sem desculpas

Quem dera escrevesse só em paredes

A tristeza seria bem menor

Sim fim tão não


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Eu poderia esperar a morte, mas não a espero,

Poderia escrever versos macabros, ao invés de só tristes,

Mas peço desculpas por essa minha impossibilidade,

Ainda existem alguns sóis para poder admirar,

Muitas nuvens ainda me agradam somente em vê-las,

Não sei se verei o próximo carnaval, mas ainda quero,

Dispensei as carpideiras que falo tanto, são muito chatas,

Assim como as convenções que fazem poemas perfeitos,

Eu nunca fui perfeito e nem quero de maneira alguma ser,

Por isso poderia esperar a morte, mas não a espero...


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sexta-feira, 25 de março de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 151

Todos os gatos, 

todos eles,

eles todos...

Numa conjunção perfeita 

de muros e telhados...

Sol muito 

e algum vento feito acalanto...

Eu quase durmo também...


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O sol roda e roda,

é como roda de bike,

as estrelas o imitam,

mas com certa timidez

e reclamam da culpa da lua...

O girassol gira e gira,

é um perfeito cavalheiro,

as margaridas choram,

pois são amarelas

sem terem tanto ouro...


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Talvez em outra vida eu sangre menos,

Mude algo ou até tudo,

Só não sei quando...

Talvez em outros céus eu canse menos,

O azul seja bem mais,

Não haja arrependimento...

Talvez em outros caminhos seja menos ferido,

Algumas pedras faltem,

O sol castigue menos...

Talvez outros mares tenham menos mistérios,

E a profundidade de suas águas

Causem menos pesadelos...


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Só o faraó tem alma

Só o faraó tem calma

Só o faraó tem trauma

Quem tem fome não descansa

Quem falou em esperança?

Só quem vive apressa

Só quem vive começa

Só quem vive tropeça

Quem sonha acaba acordando

Ainda estamos esperando?


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Falta tipo uma certa paciência, entende? Já me disseram muito que nem entendo. Rio sempre do que é sério. Tudo é selva, tenho mais que certeza disso. Se der bobeira, um engole o outro. Nem dá tempo de colocar sal. A fama é tudo! Nem que se seja o buraco da formiga no dique. Eu já ouvi falar nisso... Ou será que não? É tanto troço na cabeça que às vezes dói, às vezes até não. A gente faz de conta que tudo vai bem, até o mal. Sou de raça ruim mesmo, qualquer outro também. Depois do berço acabou tudinho. Aí começam as filas, até de esperança tem. Fazem promessas dia sim, outro também. Mas tem muitas palmas pras catástrofes e os desastres idem. Nada fica de fora, só morador de rua. Falta tipo uma certa paciência, entende? Já basta a que o celular me pede. Som fora de moda e livro, nem pensar. Sei falar "ingrês" muito bem...


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Tem venenos para todos,

não precisa furar a fila,

tem para todos, todos mesmo,

para todos os gostos 

e para todos os bolsos...

Alguns bem rápidos,

outros mais lentos,

uns de morte dolorosa,

outros imperceptíveis...

Podem escolher, senhores!

Um aqui para o freguês,

outro aqui para nossa freguesa...

Vai levar quantos, meu jovem?...


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Imperceptível

(eis a palavra certa

para certos amores)

Esses são os piores

Os que acabam doendo mais

Chegam sem serem notados

e aí estão

O espinho foi pisado

entrando na carne totalmente

E aí sim foi sentido

(talvez até visto)

e era tarde...


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quarta-feira, 23 de março de 2022

O Próximo Triste


Estamos em nuvens de chuva,
o tombo é mais que certo,
a minha cabeça dói tanto...
O abandono percorre caminhos,
eu me perco em labirintos,
as paredes logo desabarão...
Lutamos sem luvas de boxe
e acabamos beijando a lona
antes do primeiro round...
Todo beleza nasce da crueldade
enquanto a multidão aplaude,
mesmo sem saber o porquê...
A flecha atravessou o ar
e em velhas invasões vejo
aquele meu novo pesadelo...
Miseráveis é o que somos,
sobretudo quando enriquecemos
em troca de algo alheio...
Chamem logo as carpideiras,
mande que vistam branco
e dancem uma nova dança...
As tranças de quem amava
matam mais que um veneno
a minha pobre vida...
Decerto eu sou o próximo,
não fugirei novamente,
os pés não obedecem mais...

Segredo e Outro


Podemos esquecer dos clowns azuis

e de nariz vermelho de velhos murais

caprichados no papel crepom

Esquecer daqueles grossos óculos

que a tia colocou em dias mortos

para remendar meias ou sei lá o quê

Antigos carnavais e suas mortalhas

quase nuvens negras ao nível do solo

e velhos ônibus com fichas de plástico

Não existe equilíbrio algum

e quase caímos na freada brusca

que ainda bem não volta mais

Na tampinha da cerveja existia cortiça

e as outras das rolhas das garrafas

usamos para fazer nossos bigodes

Eis o desespero do porquinho-da-índia

porque todas aquelas luzes e o barulho

dava um certo medo de fazer se esconder

Flechas com pontas de desentupidor de pia

é o que temos para agora e sempre

e cocares de barbante e de papel cartolina

Eu tentei matar um pouco da tristeza

da nossa pequena e fria casa

com bandeirinhas que nunca existiram

Sou mestre das fogueiras de folhas e papel

que são acesas na rua sem saída

que agora é apenas como um túmulo

Faça sol e também faça chuva

meus pensamentos não me deixam em paz

e olha que eu nunca nem pedi isto

O meu mais que constante ciúme

me fazem mais um como todos os outros

que sabem-se doentes de amor

Segredos para construir o universo

usando os seus seis dias

e se arrepender sem fazer nada no sétimo

Agora em mim tudo virou poesia

até aquilo que nunca foi e nunca será

mas que não me importo muito para chorar...


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Pirilampa

Sabia que você é minha pirilampa?

Não sabe o que é isso?

É o pirilampo que não é ele,

é o pirilampo que é ela!

Nas noites mais escuras,

onde as estrelas estão de folga

e as nuvens todas juntas de luto,

você de repente me aparece!

As ruas estão sujas e frias,

tropeço que nem aleijado que sou

tentando chegar no meu triste lar...

Não sei se consigo...

Dei uma de Bukoswisk e quase me arrependo,

não sou conhecido pelos versos

e muito menos pela putaria (quem me dera),

sou talvez um idiota

e ninguém vai me tirar esse título,

nenhum filho-da-puta!

Pois é, minha querida pirilampa,

fico vendo os selfies quase ridículos 

por modinhas que já passaram

e roubei da sua rede social

e penso nas asneiras que você deveria

estar pensando naquele dia e naquele instante...

Pirilampa, pirilampa, pirilampa,

perdoe o politicamente incorreto,

mas adoro esse seu estrabismo discreto,

esses seus peitos caídos depois do filho

( o pai tem feito alguma coisa por ele? Ou não?)

e principalmente essa bundinha branca

que fez eu colocar esse apelido em você...


(Extraído do livro "Só Malditos" de autoria de Carlinhos de Almeida) 

Alguns Poemetos Sem Nome N° 150


Troco palavras ou invento-as. As regras são minhas e a sua profanação também. Esqueço dados e mato lembranças fúteis como se nunca tivessem existido. Eu sou a minha própria loucura e a minha confissão dela. Não existem mais convenções que eu possa suportar. Faço festas sem motivos e quantos carnavais eu quiser fora de época. Mando que o sol faça seu serviço dentro da noite. Estalo os dedos para saírem milhares de fagulhas. Escondo banalidades em minhas secretas gavetas. Tudo é tão engraçado enquanto copiosamente choro.


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É mentira! É mentira! Nenhum tempo foi embora. A perenidade é uma regra fixa. Nossos olhos que nos pregam peças. Nossos ouvidos nos enganam por puro deleite. O caminho está parado no mesmo lugar. As pedras só saem se algo ou alguém as retira. O estático é via de regra. A saudade é nosso vírus. Existe por uma síndrome. É o que temos. Tudo continua lá. Tudo está no mesmo lugar. Nosso engano que nos faz pensar na partida como uma ideia fixa. É mentira! É mentira!...


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Cada um...

Seu destino, triste ou alegre

Eis aqui o seu script...

De nada adianta

Mudar o roteiro

inventando novas regras...

Tudo é o que é...

O sangue só conhece veias

E o rubor de nossas faces

Variados motivos...

Clowns e pessoas na plateia...

Tanto faz...

Silêncio... Barulho...

Cada um...


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Vejo os sinais de trânsito

São estrelas expulsas do céu...

Tento entender nossas ruas

Mas são eternos labirintos...

A primeira consoante

Ou a primeira vogal?

Caprichem na pose!

Será menos patético

No dia em que rirem...

Sem regras

Sem freios

Apenas eram azuis...


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Você foi minha tábua de salvação

de dias não mais tão distantes

do que até possa se imaginar...

Eu contava minutos sem relógio

e nesse tempo tristonho

quase me tornei um bailarino famoso

ou até um acrobata suicida...

Ríamos com algum motivo

mas principalmente sem motivo algum...

Me arrependo de ter sido eu mesmo

poderia ter sido o que nunca fui

e a maldade não contaria tanto

nesse meu mais infeliz histórico...

Você foi minha tábua de salvação

agora parece que não é mais nada...

Não quer ser tábua do meu caixão?


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Dizer asneiras era seu dom

Até o nom sense pode ser uma virtude

Tem dias que o gato saiu da tuba

E outros que ele nem entrou...

Como são lindos esses cachos!

Os mesmos que você se esforça para tirar

Num ato digno de mil carpideiras!

Não há bondade em olhos tortos

Principalmente se são os meus 

Pois eu sempre a esqueço

Se saio apressado de casa...

Amanheceu e amanheceu

(Minha cara tolinha)

E o seu sono é igual qualquer outro...


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Sem medo,

quase igual ao arranjo que escutei

dia desses atrás na acordeom...

Interessante

que agora poucas coisas me interessam

e alguns papéis se tornaram invertidos...

Palmas para os vilões!

Eu pretendo algum silêncio

mas que não seja o que todos esperam

mesmo quando tal não acontece...

Sem medo,

fúria da água que não queria afogar

mas acabou afogando...


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terça-feira, 22 de março de 2022

Conceitual e Só


Trago em mim a certeza

de um computador doméstico 

e de skates em manutenção...

Sinto o sagrado invadindo veias

mas não tenho a ideia mais vaga

se elas podem ser minhas...

A pobre mariposa sobrevoou

em círculos em volta da lâmpada

e como capoeira deu um salto mortal...

Tremo de frio dentro do fogo

enquanto os meus substantivos

se degladiam com meus adjetivos...

Tudo acaba numa lista

de diversas proibições chatas:

uma delas é apenas respirar...

O mundo tem vivido de pernas

e acabaram se esquecendo

da necessidade de mãos e pés...

Por favor, pode encher o tanque!

Eu sou participante da boçalidade

dos que compram ideias e esperanças...

Todos os metais vão enferrujar

mas principalmente aqueles 

que chamamos de inoxidáveis...

Preciso e quero dentes possíveis

para uma eternidade passageira

tão simples como a água que afoga...

Há várias placas avisando do perigo

mas nenhuma delas nos avisam

o que faremos para nos salvarmos...

Estamos com metáforas em demasia

mas a realidade foge sob nós

o chão que nos falta quase sempre...

Velhos discos vendidos nas calçadas

acabam nos mostrando sempre

que nada sobrevive ao uso...

Façamos mais um brinde e outro

até que esqueçamos o que somos

como fosse uma grande vantagem...

Trago em mim a certeza

que só os incertos conseguem trazer

entre tantos mortos conceitos...

segunda-feira, 21 de março de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 149

Ela vai chorar na minha sepultura,

vai sim, vai chorar,

vai chorar sobre meus ossos,

até não mais aguentar,

até molhar o caixão,

com se fosse voar,

até perder a razão

e não fosse encontrar...


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Uma sombra e uma só

Seguindo meus passos

fora do compasso

Que pena e que dó

Não vai chover mais

Nem vai fazer sol

Eu tenho saudade

Do tempo sem idade

Como eu tenho - lol...


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Vendem-se pontes

Para os que ainda possuem esperança

Alguma por menor que seja

Abrigos de certa ternura

Para os que ainda possuem coração

Um ninho um lar

Tudo que possa haver de mais belo

Proteção para as chuvas fortes

E para os ventos sem compaixão

Vendem-se pontes

Como aquelas pintadas

Em antigas gravuras

Em antigas salas


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A velha escola...

O velho pátio agora abandonado

Onde as plantas invadiram

E fizeram uma insólita quase floresta...

Salas vazias e desoladas

Onde só a poeira do tempo

Acaba fazendo alguma coisa...

Minha tristeza acaba trazendo

Um choro que não é choro

E é tão difícil de entender...

Um dia passos apressados

Percorreram aqueles antigos corredores

Mas tudo se desfez apenas em sombras...


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Apenas mais uma figura...

Poderia ter sido uma figurinha

Daquelas de álbum

Mas acaba não sendo...

Sua cor também há de desbotar

Como todas as outras...

O tempo certamente vai passar...

E nem saberemos se a morte já veio

Ou quando ela há de chegar...

Tudo é apenas uma cor só

O cinza de várias cinzas

Nem todas elas pós-carnaval...

Eram bonitas sim...

E um dia emprestaram sua nudez

Para um prazer inexistente...


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Haveriam dias maiores do que estes?

O sol virou as  costas e ainda não voltou

Um vento quase gelado invade a janela

Se aqui houvessem cortinas

Elas balançariam num ritmo mórbido

Mórbido, mas quase tranquilo

Onde estou agora mesmo?

Trago em mim uma saudade

De algo que nunca aconteceu...


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Faço versos sem sentido aparente

Com a rudeza de um desmazelo

De quem não se apressa para a morte

Acordei já faze algumas eras

Mesmo que sejam minutos mal contados

Posso me lembrar de tudo ou nada

Depende dos suspiros que acabei de dar...


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Come Na Cuia

Comê na cuia Comê na tuia Comê na nuia Experimente o berimbau catreiro Em todas as noites de pé de sapo! Paca tatu Paca tutu Paca Dudu Apert...