domingo, 5 de maio de 2019

Divagações Sobre Este Sol Qualquer

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O céu está tão pequeno. E as nuvens se incomodam por falta de algum espaço. Faltam-me olhos e o peito é muito para tal experimento. Nunca mais verei a rua com tal satisfação. É que eu costumo guardar passos. E eles às vezes até podem ferir...
Não se mate. Pelo menos agora. Minha linda suicida. Morrer pode parecer bom à sua maneira. Mas viver pode ser até melhor que tomar um milk-shake dia desses aí. Eu rabiscos sentenças com tinta de caneta em teu corpo. E meu beijo pode ser forçado ou não. Tudo depende de sua dependência...
Tenho vontade de fazer um grande discurso. Escutem todos. É sobre a necessidade de respirar quando bate algum cansaço. E descobrir coisas que já foram há muito descobertas. O fogo brilha tanto. E eu poderei fazer com ele joias de valor incalculável. Não sei se prefiro alguns superlativos. Mas a minha ânsia de alguns sonhos acaba me pirando...
Tenho pouco de médico. E as profanas escrituras confirmam isso. Ou talvez um papel de caderno velho num canto bem estratégico. Ora vejam só! Escondi meus segredos com tanto capricho só para vê-los expostos. É que as engrenagens podem ir ao avesso. E isso pode ser mais que curioso...
Atirei no que não vi e não acertei mesmo. O amor é um exímio arqueiro. Só tem preguiça de acertar o alvo certo. Há nisso desventuradas comoções de pessoa alguma. Já estive face à face com a morte e nunca deixei de lhe dar bom-dia. É que sou um menino bem-educado. À minha moda. Certamente. Mas sou...
Tirando o que não presta em mim quase não sobra nada. Tenho que cumprir bem meu papel de humano. E fazer virais sem sentido algum. O gato andou e caiu. Mas dormiu um sono pesado feito gárgula. Notaram? A moda é o deleite dos tolos. Mas os sábios costumam dizer não...
Peixes. Peixes. Peixes. Alguns mares reclamam por qualquer coisa. Mas para as benzedeiras tudo basta. Sou testemunha circunstancial de vários e vários mortos. O meu perigo consiste em saber o nome de vários deles. Eu também bebi cerveja em alguns funerais e acabei chorando verdadeiramente...
Na hora de subir tenho medo da queda. Mas tenho cadeira cativa nos abismos da minha própria imaginação. Não largue nunca a minha mão. Viadutos e escadas são pesadelos que tornam minhas carnes como um pedaço inútil de Carrara. Faz parte de um drama que acabei nem escrevendo...
Engajamentos acabam entendiando até os mais bem intencionados. Um segundo repetitivo é um repetitivo segundo. A culpa é o produto da casa. Assim como os pastéis em seus adequados locais. Vim. Vi. E nem me preocupei em vencer. Basta o tempo para isso. Tenho somente dois compromissos sérios e que dependem um do outro: respirar e viver. E de vez em quando olhar...
O sossego é um cara deveras sossegado. Mas o perigo pode ser um bom rapaz. Gosto muito de surpresas. Desde que sejam óbvias demais. Na sua medida desmedida e até certa. Assopre a vela. Se for a certa. Mas não use todo o vento para isso. Ventos fazem muita falta...
Eu sentei no trono por engano. E debocho da cara de sérios e severos poetas. Cada conceito é de um jeito. Uns são madeira. Outros apenas fumaça. O fogo está bem no meio e quer acabar com essa eterna briga. Mas acabou chegando tarde. Parou no caminho porque não resistiu à liquidação no shopping. Centenas de baralhos têm suas cartas marcadas...
Adoro impossibilidades. Sou mais uma delas. Corpo e alma. Corpo e calma. Corpo e trauma. Depende de como e quando acordo. O segredo do feitiço é usar o gesto certo. Kafka que o diga. E um pouco de Sócrates até que cai bem. Não tenho muito esses luxos. Há algumas pichações dignas de plena e solene reverência. Tenho asas e prefiro ir andando. Pareço até com o Anjo da Morte...
Pegue o cronômetro e marque um segundo. É o que precisamos para desvalidas lições. Desculpe a minha rudeza. Veio no meu manual de instruções. Eu sem eu acaba me fazendo muita falta. Um cigarro e um café já são o suficiente para um bom começo. O fim? Que fique para depois...
O sol ainda dorme. Abraçado com seu ursinho de pelúcia. Tem muitos pesadelos para nos contar. Logo assim que acordar...

(Extraído da obra "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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