domingo, 2 de junho de 2019

Teoria do Paradoxo da Curvatura da Impossibilidade

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Humanos, sempre humanos. E nisso consiste o maior papel de vários papéis. Fomos construindo, construindo, até quase chegar nas nuvens e o prédio bem alto acabar desabando.
Iguais, todos exatamente iguais. Mesmo quando parece que digitais e almas pareçam desmentir tal fato, mas não o consegue. No bem e no mal, em cima ou em baixo, dormindo ou acordados, com cores e gostos diferentes, mas a seta apontada para a mesma direção - o impossível.
Queremos ser felizes, mesmo quando esta felicidade seja matizada com cores díspares e antagônicas. Todo sorriso é bem vindo, mesmo quando o masoquista implore o chicote às costas e o sádico ali esteja para atender prontamente.
Numa grande corrida onde altruísmo e egoísmo são quase gêmeos univitelinos com a mesma indumentária, preparados para ir num aniversário de família ou num casamento de igual teor.
As repetição é o próprio ineditismo. E o tempo uma grande ilusão que não deveria nos importar e o espaço, toda distância, apenas um mero detalhe que poderia passar desapercebido. Tudo acaba se repetindo e nem vemos.
Quando olhamos em velhas fotos, verdadeiros idiotas que somos, comparamos a má comparação. O rádio de caixa de madeira na sala antiga já foi tão moderna quanto o celular que carregamos no bolso, a velha caixa de madeira com imagens pretas-e-brancas é como o satélite mais moderno. Nada mudou.
Os dias nasciam e morriam desde sempre e sons e barulhos se espalhavam pelo ar. Folhas caíam depois de mortas, fogueiras foram acesas e se apagaram, o desespero veio quando um amor se tornou desamor e foi embora sem se despedir.
Tudo cabe na mesma gaveta, as recordações mais caras, as dores mais pungentes, os medos mais terríveis, o desespero que a vida trouxe e a aflição da expectativa da morte. O nosso bolso cheio de planos falidos ou que deram certo, intenções banidas e ações efetuadas. Tudo no mesmo lugar e em nenhum deles.
Humanos, quase nunca humanos. Enfeitados com a máscara de nosso ridículo, mascarados para que não percebam nossos inconfessáveis desejos, nossas taras e nossas anomalias. O canibal teve dó quando viu morderem uma pobre maçã. 
Limitados em nossa plena infinitude, pobres de tanta riqueza, tolos com nossa excessiva sabedoria. estúpidos e grosseiros com a nossa mais terna delicadeza, totalmente libertos para escolher qual o tipo de cativeiro desejamos. Tão sujos quando acabamos de sair do banho, mesquinhos em nossa prodigalidade, mentimos ao falar verdades mais que absolutas.
Iguais, mesmo que pobres evidências pareçam contradizer. Nus, totalmente nus, do primeiro momento até o último. Famintos após o término da refeição, sedentos mesmo nos afogando em qualquer rio caudaloso, perdidos até dentro de nossa casa em nosso quarto.
Tudo igual, tudo muito igual, a sanidade falha em todas as suas vãs tentativas enquanto a loucura capricha em seu dever de casa. Estamos perdidos em uma grande sala de espelhos e só nosso rosto é por nós desconhecido. 
Todos os caminhos não levam à Roma, mas todos os destinos, sim. A lei da gravidade é a mais inflexível e mesmo assim Dumont mostrou-lhe a língua sem perigo algum. Assim também o palhaço ri de si próprio e ainda ganha seu salário por isso.
Humanos, sempre humanos. Grande mistura, enigma simples demais para obtermos qualquer resposta sensata. Os sonhos provocaram mais lágrimas que as desilusões, a bondade matou mais que qualquer uma guerra e a felicidade nos trouxe mais pecados do que todos os vícios juntos.
Humanos, sempre humanos, andando nesta curvatura tão reta de impossibilidades...

(Extraído do livro "A Grande Mentira" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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