terça-feira, 18 de junho de 2019

Só São Detalhes

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Nada tenho, nada posso, nada quero, mas por favor, ponham longe esses temporais. Nada faço, nada vejo, nada escuto, quando muito alguns madrigais. Eu te amo, não me amo, só reclamo, culpa destes vendavais. Espero a hora, amanhã ou agora, podem vir, meus carnavais.
Só são pequenos detalhes, fáceis de não se perceber. A vida tem seus encantos, mas todos hão de morrer. A mocidade e o sonho, o que eu quero e o que suponho, todos irão se perder. A porta fechou, a janela se abriu, o balão voou, a estrela caiu, lembramos até esquecer.
Nada guardei, nada perdi, estava lá, estava aqui, fui manchete dos jornais. Na luz, na treva, me deixe sozinho, me leva, há tantos dramas banais. Eu que eu quero, o que eu faço, do que eu corro, do que eu caço, olhemos as velas no cais. Esquerda, direita, recusa ou aceita, tudo tão lindo em Cascais.
Só são pequenos detalhes, fáceis de não se perceber. O mendigo na rua, o astronauta na lua, a minha, a sua, de quem mais querer. O fato, o novelo, a queda, o escabelo, o que se perdeu ou vai se perder. A leve bruma, o ódio, a espuma. a lágrima à escorrer. A passeata, a bravata, o fogo na mata, difícil de se conter.
Nada senti, nada peguei, quase dormi, quase acordei, não é nada demais. Pelo deserto, dentro do rio, você tão perto, eu tão vazio, eu só peço a paz. O claro, o escuro, a liberdade e o muro, nada mais do que festivais. A carta e o selo, tudo arrumado com desmazelo, escutem logo o meu apelo, grito nas ruas e nos quintais. A cálculo e a quantia, o quem se tem, o que se queria, quantias infinitesimais.
Só são pequenos detalhes, fáceis de não se perceber. A curimba tocando, o pastor pregando, o ético, o cético, o patético, na dúvida ou no que se pode crer. O dinheiro no banco, o cheque em branco, traga logo o que beber. O fio da navalha, o calor da batalha, a medalha por receber. Espere um pouco, eu ando tão louco, como assim deve ser.
Nada aprendi, nada esqueci, sou guru, sou faquir, o maior entre os boçais. Foi tanta laranja lima, foi abaixo, foi acima, foi silêncio, foi a rima, pegue-me se for capaz. Eu sou grande e sou miúdo, miserável e tenho tudo, sou rude e sou veludo, sou quem curte os visuais. Sou o visto e o não visto, entre Barrabás e Jesus Cristo, o traidor entre os leais.
Só são pequenos detalhes, fáceis de não se perceber...

(Extraído da obra "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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