Com esse tempo, que ameaça cair sobre mim, assim mesmo, vou andando. Não sei onde vou parar, isso pouco importa agora. Já houve um tempo em que meus medos me guiavam por caminhos mais seguros, mas tudo isso já passou. A esperança é agora um mero espectro que repete meu nome como uma reza esquecida há muito tempo.
Sol ou chuva é indiferente. Em sóis vejo a maldade dos que pouco importam, dos que nada veem, nada ouvem e muito menos falam. Em chuvas a iminência do bote certeiro de feras que me cercam, dos homens e suas invenções loucas e imotivadas, assim como deve ser.
Com esse tempo, a mentira vem ao chão, os comerciais de cigarro esconderam a morte assim como os comerciais de margarina esconderam a guerra que existem nos lares. A verdadeira felicidade procura abrigo e não o encontra. A tristeza chegou primeiro e arrematou o lote completo.
Noite ou dia é indiferente. Tudo anda tão triste ultimamente, as pessoas não sabem mais o que escolher. A estética morreu apunhalada pelas mãos da moda, vírus inventado pelos que querem apenas matar, por motivos diversos, mas apenas matar.
Com esse tempo, a dúvida entra pelas narinas, não sabemos mais o que é certo ou o que é errado. Tudo mudou num simples estalar de dedos e assim vamos, cada novidade é bem aceita, seja ela sonho ou pesadelo. Bem e mal fizeram um acordo de cavalheiros e ambos caminham tranquilamente.
Nada e tudo é indiferente. Tantos as bocas, quanto as almas, assim estão, todas elas vazias. Não existem mais previsões seguras porque passado, presente e futuro são apenas um banquetes de atrocidades cometidos em nome de nossa natureza humana. Enquanto existe lenha, as fogueiras arderão e as bruxas pagarão pelos pecados que não cometeram.
Com esse tempo, marcham soldados sem direção, em guerras virtuais sem resultado algum, vencedores e vencidos - o mesmo resultado. A Quimera há muito tempo nos devora, aos poucos, aos pedaços, como o menino que só ganhou um doce e prolonga assim nossa agonia.
Sombra e luz é indiferente. Novos Narcisos sem espelho vamos para águas mais turbulentas e delas não sairemos jamais. Pedestres espalhados pelas calçadas, disputando lugar com quem dorme sobre elas. O lixo e o luxo são a nova dupla do momento.
Com esse tempo, nos resta apenas o silêncio nos defendendo em um canto...
(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).
Com esse tempo, nos resta apenas o silêncio nos defendendo em um canto...
(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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