sexta-feira, 21 de junho de 2019

Deus e O Diabo Na Terra Sem Sol

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Eis porque desnorteados estamos, humanos somos. Nosso país é limitado à nós mesmos. Nosso mundo é tudo aquilo que fere nossos sentidos. Nossos pecados perdoados na forma mais injusta possível. Riscamos a compaixão do mapa. A ternura sumiu de nosso vocabulário. O amor é um grande desconhecido que nos causa pavor. E como Cristos sem cruz nem ao menos pedimos perdão.
Façam alguns sóis ou várias chuvas, nada demais vai rolar. Os carnavais se repetem na monotonia de tempos idos e tempos vindos e até as fantasias continuam as mesmas. Por mais que tentemos, acaba doendo demais. Não há como arrancar a máscara, ela grudo na cara e acabou virando nossa própria pele.
Como um bando de retirantes, apenas uns figurantes, de uma grande experiência. Ajustem o foco das lentes, caprichem na maquiagem, ajeitem o figurino, luz, câmera, ação! 
Cada dia um novo episódio, cada segundo uma nova tomada, caprichem na fotografia. Façam a pose perfeita, cometam seus crimes sem prova, a verdadeira maldade é sempre disfarçada. Um escândalo acontece à cada hora, mas os espinhos ferem sem cessar. 
Foi o amor que nós traímos, a amizade que degolamos, o adeus que não vimos, o cachorro que chutamos, as carnes que ferimos, os ossos que quebramos, a inocência que engolimos, a santidade que profanamos, os pratos em que cuspimos, o bom-dia que negamos, os corpos com que divertimos, as etnias que massacramos, o pão que não repartimos, as nossas culpas que disfarçamos.
Eis porque desnorteados estamos, humanos fomos. Nosso país é limitado à nós mesmos. Nosso mundo é tudo aquilo que prefere nossa cobiça. Nossos pecados perdoados na forma mais injusta possível. Riscamos a compaixão do mapa. A ternura sumiu de nosso vocabulário. O amor é um grande desconhecido que nos causa terror. E como Cristos sem cruz nem ao menos pedimos perdão.
Façam alguns sóis ou várias chuvas, nada demais vai rolar. Esperamos tragédias como quem respira sem dar por isso. Temos um grande repertório de sintéticas lágrimas que não se acabam. O desconhecido não nos afeta, o alheio não é da nossa conta e nas redes sociais e no meio das praças demonstramos a bondade que nunca nos acompanhou.
Como um bando de peregrinos, apenas uns participantes, de uma grande experiência. Ajustem o foco das lentes, caprichem na maquiagem, ajeitem o figurino, luz, câmera, ação! 
Cada dia uma nova bobagem, cada segundo uma nova porrada, caprichem na fotografia. Façam a pose perfeita, cometam seus crimes sem prova, a verdadeira maldade é sempre desculpada. Um escândalo acontece para alguns, mas os espinhos ferem à todos. 
Foi o abismo em que caímos, os jogos que roubamos, os vespeiros que bulimos, as feras que despertamos, a sordidez que preferimos, os monstros que criamos, os túmulos que abrimos, a inteligência que desperdiçamos, a tolice que preferimos, o sorriso que esmagamos, a falha dos mecanismos, os tesouros que roubamos, os tiranos e seus nazismos, as poeiras que espalhamos.
Eis porque desnorteados estamos, humanos somos. Nosso país é limitado à nós mesmos. Nosso mundo é tudo aquilo que fere nossos sentidos. Nossos pecados perdoados na forma mais injusta possível. Riscamos a compaixão do mapa. A ternura sumiu de nosso vocabulário. O amor é um grande desconhecido que nos causa pavor. E como Cristos sem cruz nem ao menos pedimos perdão.
Deus e o Diabo estão na terra sem sol...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Um comentário:

Carliniana XLV (Indissolúvel)

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