terça-feira, 11 de junho de 2019

Perda

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O meu eu se perdeu entre o extenso rol de perguntas e respostas entre corredores já muito antigos. Sem dúvida alguma o meu pensamento vai muito longe enquanto fica aqui mesmo. 
Marcas muitas, é tudo que tenho; marcas várias, é tudo que carrego; marcas diversas, é tudo que levo em mim. Não sei qual delas me dói mais: as do corpo, obrigatoriedades de uma biologia qualquer e do acaso infeliz, ou as da alma, sótão ou porão de diversos caminhos seguidos.
Silêncio absoluto mesmo com alto som, tristeza travestida de alegria ou de compreensão. Luto nas festas mais animadas, nada aconteceu e dor já passou. O pé pisado, a roupa rasgada, o joelho ralado, o coração partido. Não apenas um minuto de luto, mas a eternidade absoluta para todos os que já partiram.
A fila anda, a realidade cobra a nota promissória que assinamos sem ler. A quantia é bem alta e quase nunca temos recursos para pagar. A sina é como os gregos faziam suas épicas tragédias um dia desses.
Eu nunca sei, apenas procuro, minhas ideias se misturam como em tumultuadas ruas do Centro do Rio e me perco. Muitas lojas iguais, num desespero de que o tempo passe e não passe e o lucro sem sentido algum venha. Muitas pessoas iguais, em cada uma existe um drama, em cada uma um livreto de ópera de milhares de páginas com uma língua que só seu autor entende.
Há diferenças milimétricas e ao mesmo tempo quilométricas em cada um de nós. Invisivelmente arquitetadas como numa novela que o escritor enlouqueceu no meio da trama e ninguém percebeu. O invisível nunca pode ser visível, mas o visível assim o pode e acaba sendo.
Pouco ou quase nada há de se fazer. Talvez o sentido da vida seja colocar uma pedra em outro lugar, isso se percebermos a existência de tal. Muitas são elas, vivemos tropeçando e, assim mesmo, a sorte não bate duas vezes na mesma porta, mas dois tombos iguais podem acontecer.
Alguns choros possuem seus motivos, outros não, mas todos eles, sem exceção alguma saem mal-explicados. Já os risos, esses se explicam por si próprios, mesmo os insanos e os de máximo desespero.
Minhas mãos se escondem nos bolsos, meus passos são calculadamente incalculados e minha cabeça está baixa, o ineditismo de algumas cenas banais me causa certa aflição. Mas até o chão me persegue, são suas histórias que acabam ficando sem contar, são certos detalhes que jazem por aí.
Cada folha morta, um pedaço do destino que se cumpriu; cada papel jogado fora, uma revelação que não foi feita; cada grão de poeira, grandioso como uma estrela de dimensões infinitas; o ar impregnado de milhares de sons, não mais ouvidos, mas presentes.
Vários universos paralelos sentados na mesma mesa, batendo papo, deixando as novidades em dia, sempre aconteceu isso, nunca deixou de acontecer, só não o vemos porque nossos sentidos vieram com defeito de fabricação.
Por isso, por essa razão, não menos do que isso, sou um triste mais triste ainda, não apenas pelos fatos que me oprimem como talvez deveriam ser, há muito mais em jogo, a minha, a nossa imaginação contribui com seus juros e correção monetária. Uma grande observação é o que acaba sendo, as observações são como profundos abismos, depois que caímos, ninguém poderá nos tirar de lá.
Acabei de chegar, mas a procura me foi melhor, o tédio cobre todas as coisas como uma espessa neblina de cidades silenciosas em tempos ingratos. Nem sempre o desespero é nosso inimigo, a expectativa flerta conosco e a ansiedade pode dar algum resultado inverso. O cansaço é o resultado inevitável de nossa própria natureza. Negarmos isso é apenas mais uma tolice em nosso repertório.
Preciso descansar um pouco, afinal de contas, não há nada mais cansativo para nós do que nós mesmos. Eu apontei dezenas, centenas, milhares de vezes o dedo em minha própria cara e mesmo me condenando, acabei rindo de tal. Eu mesmo expus o meu ridículo e o coloquei ao alcance de todos; não sou o caçador e nem a presa, eu sou o próprio caçar.
Tudo temos, um dia tudo perdemos, o resto são simples detalhes... 

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