sábado, 15 de junho de 2019

Exemplâncias

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Vaidade, tudo vaidade, até nos trapos que cobrem o corpo de Jó e fantasia suas inúmeras feridas num desatino mais que tolo.
Assim somos e andamos, mostrando nossas ilusões materializadas do começo ao fim. Nosso forte nunca foi a sensatez e os tapetes foram inventados para esconder, nunca para pisar. Quando menos pensamos estamos onde nunca imaginamos que íamos estar. Estrelas? Essas podem paulatinamente se apagar...
Vaidade, tudo vaidade, os macacos fazem suas poses e ainda sim declaram uma humildade que não existe pois os opostos fazem seu esmerado papel.
Um dia talvez fossemos algo que valesse alguma coisa, hoje não mais. Na hora da explosão, alguém tirou seus fósforos dos bolsos e isso pode ser chamado de inocência. O barril explodiu e tentamos dar à isso o nome de destino, mas afinal de contas, o que é destino se nada existe segundo uma lógica matemática? A mão no fogo é o mais exemplar óbvio funcionando...
Vaidade, tudo vaidade, as lentes estão quebradas e não reparar é o ofício mais permanente de nosso ócio que nos leva ao longe.
Toda pressa não passa de uma calma malvada que lança espinhos aos seus muitos admiradores. Doa a quem doer, as regras do concurso foram feitas para serem trapaceadas e isso acontece mesmo nos filmes mais incômodos que nos tira o ar para podermos respirar. Quem nunca percebeu? O medo é a perfeição do instinto...
Vaidade, tudo vaidade, tornar-se obsoleto é uma linha reta por onde tudo caminha e depois de chegado ao destino, não haverá mais retorno algum.
Forçosamente a força comando todos os lances desse xadrez infinito, onde as peças só possuem aparência, onde tudo é dolorido ao tocarmos, onde as festas são apenas comemorações de um luto fingido, vamos rir para não chorar. Quem está desesperado aí? Levantemos o dedo como se isso fosse alguma vantagem...
Vaidade, tudo é vaidade, até a maior parte da humildade que impregna o ar, pessoas boas também comentem suas maldades particulares como sempre faz cada criatura. 
A guerra já nasceu declarada, os planos de batalha milagrosamente surgiram do nada, viver é apenas isso, o excesso e a falta possuem a mesma condição vital, não nos surpreendamos com tal coisa. Onde estão os argumentos de nossa defesa? Em alguma gaveta que está trancada e desconhecemos onde está a chave...
Vaidade, tudo é vaidade, os pedintes que o digam, os mendicantes o sabem e muito bem, somos isso o tempo todo mesmo quando pensamos sermos proprietários de alguma coisa. 
Evitar o inevitável é como desfilar nu pelas ruas do centro da metrópole, causa curiosidade dos passantes, nada mais, queremos ser o centro de todas as atenções, mas esqueça isso. Aliás, esqueça várias coisas, a maioria delas é bagagem inútil, peso-morto, desperdício do pouco que temos. Além dos risos, algo mais nos pertence? O objetivo maior da chegada é a partida...
Vaidade, tudo é vaidade, desde os idos de março, navegando por todos os mares possíveis quando as marés estão mais que desfavoráveis, é aí que nós tentamos.
Os espelhos são aliados da verdade mais rude e cruel que temos, mas funcionam para atenuarem nossas ilusões mais avassaladoras, neles sabemos que a iminência do desastre é inevitável, o choro supérfluo. O que poderemos fazer agora? Coloquemos as mãos nos bolsos, assoviemos uma canção aleatória que nos agrade mais e vamos em frente...
Vaidade, tudo é vaidade...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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