É do lado de fora que tudo acontece...
nos lares as desgraças usam maquiagem...
e alguns loucos gastam seu tempo
na difícil e trabalhosa arte do nada...
nada veem... nada sentem... só andam...
um tiro foi dado na cara dos relógios...
a lógica saiu correndo para outros infernos...
É do lado de fora que tudo acontece...
e a nudez abusiva tem seu charme sorridente...
os cemitérios são os mais nobres spas...
e todas as mentes são assim enganadas
e nada pode ser distinguido com prática...
a idade não conta... nunca contou...
e afinal de conta que temos hoje para o jantar?...
É do lado de fora que tudo acontece...
o sol quando entra em todas as casas
é apenas um intruso que não foi chamado...
sua tarefa é mostrar a sujeira escondida
pelas incontáveis bocas que a noite possui...
a apatia dos muitos acaba colaborando
para não se distinguir nada que existe...
É do lado de fora que tudo acontece...
com cores cruéis e grotescos formas...
aqui toda filosofia é inútil e vaga palavra...
os labirintos sempre são bem outros...
e a fisiologia é o maior dos carrascos...
morrer é apenas um ponto de vista...
até a mentira já ganhou seu troféu...
É do lado de fora que tudo acontece...
um samba-canção e um tango bem parecidos...
a pobreza só possui uma e somente uma cor...
a cor da tristeza que também sabe rir muito...
todos os pensamentos ao encontro das faltas...
todas as luzes cegando aos que não enxergam...
e não aconteceu e nem acontecerá milagre algum...
É do lado de fora que tudo acontece...
o céu é apenas um grande e infalível deboche...
como as vitrines repletas de doces finos e bonitos
para as criancinhas que são miseráveis...
as lojas de brinquedos caros também...
e é por isso e não por outro motivo plausível
que o meu resto de ternura vai para todos eles...
(Extraído do livro "Só Malditos" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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