quarta-feira, 26 de junho de 2019

Pequena Carta para a Poetisa Ana Pires Brandau (De Uns Ventos Por Aí)

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Querida Ana:
Ao chegar esta cartinha aí, espero que os céus de Berlim estejam tão lindos quanto os daqui. Não sei se você observa (tenho quase certeza que sim) os céus são pinturas bonitas e engraçadas, mudam sempre, mas seu encanto nos arrebata em cada novidade...
Como estão as coisas aí? Imagino que as pessoas andem apressadas, como em toda grande metrópole do mundo, onde os homens possuem muita pressa de viver. Já eu, moro aqui nesse cantinho do mundo, onde o mar dita as regras, onde o sol dá suas ordens, apesar de que isso é apenas uma aparência, a pressa é a mesma, é tipo uma pressa de conseguir e, quando conseguimos, não sabemos mais porque corremos. Humanos.
Você tem escrito muito? Eu acho muito legal quando, nas vezes em que conversamos na rede social, você me falou da sua necessidade de escrever, talvez como a falta que nos faz respirar, suponho eu. Não posso lhe dizer que sinto o mesmo, comigo é um pouco diferente.
Lembra da história do espinho no pé? Às vezes o espinho fica tanto tempo em nossa carne, nos machucando que quando o tiramos, sentimos uma grande falta. A poesia para mim pode ser quase isso. É meu grito de desespero na praça cheia, onde poucos escutam; a confissão de meus pecados que ninguém quer perdoar; o gesto terno que ninguém percebeu; e também a tentativa de voo que acaba falhando...
E as poesias do Eduardo? Nossa, como são lindas... Toda vez que leio uma delas fico imaginando: Como ele conseguiu isto? Eu gostaria bastante de alcançar as nuvens da imaginação com a perfeição que ele consegue, cada palavra se transformando num gesto e cada gesto, beirando à perfeição. 
Já meus poemas, são apenas lágrimas, sangue e sombra. Nasceram da alma, sim, mas de uma alma que vai caminhando pelos cantos das paredes pelas madrugadas para não cair de tão embriagada; uma alma que carrega histórias antigas, desejos inconfessáveis e inúmeros planos bons e infalíveis que fracassaram.
Essa alma continua andando sempre, carregando seus mortos no peito e uma sobra de alegria escondida no bolso. Quem sabe? Talvez um dia a festa recomece, a fogueira reacenda e o final feliz (sempre esperado e quase nunca vindo) aconteça...
Bem, era só isso que eu queria lhe falar...
A diferença de horário é bem interessante, aqui o dia acorda quase ainda com sua cara de sono e aí os sons do dia já devem ter começado seu espetáculo; aí o dia já corre para os braços da noite que virá certamente em breve e aqui os bem-te-vis reclamam da água que ainda não caiu.
Fica de pé a minha proposta. Quem sabe, em breve, eu, você e o Dudu teremos muita coisa para conversar. Vai ser muito bom, muito legal mesmo...
Até lá, um grande beijo e que os ventos lhe tragam alegrias sempre...
Do amigo, 
                 Carlinhos de Almeida.

2 comentários:

  1. Que linda essa carta! Adorei! Parabéns por tão belo escrito!

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  2. Poxa, Carlinhos, assim você me emociona. É gratificante a gente saber que não está falando sozinho, como você diz aí. valeu, cara, abração.

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