quinta-feira, 20 de junho de 2019

Não Tens Culpa

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Não tens culpa,
certamente não a tens,
a culpa foi minha,
total e exclusivamente minha,
passados muitos anos, eu agora vejo,
vejo com mais clareza
tal qual teus olhos de um castanho límpido...
Era um tempo tão bom,
eu não o percebi,
deve ter sido por causa das minhas tristezas,
eram tantas, não podes nem imaginar...
E nos mesmos velhos corredores que me lembro,
eu engolia o gosto das perseguições,
Mesmo sabendo que queria o impossível...
Teu beijo deveria ser tão bom...
Apesar de naquele tempo não conhecer nenhum...
E me lembro das dezenas, das centenas de vezes
que olhava teu rosto com eterna satisfação...
Como poderias imaginar?
Atrás daquele silêncio, tantos gritos
E atrás daquela calma, tantos furacões...
Lembras? Chegavas na escola tão cedo
e antes ou depois chegava tão sonolento...
Não percebeste nada?
Eu morava tão perto e poderia não tê-lo feito
Mas fazia para ficar mais perto de ti...
Era o único tempo que eu tinha
pra te olhar sem tantos outros...
Como poderias imaginar?
Que aquele cara babaca, gordo, feio e triste
pudesse fazer apenas isso - te amar...
Sim, eu te amava tanto, mas tanto,
que aumentaram os pobres versos que já fazia
por tristeza, antes mesmo de quando chegaste...
Me lembro ainda de tuas lágrimas felizes
na hora do discurso de nossa formatura...
E depois, como ficavas bonita no novo uniforme!
Mas logo depois, veio a tristeza,
foste embora e não ocupavas mais meus dias...
E guardo com comoção o dia que vieste
para me entregar o livro que te emprestei
(nele havia uma página escrita do teu curso de inglês
que guardei durante anos até perdê-lo,
mas ainda me lembro de tua letra)...
Anos depois, muitos anos depois,
te encontro na rua, ainda tão linda,
com aqueles óculos escuros e a cara de sol,
tão linda, tão clara, tão sempre
e quando descobriste que eu era
me deste o mais forte dos abraços...
Não era mais aquele menino acuado que viste,
mas foi esse maldito que agora te escreve,
aquele que trilhou na escuridão das noites vadias,
o que dormiu bêbado nas calçadas da vida,
o louco, o cínico, o debochado que a vida assim quis,
que experimentou várias bocas e vários corpos
que nunca foram os teus...
Eu sou também aquele que ficou indignado
quando numa reunião de velhos amigos
descobriu que mais do que antigas maldades
e mais ainda do que malvadas perseguições,
todos sabiam e riam do meu amor por ti...
Não tens culpa,
nunca certamente tiveste,
mesmo que se descobrisses,
como amarias quem não se ama?
Hoje, já passados tantos anos,
apenas desejo que estejas bem,
que tenhas passado todos os anos dessa trajetória
que costumamos chamar de vida
com algumas lágrimas (o que é normal),
mas também com todos os risos que mereces,
os mesmos risos que eu adorava ver...
Fica bem... Fica em paz...

(Para Mônica de Souza Araújo, amada eterna, do livro "Todo Amor Que Eu Não Tive" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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