Quando o meu azul se vestiu de palhaço
cercou-me com o tédio e com o desespero
assim como faria qualquer cara normal...
Quando todos os sonos cessaram
eu gritei que os moinhos parassem
mas eles continuaram e nada mudo...
Quando tragédias gregas viraram moda
tentei me esconder num canto qualquer
mas a evidência me visitou naquele dia...
Os amargos são todos parecidos
os doces que nunca são iguais
nossas feras que estão contidas
esperam que as amarras se rompam...
Quando rei tropeçou e então caiu
as palmas ecoaram por todos os ares
e os cortesões em seu afã o imitaram...
Quando as comportas se abriram
houve uma breve e exemplar surpresa
pois toda a água mal deu prum copo...
Quando sinais cabalísticos foram traçados
aí acabei então percebendo inconteste
que descrença e fé sempre andavam juntas...
Muitos caminhos vão dar em nada
e é este o maior de todos os mistérios
caminhos são caminhos e só isso...
Quando a dor chegou e não incomodou
os sorrisos podem ser mais perigosos
e algumas explicações são desnecessárias...
Quando os fantasmas foram embora
e junto com eles mágoas e desilusões que tive
por ser quase forte ao ponto de me vencer...
Quando então não consegui mais suspirar
e agora sim nada mais tinha importância
e nem o encanto lilás de teus olhos comoviam...
(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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