domingo, 16 de junho de 2019

E Eu V i A Tristeza de Perto

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Eu vi a tristeza de perto, sim, eu vi...
Vi quando os homens matavam homens,
Quando matavam mulheres, velhos, crianças
Numa guerra sem motivo e sem razão
Com todos os prédios caindo
E o choro e o sangue correndo feito rios 
Sem ter algum mar pra chegar...

Eu vi a tristeza de perto, sim, eu vi...
Quando um bando de seres humanos,
Seres sem identificação, sem sonhos, sem futuro,
Com a sua cara pintada da sujeira das ruas
Catavam nas lixeiras os restos da mesas dos ricos
E, ainda, outros muitos e muitos desses mesmos
Dormiam nas calçadas que chamavam de lar...

Eu vi a tristeza de perto, sim, eu vi...
No riso insano dos que não queriam mais nada,
Que não queriam futuro, desprezavam o amanhã
Em troca de alguma ilusão suja e barata
Que achavam que seus venenos podiam lhes dar
Sem perceberem que chamavam a morte
E que a vida por pior que seja é o nosso maior dom...

Eu vi a tristeza de perto, sim, eu vi...
Quando nos tornávamos um bando de idiotas,
Quando acreditávamos em velhas mentiras
E confortavelmente sentados no sofá da sala
Víamos as novelas e fabricávamos paixões inúteis
Enquanto os relógios andavam sorrateiramente
Trazendo o nada para um inevitável encontro...

Eu vi a tristeza de perto, sim, eu vi...
Nos que sofriam pela diferença de um tom de pele,
Como se todo o sangue tivesse uma outra cor,
Nos que eram perseguidos por não poderem escolher
Quem amavam, como amavam, como seriam felizes,
Nas que desde os mais incontáveis tempos
Traziam vida ao mundo e queimavam em fogueiras...

Eu vi a tristeza de perto, sim, eu vi...
Não precisei dar muitos passos pelo caminho
Pois ela estava mais perto do que poderia se imaginar,
Estavam acorrentadas em meus feios versos,
Escorrendo quentes nas minhas faces desesperadas
Por todos sonhos e pessoas mortas que amei um dia
E por todos os amores que nunca deram certo...

Eu vi a tristeza de perto, sim, eu vi...

(Extraído da obra "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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