domingo, 30 de junho de 2019

Com As Pupilas Dilatadas Vejo

Imagem relacionada
Com as pupilas dilatadas vejo
No meio dessa escuridão
Segredos de sim e não
Aflição do meu desejo...

Um gato sozinho no escuro
Eis que sou o que sou
E nem sei mais onde vou
Se fico ou se pulo o muro...

Com silêncio redobrado ando
Procurando encontrar a presa
Dando o meu pulo de surpresa
A oportunidade vou esperando...

Com as narinas dilatadas sinto
Aquilo que a luz não pode mostrar
O que o só posso sentir no ar
A noite é um grande labirinto...

Com as pupilas dilatadas vejo
No meio dessa escuridão
Talvez amor talvez paixão
Aflição do meu ensejo...

O Sol Não Me Basta Mas Por Enquanto Vai Servindo

O sol não me basta
Mas por enquanto vai servindo
O vento me arrasta
Mas enquanto isso vou sorrindo

São tantas adversidades
Tantos choros e temporais
Foram tantas felicidades
Que não existem mais

O sol não me basta
A escuridão vai me cobrindo
O mundo se contrasta
E as estrelas do céu vão caindo

São tantas calamidades
Tantos choros e vendavais
Mentiras são verdades
Sob letras garrafais

O sol não me basta
Mas por enquanto vai servindo...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

sábado, 29 de junho de 2019

Um Dia Acaba

Resultado de imagem para menino maltrapilho
Um dia acaba... Tudo ou quase tudo acaba... E neste dia se gostarmos que se acabou, comemoremos. Se não, olhemos para o chão em baixo choro, só isso...
Acaba o bom e acaba o ruim, a esperança e o desespero se despedirão e irão embora no mesmo navio em busca de outras terras...
Um dia acaba... Acabam as guerras e os soldados poderão, se vivos estiverem, retornar para casa, com feridas ou medalhas, pouco importa, contar suas histórias, verdadeiras ou não... E as bombas não mais explodirão sobre as cidades, os meninos não chorarão mais e nem as flores serão destruídas. A fumaça não mais apagará o céu...
Acaba quem mata e quem morre, o agressor e o agredido, o que zombou de verdades que não mudam e o que acreditou até a última hora...
Um dia acaba... Acaba a ganância dos homens e seus sonhos mais mesquinhos, as fronteiras não mais terão motivos de existir. A única cor será a humana, o único credo será Deus. Cercas e grandes e muros não terão mais motivos de existir...
Acaba o burguês e o proletário, quem fez maravilhas com suas pobres mãos e quem explorou mesquinhamente por um dinheiro que não o seguirá em sua partida para o além...
Um dia acaba... Acabam todas as idades, a areia engole todos os países, o tempo amarela todas as folhas e as faz cair. Aproveitamos enquanto houverem flores para o deleite de nossos olhos e o encanto de nossas almas...
Acaba o jovem e o velho, o que amou e o que foi amado, quem nunca proferiu uma palavra e quem disse todas elas, os que conheciam as cores e os que viram o escuridão...
Um dia acaba... Os pesadelos mais sinistros e os sonhos mais agradáveis, aquilo que chamamos em vão ou não, aquilo que para não vermos, damos a volta pela rua de cima. A ovelha não dará mais lã e nem o lobo atacará mais o rebanho...
Acaba a luz e a treva, todas as cores se misturam e não há mais estética alguma para ser preservada, tudo ferirá os olhos numa rotina entediante...
Um dia acaba... Acaba o que fazer e o que não se faz mais, as opiniões se recolhem à sua insignificância e as regras não mais úteis em hora alguma. Até o niilismo acaba indo para as prateleiras, dentro de algum livro que não se quer mais ler...
Acaba a fama e o anonimato, o herói do dia acaba fugindo e o covarde enfrenta mais de um, tudo vira a simples inversão que os espelhos fazem sempre...
Um dia acaba...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome Número 14

Resultado de imagem para gaiola vaziabem-te-vis
que nunca vi
e curiós
tão curiosos
fazem parte 
da banda
de meus céus
pardais também
soltos
livres
sem gaiolas
que nem Minh' alma

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repetem-se todas as coisas
mesmo sendo diferentes
os dias são diferentes
cada fato é um fato
porém são iguais
começam e terminam
na mesma trilha sonora
feito capítulo de novela
só as tristezas são
diferentes mesmo
matam-nos com diversas armas...

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na procura das palavras
acabamos nos perdendo
os sentimentos
às vezes esperam
às vezes não esperam
alguns gestos acabam
ficando sem sentido
o que nos socorrerá?
os olhos virão
e assim nos redimiremos
como anjos decaídos
voltando para casa

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olhos são
olhos vão
olhos sim
olhos não
olhos de águia
olhos de cão
olhos de gato
olhos de rato
olhos de fato
brilhando
na escuridão

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quando dói dói mesmo
quando arde arde tanto
quando vem não vai embora
depois do riso vem o pranto
e nessa hora falta um canto
é madrugada? nem sei...
estava dormindo? acordei...

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alguns crimes são banais
outros não
alguns crimes são iguais
outros não
alguns crimes são originais
outros não
alguns crimes são sensacionais
outros não
alguns crimes são boçais
outros não
e eles acontecem
no passar dos segundos

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Isso aqui é tão bonito!
Meus olhos se enchem
até quase chorarem...
Parece até aqueles desenhos
que as crianças fazem...
Não podem faltar o sol.
casa de porta e janela,
passarinhos de riscos
e talvez uma vaquinha
pastando no campo...

Solitário

Imagem relacionadaSolitário indo para a morte
em tudo que faço, tudo que vejo,
talvez um dia tenha alguma sorte
e cesse de vez meu todo desejo

E o caminho não me canse mais
e a dor não incomode como agora,
que acabem logos estes temporais
e que eu possa ir brincar lá fora

E encontrem enfim uma companhia,
para poder falar sobre o que senti,
sobre a tristeza e sobre a alegria
e toda a dor que algum dia eu vivi

Solitário indo para a morte,
em tudo que quero, tudo que desejo,
talvez um dia feche esse meu corte
com o remédio daquele teu beijo...

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Um Poema de Prisão

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Eis-me aqui aprisionado
entre quatro paredes de uma prisão
não há prisão mais segura
do que essa - meu coração

Eu mesmo fiz as paredes
o chão, o teto, fiz a segurança
e coloquei o mais cruel guarda
que poderia ter - a esperança

Esperança de daqui sair
de ir lá fora, me libertar
mas isto é impossível de ser feita
não há como fugir - só amar

Amar sofrer esta minha pena
o destino como sempre traçado
passe o tempo como gotas
até que eu possa estar - libertado

Eis-me aqui aprisionado
entre quatro paredes de uma prisão
qualquer dia desses eu fujo
e levo comigo - a minha paixão...

Com Esse Tempo

Resultado de imagem para tempo fechado
Com esse tempo, que ameaça cair sobre mim, assim mesmo, vou andando. Não sei onde vou parar, isso pouco importa agora. Já houve um tempo em que meus medos me guiavam por caminhos mais seguros, mas tudo isso já passou. A esperança é agora um mero espectro que repete meu nome como uma reza esquecida há muito tempo.
Sol ou chuva é indiferente. Em sóis vejo a maldade dos que pouco importam, dos que nada veem, nada ouvem e muito menos falam. Em chuvas a iminência do bote certeiro de feras que me cercam, dos homens e suas invenções loucas e imotivadas, assim como deve ser.
Com esse tempo, a mentira vem ao chão, os comerciais de cigarro esconderam a morte assim como os comerciais de margarina esconderam a guerra que existem nos lares. A verdadeira felicidade procura abrigo e não o encontra. A tristeza chegou primeiro e arrematou o lote completo.
Noite ou dia é indiferente. Tudo anda tão triste ultimamente, as pessoas não sabem mais o que escolher. A estética morreu apunhalada pelas mãos da moda, vírus inventado pelos que querem apenas matar, por motivos diversos, mas apenas matar.
Com esse tempo, a dúvida entra pelas narinas, não sabemos mais o que é certo ou o que é errado. Tudo mudou num simples estalar de dedos e assim vamos, cada novidade é bem aceita, seja ela sonho ou pesadelo. Bem e mal fizeram um acordo de cavalheiros e ambos caminham tranquilamente.
Nada e tudo é indiferente. Tantos as bocas, quanto as almas, assim estão, todas elas vazias. Não existem mais previsões seguras porque passado, presente e futuro são apenas um banquetes de atrocidades cometidos em nome de nossa natureza humana. Enquanto existe lenha, as fogueiras arderão e as bruxas pagarão pelos pecados que não cometeram.
Com esse tempo, marcham soldados sem direção, em guerras virtuais sem resultado algum, vencedores e vencidos - o mesmo resultado. A Quimera há muito tempo nos devora, aos poucos, aos pedaços, como o menino que só ganhou um doce e prolonga assim nossa agonia.
Sombra e luz é indiferente. Novos Narcisos sem espelho vamos para águas mais turbulentas e delas não sairemos jamais. Pedestres espalhados pelas calçadas, disputando lugar com quem dorme sobre elas. O lixo e o luxo são a nova dupla do momento.
Com esse tempo, nos resta apenas o silêncio nos defendendo em um canto...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Alguns Poemetos Sem Nome Número 13

Resultado de imagem para crianças na favela
te trago enfim
nada nas mãos
porque tudo que havia
tudo que podia
o tempo devorou 
e nada pode retornar
se já passou
meus bolsos nada têm
à não ser 
a dor de muitos sonhos
que jazem no ataúde
do um peito em pedaços
não espere nada de mim
à não ser 
o que te trago nos olhos
esses estão cheios
de minh'alma
que vem ao teu encontro...

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quando a poesia vier
ao teu encontro
não pense duas vezes
aceita-a
faz uma festa 
em sua chegada
muitas quando a viram
zombaram dela
muitos quando a sentiram
arrancaram-na de si
são esses mesmos
que hoje andam por aí
cabisbaixos e quase mortos
porque não sabiam
o não queriam saber
que poesia é a única 
e possível forma
de sobrevivermos
aos temporais
de nós mesmos

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fumaça
resultado de nossos desejos
poeira
nossos  sonhos foram para longe
cinza
faltam motivos para sorrir
ruínas
nossas tentativas tão vãs
e mesmo assim continuemos
até não poder mais
fumaça

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nem sempre o engano 
nos mata
nem sempre a mentira
nos fere
mas a ilusão
essa sim
anda de braços dados
com a maldade

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eu não sei por onde andam
tantos que amei um dia
eu não sei para onde foram
as nuvens em que desenhei
eu não sei se continuam
as festas que aqui terminaram
e tudo se transforma
num simples pesadelo
eu nem ao menos sei
por onde ando...

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tudo quanto
dá espanto
tudo nasce
toda face
um enlace
tudo à beira
da ribanceira
eu não tenho
eu não venho
o meu cenho
tudo quanto
dá espanto

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história
inglória
dos pobres
dos cobres
do nome
da fome
barracos caindo
as vítimas sorrindo
o sonho na mão
carnaval solidão
tudo certo
e tudo errado

Em Câmera Lenta

Resultado de imagem para câmera lenta
Eu vejo a vida em câmera lenta
como as cenas finais de um grande filme
onde nossos nervos estão à flor da pele
o suor escorre e a expectativa também
só que em outro corpo diferente
o corpo da minha alma...

O meu sangue também corre em câmera lenta
numa calma que não sei se deveria ter ou não
talvez seja por querer as coisas mais impossíveis
como o amor que acho que nunca terei
ou as nuvens que nunca irei para lá
e que mesmo assim insisto em querer...

O tempo vai agora como água em câmera lenta
porque o tempo dos jovens passa mais rápido
como já falavam tudo que é bom dura pouco
essa é a regra e quem nos amamos vai embora
e o que queremos vai seguindo em frente
mas o tempo dos velhos como eu não...

A dor que eu sinto sempre vem em câmera lenta
pois é assim a dor que acaba doendo mais
chega aos poucos e depois que chega não vai
vai conhecendo todos nossos pontos mais fracos
e não tem pressa alguma do nosso choro
pois o que virá não vai ter mais fim...

Eu vejo a morte em câmera lenta
como as cenas finais de uma grande peça
onde nossos nervos estão à flor da pele
o suor escorre e a expectativa também
só que em outro corpo diferente
o corpo da minha alma...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Nem Todas As Cinzas São Cinzas

Imagem relacionada
Nem todas as cinzas são cinzas
algumas são e as outras não
guardamos muita coisa na mente
mas muito mais no coração

Nem toda resposta à pergunta
é a sua definitiva solução
algumas são tranquilizantes
outras dão mais preocupação

Nem todos os amores salvam
alguns nos levam à perdição
a vida ensina da pior forma
essa forma se chama paixão

Nem todas as águas são calmas
umas calmas, outras nem tão
umas são filhas dos nossos dias
e outras são filhas da escuridão

Nem todas as cinzas são cinzas
algumas são e as outras não
guardamos muita coisa na alma
porque não levamos no caixão...

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Iconoclastia

Resultado de imagem para ídolo quebrado
Iconoclastia...
peito cheio...
manhã vazia...

Mentira, verdade,
a casa, a cidade,
desprezo, atenção,
sim e não...
Acaso, estética,
pura, eclética,
raciocínio, emoção
sim e não...

Iconoclastia...
solene reza...
nossa heresia...

Berrando, quieto,
o público, o secreto,
a pedra, o balão
sim e não...
Obedece, manda,
trabalho, ciranda,
sim e não...

Iconoclastia...
o teu rosto...
beleza vadia...

Urbano, caipira,
o tambor, a lira
a ordem, a revolução
sim e não...
o médico, o louco,
o muito, o pouco
certeza, decepção
sim e não...

Iconoclastia...
o pulo do alto...
minha valentia...

Tragédia, piada,
o chão, a almofada,
o pé, a mão
sim e não...
o fato, o fado,
querido, odiado,
resposta, questão
sim e não...

Iconoclastia...
já fui feliz...
só por um dia...

(Extraído do livro "Palavras Modernas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome Número 12


eu estou fora do planeta
estou fora de tudo
só não virei careta
a loucura é um escudo
eu ando em ruas calado
eu sou apenas o mudo
o mundo não está acordado
eu tenho pés de veludo

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eu tenho lembranças
parecidas com minhas tatuagens
elas não sairão jamais

eu tenho tantas mágoas
idênticas à malvados cortes
eis aí as minhas cicatrizes

eu gostaria de ter amnésia
esquecer cada dor que já senti
que nem quando vemos alguém na rua
mas não lembramos quem é...

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água deslizando sobre as pedras
rio de eterno movimento
não podemos medir tanta distância
obra de arte
nuvens desenhando bem no céu
vários riscos sobre o azul
numa elegante e eterna matiz
obra de arte
sabedoria quase divina
o pó se torna em montanhas
as montanhas viram pó
obra de arte
o homem tão pequeno medido
toda vez que ama
torna-se quase um deus
obra de arte...

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por não sabermos exatamente
se chuvas ou sóis virão
dancemos sob eles indistintamente
por não sabermos a data certa
que a morte vai chegar
vivamos a vida o máximo possível
a flor qualquer dia desses 
arrancada ou não vai murchar
aproveitemos no ar seu perfume
o amor poderá ser eterno ou não
por isso amemos com desespero 
que só a ternura pode nos dar...

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linda e vulgar
linda e certeira
a paixão me agride
linda e malvada
linda e apática
a paixão me destrói
linda e tola
linda e safada
eu perco a paciência
linda e vulgar
linda e certeira
queria poder te agredir

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toda lenda
toda venda
toda renda
cega nossos olhos
todo caso
todo atraso
todo arraso
cega nossos olhos
todo agouro
todo choro
todo namoro 
cega nossos olhos

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esqueço o mundo por um segundo
esqueço o mês por uma vez
como sou esquecido!
a ferida foi doída
a vida para ser vivida
sem saída
sem apelo
sem pesadelo

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Pequena Carta para a Poetisa Ana Pires Brandau (De Uns Ventos Por Aí)

Resultado de imagem para centro de Berlim
Querida Ana:
Ao chegar esta cartinha aí, espero que os céus de Berlim estejam tão lindos quanto os daqui. Não sei se você observa (tenho quase certeza que sim) os céus são pinturas bonitas e engraçadas, mudam sempre, mas seu encanto nos arrebata em cada novidade...
Como estão as coisas aí? Imagino que as pessoas andem apressadas, como em toda grande metrópole do mundo, onde os homens possuem muita pressa de viver. Já eu, moro aqui nesse cantinho do mundo, onde o mar dita as regras, onde o sol dá suas ordens, apesar de que isso é apenas uma aparência, a pressa é a mesma, é tipo uma pressa de conseguir e, quando conseguimos, não sabemos mais porque corremos. Humanos.
Você tem escrito muito? Eu acho muito legal quando, nas vezes em que conversamos na rede social, você me falou da sua necessidade de escrever, talvez como a falta que nos faz respirar, suponho eu. Não posso lhe dizer que sinto o mesmo, comigo é um pouco diferente.
Lembra da história do espinho no pé? Às vezes o espinho fica tanto tempo em nossa carne, nos machucando que quando o tiramos, sentimos uma grande falta. A poesia para mim pode ser quase isso. É meu grito de desespero na praça cheia, onde poucos escutam; a confissão de meus pecados que ninguém quer perdoar; o gesto terno que ninguém percebeu; e também a tentativa de voo que acaba falhando...
E as poesias do Eduardo? Nossa, como são lindas... Toda vez que leio uma delas fico imaginando: Como ele conseguiu isto? Eu gostaria bastante de alcançar as nuvens da imaginação com a perfeição que ele consegue, cada palavra se transformando num gesto e cada gesto, beirando à perfeição. 
Já meus poemas, são apenas lágrimas, sangue e sombra. Nasceram da alma, sim, mas de uma alma que vai caminhando pelos cantos das paredes pelas madrugadas para não cair de tão embriagada; uma alma que carrega histórias antigas, desejos inconfessáveis e inúmeros planos bons e infalíveis que fracassaram.
Essa alma continua andando sempre, carregando seus mortos no peito e uma sobra de alegria escondida no bolso. Quem sabe? Talvez um dia a festa recomece, a fogueira reacenda e o final feliz (sempre esperado e quase nunca vindo) aconteça...
Bem, era só isso que eu queria lhe falar...
A diferença de horário é bem interessante, aqui o dia acorda quase ainda com sua cara de sono e aí os sons do dia já devem ter começado seu espetáculo; aí o dia já corre para os braços da noite que virá certamente em breve e aqui os bem-te-vis reclamam da água que ainda não caiu.
Fica de pé a minha proposta. Quem sabe, em breve, eu, você e o Dudu teremos muita coisa para conversar. Vai ser muito bom, muito legal mesmo...
Até lá, um grande beijo e que os ventos lhe tragam alegrias sempre...
Do amigo, 
                 Carlinhos de Almeida.

Deus Esquecido (Sem Preocupação)

Resultado de imagem para ruínas de um templo antigo
sei que as minhas tristezas
não são conhecidas
pois a maioria não é
(ou pelo menos finge)
meu choro não importa
quando muitos sorriem
essa é a lei da selva
(as pessoas são apáticas)
sobrevivência e satisfação
de suas necessidades 
mais básicas e supérfluas
(é a palavra de ordem)...

sou como um deus falido
num canto esquecido
que não tem mais fieis 
cujas preces não têm sentido
um deus enfraquecido
ficaram dedos foram anéis...

a fome não é preocupante
quando não é a nossa
vamos rir das mesas cheias
(o que sobrou vá ao lixo)
as guerras não nos atingem
não caem bombas sobre nós
nossas cidades estão ilesas
(matem crianças estrangeiras)
a mentira não incomoda
levamos vantagem em tudo
não há regras para cumprir
(desde que sejamos campeões)...

sou como um deus malvado
num canto não lembrado
que não recebe mais oferenda
que sempre fez tudo errado
que por si mesmo foi cegado
por que tirar a venda?...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 25 de junho de 2019

Alguns Poemetos Sem Nome Número 11

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nem sempre se vive
há uma dúvida eterna para isso
entre subidas e descidas
segue o passo
e tudo mais 
são apenas sequências interrompidas
o acaso chega todo contente
para cumprir seu papel
nem por isso não gosta
das coisas que nunca falei

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se um homem olha as nuvens - está preocupado
se um menino olha as nuvens - está sonhando
se um homem olha para o chão - está triste
se um menino olha para o chão - está aprendendo
se um homem corre - está com pressa
se um menino corre - está com razão
se um homem sorri - está disfarçando
se um menino sorri - é sua natureza
e bem lá no fundo 
o que todo homem deseja
é voltar à ser um menino...

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a moda é muito complicada
precisa de um analista,
ou melhor, de um psiquiatra
vive sempre à fazer grandes festas
e acaba sempre expulsando
os seus pobres convidados
antes que elas terminem
é por isso que devemos tomar cuidado
porque certas coisas imprescindíveis
acabaram sendo expulsas
da vida pela moda...

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me perdoe, perdoe mesmo
eu não gostava da sua franjinha
mesmo achando lindos 
os seus cabelos castanhos
me perdoe, perdoe mesmo
eu ainda era muito novo
para saber como o amor
queima qualquer alma
me perdoe, perdoe mesmo
eu não sou um grande inventor
para fazer uma máquina do tempo
para reverter meus velhos erros
você me perdoa?
pois eu não lhe perdoe
(mesmo que tivesse)
por levar para longe de mim
o que eu mais queria sem saber...

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um exército de poeira
vem atacando todas as coisas
sejam elas boas ou más
nada o pode impedir
de seu bravo ataque
nada o detêm
nada o contém
tudo vai ficando empoeirada
até nossas recordações mais caras

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quero manhãs com cara de tarde
e tardes com jeito de noite
noites convidativas e solitárias
como a madrugada
uma madrugada de muitas estrelas
em que a escuridão esteja
quase desistindo 
de mim...

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nossas verdadeiras celas são diferentes
foram construídos de dentro para fora
a chave da porta está em nosso bolso
e não saímos porque nunca queremos
nossos verdadeiros medos são diferentes
nós construímos nossos próprios monstros
para que eles possam nos devorar
no escuro as coisas são todas iguais
só não podemos vê-las...

Falência Múltipla dos Órgãos


Resultado de imagem para paciente entubado
o paciente acabou de morrer
é a terceira vez essa semana
estou como fome preciso comer
nem que seja pão com banana
estou com sede quero beber
me dê logo a garrafa de cana

eu olho pra essa janela aberta
me dá vontade enorme de pular
mas essa hora a rua está deserta
não há ninguém para me filmar
e eu não sei a distância certa
estou apenas no primeiro andar

por isso somos uns eternos vivos
mesmo andando dentro da morte
para morre são tantos motivos
mas ainda não tivemos esta sorte
os novos vírus são mais nocivos
mas se recusam a entrar no corte

é tanta coisa nessa emergência
ressuscita o cara e manda embora
o meu forte nunca foi a paciência
nunca foi ela e nem vai ser agora
é mais um milagre da nossa ciência
engolir a fera que nos devora

eu olho atento o que tem no dia
mas eu acabo não sabendo nada
tira esse cara daqui da enfermaria
coloca o cara bem ali na calçada
eu nunca fui ave e nem fui Maria
já aguento muito essa palhaçada

o paciente acabou de morrer
é a terceira vez essa semana
eu não sei nada nem quero saber
a minha ignorância é humana
estou com sede quero beber
me dê logo a garrafa de cana...

(Extraído do livro "Só Malditos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

O Xis da Questão

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O xis da questão...
é que nos mostraram tanta ilusão
foi nos ensinarem à mentir
não pensar duas vezes em ferir
desprezando toda compaixão...

O xis da questão...
é que nós andamos na escuridão
comemos o que não podemos comer
e ainda achamos que isso é viver
longe dos pés e ao alcance da mão...

O xis da questão...
é que somos os filhos da ingratidão
oramos tanto para sermos ateus
eu só importo com os que são meus
o teu sacrifício foi todo em vão...

O xis da questão...
é que é tanta inútil informação
estudamos tanta à aprender nada
todas as leis são motivo de piada
o próximo é a próxima refeição...

O xis da questão...
é que tudo apenas é simples leilão
vamos implorar por um feriado
o errado é certo o certo é errado
é nova moda dessa nossa estação...

O xis da questão...
é que existe uma grande liquidação
a água os bichos o ar e toda essa terra
tudo se transforma na nova guerra
para a nossa mais completa diversão...

O xis da questão...
é um grande sim e um grande não...

(Extraído da obra "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Sobre Vivência ou Da Forma Mais Extrema Possível

Resultado de imagem para fazendo fogueira
Somos o que somos da forma mais extrema possível! Entre dados e fatos quase nunca escritos. E entre as necessidades mais do que básicas bailamos num interminável vai-vem que nos atordoa, mesmo quando estamos cientes de tal fato...
Contamos todos os nossos instantes feito trocados. E os guardamos para que o desperdício seja o mais bem aproveitado possível. Os nossos olhos fechados e as nossas narinas sempre abertas. Os nossos ouvidos captando os sons mais incômodos sem muito se incomodar com isso...
Somos o que somos da forma mais extrema possível! E cuidamos de nossas celas com o extremo cuidado que possamos ter. Onde estão as chaves para nos libertar? Esses caíram no chão há muito e nem notamos...
Grandes esquecidos de certeiras lições, repetimos nossos erros em incontáveis vezes e a nossa lista de adjetivos vai aumentando vertiginosamente até a derradeira exaustão. Leia uma simples página deste livro e já teremos lido todas...
Somos o que somos da forma mais extrema possível! E os paradoxos que preparamos são o prato do dia. Nossas mentiras foram feitas de tanta sinceridade, nós mesmos nelas acreditamos piamente. Somos grandes mitômanos, sabia? Veja um livro de história e terá toda certeza disso...
Invertidamente fazemos nossas tarefas de escola, com grandes superlativos. Somos sempre as vítimas e nunca os réus, mesmo quando a arma do crime estava em nossas mãos e o sangue da vítima em nossa camisa...
Somos o que somos da forma mais extrema possível! Cultuadores do absurdo, acreditamos naquilo que não acreditamos, fazendo tudo, exceto o necessário. Grandes malabaristas, nos preparamos todos os dias para o grande salto em nosso próprio abismo...
Em cada passo que damos, tropeçamos. Em cada tranquilo sono, a mais nova invenção de um pesadelo. Nada é o mesmo no dia seguinte. E não há como reclamar. Na verdade, todos os rios vão de acordo com as nossas vontades, mas nós mesmos não a conhecemos. Tudo é neblina e sombra à nossa volta...
Somos o que somos da forma mais extrema possível! E mesmo em nossa pureza, sempre haverão terceiras e quartas intenções. As flores morrem sempre, mas morrem mais depressa ainda quando são arrancadas. Arcaicos, mesquinhos, contraditórios, cheios de orgulhos, orgulhosos até de nossos ridículos...
A piada ainda não foi totalmente contada, já achamos graça. Rimos e rimos muito. Como carneiros que se enganam e querem se transformar em brancas nuvens, mas o branco acaba se misturando com vermelho. Aos mais sábios, a tolice. Aos vencedores, as batatas...
Somos o que somos da forma mais extrema possível!  Na hora, o grande susto; vinte e quatro horas depois, o horror expresso em nojo, o ar mais que irrespirável. Depois, a praxe sempre acaba funcionando, eis as providências e as mesmas frases inúteis...
Não é que nada valha, é ao contrário, tudo vale, mas acabamos misturando tudo como um demente com o baralho nas mãos. Cuidado com as cartas que você dá, certos substâncias letais matam mais pela simples absorção. Cuidado onde toca, tapetes de vidro e camas de pregos são a última moda...
Somos o que somos da forma mais extrema possível! Sabendo de tudo e não sabendo de nada ao mesmo tempo. Alguns alunos que não passaram no teste, outros que foram expulsos da escola...
Vamos então, como sempre fizemos e faremos, numa última oração desejar que acordemos para o dia seguinte, mesmo que a mediocridade venha nos ferir ou os problemas venham nos esbofetear. O bordado nunca está terminado...
Somos o que somos da forma mais extrema possível! Sobrevivendo ou subvivendo?... 

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).  

Apenas Alguns Números

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Bilhões... a satisfação garantida
ou seu dinheiro foi embora...
e os cavaleiros andam solitários
mais do que o vendedor de sonhos
na porta da empresa...

Milhões... atenção desperdiçada
para pequenos detalhes...
e os doces acabam sendo amargos
como tudo o mais aquilo
que não poderíamos esperar...

Milhares... a perda do fôlego
afogados num pequeno aquário...
gaiolas fabricadas diariamente
para que nenhuma desculpa
acabe dando certo...

Centenas... a fé redobrada
num pequeno desconhecido...
e a mais cintilante purpurina
não poderá disfarçar
aquele rosto mais feio...

Dezenas... é dado o sinal
e as multidões vão enfileiradas...
e o condenado tem pressa
para o grande espetáculo
de sua execução...

Unidades... procura-se em vão
o motivo de qualquer riso...
quase nunca sabemos 
onde afinal vamos parar
e porque estamos fantasiados...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

Você Tem Medo? Eu Não...


Você tem medo?
Pois eu não tenho mais...
Já caíram sobre mim
Todos os meus temporais...

Me lembro ainda de ontem
Sob a chuva todo molhado...
E a chuva que caiu,
Caiu, já é passado...

Você tem medo?
Pois eu não tenho mais...
Esperei tanto tempo
Já passaram os vendavais...

O que tinha de mais valor
O ventou levou embora...
Somente o tempo ficou
Ainda sou dono da hora...

Você tem medo?
Eu não tenho mais...
Esperei quanto podia
Chegar os meus carnavais...

E me perdi no festejo,
Nem notei, saí andando...
E nem ganhei o seu beijo,
Era tudo que eu estava esperando...

Você tem medo?
Eu não tenho mais...
Nem medo de bala perdida,
Nem do aço dos punhais...

Morrer? Se morre aos poucos,
Nem vimos se morremos...
É como o sono que vem vindo
E então, adormecemos...

Você tem medo?
Eu não tenho mais...
Espero apenas um outro dia
Para brilhar sobre os quintais...

Você tem medo?
Eu não tenho mais...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome Número 10

Resultado de imagem para menino com o dedo na boca

os dias de domingo ainda que me comovem
apesar da tristeza que há em todos eles
(decifra-me ou te devoro)
ando em passos calculados
há tantas pessoas felizes
(se podemos chamar esse arremedo)
metade quase vivos
metade quase mortos
vivos no seu afã de viver
disfarçando o medo da morte
para que seus sonhos não-sonhos
consigam o charme discreto
de uma quase felicidade

..............................................

para não vê-la mais, me ceguei
não furei os meus olhos,
preciso ainda deles...
para não ouvi-la mais, me ensurdeci,
não estourei meus tímpanos,
ainda preciso deles...
para não senti-la mais,
anulei todas as minhas sensações,
mas tudo inutilmente,
a alma ainda dói,
dói e muito...

..................................................................

tudo mais, tudo menos
venenos são o que são
entre grandes e pequenos
entre o sim e o não

tudo bem, tudo mal
eis aí a grande questão
entre o choro e o carnaval
entre o frio e o verão

uma grande dança das cadeiras...

....................................................................

quero acreditar na dúvida
brincar com o medo
andar até não poder mais...

observar certos detalhes
que escapam aos olhos
e se mostram à alma...

acender velas pelos escuros caminhos
e ir cantando como noturnas aves
até que o novo dia chegue...

...............................................................

Marina, teu rosto arrendondou-se 
com o passar dos anos,
mas teus olhos continuam sonhadores...
Por quais terras terás andado?
Por quais amores terás sofridos?
Não sei, não faço ideia...
Mas continuo o mesmo menino curioso...

..........................................................

o barão não tem ossos
seus ossos são nossos
quase que ele teve um troço...

as mentiras são sinceras
são angustiantes as esperas
eu nem sei quem eu era...

os centímetros são espaços
nós gostamos de abraços
eu nem sei onde passo...

somos todos uns vagabundos
cada qual com o seu mundo
mergulhei bem lá no fundo...

.....................................................................

choramos até quando rimos...
a vida? é um grande circo...
a morte? o fim do espetáculo...
aproveitemos então
as coisas mais simples possíveis
elas nos proporcionam sonhos
e nunca pesadelos...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...