Tenho andado como só andam os loucos ou os sábios (serei eu, um ou outro?) como quem tem dúvidas sobre vírgulas ou cores que devo usar em minhas concepções sobre aquilo que desconheço. Não quero falar o que todos os idiotas falam, com propósito ou não.
Minha testa arde, uma febre veio me visitar quase agora, seus rastros continuam na poeira do chão do meu quarto. Cada detalhe é muito importante. As cinzas no cinzeiro com seu olhar estático insistem em me xingar de forma polida e educada.
Não quero mais ver certas coisas, nem certas pessoas. Não quero sentir certas emoções, nem certos sentimentos. Não quero fazer certos gestos, nem certas ações. Dispenso alguns cheiros, alguns gostos. Minha memória hoje está com o setor de reclamações totalmente atarefada. O certo continua errado.
Talvez o que sinto passe logo ou nunca passe...
Se para cada tristeza eu ganhasse uma moeda, teria um baú bem grande e pudesse comprar o mundo todo com ele. Mas agora, não quero o mundo, aliás, quero coisa alguma. Nem sóis verdes e nem luas bicolores. Isso até me lembra uma história (que por falta de certos detalhes) prefiro nem contar.
Tudo dói, tanto as juntas, quanto a alma. Tudo magoa, tanto o palpite errado, quanto o acidente de percurso. Ninguém repara, ninguém reparou, os meus pequenos passos de veludo para não incomodar mais do que já faço.
Há blasfêmias que podem ser contadas com toda a calma do mundo, é só saber onde está o fio da meada e puxá-la. Coragem ou precipitação todos possuem o seu pouco.
Faço questão de não fazer questão alguma e me arrependi disso tantas vezes quantos os fios que tinha em minha cabeça em outras eras remotas e distantes.
Pareço até um ser espacial desses que descem em cenas malfeitas em naves de papelão. Um engasgo que Goya teve ou Dali acabou vomitando quando se encheu demais de vinho barato e alguma malícia. Os torpedos que o digam se ainda existirem.
Minha insistência é uma grande merda. Deveria ter pensado na cadeira de balanço que titia queria. Ou em alguns festejos adiantados do Sãojão. Poderia ter sido melhor, outro destino, outra bobeira comum e pequena. Eu não seria o aqui. Porém, o porém atrapalhou-me mesmo sendo indolor como vejo neste exato momento.
Poderia ter sido tantos outros. Um faquir provador de doces numa loja parisiense. Um espião líbio numa embaixada em Madagascar. Ou um vendedor de calcinhas numa banca famosa da Sulanca. Poderia ter percorrido a 25 de Março nu como vim ao mundo. Ou entortado colheres em cadeia nacional. Ou feito como o leão, perguntado pela gazela.
A rua quase quase cheia e eu - vazio. A ocasião faz o bufão. Eu poderia estar na garupa de Lelê desafiando a morte ou alguns arranhões habituais. Mas tudo não passa de um grande tanque onde peixinhas lutam boxe.
O mar de Lenny dispensa explicações que os bits não possuem. A posse é imediata, se sabemos evitar certos jardins. O tiro não saiu pela culatra por falta de material humano. Um doce, dois doces, três doces, depois disso já não sei mais contar.
Por isso, agora coleciono remendos. Nada mais passa desapercebido da minha calma fúria. Malvados olhos azuis, boca de sangue e faces corada de um nada constante. Um beijo para todos da família.
Não é preciso ter óculos pra se ter medo. Eu até aprendi isso. Muitas são as bengalas, algumas delas nem imaginamos até nosso derradeiro dia. É por isso que eu tomo minhas próprias indecisões. Manhãs e manhas são aceitas num clube fechado.
Caminhos são muitos, mesmo pros que possuem celas e telas. Vamos respeitar tal fato. Faz algum tempo que não duvido de mais nada, nem das alucinações que sempre tive.
Os meirinhos hoje estão de folga, os carrascos estão sempre. Há um absolutismo relativo pelo ar e o ventilador quase aos pedaços ainda realiza vários prodígios. Eu que o diga. Depois de quebrado tudo é vidro.
Tudo então passa. A praça também é minha. Que seja eu mais um túmulo indiferente de certos segredos. O show não pode parar enquanto cães vadios farejam pelas latas. Afã dos bons. Fazer o quê? A caixa de Pandora agora tem outros males. Ninguém escapa aos anzóis. Eu comercio palavras e é o que me basta. Até o novo agora é velho e sempre.
Me deixem caladinho, quietinho. Olha que eu grito...
(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).