Estou estendido
estatelado e caído
usando palavras e letras que quiser
A falta de palmas não faz falta
e miraculosamente das regras foram-se
Tenho saudade de alguns outros tempos
em que o nada era quase tudo
Livros para bordar
Agulhas sem pontas
e alguns milagres corriqueiros
A vinha vinha e não veio
e a ampulheta quebrou-se na mudança
Acertei um tiro que não mirei
minha gaveta anda tão cheia de saudades
Roubei de mim as alegrias
como o xamã que errou no feitiço
e fez brotar morango entre couves
Quebrei sem querer o sino
e achei graça nas bochechas de Maryana
Os coqueiros agora dançam
enquanto abacateiros são tímidos demais
O metal só sorri em brinquedos
eu perdi todos os que eram meus
até que me tornei um deles
O teto da senzala logo irá cair
mesmo que um certo nervosismo
faça-me confundir todas as cores
Conheço todas as bandeirinhas da festa
e todos os gostos passaram pela minha boca
Nada contra o sábio
mas eu me tornei um tolo
porque faltavam vagas para idiotas
Na lua acenderam um lampião
enquanto os ventos contam anedotas
que só falam de coisas sérias
Sou o rio que tem pressa
apenas quando isso significa calma
Tudo é quase veneno
e eu só quero mesmo é dormir...
(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).
Nenhum comentário:
Postar um comentário