Onças no café da manhã
Potes de doce no Imperial
Orquídeas safadas da rede
Retirei todas as teias
Com calma sufocante e ri
A geladeira vazia e gelada
Mas a alma tão cheia
De estranhas modernidades
Nada foi nunca como antes
E as sobrancelhas eriçadas
Numa forma tão artificial
Espeto os dedos nos espinhos
De um passado que puxo
E não voltará jamais
O fluxo de um rio nervoso
Faz que ria desesperado
Eu coleciono pedras do acaso
Para mastigá-las surdamente
Minha voz em falsete
Lembra algumas terribilidades
Enquanto as montanhas caem
Bate o atabaque com pressa
E com a brasilidade do mundo
Esfriou dentro do vulcão
Mesmo na hora da erupção
Erraram comigo e eu também
Fiz uma festa profana e sã
Reclamações e sardinhas
Folias de Reis e tamancos
Máscaras tribais e jilós doces
Farinha e sal impossíveis
Tatus e cajus rimantes
E narcisos gagos e vesgos
A morte é uma folia sem
E o polvo é do povo
Tragédia grega favelada
E nomes insinuantes de nada
O poeta riu até se cagar...
(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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