segunda-feira, 10 de julho de 2023

Por Hoje

Bolas de neve inatingíveis e cacos de vidro. Olhem as novas invenções, senhores, novas invenções! A minha loucura vai cambaleando por alamedas e becos como quem desperta no meio do sono. Nada mais, nada menos. O corpo está cheio e transbordará. O corpo está vazio e a alma partiu para algumas nuvens distantes. Eu desenho teu rosto com a mesma agonia de frases pelas paredes doa banheiros.

Anote o número, anote o número. A exatidão de meus cálculos conduz ao erro. E meus pecados são os mais suaves.

A esperança foi uma pedra que eu chutei sem ver e feriu-me. O sangue escorre, mistura com a areia que disfarça o asfalto. As poeiras tentam falar-me segredos com certo teor de morbidez. O gato-pingado usa sua roupa de gala e sua galante cartola. Todas as ondas são irmãs que acabam brigando entre si.

Esqueça meu desespero, esqueça logo. O freio falhou na hora errada. E o acidente acabou sendo noticiado.

Misturam-se todos os sons no novo caos de minha consciência até que a loucura venha flertar comigo. Tão bela como uma dessas madrugadas em que estive insone ou gargalhei de medo. Nenhuma bondade supera nossos erros. Eu ainda sou um mero aprendiz da desesperanças e o metal das flautas acaba luzindo.

Não tenha pena de mim, não tenho. Eu já escolhi o que será meu epitáfio: simples números que deram errado.

Aqui estão contidos todos os venenos, um, dois, três, tanto faz. Não serei mórbido senão uma vez. E terei pelo menos uma palma desta plateia apática e cruel. Ondas e ondas e cantos de sereia para me matar. Eu balançarei numa corda feito um faroeste de quinta categoria com direito aos abutres sobrevoando por céus de cores diferentes.

Serei apenas uma lenda, mais uma delas. E mesmo assim as flores no jardim irão continuar...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

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