terça-feira, 18 de julho de 2023

Carliniana VI (Estátuas de Ar)

Faço gestos perdidos com meus dedos

Mais um louco contando passos

Mas perdendo as suas contas

Eu tenho medo que a roda me atinja

Como o condenado amarrado

Na boca do canhão que será disparado

Arrasto meus chinelos como um inútil

Que perdeu seu tempo em bizarrices

Que tentou entender coisas tão fúteis

E não deu importância ao que era

Meus olhos agora são vãs artefatos

E minhas palavras não podem retroceder

Como num filme americano de suspense

Que eu mesmo acabei esquecendo o roteiro

E as próprias palavras não sabem seu lugar

Todos os momentos tornaram-se meias-noites

E nem mesmo eu sei se isso é bom ou ruim

Alguns passarinhos invadem placidamente

O silêncio do meu quintal impregnado de saudade

Mesmo quando finjo que não há mais nenhuma

Sorrateiramente ainda fujo do inevitável

Até o carrasco cumprir seu papel

A bailarina ainda não caiu no palco

Tim-Tim por Tim-Tim junto minhas saudades

Para fazer disto um arranjo para a sala de estar

Muitos carnavais congelaram-se eternamente

Enquanto algumas varandas dormiam

Todo sossego é uma simples e banal ilusão

Eu sigo meus rastros de forma meticulosa

Não há mais estátuas de material algum 

Só algumas tristes estátuas feitas de ar...

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