Carliniana V (Todas As Sombras do Sol)

Todas elas...

Todas são uma só...

Sobre casas e coisas...

Seres e objetos...

Destinos e paixões...

Simples detalhes... Pois não?...

Intrincados labirintos...

Fomes antigas...

E fomes novas...

Dores envelhecidas...

E dores que acabaram de nascer...

Rios com pressa de mar...

Rios que viraram caminhos...

Velas em passeios...

Lama para parados barcos...

Promessas quebradas...

Bandeiras à meio mastro...

Simples solenidades...

Ternura de doer...

Passos invisíveis...

Sorrisos bonitos...

E choros não tantos...

Fumaças de milhares de cigarros...

Rostos bonitos com feias expressões...

Moedas que tilintam...

Mãos em gesto de súplica...

Outras em impossíveis pedidos...

Passos do condenado para o patíbulo...

Requebro de ancas apetitosas...

A praça balança o chão no frevo...

O maracatu se torna atômico...

Beijos sem saliva alguma...

Desejos presos na jaula...

Rosas mais cativantes...

Cheiros de urina e de fezes...

O sábio se cala...

O tolo vem com suas bravatas...

As latas vazias caem no chão...

As moscas pousam em minha pele...

Os cachos dos cabelos dela enlouquecem...

Fico imóvel e bocejo...

Filosofia barata de desenganados...

Contentamentos contentes...

Barulhos de sinos antes dos réquiens...

Marcha cadenciadas de formigas...

Camaleões feito leões estratégicos...

Pedaços de vidro em monturos...

Lembranças esquecidas...

Vulgaridade extrema...

Computadores e seus programas...

Garotas e seus programas...

Garotos e seus programas...

Muito mais e mais...

Todas elas...

Muito e muito mais...

Todas são uma só...