Esbarrei em mim dia desses
E ainda não pedi desculpas, mas pedirei
Acho graça na piada que não entendem
E bati palmas no enterro de anteontem
Estou vivo? Nem eu mesmo sei
Os capítulos das novelas passam
A novidade de ontem se tornou
Na obsoletidade do nosso agora
Nunca! Nunca! Nunca!
Nunca mais falarei nunca! Nunca!
O violeiro caprichou nas cordas
E eu ainda tenho cartas nas mangas
Pedirei desculpas por destruir o mundo
Aquela pulseira de prata se perdeu
E os meus anéis ficaram sem os dedos
Casas velhas de velho estuque
E novos barracos em cima da laje
Apontarei direto na tela da minha TV
E amarrei fitas do Bonfim sem fim algum
Eu só descreio da mais pura realidade
Enquanto os semáforos estão fechados
Os rios são insistentes até o mar
Minhas sujas estão tão sujas
Quase como está minha pobre alma
Os caretas sempre farão suas caretas
E os mendigos estão nas portas das igrejas
A mentira está contida no rótulo
E a maldade escreve em linhas retas
Todo gozo vem seguido pelo abandono
E todos os pares se separam
Um dia ela se despiu para mim
Todas as montanhas são tão pequenas
Mas eu ainda sonho com bobagens
No calor da noite fiz meu frio
E tremo com a mesma febre de antes
A memória cansa com tantos detalhes
Toda poesia aguarda uma próxima
Todas as ilusões andam em seguros passos...
(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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