segunda-feira, 3 de julho de 2023

In Extremis

Esbarrei em mim dia desses

E ainda não pedi desculpas, mas pedirei

Acho graça na piada que não entendem

E bati palmas no enterro de anteontem

Estou vivo? Nem eu mesmo sei

Os capítulos das novelas passam

A novidade de ontem se tornou

Na obsoletidade do nosso agora

Nunca! Nunca! Nunca!

Nunca mais falarei nunca! Nunca!

O violeiro caprichou nas cordas

E eu ainda tenho cartas nas mangas

Pedirei desculpas por destruir o mundo

Aquela pulseira de prata se perdeu

E os meus anéis ficaram sem os dedos

Casas velhas de velho estuque

E novos barracos em cima da laje

Apontarei direto na tela da minha TV

E amarrei fitas do Bonfim sem fim algum

Eu só descreio da mais pura realidade

Enquanto os semáforos estão fechados

Os rios são insistentes até o mar

Minhas sujas estão tão sujas

Quase como está minha pobre alma

Os caretas sempre farão suas caretas

E os mendigos estão nas portas das igrejas

A mentira está contida no rótulo

E a maldade escreve em linhas retas

Todo gozo vem seguido pelo abandono

E todos os pares se separam

Um dia ela se despiu para mim

Todas as montanhas são tão pequenas

Mas eu ainda sonho com bobagens

No calor da noite fiz meu frio

E tremo com a mesma febre de antes

A memória cansa com tantos detalhes

Toda poesia aguarda uma próxima

Todas as ilusões andam em seguros passos...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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