segunda-feira, 7 de março de 2022

Infinita Rigidez de Meus Nervos aos Pedaços

Sinto em minha boca um gosto da cor cinza, percorre os dentes que me sobram, acabam me irritando. Tento gritar, mas não consigo, desperdiçaria alguns decibéis de pura inutilidade...

É hora da nossa dança matinal, cercada de adereços que nem mãos podemos mais colocar. Os carros andam, até que a ferrugem coma pedaço por pedaço do nosso magro sonho...

Espero a boa notícia que não chegará, a carta que a vida me negou, meus planos não deram certo. Foi em algum lugar em algum tempo, disso eu tenho quase certeza...

Debocho de mim com um esmero inusitado, na hora do tombo quem caiu é que pode rir até bem mais. O sorvete derreteu sob o sol, pena que isso foi na madrugada e nem testemunha houve para tal feito...

A mosca criou coragem e agora dá rasantes mais ousados só para me irritar, isso pode ser normal um dia. O menino lança bolhas de sabão para o ar e isso pode ser a maior invenção de todos os tempos...

Liguei a chave e o carro não deu partida, a máquina acabou tendo vontades e uma delas é simplesmente passear. Tanto tempo que não passeio, apenas olho o que está em torno com total desânimo...

Havia uma menina tão bonita que me dizia tristezas que eu gostava, hoje é moradora de um casebre onde convive com seu maconheiro favorito e cuida de suas estrias e celulites. A fatalidade é uma mentirosa profissional, isso sem dúvida...

Levanto meus braços, rendo-me, fraquejando por ter sido descoberto em minha estranha honestidade. Estou com muito medo, nossas virtudes viraram vícios e o vice-versa agora e sempre funciona...

Sintomas de uma nova doença me afligem, estou na moda e não consigo desvencilhar-me dela nem com novos tratamentos e remédios. Enquanto os sintomas persistirem, estou salvo de todos os boatos de que estou bem...

Ainda sou fã da nudez de velhas revistas escondido em banheiros, intermináveis tardes ainda são minhas. Não há maior barulho que a aflição de meus batimentos cardíacos de teimoso adolescente...

A caça de meus deslizes nunca há de terminar, eu sou o alvo principal de tudo que existe por aí. O insucesso que pede palmas de todas as existentes multidões...

Não existem mais cálices dourados para algumas celebrações profanas em que eu sou o sacrificador e aquele que é imolado. O sol me queimou mais do que suficiente e não há como evitar, nem agora, nem nunca mais... 

Minha pressão subiu e um acidente acontecerá, sendo fatal ou não, isso pouco me importa. Como centenas ou milhares, cumpro meu papel nesta tragédia grega sem classicismo, eu o bem sei...

A roda gigante apagou suas luzes e a noite eterna não existe mais...

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Poesia Gráfica LXXXVI

T U A T R A N Ç A T O D A D A N Ç A T U D O A L C A N Ç A F E R O Z E M A N S A ...............................................................