sexta-feira, 18 de março de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 147

 

Deem-me um pedaço de céu apenas, se for um maior, agradeço. São muitos os pirilampos que trago para enfeitar minha fantasia, é o meu luto, preciso dele. Tenho também um grande exército de pombas pedindo paz, elas andam em falta por aí. Já imaginaram quantas estrelas preciso para acender meus olhos? E quantas lâmpadas noturnas preciso para sustentar meu riso? Por isso, deem-me um pedaço de céu apenas, de preferência com nuvens, se for maior, agradeço...


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Gostaria aplaudir de pé, os que cantam com a alma. Mas tenho visto muitos silêncios disfarçados por aí, principalmente em gestos sem sentido e com acentuada falta de estética. A arte tem sido agredida. Ela nem tem notado tal maldade. E, muito menos, seus pobres agressores.


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Passei a observar aquilo que passa desapercebido, esse tempo já se acabou. Foram tantas as feridas que agora qualquer espinho acaba me chamando a atenção. Um mero pio de pássaro quando amanhece basta para acordar meus olhos. Pequenos ventos trazem-me instruções detalhadas de um dia que ainda engatinha. Eu sou apenas um velho caçador de carícias que nunca abate uma presa satisfatória, mas mesmo assim, continua tentando...


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Correr somente de brincadeira, gritar somente quando a satisfação transborda como a maré que sobe, rir em todas as ocasiões e fazer com que elas apareçam num passe de mágica, chorar somente com a dor de uma ternura que percorre quase o infinito, matar somente as flores para fazer um enfeite para os cabelos de quem se ama, ferir só seus pés na teimosia de andar pela estrada enquanto o tempo existir, preservar a inocência como o ouro num silencioso cofre fechado. Eis somente algumas das preciosas lições que aprendi com os que ainda não envelheceram...


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Desconheço as cores, apenas o que meus pobres olhos veem, a mente acaba descolorindo. Assim aconteceu com todos os meus dias, pobres dias que foram para algum lugar incerto e ignorado. Muitos carnavais multicoloridos perderam sua graça, seu movimento e ficaram totalmente mudos. A paralisia de velhas fotografias é o que acaba nos restando, quando muito.


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Nunca aprendi a jogar gude; se tentasse andar numa bicicleta, certamente cairia; subir em muros, nem pensar. Eu conheci a insipidez dos pobres meninos, os que tudo possuem, menos aquilo que queriam; os que viveram quase como fossem mortos; os que esperam até hoje o verdadeiro amor, mais por força do hábito, descrendo disso eternamente.


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Meu pai me contava algumas histórias desinteressantes que eu acabava chorando. Não as escutei mais, mas suponho que se as escutasse novamente, acabaria chorando, na mesma intensidade e tamanho que antes. Por que chorei? Talvez fosse por força do hábito que a tristeza que a solidão me trouxe, as presas acabam aprendendo determinados truques.


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Cavarei o túnel mais profundo de todos. Seu tamanho não sei, mas cavarei. Aliás, já comecei a fazer isto tem bastante tempo. Cavarei com uma simples colher até que o metal desgaste com o atrito e a dureza do solo. Depois, seguindo meu desespero e minha inútil ânsia, usarei minhas pobres unhas. Não importa se a terra faça o mesmo serviço que fez com uma simples colher e me maltrate. Cavarei e cavarei insanamente, rindo como um louco preso em sua enfermaria, não me importa se chamarei a atenção de meus indiferentes carcereiros. Cavarei sim, cavarei muito, cairei com sono, cansaço e fome em cima de minha tarefa certamente insana. Um dia desses eu, finalmente, consigo escapar da cela de mim mesmo...


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