Escuto o som alto
(não é do rádio,
rádios não existem mais,
pelo menos aqueles de madeira,
velhos senhores...)
Admiro milhares de fotos
(acabaram-se as velhas revistas,
aquelas que o preto-e-branco
coloria nossa imaginação...)
Sinto diversos odores
(só não aqueles que gostava,
inclusive os de sabonetes
que mamãe colocava
no meio das gavetas de roupas...)
Velhos carnavais sim
(os de hoje de forma alguma,
mas aqueles que se alegrar
sem ter motivo algum
era o motivo principal...)
Temporais que já passaram
(muitas águas viraram rios
e foram para o mar
enquanto outras
foram para o fundo da terra...)
Flores que já morreram
(e folhas que caíram amarelas
tudo sem perder a graça
de um dia terem
apenas existido...)
Ensaio passos escondidos
(os tristes quase sempre
escondem alguma alegria
que acabou chegando
com endereço errado...)
Ganho de volta meus brinquedos
(de nada me adiantou envelhecer,
quero ser o menino de sempre,
o mesmo menino, mesmo
que isso possa doer...)
Sinto-me meio doente
(como a maioria de tudo,
nada é por completo,
o que acaba nos afligindo mais...)
Escuto o som alto
(não é o do rádio,
não tenho mais nenhum,
é o som do meu coração
que anda muito descompassado...)...
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