quarta-feira, 30 de março de 2022

Ao Descompasso

Escuto o som alto

(não é do rádio, 

rádios não existem mais,

pelo menos aqueles de madeira,

velhos senhores...)

Admiro milhares de fotos

(acabaram-se as velhas revistas,

aquelas que o preto-e-branco

coloria nossa imaginação...)

Sinto diversos odores

(só não aqueles que gostava,

inclusive os de sabonetes

que mamãe colocava

no meio das gavetas de roupas...)

Velhos carnavais sim

(os de hoje de forma alguma,

mas aqueles que se alegrar

sem ter motivo algum

era o motivo principal...)

Temporais que já passaram

(muitas águas viraram rios

e foram para o mar

enquanto outras

foram para o fundo da terra...)

Flores que já morreram

(e folhas que caíram amarelas

tudo sem perder a graça

de um dia terem 

apenas existido...)

Ensaio passos escondidos

(os tristes quase sempre

escondem alguma alegria

que acabou chegando

com endereço errado...)

Ganho de volta meus brinquedos

(de nada me adiantou envelhecer,

quero ser o menino de sempre,

o mesmo menino, mesmo 

que isso possa doer...)

Sinto-me meio doente

(como a maioria de tudo,

nada é por completo,

o que acaba nos afligindo mais...)

Escuto o som alto

(não é o do rádio,

não tenho mais nenhum,

é o som do meu coração

que anda muito descompassado...)...

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