Antes que o véu se rasgue,
que a flor se apague,
antes que a folha caia
enquanto o dia desmaia,
a noite é boba,
apenas rouba
e não pode levar
a luz pra outro lugar
e eu que acordo bem mais cedo,
é pra sentir mais medo,
é pra sentir mais dor,
é pra morrer de amor,
é pra cair no chão
e ganhar um tropeção
pra ser um pobre coitado,
pra comer calado,
não vai passar a banda,
nem vai ter ciranda,
talvez um berro sujo
feito o dito cujo
que acabou de morre ali,
juro que não vi
e se visse juro que não diria,
minha alma tá vazia
mais que a minha despensa,
às vezes até o crime compensa,
existe até um pouco de maldade
em toda essa saudade,
essa saudade que me consome,
tirou até o meu nome,
tirou até o meu protesto,
que destino mais indigesto,
na hora do improviso
pois que nem aviso,
como manda a bula,
eu sou uma pobre mula,
meu tempo já passou
e eu nem sei mais quem sou,
me deixe ali na calçada
sou simplesmente nada...
(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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