quarta-feira, 23 de março de 2022

Segredo e Outro


Podemos esquecer dos clowns azuis

e de nariz vermelho de velhos murais

caprichados no papel crepom

Esquecer daqueles grossos óculos

que a tia colocou em dias mortos

para remendar meias ou sei lá o quê

Antigos carnavais e suas mortalhas

quase nuvens negras ao nível do solo

e velhos ônibus com fichas de plástico

Não existe equilíbrio algum

e quase caímos na freada brusca

que ainda bem não volta mais

Na tampinha da cerveja existia cortiça

e as outras das rolhas das garrafas

usamos para fazer nossos bigodes

Eis o desespero do porquinho-da-índia

porque todas aquelas luzes e o barulho

dava um certo medo de fazer se esconder

Flechas com pontas de desentupidor de pia

é o que temos para agora e sempre

e cocares de barbante e de papel cartolina

Eu tentei matar um pouco da tristeza

da nossa pequena e fria casa

com bandeirinhas que nunca existiram

Sou mestre das fogueiras de folhas e papel

que são acesas na rua sem saída

que agora é apenas como um túmulo

Faça sol e também faça chuva

meus pensamentos não me deixam em paz

e olha que eu nunca nem pedi isto

O meu mais que constante ciúme

me fazem mais um como todos os outros

que sabem-se doentes de amor

Segredos para construir o universo

usando os seus seis dias

e se arrepender sem fazer nada no sétimo

Agora em mim tudo virou poesia

até aquilo que nunca foi e nunca será

mas que não me importo muito para chorar...


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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