Podemos esquecer dos clowns azuis
e de nariz vermelho de velhos murais
caprichados no papel crepom
Esquecer daqueles grossos óculos
que a tia colocou em dias mortos
para remendar meias ou sei lá o quê
Antigos carnavais e suas mortalhas
quase nuvens negras ao nível do solo
e velhos ônibus com fichas de plástico
Não existe equilíbrio algum
e quase caímos na freada brusca
que ainda bem não volta mais
Na tampinha da cerveja existia cortiça
e as outras das rolhas das garrafas
usamos para fazer nossos bigodes
Eis o desespero do porquinho-da-índia
porque todas aquelas luzes e o barulho
dava um certo medo de fazer se esconder
Flechas com pontas de desentupidor de pia
é o que temos para agora e sempre
e cocares de barbante e de papel cartolina
Eu tentei matar um pouco da tristeza
da nossa pequena e fria casa
com bandeirinhas que nunca existiram
Sou mestre das fogueiras de folhas e papel
que são acesas na rua sem saída
que agora é apenas como um túmulo
Faça sol e também faça chuva
meus pensamentos não me deixam em paz
e olha que eu nunca nem pedi isto
O meu mais que constante ciúme
me fazem mais um como todos os outros
que sabem-se doentes de amor
Segredos para construir o universo
usando os seus seis dias
e se arrepender sem fazer nada no sétimo
Agora em mim tudo virou poesia
até aquilo que nunca foi e nunca será
mas que não me importo muito para chorar...
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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