terça-feira, 8 de março de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 140

Todos os tombos, todas as quedas, acabaram me ensinando que só a teimosia vale a pena. Bata com a cabeça na parede, certamente doerá, mas sem essa dor vou para lugar nenhum. Sinto calor, sinto frio, sinto medo, tenho coragem, minhas dualidades são todas minhas, de mais ninguém. Matem o corpo, deixem a alma, cortem-me as mãos, mas deixem-me os pés. Andar é a maior de todas as necessidades, o resto é pura ilusão. Uso eufemismos, faço rodeios, tento ser delicado mesmo quando não sou. Façamos um brinde à toda hipocrisia que um dia cairá por terra...


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Esqueço certas detalhes propositalmente, como um malabarista andando no alto, como um estrategista em frente aos mapas de guerra, como um transeunte evitando ser roubado em pleno Centro da Cidade. Desviei-me de dezenas de balas perdidas no tiroteio do amor, inventei expressões modernas para coisas bem antigas que não acabarão. Minha solidez independe de mim, sou apenas o que sou e isso me basta até demais. Dispenso cores vivas, seu tempo já me passou, quando muito, quero as cores esmaecidas de velhas paredes que o passar dos anos ainda não comeu...


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Sinto-me ridículo como muitos, tolo como quase todas. Nós caímos da cama todas as noites, ainda que nem acordemos. Doem-me os dentes que não tenho, meus cabelos inexistentes incomodam em meus pobres olhos. Tudo na vida deve ter algum motivo, mesmo quando falho. Acabou o vento que nos refrescava, é um abafamento em qualquer espaço possível. Errei a conta, esqueci quais letras compunham a palavra. Num grande deserto à noite, em volta de uma velha fogueira tento contar bonitas histórias que não vivi. Não sei se alguma salvação, depois da morte mais um pouco. Um dia tive tanto medo disso, agora não tenho mais...


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Perdoe-me amor, eu fiz de propósito mesmo, queria que as cartas caíssem e espalhassem pela mesa. O sossego me incomoda e a rotina merece um balde de água suja pelo meio da cara. Perdoe-me amor, eu quebrei o brinquedo, foi apenas uma de minhas muitas diabruras. O tédio me fere e acho que pelo menos isso eu não mereço. Eu sai correndo, pulei o muro com certeira dificuldade, acabei descobrindo que um lado era exatamente igual ao outro. Não há mais liberdade em lugar algum. Tenho a impressão que vou acorrentado todos os dias para trabalhar e é isso que chamamos - vida moderna...


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Morte sem violetas não é morte, é apenas um fechar de olhos disfarçando que estamos eternamente dormindo. Sonhos sem nuvens, não são sonhos, são apenas um esboço trabalhoso de uma pintura que nunca faremos. Se não houver amor, é melhor desistir. Um pouquinho de paixão até que cai bem, mas não muita. A paixão é como o sal, se em excesso, sobe a pressão. Tenha até algum medo, mas não se exceda, pode até rir disso se quiser. Só não esqueça de rir, mas rir muito mesmo, a vida sem risos é ainda pior do que ela é...


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Misturo tudo, não consigo evitar. Nem todos os loucos são poetas, mas todos os poetas loucos são. Queria inventar algo novo, mas minha invenção já nasceu velha demais. É nisso que dá todo politicamente correto e abjeto. Posso xingar? O único que se ofenderá sou eu mesmo, acabei me chamando de burguês em frente ao espelho. Merecia um soco bem dado na cara, meu relógio de pulso nem funciona. Brisa mansa que beija e balança, engula de vez a esperança e fique quietinha por aí...


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Coloco um vídeo pornográfico com fundo musical apavorante para assistir à uma da manhã. Tento disfarçar os motivos para isso. Na verdade, procurar motivos para algo que se faz, apenas é mais uma tarefa inútil. Minha santidade está trancada no armário, esmurrando e gritando todos os impropérios possíveis. Não sei o que farei amanhã se amanhã acordar. Qualquer vírgula que faltar poderá ser uma fatalidade a mais em meu sujo e rasgado caderninho de anotações. A mala verde de papelão já virou cinzas, a minha cruel curiosidade supera tudo. Em um pulo estarei em cima do velho cavalo matando velhos moinhos. Deliro e deliro muito...


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