segunda-feira, 14 de março de 2022

Ninguém É Culpado Por Sua Alegria

Histórias todas sem sentido

e uma banalidade quase como sempre

meus sonhos não são exatamente sonhos

são alucinações de um embriagado

que não bebeu um gole sequer...

A minha tristeza manca em largos passos

e o tempo não voltará nunca atrás...

Os sábios olham distraidamente vitrines

enquanto lhes carece pena aos tolos...

Eis aqui como sempre e mais sempre

o menino que brincava com seu boneco

o bravo cowboy de camisa azul

que aponta seu revólver que nunca atirou

no alto de seu cavalo que nunca andou...

Toda poesia é apenas um lugar-comum

aplaudida por milhares de cegos...

Toda respiração não passa da agonia

dos náufragos que ainda não se afogaram...

Eu acordo mais cedo todos os dias

preocupado em não fazer nada mais tempo

enquanto meu tédio dá porrada em minha cara

e eu fico tentando justificar em vão

tantas atrocidades que acabam afligindo a alma...

A traça acabou comendo a seda

e fez isso com toda a educação possível...

Espero que o repente tenha alguma pena de mim

e deixem que me façam um epitáfio bem legal...

Nesse exato momento não sei o momento exato

relógios agora acabam me apavorando

sei que haja algum motivo válido para tal façanha

eu não prestei atenção nas alturas que subi ou não

e nem me distrai com as velas que derretem...

Os dois meninos não lembram mais do beijo

a vida não sabe fazer a sua lição de casa...

Carrego minha atroz e desesperada dúvida

se o que me sobrevoa são drones ou mosquitos...

Alguns carros devem ter enlouquecido agora

enquanto a solenidade acorda de susto

hoje é mais mediocridade para ser feita

enquanto milhões de barrigas roncam de fome

e algumas bocas vomitam por seus excesso...

O sal de qualquer lágrima chorada até então

gosta de desenhar rios nos rostos dos tristes...

Ninguém é culpado por sua alegria

até que seja provado o contrário...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Insalubre (Miniconto)

Insalubre era a casa dela (se é que podia ser chamada de sua ou ser chamada de casa). Qualquer favela tem coisa bem melhor. Sem porta, sem j...