a rua a rua a rua
é minha é nossa é tua
ela é dos vagabundos dos tolos dos amantes
dos cegos dos mortos dos vivos dos retirantes
das bundas bonitas das vidas aflitas dos ambulantes
dos bêbados dos viciados mal amados e passantes
a rua a rua a rua
anda fantasiada vive nua
é dos tolos dos sábios demônios e dos santos
é pra rir pra dormir pra acordar toda em prantos
e tem gritos e também silêncio em todos os cantos
ela sabe falar qualquer língua até o esperanto
a rua a rua a rua
é doce é amarga é crua
é a passarela mais bela dos réus confessos
é a cura mas também o pus escorrendo de abcessos
é o poeta desesperado está faltando os versos
de sentimentos mais puros e outros perversos
a rua a rua a rua
trepa com o sol namora a lua
ela é a mais fiel das companheiras
é o palco mais enfeitado de nossas besteiras
é a vida e também é a morte em suas fileiras
só tenha cuidado com a fera não dê bobeira
a rua a rua a rua
ensaia ensina e atua
ela é a notícia do dia que saiu no jornal
ela é a polícia delícia matando geral
vamos lá minha gente chegou o carnaval
vamos falar da vida alheia que isso é normal
a rua a rua a rua
é minha é nossa é tua
ela é ganha pão dos pedintes e dos assaltantes
dos caras mais bobos e também farsantes
do que resta e das festas mais humilhantes
me perdoa rua se não fiz esses versos antes