Olhavam em tempos idos
Quando a chuva caía lá fora...
Os meus dias são outros...
Apenas escuto seu lamento
Espalhado pela noite caindo...
Corriam pra tirar roupas da corda
Botavam vasilhas nas goteiras...
Não dou um passo sequer...
Nesse solidão de velho triste
Estendo meus olhos para além da tela...
Minha tristeza de nada adianta...
Um verso ou outro tentará escapar
Mas o frio da noite vai atingi-lo...
O pássaro que era do dia caiu
Morto no asfalto agora gelado...
Apenas um corpo como muitos...
Não farei mais pergunta alguma
Toda palavra é som que morre...
Ou um simples rabisco no chão...
Talvez amanhã pare de chover
Quando acordar para mais tédio...
Dias iguais em minha pobreza...
Apesar de tudo sou quase nada...
Apesar de nada sou quase tudo
Que só soube incomodar até agora...
Durma bem quem for dormir...
Sonhe com os anjos quem acredita
Todos num céu que agora duvido...
Pra que tanta chuva assim?...
(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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