sábado, 26 de agosto de 2023

Conhaque (Miniconto)

Porra, tenho uma sorte filha-da-puta mesmo! Não costumo mesmo passar nessa rua já que devo uma graninha pro cara da barraca. Já tive até dinheiro pra pagar, mas acabei gastando com outra coisa e nem me lembro com o que foi. Pois é. Não passo faz tempo, mas me esqueci e acabei passando. Ainda bem que ele estava distraído com um pessoal que tava lá e nem me viu. Apertei o passo, fingindo que tava olhando pro outro lado da rua. Não tinha ninguém, ninguém, só um cachorro bebendo água num pote de margarina vazia que colocaram na calçada. Até aí já dei sorte, né? Mas quando eu olho, vejo uma coisa na outra esquina - um despacho! Ainda tava recente, tinha vela acesa. Fazia tempo que eu não via um. Acho que senti até o cheiro de charuto vindo no meu nariz e aquele cheiro de dendê da farofa. Mas olha lá, olha lá! Chegava brilhar no sol aquele vidro da garrafa que colocaram junto. Conhaque! Isso mesmo, co-nha-que, não era cana (agora tão colocando aquelas barrigudinhas de plástico mesmo) . Não pensei duas vezes. Dei uma paradinha meio que disfarçando pra ver se não tava vindo ninguém. Fui chegando, chegando, pedi licença na maior cara-de-pau. Peguei a garrafa, coloquei a tapinha que tava junta, botei numa sacola de mercado que tava perto. Quem colocou ali só jogou um pouco no chão. Agradeci e saí saindo. Ah, peguei também a caixa de fósforos, meu isqueiro acabou o gás...

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