domingo, 13 de agosto de 2023

Avis Rara XXI (Jazz-Band)

Enquanto a avenida é tão grande

Não me importo mais com o frio

Ele já não é mais tão como antes

Minhas carnes já estão congeladas

E o gelo já se tornou algo tão macio

Enquanto sonho com todas palavras

Chegarão as feras para o almoço

E então não existirá nem tarde demais


A piada acabou perdendo sua graça

E o uísque no copo é apenas inocência

Num sono quase que assim tipo profundo

O bêbado dorme atravessado na cama

E o dia vai invadindo toda intimidade

E as coisas esperam com calma ansiedade

Saírem da geladeira para serem devoradas

Num retorno ao que sempre ainda não foi


Todas as Marinas com sua inocência profana

São fantasmas de um tempo que só eu trago

Como se um nome bastasse para as pedras

E a minha memória é apenas mais uma lápide

Onde pousam corvos pouco menos literários

A testa sua enquanto o meu transe acontece

E incorporarei o meu então meu próprio espírito

Num animismo isso que só o desespero traz


Facas são dragões que passeiam pelas nuvens

Enquanto as chuvas hesitam em não cair agora

Alguns automóveis cumprem o solene atrito

Enquanto milhares de baganas vão para o chão

O velho triste faz poses patéticas na fotografia

Enquanto relógios digitais estão em caminhada

E a poesia faz ouvidos de mercador para as tolices

Invasoras das redes sociais diques arrebentados


A puta velha com peruca de plástico laranja

Agora só um espectro do que um dia então já foi

Canta marchinhas de carnaval em polonês

Enquanto não é servido um outro café da manhã

Eu trago em mim todos os absurdos do mundo

Enquanto tenho no bolso estrelas saltimbancas

Os velhos tamancos ainda fazem seu barulho

E meus pés continuam com os mesmos calos


Uma banda de jazz tocará no meu funeral

Enquanto lágrimas de praxe serão vertidas

Falando do amor que nunca tive sendo vivo

E o meu tempo acabou de esgotar para sempre

O sinal tocou e não há mais a hora do recreio

Nem tão pouco a hora da saída tão esperada

Ninguém me esperará para me levar de carro

Afinal de contas as férias não terão fim...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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