sábado, 19 de agosto de 2023

Avis Rara XXVI (Faltam Espinhos Para A Minha Coroa)

 

Repito mais um cigarro

Como quem anda à esmo

Sem prerrogativa alguma

Os homens falam de tanta coisas

Mas esqueceram os versos

No bolso da outra calça

Sou imenso como o mundo

Que acabei criando

Entre tantas necessidades

E poucas futilidades então

As cabeças estão descobertas

Enquanto tudo se embriaga

Parei no sexto dos infernos

Sem nenhum samba-canção

Numa brasilidade sem motivo

Apenas alguma grana e fama

A alegria não possui verniz

O bebê bebe bebendo baba

Nunca mais subirei no morro

Nem tirarei selfies patéticas

Mostrarei o dedo do meio

Anjos portadores de chifres

E a estética perfeita e duvidosa

Os sonhos-pesadelos do poeta

E a cortina-pano tapando o janela

É de um verde-quase-desmaiado

Não sei se mato ou me mato

Falando e fazendo frases iguais

Quem trouxe o trombone

Deixe aí num canto qualquer

Minha inspiração tem assim

Um jeito quase enjoativo

De tentar derrubar as paredes

E quebrar com as pedras os socos

É apenas uma coisa sensata de louco

Reviver as raras figurinhas

Enquanto todos os computadores

Acabam pensando mais do que eu

Muito prazer eu mesmo

Temos algum choro para a tarde

E bardas comemorações astrais

A poesia me dá um chute no traseiro

E eu apenas consigo falar isso

Eis o charme decadente dos novos

Enquanto os outros nunca tiveram

A velha batucada do carnaval passado

Que já faz muito que se calou

Nem sei mais o que quero

No meio de tantas atrocidades

Acabaram-se todas as bananas

E a porcelana está quebrada

A internet caiu quase agora

Para desespero geral da nação

Faltam espinhos para esta coroa

Mas não chorarei por isso...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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