Olho para a frente calmamente
(Uma calma que até me irrita)
E ando com certa dificuldade
Só como velhos e aleijados andam
Mas por que parar se o espaço
É de apenas um quarteirão?
Peço mentalmente que não chova
(Eu não posso tomar chuva)
E me sinto como se estivesse
Em uma máquina do tempo
O filme foi de baixo orçamento
E seus efeitos são sofríveis?
Dia desses mesmo eu não entendia
(Ou pelo menos forçava a barra)
Para entender coisa alguma
Pensando que a saudade não viria
Fora a doença e também a velhice
Elas engolem tudo e todos?
Agora consigo entender algo
(Mesmo com as cores fugindo)
Me deixaram num preto-e-branco
Como uma velha foto post-mortem
E como as mãos trêmulas pergunto:
Será a morte uma grande vida?
Há nuvens e pássaros sobre a cabeça
(Escuto os sons viciados do dia)
E vejo minha solidão é um engano
Minha alma irá me acompanhar
Como aquela sombra mais fiel
Será que ela não descansa nunca?
Olho para a frente calmamente
E acho que agora entendo...
(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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